No último número (o 157) da revista "Gazeta de Matemática", foi publicado um artigo da autoria do meu colega João Queiró intitulado "A Demanda do Centro de Portugal". Nesse artigo, o autor prova que o centro geográfico, ou geométrico, de Portugal (excluindo as ilhas) fica "entre as povoações de Arganil e Amêndoa, no concelho de Mação, distrito de Santarém", não muito longe (mas não coincidente) com o pico da Melriça, Vila de Rei. Este facto é mais ou menos conhecido.
O que também é curioso nesse artigo é que o autor prova que, de acordo com o censo de 2001, o centro demográfico de Portugal fica "cerca de 30 km a su-sueste de Coimbra, na fronteira entre os concelhos de Soure e Pombal". Olhando para o mapa que ilustra o artigo, pode ver-se que o centro demográfico de Portugal fica muito próximo de Pousadas Vedras, algures no triângulo Pousadas Vedras-Sabugueiro-Malavenda.
Enquanto o centro geográfico está fixo, o centro demográfico tem mudado. Em 1864 encontrava-se "perto de S. Miguel de Poiares, cerca de 17 km a leste de Coimbra". Depois moveu-se lentamente para sul e um pouco para oeste, até 1930, altura em que o movimento passou a ser para oeste." Mantendo-se a tendência, em 2011 iremos provavelmente assistir à sua chegada ao nosso concelho.
Caro Aderito,
ResponderEliminarO Centro geometrico e um conceito que ainda consigo alcançar. Agora o que seja o centro demografico, desculpe a minha ignorância, e coisa que não consigo entender nem qual a sua relevância para efeitos de ordenamento do territ'orio.
Um Abraço
J.F.
E o centro democrático?
ResponderEliminarCaro sopas, isso do centro democratico é que é mais dificil.
ResponderEliminarCaro Jorge,
ResponderEliminarA distribuição da população no território pode ser vista como o resultado de um sistema dinâmico com as suas leis próprias. Podemos, obviamente, intreferir com esse sistema mas é também sensato tentar perceber o seu comportamento. O centro demográfico é um indicador médio de grande relevância para a compreensão do sistema dinâmico. O seu conhecimento deveria ser um dado a ter em conta quando se ponderam algumas tomadas de decisão, sobretudo aquelas que implicam a mobilidade dos cidadãos (como a localização de grandes infra-estruturas) ou a distribuição de recursos pela população. Estarão sempre um passo à frente os decisores que não negligenciam este tipo de informação georreferenciada.
Um abraço,
Adérito
Segundo o Saramago, um dia destes vamos todos tomar banho à praia, e o país vira-se ao contrário (como numa pequena embarcação em que todos vêm ver os golfinhos que passam a estibordo). O interior tem gente a menos, isso ninguém questiona. E o litoral, tem gente a mais? Porque dependendo desta resposta resulta a postura a adoptar. Se acharmos que tem gente a mais, a politica terá de ser o incentivo à "deslocalização" de pessoas para o interior. Se acharmos que não, ficamo-nos pelas politicas de incentivo à natalidade e de "povoamento" - recordo um caso em que ele foi construido com a "importação" de cidadãos brasileiros. Foi precisamente em Mação ou em Vila de Rei, se a memória não me atraiçoa.
ResponderEliminarJá agora, Adérito, fala-se muitas vezes (nomeadamente no Pico da Melriça) em CENTRO GEODÉSICO. Há diferença entre este conceito e o de centro geométrico, ou são exactamente iguais?
Meus caros,
ResponderEliminarLapsei, não queria falar de centro geométrico, mas sim centro geografico, ou geodésico, como o que diz Gabriel Oliveira,que sei servir de referência cartografica, por exemplo, no cadastro das propriedades.
Obrigado pelo esclarecimento, entendi, acho muito relevante. A matemática ao serviço da prevenção e planeamento estratégico do país que queremos para o futuro.
Um abraço
J.F.
