"E na epiderme de cada facto contemporâneo cravaremos uma farpa: apenas a porção de ferro estritamente indispensável para deixar pendente um sinal."
16 de outubro de 2009
Uma tarde de Outono aconteceu
Andei a ler um livro sobre a queda do Muro de Berlim que recomendo aqui. E hoje, depois de passar nas imediações da Colina do Castelo, confesso que me veio logo à cabeça a imagem do Reagan a dizer "Tear down this wall!".
Boa sugestão, Alvim, digo eu. Deixa-me poetizar, politizando. Ou vice-versa. Há tantos muros por derrubar! Basta sentirmos em volta. Pérfida premissa: Todos os muros são surdos. Hoje aprendi, na televisão, como diz um surdo a palavra “poesia”. Pena é que não (ta) possa “dizer” aqui. Mas posso gestualizá-la… suspendes o teu braço esquerdo defronte ao coração. Com a direita “em movimento de alga” [eu digo] passas duas vezes gentilmente por sobre o braço.
Todos os muros são surdos.
Continuam sendo os das Berlins. Os das lamentações.
Não tenho vergonha de dizer “Amo a poesia”.
Sou pretensioso e assumo-o. Faço poesia porque trepo aos muros e passo-os. Ainda há muitos muros para desconstruir.
Sinto-os à nossa volta.
Se não fizeres barulho e esticares a mão, devagarinho… sentirás a aspereza do cimento.
Lá do outro lado já estou. Vem comigo corroer o muro. Não grites que ninguém te ouve [ninguém te quer ouvir].
Pediste-me para falar sobre um muro. Olha para cima, que ele ainda não caiu. Barafustam tweedle dee & tweedle dum, loucos como a tresloucada medusa.
Antes de picares a parede, vê primeiro qual a sua densidade. Procura-lhe o ponto fraco. Dá antes de tudo três pancadas.
Pode ser que te respondam para que digas “Chamo-me Poeta, hoje é dia 16 de todos os dias e venho libertar-me.”
Amigo e companheiro João Alvim, boa noite. Permite-me contar-te uma história que se passou comigo para te dizer que o paralelo que fizeste não o podes fazer. Fui, em 1980, com um grupo de empresários, a uma feira na Alemanha. Tínhamos um dia mais ou menos livre e um dos participantes propôs irmos, de comboio, a Berlim. Assim fizemos. Vimos horários, mapas, etc. e compramos bilhetes. Como sabes a cidade de Berlim era uma “ilha” na Alemanha Oriental (comunista). Na última estação da Alemanha Ocidental a tripulação do comboio saiu e ficou na gare, onde existia uma casa comprida, dividida em quatro casas, tendo nas portas as bandeiras dos aliados. Na estação seguinte entrou uma nova tripulação que nos atribuiu vistos depois de nos questionar ao que íamos e para onde íamos (podíamos ir para Berlim Leste ou Berlim Ocidental). Turistas portugueses a caminho de Berlim Leste. Tudo bem. Informaram-nos que teríamos de trocar 50 marcos ocidentais por marcos orientais. Fifti, fifti (era uma espécie de negócio da China que ainda hoje existe em Cuba. Só que em Cuba a paridade é o dólar, estranho, mas é). A partir daqui começava o muro e ainda estávamos a uma hora de Berlim. E não era um. Eram dois paralelos com uma estrada de terra batida por onde se viam passar carros da tropa. Chegados à estação de Berlim – que tinha um nome de que já não me recordo e que era bem igual àquela imagem que temos das estações do comboio nos filmes da 2ª Grande Guerra – saímos para Berlim Leste. Aqui vimos autocarros velhos, alguns carros de marca Volga, muitos monumentos destruídos pela guerra e não reconstruídos, lojas onde as embalagens eram todos de cor cinzenta. Numa espécie de supermercado, vimos vinho Mateus Rosé. Fomos ao Consulado fazer perguntas. Aí estavam registados 140 emigrantes portugueses. Conselhos vários. Não se