Nota prévia: O Farpas está agradecido ao Renato Guardado pela
sua participação no debate sobre os investimentos que a câmara está a realizar
nos Poios. Exercer a cidadania, debater a coisa pública com os cidadãos, deveria
ser um dever de cidadania, nomeadamente por parte de quem exerce ou exerceu
cargos políticos; mas, na ausência de políticos capazes de dar a cara pelo que
fazem, transformou-se num favor, que creditamos com gosto. Mas convém lembrar
que a participação no debate foi, também, ou acima de tudo, uma oportunidade, para,
finalmente, o Renato Guardado, em seu nome, e em nome do poder que representa,
informar e esclarecer os residentes nos Poios, na Redinha e em Pombal, sobre o
que andam a fazer na serra com o nosso dinheiro. No entanto, a gratidão devida não
o isenta ao contraditório, nomeadamente quando opina sobre os d` Casa, ou
debita juízos inconsistentes sobre as temáticas em discussão.
Ouvindo as suas intervenções
no debate e lendo o post, percebe-se que para o Renato Guardado “tornou-se evidente que a questão apresentada
encerra em si uma forte carga negativa sobre o tema”. Não foi isso que
achou a ampla plateia - os residentes nos Poios e na Redinha, a quem nunca
ninguém passou cartão, informou ou deu explicações - e não é isso que a
semântica da frase mostra: a questão é muito neutra; os tempos verbais,
“valorizam” ou “estragam”, são antónimos, como seriam, também, os termos “beneficiam”
ou “prejudicam” (numa linguagem mais técnica).
O Renato Guardado acusa-nos
de procurarmos gerar “um certo alarmismo”
e de “manifestação de um mero preconceito
e uma tentativa de manipulação da opinião pública”. Discordo totalmente. Procurámos
exactamente o contrário: o confronto aberto e livre de duas posições contrárias
- a melhor forma de formar opinião -, ouvindo todos. Acho que o conseguimos,
mas aceito opinião contrária… Por outro lado, não fomos alarmistas: não
dissemos que o CIMU vai deslizar e arrasar a aldeia dos Poios ou que o rabisco
da Ponte Suspensa no Vale do Poio vai cair em cima dos caminhantes.
No debate, tivemos
mais o Renato Guardado político do que o arquitecto. Nada a opor; foi escolha
sua, que respeito. Mas registo e realço que defendeu os investimentos com
argumentos políticos pouco consistentes e até demagógicos. Quando afirma que “tanto
na localização, como no programa, e até mesmo sobre a arquitetura do edifício
saliento que houve à época da conceção do projeto um consenso alargado entre os
vários parceiros do mesmo” e, agora, se verifica que ninguém ou
muito poucos (onde ele talvez se inclua) defende a localização, o programa (já
abandonado, em boa parte, pela câmara; digo eu) e a arquitectura, podemos concluir o
seguinte: o consenso era aparente, como acontece sempre com poderes autocráticos.
No que se refere à
implantação do edifício, afirma o Renato Guardado, que apesar de “parecer não coincidir com o projetado,
realço que essa impressão é gerada pelo facto de a obra não estar terminada e
faltar fazer a reposição de terras no local”. As terras nas
imediações não foram movimentadas; a estrada, única – no lado com maior impacto
negativo - está no mesmo sítio. O Renato Guardado defende a subida da cota da estrada,
vários metros, para enterrar o edifício? Com este argumento o Renato Guardado reage como o alfaiate
que enfrenta o desgosto do cliente com a prova do fato: culpa o cliente por não
caber no fato feito à sua medida, e aconselha-o a colocar uns enchumaços.
Relativamente à
desvalorização do impacto do(s) empreendimento(s) na paisagem protegida, com
base no argumento de que “o edifício é
apenas uma ferramenta que virá facilitar a implementação” de uma “estratégia de intervenção no território,
julgo ser difícil considerar que a mesma venha estragar a Serra do Sicó”,
por respeito ao autor dispenso-me a classificá-lo.
Sobre o investimento
da Ponte Suspensa sobre o Vale do Poio Novo, divulgado e programado pela câmara, Renato Guardado agarra-se a uma
imagem simples e inócua, criada pelo Farpas, para ilustrar, na ausência de
outra, a prevista ponte, para afiançar que “a
imagem apresentada no debate é uma ilustração feita pelos “da casa Farpas”, com
um propósito de orientar os leitores e os presentes para uma opinião negativa
sobre a mesma. Formular esta
imagem e esta opinião sem conhecer o verdadeiro projeto, considero ser a
manifestação de um mero preconceito e uma tentativa de manipulação da opinião
pública”. Demagogia pura. Depois contesta, sem razão, a
divulgação, no debate, pelo outro orador, dos 420.000€ programados no Pano de
Investimentos para a construção da referida ponte. Quem orçamenta 420.000
€ para a construção de um equipamento num local problemático deve ter uma ideia
clara do que pretende fazer, deve discuti-la com a comunidade, e ouvir. Convinha
que tivessem aprendido alguma coisa com o desastre do CIMU-SICÓ.