30 de dezembro de 2024

O PS local e a Saúde

A recente concelhia do PS Pombal "decidiu" fazer da vasta temática da Saúde um cavalo de batalha da sua acção política. A decisão tem tanto de problemática como de desastrada - coisa de fugir…



Há vinte e tal anos, expliquei pormenorizada e - julgo – convincentemente que a temática da Saúde nunca deveria ser um eixo de acção política concelhia. E nos anos seguintes não o foi. Mas a concelhia do PS há muito perdeu a memória e o tino, atributos indispensáveis para poder ter algum sucesso.

O recente comunicado da concelhia sobre a exoneração do Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde da Região de Leiria marca uma posição e um estilo -, um pavoroso ridículo que só acrescenta descrédito. 

20 de dezembro de 2024

AM, que balanço?

Em boa hora o Professor aceitou presidir à Mesa da Assembleia Municipal de Pombal. E ainda bem que a sua entrada na política pombalense coincidiu com a ascensão dos Pimpões ao poder. Se tal não tivesse acontecido, a política local ter-se-ia degradado ainda mais, talvez irreversivelmente, e não se perceberia que a acção política exige preparação e decência. Quem quiser assistir às 8 horas da última reunião da AM, ontem realizada, perceberá ao ponto que chegámos, e poderá imaginar o que seria daquela assembleia magna sem Mota Pinto naquele lugar.



Nos fenómenos sociais é sempre difícil perceber se um determinado estado, ou estágio, é causa ou consequência de outro. Na política pombalense poderá ser difícil perceber se a classe política que por cá vegeta é causa ou consequência da estagnação e do declínio do município e da paralisia da câmara (se exceptuarmos as festas e eventos). Mas colando os múltiplos actos e papelinhos da longa reunião, a maioria das pessoas poderá formar uma opinião fundamentada sobre o estado a que chegámos. Da minha parte direi só que me continua a intrigar como foi possível os Pimpões ascenderam ao poder e tornarem-se figuras proeminentes da política local.

Se um Pimpão faz muito mal à Política, dois Pimpões fazem muito pior. Até porque são duas faces da mesma moeda: muito diferentes e muito iguais.

O João julga-se um tribuno, mas é um tambor - uma coisa cilíndrica que faz muito barulho, mas é vazio por dentro. Fala, fala, fala, mas não sabe o que falar quer dizer… Quando diz sandices e obscenidades, como as que disse sobre as representantes do PS, não o faz por amor à palavra indecente, não o faz pelo prazer de dizer obscenidades, mas simplesmente por um costume desprezível que se tornou quase uma necessidade. Mas o pior nem é o que diz, é a insuportável grosseria e os modos brejeiros que exibe quando alguém do PS fala antes ou a seguir a ele. Ostenta uma incontinência físico-mental que nem o presidente da mesa consegue conter, apesar das constantes repreensões.  Pega-se frequentemente com o dotor Coelho por tudo e por nada. Já era tempo de este lhe responder como respondeu Cícero a Catilina, “Até quando, Catilina, abusarás de nossa paciência?”

Mas apesar de tudo, o caso do Pedro é mais preocupante porque provoca mais danos. Os danos da cultura de mediocridade perdurarão, por muito tempo, na urbe. Não se consegue vislumbrar um acto de excelência ou uma expressão galvanizadora no Pedro. É um pregador do optimismo vazio, da fantasia pimpona e da lisonja fácil, que abusa sistematicamente do superlativo e do pomposo, que abastarda a linguagem e contrafaz o discernimento em benefício próprio. A exaltação que fez dos méritos (capacidade organização e gestão) do Director Municipal ultrapassou o ridículo. Aplica-se aqui bem o célebre raciocínio de Freud, quando sabiamente disse, “quando Pedro me fala de Paulo, sei mais de Pedro do que de Paulo (Agostinho, neste caso). Na verdade, não ficámos a saber mais de Agostinho, porque já sabíamos tudo o que interessava saber: é tão bom gestor que nem a sua vida conseguiu gerir, ao ponto de ter de se apresentar no tribunal, com uma corda ao pescoço, para que este o declarasse falido, devido às avultadas dívidas contraídas. Mas do Pedro ficámos a saber mais qualquer coisa; reforçámos a ideia do bom-profeta capaz de forjar mentiras em que posteriormente acredita, como esta sobre o Agostinho, e as outras sobre o desagravamento fiscal e os 23 milhões de despesa fiscal entregues aos munícipes. Penso até que foram cozinhadas pelos mesmos impostores.

