Para quem (como eu) refere com frequência o marasmo cultural da cidade, não pode deixar de assinar a presença de dois nomes notáveis da cultura portuguesa, no próximo Sábado, em Pombal: João Tordo, às 18h, na (incontornável) K de Livro e Bernardo Sasseti e Orquestra das Beiras, às 21h30, no Teatro-Cine.
O Bernardo Sasseti é um óptimo pianista ao vivo, pena não poder assistir.
ResponderEliminarEstamos no fim do mês de Outubro. Por sinal o meu mês…
ResponderEliminarhttp://www.youtube.com/watch?v=1U380J_NHqs
POEMA DE OUTUBRO
Era o meu trigésimo ano rumo ao céu
Quando chegou aos meus ouvidos, vindo do porto
e do bosque ao lado,
E da praia empoçada de mexilhões
E sacralizada pelas garças
O aceno da manhã
Com as preces da água e o grito das gralhas e gaivotas
E o chocar-se dos barcos contra o muro emaranhado de redes
Para que de súbito
Me pusesse de pé
E descortinasse a imóvel cidade adormecida.
Meu aniversário começou com as aves marinhas
E os pássaros das árvores aladas esvoaçavam o meu nome
Sobre as granjas e os cavalos brancos
E levantei-me
No chuvoso outono
E perambulei sem rumo sob o aguaceiro de todos os meus dias.
A garça e a maré alta mergulhavam quando tomei a estrada
Acima da divisa
E as portas da cidade
Ainda estavam fechadas enquanto o povo despertava.
Toda uma primavera de cotovias numa nuvem rodopiante
E os arbustos à beira da estrada transbordante de gorjeios
De melros e o sol de outubro
Estival
Sobre os ombros da colina,
Eram climas amorosos e houve doces cantores
Que chegaram de repente na manhã pela qual eu vagava e ouvia
Como se retorcia a chuva
O vento soprava frio No bosque ao longe que jazia a meus pés.
Pálida chuva sobre o porto que encolhia
E sobre o mar que umedecia a igreja do tamanho de um caracol
Com seus cornos através da névoa e do castelo
Encardido como as corujas Mas todos os jardins
Da primavera e do verão floresciam nos contos fantásticos
Para além da divisa e sob a nuvem apinhada de cotovias.
Ali podia eu maravilhar-me
Meu aniversário Ia adiante mas o tempo girava em derredor.
Ao girar me afastava do país em júbilo
E através do ar transfigurado e do céu cujo azul se matizava
Fluía novamente um prodígio do verão
Com maçãs
Pêras e groselhas encarnadas
E no girar do tempo vi tão claro quanto uma criança
Aquelas esquecidas manhãs em que o menino passeava com sua mãe Em meio às parábolas
Da luz solar
E às lendas da verde capela
E pêlos campos da infância duas vezes descritos
Pois suas lágrimas me queimavam as faces e seu coração
se enternecia em mim.
Esses eram os bosques e o rio e o mar
Ali onde um menino
À escuta
Do verão dos mortos sussurrava a verdade de seu êxtase
Às árvores e às pedras e ao peixe na maré.
E todavia o mistério
Pulsava vivo Na água e nos pássaros canoros.
E ali podia eu maravilhar-me com meu aniversário
Que fugia, enquanto o tempo girava em derredor. Mas a verdadeira
Alegria da criança há tanto tempo morta cantava
Ardendo ao sol.
Era o meu trigésimo ano
Rumo ao céu que então se imobilizara no meio-dia do verão
Embora a cidade repousasse lá embaixo coberta de folhas no sangue de outubro.
Oh, pudesse a verdade de meu coração
Ser ainda cantada
Nessa alta colina um ano depois.
.(Dylan Thomas, tradução: Ivan Junqueira)
Já não soube a tempo de orientar a minha vida para ver o grande Sasseti. Tinha um dilema: ir lá ou às tasquinhas do Bodo das Castanhas, a Vermoil. Estava quase a vir aqui escrever post a respeito dessa feira secular, quando me apercebi do programa de animação desta noite: as misses do Correio de Pombal. Em pleno Bodo das Castanhas. Vê só, Adérito, que o grave é isto: a Bárbara, a nossa Bárbara, não chegou sequer a finalista. As outras hão-de animar a malta, como faz falta.
ResponderEliminarDe tanto querer ver a Barbara, despistei-me nas Águas Férreas. Tudo por culpa do Farpas que não me avisou a tempo e me obrigou a acelerar. Ou Então foi praga do Nobre Povo. Assim tenho o estrago para pagar e fiquei sem lhe poder testemunhar a minha admiração. Hoje à noite, todos ao Bodo de Vermoil.
ResponderEliminarO Jorge pensou que a Barbara estava no Teatro Cine a ouvirver o Sasseti a a Orquestra das Beiras. Lixou-se. Já agora, leiam o último livro do João Tordo " O Bom Inverno ". Li e admirei. Livro obrigatório.
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