Muita coisa mudou nas nossas vidas desde aquela madrugada de
25 de Abril de 2008, quando eu, o Adelino Malho, o Adérito Araújo, o João Alvim
e o Daniel Bento Alves mergulhámos nos teclados e nesta aventura de criar um
blogue em Pombal, que se assumisse sem medos como um projecto de intervenção
cívica e política [não partidário]. Na verdade, eu ganhava-lhes a todos: trazia
comigo a Leonor, há sete meses, que haveria de nascer um mês depois,
prematuramente aos olhos da ciência. De modo que, quando me perguntam do que me
lembro nessa noite – em que trocámos talvez centenas de mails, entre nós, até
acertarmos com aquela meia dúzia de linhas que fizeram o primeiro post – a
memória traz-me algumas dores nas costas, largas o bastante para o que viria a
seguir.
Era outro o Pombal desse tempo, como era outro o país.
Não
sonhávamos com redes sociais, com likes nem partilhas, mas sonhávamos todos com
uma terra melhor. Sempre acreditei que a nossa terra é aquela onde vivemos,
embora fiquemos para sempre ligados àquela onde nascemos. E por isso fui
andando, às vezes por caminhos tortuosos, com a única certeza de o fazer de pé.
A falta de predisposição para esfolar os joelhos traz dissabores, nos meios
pequenos, mas dá-nos uma imensa liberdade. E uma certeza: quando não temos
nada a perder, e sobretudo quando não temos valores físicos para deixar aos
nossos filhos, resta-nos a dignidade. É difícil falar dela e passar esta mensagem
a quem só conhece o outro modus vivendi, aquele do registo bem comportado e
futuro prometido, mais a pacandita nas costas (agora também existe em forma de like)
e unidade colectiva. Às vezes penso que se não tivesse tido a sorte de viver e
trabalhar com outra gente (mesmo sabendo que a sorte dá muito trabalho), nunca
saberia que há mais vida para lá do Cardal, da declaração do presidente e de
reacção oficial. Da mesma maneira, talvez me parecesse normal que a maioria dos jornalistas se anulasse no pé do microfone, esquecendo que são, antes de mais,
cidadãos. E que numa sociedade saudável isso nunca coloca em causa o
profissionalismo de cada um. Desgosta-me muito o estado a que isto chegou, mas
não basta lamber as feridas. É preciso ter coragem de as tratar.
É nesse quadro que o Farpas se assume como um bálsamo,
antídoto para caciques e formigas no carreiro.
Muita coisa mudou. Do núcleo fundador faltam-nos o Daniel e
o Alvim, migrados para outras paragens. Vieram novos farpeiros, outros vieram e
foram, abrimos as portas, desarrumámos a casa - que fica à esquerda, como sabem. O Farpas foi
entrando na vida da comunidade, de Abiul ao Carriço, do Louriçal às Meirinhas.
Quando olho para nós, hoje, vejo-nos a abrir a janela e a sacudir o tapete,
onde os poderes e interesses instalados guardam as migalhas e a poeira. A
“farpearia” – como lhe chamam os meus – é um blogue. O que será depois de hoje,
só saberemos logo à noite.
Valeu a pena a travessia? Valeu pois!
Pombal, 25 de Abril de 2015
Dedico a música : "A formiga no carreiro", de Zeca Afonso, ao texto da Paula Luz. E aos Farpeiros, claro.
ResponderEliminarhttps://www.youtube.com/watch?v=GMkB3bZP96k
Uma pergunta. Porque é que hoje nas comemorações do 25 de abril em Pombal os Srs. da comitiva da CMP não ostententavam o cravo na napela ?
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
EliminarO eleito pelo PCP na Assembleia Municipal de Pombal, participou nas comemorações de orgulhoso cravo vermelho ao peito. Entre os eleitos, era o único. Pela cidade, reparei em mais meia dúzia de cravos. Um deles na lapela de um senhor, doente, com quase 80 anos, mas que não quis deixar deixar de vir à chuva e ao frio, comemorar um dia que lhe saiu do corpo e da alma. Fotografei-o enquanto beijava a bandeira do Partido Comunista Português e com lágrimas nos olhos acariciou também a bandeira de Portugal. Ai Portugal, Portugal, disse-me com mágoa no olhar. Dei-lhe um abraço e afastei-me. Para fugir às lágrimas que também quis verter. Cravos, eram poucos. Mas eram vermelhos. E intensos. E resistentes. Custe o que custar, digam o que disserem, os cravos, podem murchar mas não morrem.
EliminarTô, tô, companheiros, bom dia.
ResponderEliminarFoi um serão bem passado.
Gostei.
Vamos ver se os Administradores conseguem encontrar a estrela polar que oriente o Farpas e deixarem de ser umas baratas tontas.
Viva o Farpas. Viva. PIM!
Belo texto Paula Sofia :)
ResponderEliminarBoa tarde
ResponderEliminarHoje não farpeio ninguém!
Ontem foi dia de confraternização e debate de ideias, só fez falta quem lá esteve! Conheci a Ana Tenente para quem, em tempos, pedi a promoção a General pela sua vitória em ABIUL !
Elogio o texto deste post, escrito com palavras simples, elaborado com ideias e ideais simples
Foi uma noite excelente, num debate franco e muito correcto. Valeu a pena, e tudo graças aos farpeiros-mor daqui do Blog!
ResponderEliminarMais 7 anos venham!
Um abraço a todos.
Belo texto! Só faltou o mantra do "um blog é apenas um blog", não é, Paula?
ResponderEliminarDe resto, é tudo verdade e até parece que já passou uma eternidade. Uma sobre a criação do blog e outra desde a minha saída.
Seja como for, não deu para ir, e mesmo que tivesse dado, teria apenas a grata compensação de estar em carne e osso com algumas pessoas com que nos últimos dois anos apenas tenho podido estar virtualmente.
E isto porque em relação ao passado do Farpas, foi o que foi, e ainda bem que o foi, já que muito me orgulho de ter isso no meu "CV". Em relação ao presente, começam a faltar-me as referências em primeira mão do que se passa em Pombal para ter opiniões totalmente sustentadas, mas foram mais de 3 décadas aí para saber que se algumas das circunstâncias que justificaram o Farpas mudaram, seguramente que outras se manterão. Quanto ao futuro, e como se disse acima, só faz falta quem está... e quem sabe o que se passa, isto, é a Farpa a quem sabe farpear.
Além disso, é saudável quando se questiona o caminho que queremos percorrer e mais meritório é quando se abre a discussão a quem nos vai acompanhar. Mesmo que um blog seja apenas um blog!