aproximar das Portas de B (não sei escrever) que tinham uma distância de protecção superior a 500 metros, com muitos rolos de arame farpado no Largo e muitos soldados. Vimos muitas pequenas casas – tipo quiosque – nos passeios onde podíamos ver os olhos de alguém que, lá dentro, observava os transeuntes através de uma faixa estreita transparente à volta. Já tínhamos visto tudo. Já tínhamos comprado pequenas coisas. Nada mais havia para ver. Povo que passava, perfeitamente, por portugueses, espanhóis, franceses ou italianos em contraste com os loiros e altos alemães do lado Ocidental a conduzir os seus Mercedes e BMW. Antes de entrar na estação tivemos que passar por um corredor estreito e cumprido, com espelhos por baixo e por cima, com controlo dos passaportes e dos vistos, e devidamente revistados. Chegados à estação do comboio ninguém entrou sem que o comboio fosse minuciosamente revistado. Tudo foi visto e aberto, incluindo os compartimentos técnicos do comboio. Cães passavam por baixo do comboio até que alguém deu ordem para que os passageiros pudessem entrar e sair daquele filme o mais rapidamente possível. De regresso fomos para o bar do comboio e bebemos para esquecer até que o “muro” caia de podre. Prometi a mim próprio lá voltar depois do muro cair, porque cair sabíamos que ia cair, só não sabíamos quando. Ainda não tive oportunidade, mas ainda hei-de lá ir. Vê tu agora, amigo, que há muros e muros e que não há paralelo que se possa fazer independentemente de podermos ou não concordar com uns ou com outros. Abraço.
Por vezes os muros parecem não cair porque se quer que eles não caiam, mesmo estando eles já no chão. Recordo essa bela metáfora deixada através do "Goodbye Lenin!", de Wolfgang Becker. Outras vezes, os muros são mera fantasia. Papão inventado para amedrontar os "indecisos". E "só tem medo desses muros / quem tem muros no pensar", como canta o Zé Mário Branco (letra do Sérgio Godinho, salvo erro... a música é a "Eh companheiro", do álbum "Margem de certa maneira"). De uns e de outros temos nesta "Pombal acidental" (desculpa lá o plágio, cara amiga)!
Eu que já lá estive depois do Muro cair, recomendo a visita. Muita pena tenho de não poder ir lá agora em Novembro (20º aniversário da Queda do Muro - leiam o livro que recomendei, já agora).
Quanto a paralelos, cada um constrói os seus. O meu, a propósito de uma tarde de Outono, de um livro que li e de uma efeméride que se aproxima é de que há muros que não deviam ser construídos. O do Castelo é um excelente exemplo.
Eh pá tá tudo doido ou k? Não há muros que se ergam que não se abatam. Agora aceitem esses mesmos muros sejam eles reais ou virtuais. Tomem como exemplo os muros que Cavaco constroi, que Socrates estima e que lá para os lados do PSD , Passos Coelho, Marcelo e Rio vão tentando destruir ou botar a baixo. A proposito onde se compra esse tal livro em Pombal, no soares ou na kappa? dr. João Alvim que aquele é muita mau é! Mas vai-se la saber porque da justificação. As tantas deve ser para evitar uma cheia vinda do lado nascente este inverno. Esqueça lá isso ta feito tá feito.
Passe a propaganda, mas trabalhando a Kapa com a editora Oceanos (a mesma do Richard Zimmler, que vai lá hoje, Sábado, às 14h30 apresentar o seu novo livro), suponho que tenha este livro também. Aliás, espero que com o aproximar do 9 de Novembro apareçam muitos mais sobre a temática.
Exactamente, Gabriel: "só tem medo desses muros/ quem tem muros no pensar". Quanto aos muros no pensar, não lhes escapamos. Todos os teremos. Eu tenho.
