Disponho de poucas certezas absolutas.
Sou mais propenso a dúvidas existenciais.
De absolutismos, conto como certas &
sabidas a brevidade da vida e a certeza da morte.
No outono da idade, talvez me seja dado
confundir isto com sabedoria.
Talvez.
Ou talvez eu seja como a ADERCE, aquela
associação ali da Estrada: existo, fiquei caro e não sirvo para nada.
Ou sirvo só para uma por ano, contabilidade
que, à beirinha dos cinquenta anos, até nem é má de todo: conheço serviços
ainda mais mínimos.
Que, enfim, as linhas iniciais da prosápia
de hoje ao menos me sirvam de justa causa & para devido efeito, benévolo
prolegómeno & atilado exórdio ao que, aqui & agora, por escrito me
(re)traz ao Vosso convívio: fui à gala de apresentação pública/social da Pombal TV.
Aconteceu no Teatro-Cine pela derradeira
noite do agora para sempre transacto mês de Fevereiro de 2014. A senhora com
quem sou casado pelos devidos trâmites notário-legais é que me levou lá. Tínhamos
convite impresso em papel de boa gramagem. No verso, reparei na galeria de
patrocinadores do acontecimento: Óptica
Lourenço, Brico Marché, TP Pascoal, Móveis Ilídio da Mota, Município de Pombal
e Rádio Cardal 87.6 FM. Bem. Muito bem.
(Todos sabemos levar a mão ao peito para
compungidamente reiterar juras de amor-eterno a tudo quanto seja, e faça bem a,
Pombal. Por Pombal tudo. Mas: Pombal tudo – menos tirar olhos. Até porque nos
fazem falta para ver a Pombal TV. Mas
continuando:)
Nas primícias da sessão, foi sem esforço
que assimilei as novidades. Havia bolinhos e copinhos no átrio do Teatro.
Cachos de gente ensarilhavam-se, como antigamente as G-3 na parada da mafrense
Escola Prática de Infantaria, na prática das cordialidades do costume –
sobretudo havendo bolinhos, sobretudo copinhos havendo. Era, em plena glória, o
nosso jet-6, que a 7 ainda não chegámos. Mas havemos de,
queira Deus ou o Diabo por ele.
Novidades, pois:
mudança de comando técnico no Sporting de
Pombal;
o Daniel Ponte está muito menos gordo, mais
bonito até, considerando que provém do vermoilense Moinho da Mata;
a malta da Rolls Beer (“pomada” a que, para mal dos meus pecados & secura
dos meus queixais, ainda não botei
espicho) em jantar-encontro no São Sebastião;
aniversários natalícios do Godinho do Red Line (já lá iremos) e daquele Paulo
pertencente ao periculosíssimo clã criptocomunista dos Araújos com sede ali ao
Barco, essa gente que há mais de um quarto de século conspira contra tudo e
contra todos assando revolucionariamente sardinhas para Amigos uma vez por ano
e clamando por justiça social para todos nos outros 364 dias (mais um em caso do
almanaque vir bissexto);
o facto do fato do apresentador masculino
ser Hugo Boss, esse que a comunidade e o Registo Civil assentam por Gonçalo
Santos mas que para as meninas é George
Clooney – foi excelente ouvi-lo dizer ao micro “Rádio Clube de Pombal” sem se rir;
a peanha estético-capilar difícil do
apresentador feminino, Paula Sofia Luz no baptistério mas Miss (Kate) Moss para os varões – também foi excelentíssimo ouvi-la
dizer, e praticamente no mesmo lance respiratório, “Notícias do Centro” e “Orlando
Cardoso” sem se lhe desmanchar nem um milímetro do ricto labial;
o Mário Freire de fato completo mas gravata
obscenamente encarnada à lampião,
logo ele, que só é sportinguista por escassez de oportunidades na infância ansianense;
a Kari Guergous, espécie de gardénia
ambulatória de pele lacada a vidro porcelânico espargindo no ar normalmente
dedicado à respiração a benesse de
termos nascido em a contemporaneidade de mulheres tão bonitas, caso
absolutamente afim, aliás, da patrocinadora da gala,
a Sissi Lourenço da Óptica idem, cujos olhos nunca por de mais esplendorosamente
cortejados por ali andavam escurecendo os outros (digo, os outros olhos) em
risco de despiste talvez fatal dos transitórios transitários daquela circulação;
e, finalmente, o não-é-ainda-desta há
muitas décadas esperado oficial anúncio nubente-matrimonial do chega-te-para-aí
par de rolas constituído pela eléctrica e electrizante Idália da Caixa Agrícola
& pelo suave e civilizado João Pessa de sabe-Deus-onde.
(Mas pronto, isto já dá para a Caras. Sigamos:)
Apertou-me a mão dextra cá fora, entre
fumadores, o grande Pedro Roma, gentil orgulho da terra.
Perto, vi um homem chamado Rui portar-se,
como de costume, caladinho e Benzinho.
