14 de setembro de 2025

O sítio do Pimpas: como viver numa realidade paralela

A família social-democrata está hoje como gosta: à mesa, boa comida e boa bebida, baile com o Graciano e resto do espectáculo abrilhantado pelo Toy. A Expocentro tomada por eles, que são muitos, esmagando qualquer concorrência que se apresente a eleições. É assim há muitos anos, e desta vez promete ser (quase) assim, também. 

O tom festivo é de celebração. Nas redes, uns e outros mostram-se no registo David e Golias. Fazendo fé na máquina poderosa que montaram e exibem, seria escusado ir a eleições. Mas nada disso é novo, como bem sei o (e)leitor. Divido coma  directora do Pombal Jornal, Manuela Frias, a frase com que abre o último editorial do único jornal da terra: “não é novidade para ninguém”. 

O que é novo aqui, por estes dias, é a subversão total do género jornalístico “artigo de opinião”, que nessa mesma edição Pimpão assina, na página 4. Pensava eu que já não iria surpreender-me mais, nem com políticos nem com os media da terra (que há muitos anos entraram no registo de não levantar ondas, quanto menos notícias melhor, porque isso só dá chatices…), quando me deparei com um exercício de propaganda básico, mascarado de artigo de opinião. O título – “Pombal cresceu: resultados que falam por si” é uma versão resumida do infomail que Pedro Pimpão fez chegar às caixas de correio, há dias, com o balanço do mandato autárquico. Chama-lhe, em estrangeiro, “accountability”, prestação de contas, por assim dizer. Fazendo fé nos seus números, das 236 medidas que havia proposto para uma década, há quatro anos, estamos com 217 executadas ou em execução, o que corresponde a 92%. Se fosse assim, estávamos prontos a abrir telejornais a toda a hora. Como não é, enganamos o eleitorado com vídeos e “notícias” que o povo vai papando como se o fossem, de facto. “Diz que ela estava ali em baixo, ao fundo da ladeira, a dar uma entrevista”, disse-me o meu pai, nos seus 82 anos, para quem a internet e o digital são coisa de que ouve falar na rádio e na tv. Ele não se dá conta, mas a poderosa máquina de comunicação da campanha que voa mais alto usa desse artifício, sem que ninguém lhe peça prova dos factos.

O Pedro é um caso de estudo. Ele consegue visualizar um jardim num monte de entulho, e pior, acreditar que é real. No rol dessas medidas que elenca, detive-me, por exemplo, na “promoção de um envelhecimento activo, saudável e feliz”. 

A minha geração chegou àquela idade em que mal acabámos de cuidar dos filhos e temos agora de cuidar dos pais. E por isso cada um de nós sabe o que nos diz a realidade no concelho de Pombal: muitos velhos, a maioria com doença e/ou demência, sem respostas. 

Passaram mais quatro anos e continuamos sem parque verde. Há décadas que alimenta os programas eleitorais. Mas na requalificação urbana e quejandos, estamos quase a rebentar a escala. Com os tantos milhões que enterrámos no Explore Sicó (CIMU Sicó que Deus tem), já tínhamos feito pelo menos 10 parques verdes, com piscinas e tudo.

Passaram mais quatro anos e não há notícia de nenhuma grande empresa a querer instalar-se aqui. Toda a gente sabe que uma cidade só cresce e se desenvolve com trabalho, com emprego, que depois traz gente, leva à fixação, e assim promove um ciclo (não vicioso, mas de virtude). Toda a gente sabe? Não. Há quem acredite em unicórnios e smart cities e proximidades encenadas. 

Feitas as contas, o Pedro está a fazer tudo bem: o que lhe falta na Câmara em matéria de comunicação sobra-lhe na campanha. Há dinheiro, muito dinheiro, bons materiais e conteúdos. Mas como sabe que há uma franja (muito importante e vasta) que não vai às redes, é preciso lançar-lhe o isco à moda antiga, nessa coisa fora de moda que são os jornais. O pior é que – tenho disso a certeza – o Pedro sabe bem que aquilo não se faz. Nasceu numa família de jornalistas, cresceu no meio, tem um jornalista como mandatário. 

Não por acaso, o livrinho que mandou para as caixas do correio termina a agradecer à comunicação social. Pudera. Qual é o autarca que não quereria jornais e rádios amiguinhos, que nunca beliscam o poder?

O meu primeiro director, no primeiro jornal onde trabalhei (O Correio de Pombal) dizia sempre o mesmo: “se dizem bem de ti, desconfia. É porque não estás a fazer o teu trabalho”. Era o tempo em que os jornais ainda diziam “as verdades que incomodam em vez das mentiras que encantam”, uma frase tornada célebre por um ex-secretário de Estado da Comunicação Social: o social-democrata Feliciano Barreiras Duarte. 

Nos tempos que correm, parece que estamos condenados apenas a comer gelados com a testa. Ou já algum dos outros candidatos (existem mais 7, pasme-se) tem o seu artigo de opinião pronto a publicar?

* o sítio do Pimpas era o nome do Blogue de Pedro Pimpão e da coluna de opinião que assinava na imprensa local, ao tempo da Jota.



3 comentários:

  1. O povo só avalia o impacto da festa e dos bolos. Ainda este fim de semana ocupam um espaço público com uma festa do PSD e ninguem da oposição questionou se foi pago o aluguer do espaço. É tudo deles. Sinceramente oposição em Pombal é uma nulidade.