Todavia, Gabriel, sobre os muros existe também uma questão de enfoque que é olhar e querer derrubar os muros do vizinho, alteando no entanto os próprios, fechando-se em casa. Vejam as casas novas das classes médias e altas e os seus condomínios fechados. Os muros, mesmo o de Berlim era, julgo, em grande medida, uma barreira de “alta tensão”onde confluíam a vontade de prender e a vontade de conhecer o “outro”com o desejo de o conhecer e a vontade de liberdade. As tensões acumuladas foram tantas que venceram, felizmente, estas últimas. O muro caiu, mas as barreiras continuam cá. Não se invoquem pretensas superioridades, mesmo morais, de algum dos lados, que as não houve, nem há.
Façamos – vocês fazem – também para que os muros continuem a cair.
João, também aqui se coloca a questão da liberdade versus segurança com que julgo balizar e balancear o seu pensamento e acção de “Homem do Leme” (cfr. B. Franklin).
Voltando ao tema de Outono que o inspirou, passei lá no verão, estavam os muros nas fundações. Pareceu-me que seriam para suporte e contenção, porque aquela argila, sob a acção da água, desliza sobre a rocha como carro travado sobre mancha de óleo. Por isso, na altura, o que mais me preocupou foi a ruína da igreja exterior – salvo erro, de S. Miguel – que para mim é belíssima como ruína, havendo apenas que limpar, arranjar o espaço em volta e conter a sua degradação.
Já aqui se falou que se podem fazer recuperações de monumentos e de coisas antigas em perfeito diálogo com o moderno, desde que cuidado e de qualidade (Terras de Bouro. Flor-da-Rosa, etc.). Uns muros de betão podem, pela sua cor e texturas, ter grande beleza. Grandes Arquitectos o conseguiram. Vejam o caso da Gulbenkian e dos seus Jardins. A harmonia da agressividade do betão, das arestas vivas e panos direitos das fachadas de H. Ferreira, conjugada com as floreiras de plantas “pêndulas” e os jardins, com os planos de água do Lago e as árvores do bosque que R. Teles tão bem soube emular. Pode haver beleza – e há – mesmo quando a “forma é função”. Pensem nos castelos e fortalezas, não foram feitos para serem bonitos, a sua forma decorreu das necessidades funcionais de defesa. Os chamados “gestualistas”ou “expressionistas abstractos” como M. Ernest, Pollock, Basquiat, Tàpies, ou, A. M. Alvim, o meu amigo N. Correia e outros. Onde, mais do que pensamento, actuam o sortilégio do gesto, da cor, da mancha, da textura e da luz, que nos prendem o olhar e, algumas vezes, nos fazem ser felizes, a sério. Mesmo que cor seja unicamente o preto, como sucede com P. Soulages. Para alguns isto é arte, para muitos, borrões e lixo. Com os muros posso acreditar ser o mesmo. O tempo o dirá e fará o seu trabalho, as plantas vão crescer, pender e trepar, vão aparecer novas manchas, texturas e o seu contributo fará com passemos por eles pensando que sempre lá estiveram e fizeram parte do lugar. Se no planeamento da intervenção esses aspectos foram cuidados, assim acontecerá. Se não, corrija-se. Deitar abaixo? Se o Massena conseguiu…! Fica caro, mas porque não?
Claro que não vi como estão esses muros de concreto a ficar, posso chegar lá e pensar o mesmo: deitem o “bunker” abaixo. No entanto, essas coisas, devem ser vistas em projecto. Com os sistemas “Cad” e multimédia que existem hoje, qualquer leigo pode analisar um projecto e, com algum realismo, ver as suas consequências. Claro, em havendo apresentação e debate públicos que o permitam e não ocorram alterações na execução que o desvirtuem.
Aliás, o mais importante seria tratar, e ampliar a mata, limpar entulhos que vêem em redor. Talvez o parque verde de que tanto fala e de que Pombal, creio também, tanto precisa.
Abraços, felicidades e vontade de ir em frente, sem esquecer que existem curvas e muros nos caminhos.Tenha sempre presente não há curvas que não se contornem nem muros que não se derrubem.
