(Por “encomenda” da minha
mui querida Amiga Paula Sofia Luz, escrevo agora e aqui uma diatribe
anti-Narciso da Câmara de Pombal, a publicar nas Farpas Pombalinas, sítio internáutico de apreciável concorrência
pombalense.)
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Em
jeito de proémio, aviso desde já os eventuais leitores internautas meus que a
idade me tem acrescentado em anos o mesmo que me tem sumido em paciência. O
mesmo vale por dizer que nem palpos-de-aranha, nem papas-na-língua. Quem tiver
medo de se assoar em público, que corte o nariz em privado.
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Quer-se
então dizer que a Câmara Municipal de Pombal odeia Pombal. Quer, quer, Man’el
Rodrigues Marques – quer, quer. As duas décadas narcisistas aí estão para no-lo
demonstrar – à saciedade como à sociedade.
Vinte
anos são muito ano. É muito bafio a sacristia menos autárquica que autocrática.
É muita canga jungindo o mesmo cachaço.
Que
vai arrancar a calçada para tudo lajear, em seu lugar, de granito. Granito!
Supina parolice: que temos nós, sicó-arunquenses, a ver com granito? Nada. Nada
– a não ser a reiterada asneira de reeleger sucessivamente uma figura da idade…
da pedra.
Que
vai arrancar os plátanos. Cuidado: isto já não é só e tão-só parolice. É crime.
A dendroclastia é uma tara intolerável. E é uma burrice mineral própria de quem
for de miolo mais dado à substância do calhau do que à circunvolutiva prega
neural da noz cerebral que às vezes distingue o homem da alimária. A não ser
que se seja das Meirinhas, essa charneira do pato-bravismo mais corneamente
obtuso, caso em que tudo fica (quase) explicado.
Que
vai fazer um urinol público em frente aos, ou perto dos, Paços. Isso já acho
bem: consagrar-se-á o mija-depressa-que-vem-lá-gente em monumento vivo à cagada
dos últimos dois decénios.
Aos
moradores e aos comerciantes do centro histórico não foi pedida qualquer
opinião. Pelo contrário, o projecto e a aberração foram-lhes apresentados como
facto consumado. É normal: é característico de qualquer aleivoso e histriónico
tiranete o rancor e a alergia à opinião livre, assertiva e construtiva. Suponho
que o edil com nome de velocípede até deve sonhar com elas, as bichas das
opiniões, as mostrengas manifestações de raciocínio não acarneirado. Deve,
deve, Man’el Rodrigues Marques – you know what I mean, como dizem os ugandeses
que andaram no colégio. Antes sonhasse, pobre homem, com as boazonas que o
Cristiano Ronaldo engata a torto e a direito – enquanto nós homens do Arunca
népias.
Népias
por surrépias, temos portanto que Narciso, o Arboricida, se prepara para deixar
em sua infeliz memória um urinol, uma saudade plátana e um chão de granito em
que o escarro gordo há-de ter estrelada pontuação. Muito bem. A gente, amigo
doutor Rocha Quaresma, também não tem feito por merecer mais. Tem? Não tem. Menos
é que era difícil.
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Termino
com um giro e bonito slogan de minha mesma lavra, do qual faço graciosa oferta
à edilidade mata-árvores. Tem a ver com o tal urinol (será ele, pergunto-me eu,
daqueles de meter moedinhas e que, depois de utilizado e aberta a porta, um
gajo dá por si na Austrália?). O slogan é este:
Quando fores ao urinol do
Narciso, no fim sacode-a, que é preciso.
Daniel Abrunheiro