25 de outubro de 2020

A Saga Varela

Ao fim de anos de avanços e recuos sobre o que fazer da Casa Varela, a Câmara Municipal de Pombal (CMP) apresentou, em Agosto deste ano, o seu Director Artístico. Seria de esperar que, para além da circunstância do nome, algo mais fosse dito aos pombalenses. E a  verdade é que foi, mas tudo passou nas entrelinhas.

O que há sabíamos.

1. A Casa Varela foi adquirida pela CMP sem que esta tivesse definido para ela qualquer programa. Com o menino nos braços, havia que dar um destino à coisa para poder justificar aos eleitores a pertinência de compra. E foram várias as propostas apresentadas: uma escola de artes e ofícios, um espaço para albergar uma loja do cidadão ou serviços municipais, um restaurante, um hostel, um espaço de co-working, um gabinete de apoio ao emprego e ao empregador. 

2. Depois de uma reunião com os artistas locais em 2014 (já lá vão 6 anos; o Daniel Abrunheiro e o José Gomes Fernandes ainda escreviam no Farpas!), ficou no ar a ideia (ver aqui, aqui, aqui e aqui) de que a CMP pretendia destinar o local a uma casa das artes. 

3. Em Janeiro, numa reunião camarária, foi assumido que a Casa Varela seria "um espaço de promoção e criação artística, performance e exposições" que "pretende abranger áreas culturais diversificadas, como a música, artes cénicas, pintura, escultura entre outras formas de arte, promovendo também trabalhos de experimentação e residências artísticas". Em coerência com essa proposta, a CMP decidiu abandonar a ideia do restaurante, optando por construir, no piso -1 do edifício, uma sala de ensaios numa tipologia de open-space, que também poderia ser destinada a exercícios performativos e espectáculos intimistas. 

O que ficámos a saber

1. A grande novidade foi a escolha de Filipe Eusébio como Director Artístico da Casa Varela. O Filipe é uma pessoa dinâmica, com muita experiência na área teatral e com fortes ligações aos agentes culturais de Pombal. A sua escolha tem todos os ingredientes para agradar aos nossos artistas e, pessoalmente, desejo-lhe o maior sucesso nas suas novas funções.

2. O cargo de Director Artístico da Casa Varela é um cargo de confiança política. Se assim não fosse, não haveria razão para as suas funções terminarem nas eleições. Este facto compromete a autonomia de Filipe Eusébio, deixando-o refém dos humores do Presidente da Câmara.

3. Em declarações ao Jornal de Leiria, Diogo Mateus garantiu que no próximo Orçamento Municipal será contemplada uma verba de investimento e funcionamento anual, mas que, "num futuro a médio prazo, entre as várias possibilidades de modelo económico em estudo, está uma “fundação com pernas para andar”, com apoio mecenático, da comunidade e também da autarquia". Aqui está está uma belíssima forma de não se dizer nada! Mas, se atentarmos bem, o que Diogo Mateus nos quer dizer é que, da Autarquia, a Casa Varela apenas irá ter orçamento para funcionamento e pouco mais, remetendo para um "futuro a médio prazo" um modelo económico que viabilize a infra-estrutura.

O que gostaríamos de saber (e a nossa imprensa não pergunta)

1. A conferência de imprensa de apresentação de Filipe Eusébio foi totalmente dominada por Diogo Mateus. Esta opção deixa transparecer algo que merecia ser esmiuçado: o projecto artístico é da autoria do Presidente da Câmara ou do novo Director Artístico? Qual o contributo de pessoas como André Varandas (indignamente descartado pela Autarquia já depois da referida reunião de Janeiro) na elaboração do referido projecto? 

2. Qual o modelo de gestão da Casa Varela? Qual a autonomia do seu Director Artístico (já sabemos que é pouca)? Será que todas as suas decisões terão que ser ratificadas pela vereação? 

3. Será que a CMP, que já possui espaços como o Celeiro do Marquês, o Teatro-Cine, a Biblioteca Municipal, entre outros, necessitava de adquirir mais um edifício para cumprir as funções atribuídas à Casa Varela? Se a resposta é sim, como gostaria, subsiste a dúvida: qual a estratégia municipal para a cultura que permita dinamizar todas estas infra-estruturas? Qual o papel que a Autarquia reservou para os artistas no meio disto tudo: dinamizadores autónomos ou utentes subservientes?

2 comentários:

  1. Quando se faz uma compra de algo que ainda não temos ideia para o que vai servir...acontece isto..è como quando vou aos saldos comprar uma Botas de Borracha quando nunca irei precisar delas...Muito mau como se gasta dinheiro público sem objectivos em concreto. Continuo com a minha opinião que a opção do HOSTEL seria a única que poderia rentabilizar o espaço e trazer alguma mais-valia para a cidade. Mas todos sabemos as ligações PSD aos Empresários de Hotelaria aqui do Burgo...Quando misturamos as coisas fica tudo parado. O POVO PÁ esse continua a votar alegremente na SETA que VAI para o Céu e que se lixe o dinheiro público.

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  2. Entendo que a aquisição da Casa Varela foi uma óptima opção, mas isso sou eu! Actualmente é um dos edifícios mais emblemáticos e mais fotografados em Pombal, é um dos Ex-libris cá da terra. A questão que levanta, e bem, é qual utilidade que lhe damos? Só para fotografar é muito pouco, temos de juntar o útil ao agradável!

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