Penso que o Adérito faz uma abordagem excelente a este assunto e, a partir do seu último comentário, dei por mim mais uma vez a criticar os nossos políticos. É que, na verdade, quem governa é criticado porque mostra intenção de avançar com a construção de novas infra estruturas no interior (por exemplo na rede viária). Os mesmos que lançam essas críticas, entendem que não se faz o suficiente para evitar a litoralização. A expressão é corriqueira, mas é a que me ocorre: "é-se preso por ter cão e por não ter". E isto serve para os políticos em geral, pois parece-me que, entretanto, temos apenas dois partidos: o poder e a oposição, sendo que é perfeitamente irrelevante quem está de um lado ou do outro.
ResponderEliminarGabriel,
ResponderEliminarO centro geodésico de Portugal é o centro da rede geoésica nacional: "conjunto de todos os vértices geodésicos e das suas relações geométricas, distribuídos pelo país, colocados em posições dominantes de forma a garantir intervisibilidade, devidamente coordenados" e "materializados através de diversas formas geométricas, como pirâmides ou troncos de cone sobre cilindros ou coincidentes com estruturas já existentes" (por exemplo, a Torre da Universidade de Coimbra é um marco geodésico). O centro geométrico é definido como sendo o centro de massa (ou baricentro) do país, quando considerado como uma figura plana. Se construíssemos uma placa com a forma do país e a quiséssemos equilibrar num ponto, esse ponto teria que ser o seu centro geométrico.
Para quem gosta de matemática, e mais no que diz respeito a geodesia, cartografia e orografia, acho uma autêntica delícia este post.
ResponderEliminarAdérito, se fosse possível, agradecia que colocasse aqui um link com alguns trabalhos escritos, seus, ou não, sobre este assunto.
Um bem haja
Poeta da Treta
poetadatreta@gmail.com
ResponderEliminarCaro Poeta,
ResponderEliminarEu não sou especialista da área. Tive conhecimento do trabalho do João Queiró pois ele já o apresentou em diversas escolas secundárias e porque sou vice-director da Gazeta de Matemática (onde o artigo foi publicado). Eu possuo o PDF do artigo mas, como deve compreender, não o devo divulgar... Pelo menos até que o próximo número da Gazeta seja publicado.
No Departamento de Matemática da UC existe um grupo de Eng. Geográfica (http://www.mat.uc.pt/~engeo/) que possui especialistas na área. Se tiver novidades, envio-lhe um email.
Adérito
PS Não sei se está ligado ao ensino. Se estiver pode encontrar na página do grupo de Eng. Geográfica uma exposição itinerante muito interessante sobre esta e outras temáticas (ver: http://www.mat.uc.pt/~engeo/divulga/CIGE/cartazes.html).
Amigo, companheiro e camarada Adérito Araújo, boa tarde.
ResponderEliminarSei que não te vais zangar comigo porque sei que não é a tua área profissional, enquanto Professor Universitário, mas deixa-me dizer-te que o País está, há muitos anos, mercê dos Serviços Cartográficos do Exército – um bom trabalho dos militares – dividido em triângulos (é a triangulação do País) e em cada vértice tem um marco geodésico. Há, todavia, várias categorias de marcos.
Isto quer dizer que, no mínimo, de um marco geodésico têm que estar “à avista”, pelo menos, quatro marcos geodésicos.
Isto é para a estratégia militar, meu caro amigo e companheiro João Alvim. Isto não é táctica, é estratégia.
Mas vê tu!
Provocação pura e dura:
Os militares só têm olhos para olhar para os ombros uns dos outros e só existem para perder guerras.
Esta foi muito à esquerda. Resiliências.
Mas, também, fazem coisas úteis.
Mas vamos ao post do Adérito.
Eu não sei quando, mas há estudos, feitos por estudiosos, que apontam para que daqui a 25 anos o centro demográfico de Portugal, retirando as zonas ultra-periféricas (coitado do companheiro Alberto João que foi corrido, mas não da política) ser o Terreiro do Paço.
Felizmente que quando isso acontecer já terei umas quantas paletes de tijolo feitas.
É a vida! Como dizia o nosso amigo e camarada Guterres.
