20 de fevereiro de 2014

SE NÃO CONTAREM COM O JOÃO, ENTÃO COMIGO TAMBÉM NÃO Ou CRÓNICA SOBRE A BALBÚRDIA QUE ANDA A SER AQUILO DA ASSOCIAÇÃO DE PAIS

Eu já fui professor do então denominado 8.º Grupo B do ensino secundário. Aconteceu noutro século. Nesses já remotos anos, a minha Escola era o louriçalense Instituto D. João V. E a vida era boa como cerejas frescas. E dava para pôr um “V” antes do segundo “E” de “cerejas”. Adiante.
Entre 1989 e 1993, a minha Escola era, como disse, o louriçalense Instituto D. João V, estabelecimento então muito menos famoso do que agora, mas por boas razões: os professores davam aulas, os alunos tinham-nas e a Associação de Pais local era uma remota eventualidade mais do foro da ficção científica do que da pragmática quotidiana do regular funcionamento lectivo. Mas adiante de novo.
Aconteceu que, em 1990 primeiro e logo depois em 1991, este V. cronista foi convidado pelo Conselho Directivo da Escola Secundária de Pombal a vir à estimada e prestigiosa instituição que tantos bons frutos deu já à Pátria e até a Vermoil. Aceitei. Motivo do convite: palestrar e aconselhar os então décimo-segundo-anistas relativamente à famigerada PGA (Prova Geral de Acesso, espécie de funil artificioso com que o ME de então queria justificar o numerus clausus do acesso ao Superior). Disse que sim e vim. Fui muito bem recebido, tanto em 90 como em 91. Tenho até dois certificados carimbados e tudo que atestam que V. não aldrabo. Acho que os miúdos aproveitaram alguma coisa. Eu também. E pronto: num fósforo, já lá vai um quarto de século quase. Pelos meus 30 anos, deixei o ensino como ganha-pão e ingressei no jornalismo. Asneiras da juventude, que hoje amargo com língua-de-palmo. Ou não. Mas adiante ainda, que o bingo ainda não é aqui.
Estabelecido o contexto nos primeiros parágrafos, ataco agora o assunto que deveras aqui me trouxe. E o assunto que deveras aqui me trouxe – é o da balbúrdia que pela mesma Secundária pombalense parece andar (e anda) grassando e desgraçando quase tudo e quase todos, do mais ínfimo bicho-careta ao mais autoproclamado senhor-doutor-da-mula-ruça-dá-lhe-o-xarope-para-que-ela-não-tussa.
Garanto-vos que em 1990 não era nada disto: professores eram professores, pais eram pais, directores eram directores, alunos eram alunos – e a mais, ninguém se sentia obrigado. Agora, nada disso. Agora há professores que querem ser pais e professores ao mesmo tempo e na mesma Escola. Praticamente, moram lá, só devem ir a casa escovar os dentes e mudar a areia ao gato. Parece-me que secundária, para eles, é a missão educativa, porque primária é a tentação de mandar alguma coisita, já que se calhar em casa não mandam nada. Ou então, se calhar, esta zaragata de vespas, por assim dizer, nasceu da mesma confusão originada pelo abate/fusão de freguesias. De freguesias e de agrupamentos. Puseram, por exemplo, o agrupamento da Marquês a chuchar – e agora é o que se vê: uma cacofonia de tachos vazios tão grande, que ele é alumínio amolgado por tudo quanto é sítio. Alumínio e até casais casados tão bem habituadinhos a mandar naquilo que, até por lei, nem é deles.
(Abro aqui parêntesis por necessidade de clareza, teatrice de àparte e injecção de piadola. A coisa vai em maiúsculas como se eu estivesse no palco do Teatro-Cine a mandar bojardas gilvicentinas para gáudio da geral plateia: ENTÃO E SE O JOÃO FARIA TIVESSE FEITO E TIDO E MANTIDO FILHOS? PODERIA O BOM JOÃO CONCORRER, ELE TAMBÉM, À ASSOCIAÇÃO DE PAIS DA SECUNDÁRIA? HUM? PODERIA OU NÃO PODERIA? OU TAMBÉM LHE DIRIAM QUE ELE NÃO TINHA LÁ CABIDELA PORQUE NÃO TEM CURSO SUPERIOR E PORTANTO NEM SABE FAZER ACTAS NEM PODE DAR RELIGIÃO E MORAL? HUM? Fim de parêntesis.)