E a “oposição”? A "oposição" esteve igual a si própria, frágil e descrente. O dotor Coelho falou bem e expeditamente, mas é de seu natural inconsequente. No entanto, deixou a ideia que é melhor a rebater propostas/recomendações que a defendê-las. Percebe-se - e ele já deve ter percebido porque não é parvo - que está sozinho. A desistência pode estar já ao virar da esquina.

16 de dezembro de 2024

O despesismo castiga sempre alguém

Na penúltima reunião da “Junta”, o dotor Pimpão deixou, en passant (sem ser questionado), um aviso que traz consigo um castigo: a factura da água vai ter de aumentar. Como não gosta de assumir as más decisões, desculpou-se com as recomendações/obrigações do novo quadro legal. Um município que explora um serviço de tão grande proximidade, como o abastecimento de água, em total autonomia e de forma rentável, sem nenhuma concorrência desleal em relação a outros municípios ou empresas públicas, não deve seguir recomendações ou obrigações gerais.



Em boa hora Narciso Mota manteve todo o sistema de abastecimento de água na posse do município, assegurando receitas próprias consistentemente rentáveis e uma boa autonomia estratégica e funcional para a câmara. Tanto assim foi que durante muitos anos as receitas do abastecimento de água cobriam a maior fatia da despesa corrente: encargos com pessoal.

Mas a partir do momento em que a despesa no acessório (festas, folclore e eventos) se tornou forma de vida as contas começaram a andar rapadas e o passo seguinte será, inevitavelmente, cobrar mais.

Não há diversão grátis.   

13 de dezembro de 2024

Faz & Desfaz, o regresso das Obras Tortas

Noutra vida, esta terra terá pecado muito.

Nesta, estamos condenados a uma permanente penitência.



12 de dezembro de 2024

A mentira como arma política

A mentira, mais ao menos implícita ou dissimulada, foi muitas vezes usada como arma política, nomeadamente pelos políticos fantasiosos. O dotor Pimpão usa-a frequentemente; umas vezes de forma descarada e internacional, outras por simples desconhecimento da matéria ou do significado da linguagem usada.

Depois de se apresentar como grande benemérito das famílias e empresas, com a aldrabice da concessão de 23 milhões de despesa fiscal, vem agora apregoar o desagravamento doel IMI para 2025, quando a taxa simplesmente se mantém.Bem sei que todo o esbanjador gosta de se apresentar como poupador. Mas há limites para a trapaça.

Para agravar a coisa, temos o “jornalismo” de favor, sempre ávido do papel de pombo-de-correio.




11 de dezembro de 2024

Tal pastor tal rebanho

Ontem, o dotor Pimpão  e a sorridente Gina reuniram com a rapaziada eleita para o dito Conselho Municipal da Juventude, que de jovem e de municipal pouco tem, e de aconselhamento ainda menos. Mas adiante, que o que interessa é cumprir a agenda e publicar qualquer coisa.



E o que saiu de lá? Perguntarão, com certeza, os leitores. Saiu um parecer. Um parecer ao Orçamento de 2025 e às Grandes Opções do Plano 2025/29, aprovado por unanimidade. Como dizia o Nelson, toda a unanimidade é burra. E toda a associação que não eleva rebaixa - acrescento eu, que o li algures. 

O dotor Pimpão encarna na perfeição o virtuoso profeta da mediocridade, vulgar e rotineiro. Acredita, coitado, que concilia todo o mundo, com falsas promessas e consensos vazios, e que esse é seu papel. Depois refugia-se no simbólico e procura na exaltação mediática de magnificências reles a ilusão de estar a agir e a realizar, convencido de que nisto da política, tal como na vida, tudo corre por graça divina e resultará bem. É uma criatura imprudente, e carente, que precisa de consolação constante para não cair em desespero.  Mas já dizia Macbeth, na tragédia com o seu nome, que nada se ganha, e tudo se perde, quando nosso desejo fica satisfeito sem contentamento.