Não vi o agente técnico de engenharia
mecânica Narciso Mota. (Atenção: agente
técnico de engenharia mecânica por receio de lhe chamar engenheiro, dada a confusão que por aí
grassa em desgraça de “licenciaturas” sócr’arrelvadas…). Contava vê-lo. Talvez
até lá tenha estado e eu o não tenha visto, como naquela noite em que veio cá
um Barreiras Duarte então secretário de Estado e não houve lugar para ele, ele
Narciso, à mesa dos que ficam virados de frente para os tolos da plateia como
eu e como tu, Leitor(a). A circunstância da sua ausência (a meus piscos olhos,
pelo menos) acaba dando azo de justificação a um trocadilho nada menos que
“franciú”: ai Narciso, depois de tantos anos de tout-venant já te tratam por tu-marchant…
Vi o senhor Carrilho, que me boa-noitou de
não distraída maneira, mesmo que eu ache, como ele acha que eu acho, que a
obrigatoriedade de re-aterrar a área explorada da mineiração pedreira é mais
comunitariamente ética e mais paisagístico-ambientalmente decente do que imperativamente
legal. Não é assim, senhor Júlio Lopes, aliás?
Entabulei negociações de desfalece-coração
com o engenheiro (este sim, de certeza engenheiro, certeza minha sem desfazer
noutros) Francisco Faro, cujo fácies augusto e cuja arguta bonomia sempre me
reiteram a dívida-para-além-da-vida que hei-de ter (para) sempre (para) com o
Pai dele, senhor Professor Elias Rodrigues Faro, meu Mestre-Escola e meu
Mestre-Vida, meu perpétuo avatar de tudo quanto seja escrita que eu faça, sem o
qual não poderia eu nunca jamais saber o que fazer com um lápis na mão, um
papel por baixo e tu, Leitor(a), pela frente.
Não vi o ex-pombal-patriado João Melo
Alvim. Isso também me fez espécie. Afinal, era a gala da Pombal TV. Meu raciocínio em cadeia, a propósito do bom Alvim: ora,
TV, ecrã; ecrã, filmes; filmes, cinema; cinema, Alvim. Mas pronto. O João segue
dentro de momentos, pedimos desculpa por esta interrupção.
O Henrique Falcão, esse vi-o. É, como bem
no sabeis, homem de material solidez, até malar. Não clona o irmão, o Zé, esse
sósia do escritor Hemingway a quem nós, na Cervejália, em Dezembro, estamos
sempre a chamar Pai Natal, mas a
quem também, nos onze meses restantes, tratamos por Capitão Iglo, a ponto de, quando em apuros de pesca, já lhe
chegarem douradinhos os peixes que à
linha lhe vieram. O Henrique Falcão estava a falar há uma data de tempo com o
Diogo. Mais de quatro minutos contei eu, o que é sempre notável e de registo.
(Cuida-te, ó Zé Guardado!)
O último, até agora, parágrafo refere-se já
ao período pós-gala, quando a plateia se desfez em três:
1) a que ajuizadamente foi para casa;
2) a Oposição (ou o que sobra dela), que
foi para o Black & White;
e
3) a Situação, vulgo corte de Dom Diogo,
que foi tornar Orange a parte Red do bar Line do aniversariante Godinho.
Estive, por esta ordem, nos pontos 2), 3)
e, finalmente, 1).
No sítio 2), sofri, como os demais, a
decepção de ainda não ser desta que a Idália e o Pessa juntam trapinhos. A
música estava um bocado alta, pelo que tivemos todos de comunicar por gestos
como aquele doidinho intérprete do funeral do Mandela. Quando desconfiei que a
minha mulher também queria tomar bebidas de adultos, raptei-a e desembestei com
ela rumo ao sítio descrito em 3). Aí chegados, topei a tal conversação Henrique
Falcão/Diogo Mateus. O Ricardo, filho do mui saudoso e querido Tó Silva,
guitarr’electricanimava o maralhal, que era muito e, suspeito que também,
inçado de jotas. O Pedro Pimpão pelo
menos andava por lá, mas esse já não é jota,
que a bananeira já lhe deu fruto mais alto. O melhor da festa foi o shot de Jameson que o grande, em todos
os aspectos, Jorge Franco me içou aos beiços. À nossa mesa, presidia a beleza
já duas vezes maternal da Raquel, belíssima moça que deu à boa senhora mãe
dela, Lurdes Farinha, o desgosto de ter casado com aquele rapaz Freire da
Cardal, mas pronto, bem diz o Povo que um
mau passo pode dar uma boa mãe. (NB: também falei com o Presidente da
Câmara – mas isso é “bitaite” para crónica, ou memória, futura.)
Nos finalmentes, permiti-me Vós que, da
gala e do motivo dela propriamente ditos, retenha o que ouvi alguém em palco
dizer: que “não é o meio que interessa,
mas a credibilidade”. Cem por cento certo. E nisto acabo afinal chegando
aos dois nomes maiores da noite: os dos jovens Jaime Pessoa & Rita Ribeiro,
forças motoras de um projecto que, para já, merecem crença, estímulo e
frequência. Aproveitando a “embalagem” das primeiras linhas desta crónica, à
Rita & ao Jaime tenho tão-só a dizer que a boa-sorte, mesmo em Pombal, é
coisa que se faz, não que se deseje. Atenção: o meio é adverso; o ambiente é
avinagrado; isso por aí não é tudo gente boa. Mas vós sois. Por isso,
POMBAL TV, SAÚDE!