Os muros estão na moda... Há muros com lindos "design", cerrando os condomínios privados [que são guetos ao contrário, onde a polícia nunca vai procurar ladrões, não que os não haja, mas porque é proibido procurar ladrões nos condominios fechados]. Também os há inúteis.Também os há, como aquele da encosta do Castelo, só porque alguém que exorbita poder quer! Há gente que não pode estar quieta, tem de fazer qualquer coisa, para justificar a sua existência, que de outra maneira pareceria inexistente. Mas não pensa, não projecta nem medita na utilidade das suas obras. Além dos construtores e empreiteiros de obras, alguém mais ganha com o agir destas criaturas?
Amigo e companheiro João Alvim, boa noite. Quando te contei aquela pequena história, verdadeira, que vivi, estava a falar em muros tangíveis. Reconheço que os há intangíveis. Relativamente aos do morro do nosso castelo, propriedade da Fazenda Pública e vigiado por uma imensidão de órgãos do Estado, solicito-te, à semelhança do que fiz a mim próprio, que deixes acabar as obras já que os arquitectos quando têm, têm razão. Fiquemos expectantes! Com um aperto de mão.
Oh!, malta… estão a esquecer-se do muro dos ciganos! Chama-se Nacional nº1!
Ainda ontem fui à cidade e no regresso ao campo, quando olhava para o colonato [perdão, ghetto] esbarrei os olhos numa anciã gitana que olhava ao Sul como quem diz… “se eu seguir sempre por aí abaixo, será que consigo contorná-lo?”
Vi o muro, aquela parte atrás da Praça e que parece as ombreiras de um portão, está alta demais, e não parece ter justificação. Qual a razão para tão alto paredão e portão? Demolir ainda é fácil, vejam o projecto,peçam explicações e exijam a mudança do que houver que mudar. Os Arquitectos têm razão quando a têm. Também os há bem "arquitontos".
O comentário que vai submeter será moderado (rejeitado ou aceite na integra), tão breve quanto possível, por um dos administradores. Se o comentário não abordar a temática do post ou o fizer de forma injuriosa ou difamatória não será publicado. Neste caso, aconselhamo-lo a corrigir o conteúdo ou a linguagem. Bons comentários.
Boa sugestão, Alvim, digo eu. Deixa-me poetizar, politizando. Ou vice-versa. Há tantos muros por derrubar! Basta sentirmos em volta.
ResponderEliminarPérfida premissa: Todos os muros são surdos.
Hoje aprendi, na televisão, como diz um surdo a palavra “poesia”. Pena é que não (ta) possa “dizer” aqui. Mas posso gestualizá-la… suspendes o teu braço esquerdo defronte ao coração. Com a direita “em movimento de alga” [eu digo] passas duas vezes gentilmente por sobre o braço.
Todos os muros são surdos.
Continuam sendo os das Berlins. Os das lamentações.
Não tenho vergonha de dizer “Amo a poesia”.
Sou pretensioso e assumo-o. Faço poesia porque trepo aos muros e passo-os. Ainda há muitos muros para desconstruir.
Sinto-os à nossa volta.
Se não fizeres barulho e esticares a mão, devagarinho… sentirás a aspereza do cimento.
Lá do outro lado já estou. Vem comigo corroer o muro.
Não grites que ninguém te ouve [ninguém te quer ouvir].
Pediste-me para falar sobre um muro. Olha para cima, que ele ainda não caiu.
Barafustam tweedle dee & tweedle dum, loucos como a tresloucada medusa.
Antes de picares a parede, vê primeiro qual a sua densidade. Procura-lhe o ponto fraco.
Dá antes de tudo três pancadas.
Pode ser que te respondam para que digas “Chamo-me Poeta, hoje é dia 16 de todos os dias e venho libertar-me.”
Este é o primeiro poema que publico.
Amigo e companheiro João Alvim, boa noite.
ResponderEliminarPermite-me contar-te uma história que se passou comigo para te dizer que o paralelo que fizeste não o podes fazer.
Fui, em 1980, com um grupo de empresários, a uma feira na Alemanha.
Tínhamos um dia mais ou menos livre e um dos participantes propôs irmos, de comboio, a Berlim.
Assim fizemos. Vimos horários, mapas, etc. e compramos bilhetes.
Como sabes a cidade de Berlim era uma “ilha” na Alemanha Oriental (comunista).