Já se pode afirmar com alguma segurança que legado do dotor Pimpão, como presidente da câmara, não será avaliado pelas opções que tomou ou pelas realizações materiais mais ou menos conseguidas, como sucedeu com os seus antecessores, mas pelo traço inconfundível de frivolidade narcisista e mediocridade conformista que perdurará por muito tempo. 


Adenda: deste dito CMJ faz parte, entre outros, um membro da Assembleia Municipal de cada partido ou grupo de cidadãos eleitores representados na Assembleia Municipal e um representante de cada organização de juventude partidária com representação nos órgãos do Município ou na Assembleia da República.

6 de dezembro de 2024

Soares, maior que o pensamento



 

Se cá estivesse, Mário Soares faria 100 anos este sábado, 7 de Dezembro. Ainda bem que não está, tal seria o desgosto com o estado a que chegámos, no país, a que chegou o partido que sonhou. Um e outro envoltos num manto de liberdade, com espaço para quem pensa diferente, no respeito pelos valores de Abril. Imagino-o a dar voltas no túmulo sempre que a tv nos mostra as tiradas de Leão ou Sanfona, exemplo claro de quem, sendo do PS, nunca foi socialista. Ou com outros que nunca chegam a ser notícia.

Soares nasceu num berço de ouro, podemos dizê-lo, e fez parte de uma franja que tomou consciência do que era ser privilegiado. De como seria se calçasse outros sapatos, às vezes tamancos, como aqueles que os meus pais calçavam ao domingo para ir à missa, no tempo em que Soares já era preso, ou forçado ao exílio.

Não sei que idade tinha eu quando ouvi falar dele pela primeira vez, mas foi antes daquelas eleições de 1986, em que quase todos os meus amigos da escola gritavam no recreio o slogan ‘Prá Frente, Portugal’, enquanto o meu pai – regressado da tão cinzenta Alemanha – me deixou colar no Kispo vermelho um autocolante a dizer “Soares é Fixe”.

Muitos antes, o meu tio Costa apareceu lá em casa com uma bandeira de tecido e o símbolo do PS bordado. Iam (os meus pais e os meus tios) a um jantar de apoio a uma candidatura qualquer, em que ele era esperado. O meu tio acabara de regressar à aldeia, também, reformado dessa dura profissão de estivador. Sentavam-se na placa do poço, no quintal, e falavam de política. Da guerra, que deixara mazelas em toda(s) a(s) família(s), da pobreza em que cresceram, do país que sonhavam para as filhas. De Soares, falavam sempre com a deferência de quem se refere a um ser maior.

Na primavera de 1994 tive a sorte de o acompanhar, em reportagem para o Região de Leiria, na sua presidência aberta pelo distrito. Soares era imponente, até no trato. A dada altura, reparou em mim, no meu indisfarçável pouco à vontade em tão gigante tarefa, e perguntou-me: “Então? Aguenta?”. Senti-me ainda mais pequena, perante um homem que era enorme.

Dois anos depois, a 8 de Dezembro de 1996, voltei a vê-lo, imponente, na inauguração da Casa-Museu João Soares, nas Cortes, um espaço que todas as crianças e jovens deste país deveriam visitar. Desse dia guardo dois momentos: o Betinho (fotógrafo do Diário de Leiria, prematuramente desaparecido) em cima de um telhado para captar a melhor imagem, e Soares a ralhar com ele: “ó homem saia daí que você ainda cai daí abaixo!’. E mais tarde, o episódio que daria títulos à imprensa nacional: “o meu pai costumava dizer, quando o elogiavam muito, ´sou apenas filho de um vacão do Soutocico´”.

Escrevo estas memórias enquanto a RTP 3 passa em reposição “O caminho faz-se caminhando”, uma conversa sobre o mundo e a História entre Mário Soares e Clara Ferreira Alves, onde fica tão patente a dimensão intelectual de Soares, num tempo em que os políticos eram também seres pensantes, senhores de uma cultura geral avassaladora. Que privilegiava o confronto, a divergência de opinião (como lembrou ainda hoje António Campos), em detrimento do elogio e da bajulação.

Era assim, ele. Socialista, republicano e laico.

 Faz-nos falta todos os dias.