10 de novembro de 2020

A campanha


A minha pequena cidade tem aquela particularidade das vilas e aldeias: é pequenina. E mesmo quando ligada ao mundo, comporta-se amiúde como se vivesse fora dele. Às vezes isso dá-lhe encanto, torna-a pitoresca, outras vezes é angustiante, perturbador.

Aconteceu recentemente, a propósito da campanha de "ajuda" ao comércio tradicional, que a Câmara encomendou, espalhando pela cidade e pelas freguesias as caras de umas dúzias de "agentes" culturais, desportivos, etc.

Num post aqui publicado há dias, o Adelino Malho chamou-lhe 'campanha saloia', traduzindo em palavras aquilo que muitos de nós pensámos. Além de saloia, mal feita. Como se fosse importada dos anos 80, quando a fotografia era aquilo, quando a comunicação era feita assim. Evoluímos muito nessa matéria, nas últimas décadas. E pasme-se, temos gente no concelho que faz campanhas publicitárias para o mercado nacional e internacional.

Mas a nossa costela mais pequena, mais maneirinha, mais tão-lindos-que-eles-estão logo se esforçou por distorcer a discussão. Num instante, em vez da campanha - e da sua (in)utilidade - estávamos a discutir os meninos da natação, as meninas do basquete, "os jovens atletas da nossa terra" (dos clubes que foram felizes contemplados e seleccionados), nessa capacidade inata de confundir a beira da estrada com a estrada da beira.

Ou não.

Não é inocente esta escolha municipal. Assim como não é inocente a localização dos outdoors. Já lá ficam as estruturas para campanhas que hão-de vir, em menos de um ano. De inocente, aqui, só a candura de meninos e meninas cujo guarda-roupa tem sotaque turco, chinês ou do Bangladesh, e é feito por meninos e meninas como eles, vendido nas marcas do comércio internacional, no shoping da cidade mais perto de si.

Fico à espera de os encontrar a todos na loja da D. Lucília, na Lurdes, na Gina, na Teresa, na Anabela, ou noutra qualquer do comércio tradicional.

Eram essas protagonistas que eu queria ver na campanha. E já agora que fosse uma campanha a sério, como até as dos anos 90 já eram: pensada para a rua, mas também para as rádios e os para os jornais - e já agora, que estamos em 2020, para o online.

Mas isso sou eu que tenho a mania. 



1 comentário:

  1. Paula, mais um POST tão assertivo. Nem tinha pensado na utilidade das estruturas...Se eu fosse Dirigente local do PS, fazia já a requisição á C.M.P. para a colocação dos meus Outdoors. O Pança anda sempre á frente dos outros ( sim ele é que manda nisto tudo...) por isso o PSD ganha há 30 anos e os outros definham.

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