Ora, como vos dizia, tudo isto me cheira ao mesmo esturro da politiquice baixa tão à moda e ao gosto da cena pombalense. Cheira-me, até, a cera fria de sacristia, um não-sei-quê de saiotes à Opus Dei fantasmando vigaricezitas em nome do é-tudo-por-Deus-mas-começa-por-mim. Cheira, cheira. E por me cheirar a essa ímpia e falsa piedade, dou-lhe de machado. Claro. (Até já estava a demorar o trocadilhozito, não estava? É mais ou menos por esta altura que por exemplo o Zé Gomes Fernandes se começa a rir, esse meu Amigo que tão calado tem andado em relação à ETAP desde que os maiorais de lá também foram mudados.) Mas o bingo é ali em frente e não há-de ser ele a vir a nós. Vamos pois nós a ele com esforço, dedicação e devoção, que a glória é certa, a acreditar no Sporting.
Eu não lhe chamo ilegal, mas chamo-lhe imoral, até regimentalmente. A quê? A quem? Ora, a ser prof. e pai e tudo ao mesmo tempo – nem que seja para que mais ninguém o possa ser. E acho perfeitamente tenebroso que a Educação deixe de ser efectiva e genuína causa comum para ser apenas a gamela onde refocilam lavagens uns quantos bacoritos ávidos de projecção social que nem sequer desconfiam que, lá ao fundo dos 40, 50, 60 anitos está a moléstia à espera de nos tornar a todos clientes da Guida da Funerária. E que a vida é curta. E que a vida é preciosa de mais para ser desperdiçada nestas questiúnculas de auto-afirmação sempre (MAS SEMPRE) em detrimento dos outros. E que nem nos próprios filhos pensam, ocupados que estão na ilusão de, em vez de um Opel Corsa a cair aos bocados como agora, virem a ter na garagem nem que seja uma terça parte dos calhambeques de luxo como os Madamas, esses campeões do sorteio das facturas, pois assim foi que juntaram tanto Ferrari, ó bom Deus!
Se eu posso dizer isto?
Posso – porque sei o que digo, sei do que falo – e porque, referindo-me afinal a toda a gente, particularizo ninguém. Não é assim, ó meu bom Amigo Manuel António, que em vez de andares sossegadinho lá pela nossa Guia ainda te dás ao triste luxo de ensinar a gente que estas coisas do poder são muito lindas mas têm de ser legítimas. Que para se ser bom docente, decente há que ser também. Que os Conselhos Gerais têm precisamente de ser isso – Gerais, não propriedade privada de meia-dúzia de malacuecos que fazem vista-grossa à incontornável obrigação de a barcarola da Educação ser remada por todos e na mesma direcção, de professores a alunos, de pessoal não docente a pais, com uns pós de Câmara (mas não muitos, caso contrário lá me cheira outra vez a sacristia politiqueira), de entidades locais e… do João Faria, que mesmo, ao que se saiba, não sendo pai, nem sabendo redigir actas à “doutor”, também no meu tempo ia ao Instituto do antigo Louriçal mostrar aqueles calhauzitos carregadinhos de sinais dinossáuricos.
Como dinossáurica também me parece, à pombalense moda, esta afinal ridícula trauliteirice de uns zés-marias-afinal-ninguéns que, sem ao menos uma associaçãozita de pais, nenhuma marca deixariam.
Nem pela tal PGA passariam com aproveitamento. Pela PGA ou por mim, que também fui professor, que também sou pai mas nunca me dei à triste sina de querer mentirosamente parecer o que o ser verdadeiramente me nunca deu.
Ite, missa est. Ide em paz.

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