O Príncipe sabe que o xadrez político está revoltoso e que a
roda-viva em que tem andado nas últimas semanas não chega para inverter o
sentido da peleja; que é necessário recorrer às peças da retaguarda. A precipitada
ofensiva do inimigo foi bem repelida com o avanço do Lorde-mor; mas logo surgiu
a surpreendente cisão no reduto eclesiástico a oeste; o que demandou o avanço
do “bispo”, nesta época natalícia. Chamou o Pança e ordenou-lhe que marcasse um
encontro com o Cura Vaz.
O Pança desceu as escadarias do convento e dirigiu-se à
sacristia, onde encontrou o Cura e Trovador Vaz a preparar os despachos das
suas novas cantorias para os fiéis. Mal o viu entre-portas, o Cura e Trovador Vaz,
puxou-o:
O Pança benzeu-se novamente, depressa, e disse: - muito
obrigado, reverendo Vaz. Venho a mando do nosso Príncipe.
- E que incumbência trazeis – Interpelou, curioso, o Cura?
- Venho incumbido de o convidar Vossa Excelência para um
encontro com nosso Príncipe, amanhã, depois da missa da manhã, se Vossa Mercê
tiverdes vagatura.
O Cura Vaz consultou o calepino e disse: - Poderá ser; não
tenho nenhum sacramento marcado e, mesmo que tivesse, arranjar-se-ia, com
certeza, vagatura para os encontros, sempre proveitosos, com Sua Alteza.
Cumprida a incumbência, reparou o Cura e Trovador Vaz que o
Pança se preparava para sair. Por isso, interpelou-o: - Irmão, há muito tempo
que não passas pelo confessionário.
- Tem razão – anuiu o Pança – mas, como sabe, agora, a minha
atarefada empreitada deixam-me pouco tempo para cumprir os deveres religiosos.
- Não pode ser, meu bom-cristão. A salvação da alma nunca pode
ficar para trás. E deveis saber que a vossa empreitada é muito propícia ao
pecado; e que Deus suporta os maus, mas não para sempre.
- Mas eu não sou dos maus – acudiu Pança.
- Não digo que o sejais; mas olha que os amanuenses e o povo
andam muito queixosos. Tenho-os afagado na confissão, mas...
- Já percebi que é melhor passar pela confissão e comunhão.
Reconheço que tenho andado afastado da Igreja, da Sr.ª do Cardal (minha querida
Senhora) e, até, da graça de Deus.
- Muito bem – anuiu o Cura e Trovador Vaz, e perguntou logo
de seguida: - Mas dize cá, meu bom-cristão: já encomendastes as minhas novas
cantorias?
- Ainda não – confirmou o Pança. Mas fá-lo-ei, entretanto. Fique Vossa Mercê descansado que será a minha prenda natalícia aos amigos e
família.
- Não esperava outra coisa de um bom-cristão como o meu amigo,
com provas dadas – atestou o Cura e Trovador - mas, já que estais aqui,
dize-me: a câmara vai encomendar as minhas novas cantorias?
- O que sei dizer a Vossa Mercê — respondeu o Pança – é que os
serviços estão a tratar disso. Mas será conveniente abordar esse ajuste no
encontro de amanhã. Como Vossa Mercê sabe, D. Diogo é muito formal; exigirá, com certeza,
o necessário protocolo; mas conte com uma boa ajuda à Santa Igreja e ao seu digníssimo
representante nesta santa terra.
- Vai com Deus, Pança amigo.
- Até amanhã, digníssimo.Miguel Saavedra
ALERTA LARANJA PARA HOJE Á NOITE
ResponderEliminarFicam todos os Pombalenses avisados de que hoje á noite vai haver plenário no laranjal. Não passar junto ao mercado pois correm o risco de levar com uma laranja ou tangerina podre na cabeça e as urgências do hospital estarem com falta de pessoal.
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