Abraço
Meus Caros,
ResponderEliminarEles bem tentam colocar pessoal no Terreiro do Paço e na Baixa em geral, mas são tão bons ou tão maus estrategas, que ninguém para lá quer ir ou tem vontade de se aproximar. Falo, por exemplo, do Ministério das Finanças. Podia haver um pensamento estratégico para o eliminar ou para lhe dar mais utilidade.
Mal ou bem, durante muito tempo o progresso dependia muito dos "exércitos", que eram das únicas instituições que se pensavam a elas mesmas. Não é por acaso, que muitos mestres da estratégia, ainda hoje, vêm dos sectores Militares. Clauzewitz, um autor clássico da Estratégia, costume ser citado - sem rigor - assim: `a guerra é a realização da política por outros meios ´. Foi esse o entendimento dos nossos militares da guerra colonial. Estando a guerra num impasse e o regime sem soluções políticas para lhe por fim, tiverem de ser eles a desfazer o nó górdio em que Salazar prendeu e que Marcelo Caetano, parece que quis, mas não foi capaz de desatar. Sempre assim tem sido ao longo da história, seguindo-se a tradição de César.
Também foi na área Militar que se encontram as raízes da Administração e Gestão. Pois foi nesse sector onde se começou a pensar cientificamente sobre as estruturas de comando e controlo e logística. Por exemplo, a 2ª Guerra, foi ganha pelos aliados, porque os americanos desenvolveram e implementaram uma doutrina logística militar que lhe assegurou superioridade estratégica derivada da sua capacidade quase ilimitada de projecção de forças à escala global, transformando-se numa superpotência
Na tradição da ARTE DA GUERRA (Sun Tzu ), o primeiro passo de qualquer estratégia é a recolha e tratamento da informação (“intelligence”) e, só depois, o planeamento ou projecção da acção. Aliás, até ao Século XX, os Arquitectos, Engenheiros e Cartógrafos, provinham das Escolas Militares: Manuel da Maia, LIppe, Carlos Mardel, etc.
Como toda a acção militar e política se projecta nas pessoas e no território, é manifesto o interesse da informação geográfica, especialmente a cartográfica. Não existe ordenamento sem planificação, nem esta se faz sem cartografia e outra informação geográfica. A Faculdade de Ciências de Lisboa tem Cursos de Engenharia Geográfica e existe, na Rua Artilharia 1, em Lisboa, o Instituto Geográfico Português (Civil).
Podemos orgulharmo-nos das nossas tradições na área da Cartografia. Sendo o saber dois nossos Cartógrafos, grande parte do segredo do sucesso dos nossos Navegadores dos Sec. XV e XVI.
Se não se alterar a concentração e litoralização do país, um dia destes acordamos, quase todos, tombados no Atlântico. Vamos pensar que o nosso rectângulo e não temos onde ancorar o centro geométrico (ou “umbigo”). Tombaremos para o lado onde houver mais peso ou massa (advogado a falar).
Por cá, está o Sol e a Luz da S. M. Breyner e água está excelente. Se vierem não esperem por Agosto.
Um abraço,
Lagos, 28 de Junho de 2009
J.F.
Caro Rodrigues Marques,
ResponderEliminarEu sei o que os Serviços Cartográficos do Exército fizeram e fazem. E então? Em que sentido isso diminui o trabalho que agora publicito? Cuidado com as faltas de rigor...
Um abraço,
Adérito
O Terreiro do Paço poderá não ser o centro demográfico de Portugal, mas é o CENTRÃO em muitas outras àreas. Demasiadas, diga-se!
ResponderEliminarAmigo, companheiro e camarada Adérito Araújo, boa noite.
ResponderEliminarPeço-te desculpa de não ter tansmitido fielmente o que penso.
E eu que colaborei afincadamente com o Instituto Geográfico Português, que escolheu a Freguesia de Albergaria dos Doze para projecto piloto "Sirnegic" no País e aqui fez um trabalho brilhante de cadastrar todas as propriedades da freguesia.
Mil perdões ao autor e a ti.
Abraço.