Na última estação da Alemanha Ocidental a tripulação do comboio saiu e ficou na gare, onde existia uma casa comprida, dividida em quatro casas, tendo nas portas as bandeiras dos aliados.
Na estação seguinte entrou uma nova tripulação que nos atribuiu vistos depois de nos questionar ao que íamos e para onde íamos (podíamos ir para Berlim Leste ou Berlim Ocidental).
Turistas portugueses a caminho de Berlim Leste. Tudo bem. Informaram-nos que teríamos de trocar 50 marcos ocidentais por marcos orientais. Fifti, fifti (era uma espécie de negócio da China que ainda hoje existe em Cuba. Só que em Cuba a paridade é o dólar, estranho, mas é).
A partir daqui começava o muro e ainda estávamos a uma hora de Berlim. E não era um. Eram dois paralelos com uma estrada de terra batida por onde se viam passar carros da tropa.
Chegados à estação de Berlim – que tinha um nome de que já não me recordo e que era bem igual àquela imagem que temos das estações do comboio nos filmes da 2ª Grande Guerra – saímos para Berlim Leste.
Aqui vimos autocarros velhos, alguns carros de marca Volga, muitos monumentos destruídos pela guerra e não reconstruídos, lojas onde as embalagens eram todos de cor cinzenta. Numa espécie de supermercado, vimos vinho Mateus Rosé.
Fomos ao Consulado fazer perguntas. Aí estavam registados 140 emigrantes portugueses. Conselhos vários. Não se aproximar das Portas de B (não sei escrever) que tinham uma distância de protecção superior a 500 metros, com muitos rolos de arame farpado no Largo e muitos soldados.
Vimos muitas pequenas casas – tipo quiosque – nos passeios onde podíamos ver os olhos de alguém que, lá dentro, observava os transeuntes através de uma faixa estreita transparente à volta.
Já tínhamos visto tudo. Já tínhamos comprado pequenas coisas. Nada mais havia para ver. Povo que passava, perfeitamente, por portugueses, espanhóis, franceses ou italianos em contraste com os loiros e altos alemães do lado Ocidental a conduzir os seus Mercedes e BMW.
Antes de entrar na estação tivemos que passar por um corredor estreito e cumprido, com espelhos por baixo e por cima, com controlo dos passaportes e dos vistos, e devidamente revistados.
Chegados à estação do comboio ninguém entrou sem que o comboio fosse minuciosamente revistado.
Tudo foi visto e aberto, incluindo os compartimentos técnicos do comboio.
Cães passavam por baixo do comboio até que alguém deu ordem para que os passageiros pudessem entrar e sair daquele filme o mais rapidamente possível.
De regresso fomos para o bar do comboio e bebemos para esquecer até que o “muro” caia de podre.
Prometi a mim próprio lá voltar depois do muro cair, porque cair sabíamos que ia cair, só não sabíamos quando.
Ainda não tive oportunidade, mas ainda hei-de lá ir.
Vê tu agora, amigo, que há muros e muros e que não há paralelo que se possa fazer independentemente de podermos ou não concordar com uns ou com outros.
Abraço.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarPor vezes os muros parecem não cair porque se quer que eles não caiam, mesmo estando eles já no chão. Recordo essa bela metáfora deixada através do "Goodbye Lenin!", de Wolfgang Becker.
ResponderEliminarOutras vezes, os muros são mera fantasia. Papão inventado para amedrontar os "indecisos". E "só tem medo desses muros / quem tem muros no pensar", como canta o Zé Mário Branco (letra do Sérgio Godinho, salvo erro... a música é a "Eh companheiro", do álbum "Margem de certa maneira").
De uns e de outros temos nesta "Pombal acidental" (desculpa lá o plágio, cara amiga)!
Engenheiro,
ResponderEliminarEu que já lá estive depois do Muro cair, recomendo a visita. Muita pena tenho de não poder ir lá agora em Novembro (20º aniversário da Queda do Muro - leiam o livro que recomendei, já agora).
