30 de setembro de 2012

Zona histórica: crónica de uma morte anunciada


Primeiro foi a ourivesaria Fonseca. Mais de 100 anos dedicados ao negócio, investimentos sucessivos na(s) lojas, nos edifícios, e uma esperança sucessivamente aniquilada de ver a zona antiga de Pombal renascer. Como nas outras cidades à nossa volta, como no resto do país.
Depois foram as lojas que acreditaram num tempo novo, nos programas de regeneração. E então, chegados ao final desta semana, assistimos à machadada final: o único franchising de roupa que restou na cidade, a Naf Naf, logo seguida da sapataria Mónaco, mudaram-se. Uma e outra ocupam agora espaços próximos daquilo que parece ser cada vez mais toda a cidade: a avenida Heróis do Ultramar.
Percorrendo a pé a zona antiga de Pombal que se esconde para lá do Cardal, já é mais fácil identificar as portas abertas, pois que são em muito menor número. Talhos, restaurantes, lojas diversas, tudo se finou na zona histórica. E se os pouco que restam decidirem também fechar portas ninguém lhes pode levar a mal. A sobrevivência está ainda acima dos caprichos. Pelo menos para alguns.
De modo que, quando, por estes dias, a Câmara anunciou a interrupção do trânsito para que prossigam mais umas obras de encher o olho naquela zona, imaginei como tudo poderia ser diferente se em vez de caprichos esta cidade vivesse do rasgo. Por exemplo, se o Arquivo fosse mais vivo que morto, se o Centro Cultural (alguém se lembra porque é que aquilo se chama centro cultural) fosse um espaço com agenda e actividade, se ao invés dos rios de dinheiro enterrados num parque  de estacionamento subterrâneo (cujo aproveitamento está à vista) tivéssemos investido na recuperação de edifícios, incentivando os privados, apoiando-os. Ah, claro que para isso era preciso mais do que despachar obras a concurso. Era também preciso um entendimento com os proprietários. Ou então ver o que se fez à volta, nas cidades e vilas vizinhas, partindo do princípio de que ver não é só olhar.
Quem vier em 2013 não terá a vida facilitada, já o sabemos. Porque não vai lidar apenas com a falta de dinheiro. Vai sobretudo ter de inventar fórmulas para começar de novo, devolvendo à cidade aquilo que lhe falta: vida.


5 comentários:

  1. Bom dia!
    No ano 2003 fui visitado por um professor catedrático, que me deu aulas de economia em Coimbra . Entrou, viu-me a fazer contas e disse: não mates a cabeça a fazer contas se queres ver com está o País visita as cerâmicas à tua volta, elas são o espelho de toda a actividade e económica. Na sequência da conversa acrescentou: até 2013 temos que pagar os porcos e os bois de 4 rodas e, até lá, isto vai com avanços e recuos, antes de 2013 é só desgraça. Respondi: o Professor está a exagerar é um período demasiado longo! Respondeu-me verás! Concluo que tinha razão!

    A questão que se levanta é: será que só um professor catedrática sabia o que nos estava a acontecer? julgo que não! que interesses moveram esta gente que nos governou até agora para esconder todo o monstro da despesa pública, todas as asneiras e todo o conluio que grassa este País?

    Pombal não está imune à crise, o decréscimo de actividade gera falta de emprego e obviamente imigração, Pombal está deserto, desde o jovem que se ficou pelo curso técnico, com mestrado, até aos não qualificados de todas as idades, tudo imigrou, FRANÇA, SUIÇA, REINO UNIDO, ALEMANHA e CANADÁ são os principais destinos das nossas gentes, os potenciais consumidores imigraram.

    Com a ausência de consumidores como podem as lojas sobreviver se Pombal está deserto? Que outras soluções teremos para resolver o problema económico da zona antiga da cidade? Actualmente apenas temos lá o serviço de finanças! porque não oferecer espaço gratuito a outros serviços públicos? que outras soluções para atrair pessoas?

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  2. Era eu secretário-coordenador da JS (à volta de 2001) e sugeri num texto que se aproveitasse a zona para concentrar os serviços públicos (ainda puxava ao erro de ter o Estado a gerar actividade económica, mas paciência). Recebi resposta, da JSD, que nada disso estaria previsto, que o projecto que estava estava bem. Nota-se: um buraco escavado que deu em nada, um Arquivo desacompanhado, um Museu com horários de Função Pública, uma Praça despida de vida, um Centro Cultural com condições mas mal acarinhado, um outro Museu e mais nada. Haverá mais nas parcerias urbanas, mas já se sabia deste caminho torto. A zona histórica, que não sendo maravilhosa, é bonita, teve o condão de se tirarem os carros da Praça Marquês de Pombal, mas o resto foi sendo feito aos apalpões e sem curar de envolver a população. As culpas podem ser repartidas, mas quem toma a decisão de gastar dinheiro tem obrigação de planear todos os cenários. Não o fez. A Praça lá está e a Zona Histórica definha. Terá mais placas de inauguração, mas vida, nada. É que fora Arquivo e Finanças(e uma Casa Mortuária com dignidade), uma zona nobre definha. O que é uma pena. diz que haverá um centro de negócios (artimanha para justificar fundos junto do QREN), mas no geral fica a vista a estratégia: inaugurar para colocar a placa. Depois? Que se lixe. Alguma coisa fica. Até porque, veja-se o Arquivo, mesmo que faça, fica perdido no meio de um nada que poderia ser mais. E agora já não há quem queira investir, em especial em termos de hotelaria. E é uma pena. É uma praça que podia ser mais bonita, mas há arquitectos que odeiam árvores, mas serve de postal. De lembrança que podia ser melhor, mas não se planeou nem se envolveu a cidade, as associações (estão lá, mas em nome) para uma Regeneração que desse vida, que repensasse o mercado de aluguer, mesmo em pequena escala, que colocasse algo que mais que obrigar a passar, obrigasse a ficar. Para dar a volta a isto, precisa-se da cidade, das pessoas, das associações e de um poder político que tenha visão e capacidade de ver a obra para além da placa.

    Nada está perdido, basta acreditar e trabalhar que há capacidade de conseguir atrair investimento, depois de definir o que se quer para aquela zona. Porque sinceramente, alguém se sente parte de alguma ideia do que se quer para Pombal? Sim, parece fácil. Mas também pareceu fácil ir buscar o dinheiro e fazer obra porque sim.

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  3. Bom dia!
    Sempre fui daquelas que defendi o parque na praça Marquês de Pombal. gratuito, como forma de levar pessoas aquela zona. Talvez um pouco de divulgação do parque gratuito resulte.

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  4. Caros,

    Não devemos ter memória curta! Se hoje somos todos moralistas e forretas, houve tempos em que os dois maiores partidos em Pombal só pensavam gastar à tripa-forra. Falar de planeamento e contenção era apenas para os líricos. Quem queria ganhar eleições teria que prometer "obra" ou apresentar "obra feita". Assim, sem mais.

    A propósito da zona histórica e dos parques subterrâneos, respigo o que escrevi no ECO, em Dezembro de 2002: cdudepombal.no.sapo.pt/tamanquinhas/dezembro02.pdf.

    Abraços,
    Adérito

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