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  2. Parte 1
    Paula, parabéns pelo seu longo post que além de dar a sua visão do momento autárquico pombalino dá também oportunidade a nós de o comentarmos e nele a nossa visão da coisa.
    Sobre o gostar de estar à mesa acho que é comum de todas as tendências pelo que não há muito a criticar. Já sobre esmagar a concorrência é verdade porque têm organização e estar no poder é sempre mais agregador de muitos, logo, até agora nada de novo.
    Mas também concordo que “nada disto é novo”. Mas também não é novo porque nos últimos 30 anos não surgiram nem ideias, nem vontades, nem personagens suficientemente galvanizantes que sequer provocassem um pequeno abalo na situação reinante.
    Já aproveita para criticar a imprensa que deu oportunidade ao Pedro de dizer de sua justiça e nela descobre a “subversão jornalística” por isso mesmo. E ainda elabora sobre a surpresa do Pedro falar bem a sua obra e de contar a história da forma que mais jeito lhe dá.
    Mas esperava o quê? Que o Pedro viesse, numa altura eleitoral, falar dos falhanços, dos azares e das desventuras que ocorreram em 4 anos?
    Na minha opinião talvez a pilula tenha sido um bocado dourada, mas honestamente também não podemos assegurar que foram só erros e ineficácias.
    Eu bem sei que a tradicional oposição se faz sempre segundo a tónica, nós fazemos ou faremos tudo bem e os que lá estão fizeram e continuam a fazer tudo mal. Para mim, que não sou político, é uma forma desgastada de intervenção e com muito pouco préstimo porque senão vejamos:
    As principais questões autárquicas são comuns a todas as tendências, economia, investimento, saúde, segurança, etc… etc… e logo as diferenças colocam-se essencialmente sobre as prioridades, o grau de intervenção, e a rapidez na obtenção de resultados e ainda alguma divergência de opiniões sobre a boa industria e a má industria, a sua captação mas ao mesmo tempo a sua triagem entre mais poluidores ou menos poluidores…
    É obvio que nesta ginástica relacional entre o concelho e o resto do pais e até do estrangeiro, com a necessária visão e pronta decisão e intervenção é que residem as maiores diferenças.

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  3. Parte 2
    Como é sabido vou na lista à câmara pelo Chega, como independente a convite do candidato Mithá Ribeiro, e tirando as propostas mais doutrinais e até radicais, que não estranham a ninguém, e que deixo para o candidato propor e defender, a minha intenção de intervenção é, caso seja eleito, intervir nestas vertentes mais objetivas, que a minha vida profissional me ensinou, sempre aproveitando o trabalho já feito por quem esteve, e talvez continue a estar, no comando da nau. E é também evidente que do sucesso da intervenção dos membros eleitos por um partido revertem para ele os louros que eles forem conseguindo.
    E é aí que eu situo o real interesse do CHEGA em incluir independentes, como eu, nas suas listas.
    Sobre os futuros resultados todos estamos expectantes, mas todos temos uma ideia que alguma coisa vai mudar ou abalar as estruturas já arcaicas.
    Encantou-me a sua conclusão do “acabarmos de criar os filhos e termos de tratar dos pais”. Porque é verdade nua e crua. A evolução económica e científica obrigou-nos a educar os filhos até aos 30 e mais anos, e a medicina a prolongar a vida até aos 90 anos facilmente, tudo a recair em trabalhos para os adultos familiares de meia idade. Mas parece-me que Pombal até se tem vindo a dotar de estruturas de apoio para ambos os casos que, como é normal, nunca são suficientes nem os ideais. Mas daí a assacar essa culpa por inteiro ao Pedro já me parece exagero, porque seja ele, ou seja outro, as necessidades a suprir serão sempre superiores às possibilidades, embora, lá está, uns possam conseguir ser mais eficazes do que outros, e aí é que devem entrar as propostas políticas.
    Eu prefiro sempre dizer, politicamente, que ele fez o que pode, mas eu proponho fazer melhor e depois é possível sempre especificar mais os aspetos de maior incidência de intervenção.
    Também é verdade que não há, até ver, instalação de grandes empresas no concelho, por vários motivos que obviamente ao falar neles iremos tentar mitigar, porque resolver mesmo será sempre impossível, porque não há limites para o desejável. E grandes empresas são poucas, sempre muito problemáticas em termos de efeitos ambientais que convém salvaguardar e ainda de difícil acomodação por não dispormos de terrenos apropriados disponíveis para o que cá se quiser instalar. Mas é sempre possível agir mais nessa vertente e conseguir atrair o que até agora se não conseguiu.
    Por último aponto aqui um certo contrassenso ou distração sua, porque passou o seu post a zurzir no Pedro e termina a citar o seu primeiro diretor com frases pedagógicas “Se dizem bem de ti desconfia. É porque não estás a fazer o teu trabalho.”
    Afinal em que ficamos? Será que ao dizer mal do trabalho do Pedro o que quis mesmo dizer foi que até “está a fazer bem o trabalho dele”?
    Pode parecer que estou aqui a defender um adversário político, mas não leiam assim, eu estou mesmo é a defender a forma como se analisam as intervenções autárquicas onde é muito mais importante o debate das ideias e do pragmatismo de sucesso do que elogiar ou vaiar pessoas.
    E para mim nunca a política se sobrepõe às amizades e sim, é verdade que até há bem pouco tempo defendia com a maior lealdade o PSD de Pombal mas por entretanto ter, lealmente, optado por outras vias não me zanguei com ninguém…
    Já o contrário por vezes acontece, mas sem qualquer angustia ou recriminação.
    Só tenho um “adjetivo” para classificar o seu POST : Gostei! 😊

    Não se esqueçam todos de votar no dia 12 de outubro

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