A todos surpreendeu a presença do Pança no lançamento da
candidatura inimiga. E mais ainda o fazer-se acompanhar pelos fieis-ajudantes:
a donzela e o lacaio. Todos perceberam que não vinha em apoio, mas "cuscar" para
si e para o amo. A presença da donzela percebe-se - gosta de se
mostrar - mas a do lacaio levantou suspeitas...
O Pança não disfarçou a inquietação durante o evento, e no final mostrou-se irritado aos aos microfones da Cardal (como o Cid assinalou bem). No
trajecto de retorno, desabafou longamente com os fieis-ajudantes. Estava preocupado, e quis, de imediato, por o amo ao corrente dos contornes da ameaça; mas lembrou-se, atempo,
que o Príncipe não gosta de ser incomodado quando se entrega à família, e que é
dever de fiel escudeiro não acrescentar preocupações ao preocupado. Deixou a
coisa para hoje de manhã. Quando, hoje, se apresentou na câmara, já o Príncipe o
esperava; e nem o deixou sentar-se, mandou-o logo entrar.
- Com licença, Alteza; e bom-dia – disse o Pança. Cumprimentaram-se.
- Sentai-vos, e contai-me o que vos pareceu aquilo – ordenou
o Príncipe.
- O que sei dizer a Vossa Mercê: estamos lixados – opinou
o Pança com ar abatido. O traidor apresentou-se forte, coadjuvado com outros
traidores - ex-esquerdistas - e desalinhados de peso. Dói, só de ver, a forma como bajula o
povinho, parecendo mergulhar-lhes no peito com cortesia e humildade.
- Não percebo – contrapôs, agastado, o Príncipe -, afiançáveis
que o homem estava Ché-ché, e que não chegava à contagem dos votos…
- Enganei-me, Alteza. Enganámos-nos…- anuiu, com ar triste, o
Pança.
- Que o coveiro de Albergaria o apoie, percebe-se e ajuda-nos,
até; mas a Condessa de Lagos…! Estava esquecida, dei-lhe palco, tem-nos
bajulado tanto, e trai-nos desta forma! Desabafou, entristecido, o Príncipe.
- Tocou Vossa Mercê no ponto que me despertou mais rancor.
Deveis aplicar sem demora o castigo reclamado pela traição para evitar mais
deserções – propôs o Pança.
- Não digo menos disso — respondeu o Príncipe. Porém, para
me ajudares contra o traidor, hás-de ter mão nos teus ímpetos naturais, Pança.
- O Senhor tem a faca e o queijo na mão, e a espada. Não
pode deixar a onda levantar-se, senão… – incitou o Pança.
- Os dias não são para sangria. Seria loucura tentar
semelhante feito! – contrapôs o Príncipe. Lembra-te Pança: quem faz imoderado uso da
espora, termina por matar a montaria. E não vos esqueçais, Pança; essas despesas, a serem feitas, cabem ao Chefe Pimposo.
- Isso deveria Vossa Mercê saber quando começou o reinado –
retorquiu o Pança. E acrescentou: - Agora, concordo, talvez seja tarde…
- Não te entendo, Pança – contrapôs o Príncipe. Umas vezes
criticais-me porque gero muito odioso, outras porque sou macio!
- Senhor meu, se Vossa Mercê se enfada, eu calo-me e deixo
de dizer aquilo a que sou obrigado como leal escudeiro – retorquiu o Pança. Pois
se me não entendeis, não admira que as minhas sentenças sejam tidas por
disparates. Não se agonie Vossa Mercê comigo, e desculpai-me a ousadia — continuou
Pança — que me não criei na corte, nem estudei em Coimbra.
- Dize, Pança; tudo o que te vier ao pensamento e à boca…- demandou
o Príncipe.
- Só quero o seu bem, Alteza. Que Deus o ilumine e a Nossa
Senhora do Cardal o proteja.
Miguel Saavedra
Esta Gestão Municipal tem promovido um afastamento entre eleitos ( Os Sangue Azul do Cardal) e o povo. O povo sente-se órfão e vai novamente a colocar nos Paços do Concelho alguém que os entende. Narciso é do povo e o povo é de Narciso...Só os iluminados do Convento do Cardal é que ainda não entenderam essa realidade.
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