O
Príncipe sabe que para conquistar os súbditos tem que se aproximar deles; e
para isso, tem que sair do convento de Santo António, tem que procurar o povo e
misturar-se com ele – cousas onde não é muito versado. Mas, para o poder fazer,
sabe (agora) que tem que se libertar dos seus muitos afazeres, das minudências em que se deixou enrolar e entreter; distanciando-se, ainda mais,
de súbditos e, até, dos ministros; não se dando sequer conta do que não fazem, do que fazem mal, e - pior - do que andam a fazer. Chamou o Pança e ordenou-lhe que convocasse os
ministros para uma reunião. O Pança perguntou: - Todos ou só os nossos, Alteza?
O Príncipe corrigiu logo a pergunta: - Fazes bem perguntar, Pança; mas fazes
mal a pergunta! Sabes bem que são todos nossos; mas para este fim, só quero os
que têm pasta atribuída.
-
Percebido Alteza, - rematou o Pança.
No
dia seguinte, à hora marcada, o Príncipe perguntou ao Pança se já tinham
chegado todos, ao que este respondeu favoravelmente. Mal tinha o Príncipe acabado
de se sentar, apareceu à porta, atrasado, o ministro Videira. Pediu desculpa
pelo atraso - tinha-se descuidado no envio de uma encomenda.
O
Príncipe, depois de fazer uma alocução alargada sobre o momento político e da necessidade
que tinha de se libertar dos seus muitos afazeres para poder procurar a sua
fortuna, e a deles (ou pelo menos de alguns deles); advertiu os ministros que
esperava deles mais empenhamento, e que lhes iria delegar mais competências.
A
cara dos ministros era de espanto e por todos perpassava uma interrogação: se quis
concentrar tudo; porque delega, agora?
O
Príncipe mandou o Pança apontar as atribuições a distribuir por cada ministro. E
começou por dizer:
-
Começo pelo ministro Videira, por ser o mais folgado. Delego-lhe a competência
para emprestar os campos da bola.
-
Não posso assumir mais atribuições, Alteza – reagiu incomodado o ministro
Videira. Preciso é que Sua Alteza me liberte totalmente das que tenho.
-
Libertado tendes estado, estes anos todos - retorquiu o Príncipe. Não acheis
que seria melhor, que neste final de mandato, fizésseis alguma coisa, para
justificardes o cargo?
-
Agora já não vale a pena, Alteza – contrapôs o ministro Videira. Falta-me tempo
e querer; tais são as empresas em que estou metido.
-
Empresas? Que empresas? – Interrogou o Príncipe.
-
Várias, Alteza. Com a família e o negócio dos pines a crescer; e querendo tornar-me
governador da junta, não tenho tempo para mais atribuições. E que lhe aproveita
Vossa Mercê dar-me mais atribuições se não as exercitarei?
-
Muito me surpreendeis: nunca governardes nada, como quereis ser governador?
Quem te havia de dar uma junta para governardes? E logo a maior? Não vedes que
há homens mais hábeis e esforçados do que tu para governador?
-
Governo o meu negócio. - Refutou o ministro Videira.
-
Tenho que mandar avaliar as incompatibilidades desse negócio.
-
Não tem nenhuma incompatibilidade, Alteza. Não falto ao trabalho; faço-o aqui dentro, para outro público! - contrapôs o ministro Videira.
A
estupefação incomodou todos. Percebendo-o; adiantou-se o Pança para conter o
imbróglio: - depois esclarecemos esses negócios…?
E
o Príncipe interrompeu a reunião para almoço. Segue dentro de momentos.
O Ministro Videira é que a sabe toda, naquela seu ar de "porreiraço" consegue sempre levar a agua ao seu Moinho. Passa sempre pelos pingos da chuva sem grande contestação, ao contrario do Ministro das Obras e do Príncipe que parecem que trazem o Rei na barriga e que têm nojo do povinho.
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