Quanto a paralelos, cada um constrói os seus. O meu, a propósito de uma tarde de Outono, de um livro que li e de uma efeméride que se aproxima é de que há muros que não deviam ser construídos. O do Castelo é um excelente exemplo.
Eh pá tá tudo doido ou k?
ResponderEliminarNão há muros que se ergam que não se abatam.
Agora aceitem esses mesmos muros sejam eles reais ou virtuais. Tomem como exemplo os muros que Cavaco constroi, que Socrates estima e que lá para os lados do PSD , Passos Coelho, Marcelo e Rio vão tentando destruir ou botar a baixo. A proposito onde se compra esse tal livro em Pombal, no soares ou na kappa?
dr. João Alvim que aquele é muita mau é! Mas vai-se la saber porque da justificação. As tantas deve ser para evitar uma cheia vinda do lado nascente este inverno. Esqueça lá isso ta feito tá feito.
Palumbar
ResponderEliminarPasse a propaganda, mas trabalhando a Kapa com a editora Oceanos (a mesma do Richard Zimmler, que vai lá hoje, Sábado, às 14h30 apresentar o seu novo livro), suponho que tenha este livro também. Aliás, espero que com o aproximar do 9 de Novembro apareçam muitos mais sobre a temática.
Exactamente, Gabriel: "só tem medo desses muros/ quem tem muros no pensar". Quanto aos muros no pensar, não lhes escapamos. Todos os teremos. Eu tenho.
ResponderEliminarTodavia, Gabriel, sobre os muros existe também uma questão de enfoque que é olhar e querer derrubar os muros do vizinho, alteando no entanto os próprios, fechando-se em casa. Vejam as casas novas das classes médias e altas e os seus condomínios fechados. Os muros, mesmo o de Berlim era, julgo, em grande medida, uma barreira de “alta tensão”onde confluíam a vontade de prender e a vontade de conhecer o “outro”com o desejo de o conhecer e a vontade de liberdade. As tensões acumuladas foram tantas que venceram, felizmente, estas últimas. O muro caiu, mas as barreiras continuam cá. Não se invoquem pretensas superioridades, mesmo morais, de algum dos lados, que as não houve, nem há.
Façamos – vocês fazem – também para que os muros continuem a cair.
João, também aqui se coloca a questão da liberdade versus segurança com que julgo balizar e balancear o seu pensamento e acção de “Homem do Leme” (cfr. B. Franklin).
Voltando ao tema de Outono que o inspirou, passei lá no verão, estavam os muros nas fundações. Pareceu-me que seriam para suporte e contenção, porque aquela argila, sob a acção da água, desliza sobre a rocha como carro travado sobre mancha de óleo. Por isso, na altura, o que mais me preocupou foi a ruína da igreja exterior – salvo erro, de S. Miguel – que para mim é belíssima como ruína, havendo apenas que limpar, arranjar o espaço em volta e conter a sua degradação.
Já aqui se falou que se podem fazer recuperações de monumentos e de coisas antigas em perfeito diálogo com o moderno, desde que cuidado e de qualidade (Terras de Bouro. Flor-da-Rosa, etc.). Uns muros de betão podem, pela sua cor e texturas, ter grande beleza. Grandes Arquitectos o conseguiram. Vejam o caso da Gulbenkian e dos seus Jardins. A harmonia da agressividade do betão, das arestas vivas e panos direitos das fachadas de H. Ferreira, conjugada com as floreiras de plantas “pêndulas” e os jardins, com os planos de água do Lago e as árvores do bosque que R. Teles tão bem soube emular. Pode haver beleza – e há – mesmo quando a “forma é função”. Pensem nos castelos e fortalezas, não foram feitos para serem bonitos, a sua forma decorreu das necessidades funcionais de defesa. Os chamados “gestualistas”ou “expressionistas abstractos” como M. Ernest, Pollock, Basquiat, Tàpies, ou, A. M. Alvim, o meu amigo N. Correia e outros. Onde, mais do que pensamento, actuam o sortilégio do gesto, da cor, da mancha, da textura e da luz, que nos prendem o olhar e, algumas vezes, nos fazem ser felizes, a sério. Mesmo que cor seja unicamente o preto, como sucede com P. Soulages. Para alguns isto é arte, para muitos, borrões e lixo. Com os muros posso acreditar ser o mesmo. O tempo o dirá e fará o seu trabalho, as plantas vão crescer, pender e trepar, vão aparecer novas manchas, texturas e o seu contributo fará com passemos por eles pensando que sempre lá estiveram e fizeram parte do lugar. Se no planeamento da intervenção esses aspectos foram cuidados, assim acontecerá. Se não, corrija-se. Deitar abaixo? Se o Massena conseguiu…! Fica caro, mas porque não?
Claro que não vi como estão esses muros de concreto a ficar, posso chegar lá e pensar o mesmo: deitem o “bunker” abaixo. No entanto, essas coisas, devem ser vistas em projecto. Com os sistemas “Cad” e multimédia que existem hoje, qualquer leigo pode analisar um projecto e, com algum realismo, ver as suas consequências. Claro, em havendo apresentação e debate públicos que o permitam e não ocorram alterações na execução que o desvirtuem.
Aliás, o mais importante seria tratar, e ampliar a mata, limpar entulhos que vêem em redor. Talvez o parque verde de que tanto fala e de que Pombal, creio também, tanto precisa.
Abraços, felicidades e vontade de ir em frente, sem esquecer que existem curvas e muros nos caminhos.Tenha sempre presente não há curvas que não se contornem nem muros que não se derrubem.
Os muros estão na moda... Há muros com lindos "design", cerrando os condomínios privados [que são guetos ao contrário, onde a polícia nunca vai procurar ladrões, não que os não haja, mas porque é proibido procurar ladrões nos condominios fechados]. Também os há inúteis.Também os há, como aquele da encosta do Castelo, só porque alguém que exorbita poder quer! Há gente que não pode estar quieta, tem de fazer qualquer coisa, para justificar a sua existência, que de outra maneira pareceria inexistente. Mas não pensa, não projecta nem medita na utilidade das suas obras. Além dos construtores e empreiteiros de obras, alguém mais ganha com o agir destas criaturas?
ResponderEliminarAmigo e companheiro João Alvim, boa noite.
ResponderEliminarQuando te contei aquela pequena história, verdadeira, que vivi, estava a falar em muros tangíveis.
Reconheço que os há intangíveis.
Relativamente aos do morro do nosso castelo, propriedade da Fazenda Pública e vigiado por uma imensidão de órgãos do Estado, solicito-te, à semelhança do que fiz a mim próprio, que deixes acabar as obras já que os arquitectos quando têm, têm razão.
Fiquemos expectantes!
Com um aperto de mão.
Oh!, malta… estão a esquecer-se do muro dos ciganos! Chama-se Nacional nº1!
ResponderEliminarAinda ontem fui à cidade e no regresso ao campo, quando olhava para o colonato [perdão, ghetto] esbarrei os olhos numa anciã gitana que olhava ao Sul como quem diz… “se eu seguir sempre por aí abaixo, será que consigo contorná-lo?”
Ah, desculpem-me, "espéce" de ghetto. Quem me dera a mim ofertarem-me uma parabólica agarrada a uma casa.
ResponderEliminarOlá!
ResponderEliminarAos ciganos, em ghetto ou fora do ghetto, ofereceram-lhes casas em deterimento daqueles que pagam os impostos.
Digam-me qual dos participantes neste blog, pagantes, têm casa oferecida pelo pelo INH?
Digam-me, ainda, qual dos senhores(as) vai tomar o pequeno almoço, todos os dias, ao café com o rendimeto mínimo? Por enquanto não digo mais!
Vi o muro, aquela parte atrás da Praça e que parece as ombreiras de um portão, está alta demais, e não parece ter justificação. Qual a razão para tão alto paredão e portão? Demolir ainda é fácil, vejam o projecto,peçam explicações e exijam a mudança do que houver que mudar. Os Arquitectos têm razão quando a têm. Também os há bem "arquitontos".
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