O fogo de
Pedrogão-Grande foi uma verdadeira tragédia colectiva.
Tragédia porque deixou
as populações de três concelhos (Pedrogão Grande, Figueiró dos Vinhos e
Castanheira de Pera) entregues ao enigma do destino, um destino cruel que
roubou a vida a dezenas de pessoas e impôs um sofrimento imerecido a milhares.
Colectiva na medida em que nela todos participaram: uns como actores/vítimas,
outros como figurantes; uns com culpa inconsciente, outros consciente; uns sofrendo,
outros sublimando o sofrimento.
Foi uma tragédia onde
as pessoas afectadas mostraram uma serenidade e uma dignidade assinaláveis; ao contrário
de outros – dos figurantes -, que se aproveitaram da desgraça alheia para
capitalizar. Foi, também, uma oportunidade para os epiléticos das ideias apontarem
culpados, causas e soluções - como se houvesse causas únicas e soluções fáceis
e imediatas. Alguns foram ao ponto de apontar o eucalipto como o grande
culpado. Coitado do eucalipto!
É já possível afirmar
que a tragédia ocorreu porque, perante a conjugação de condições extremas -
climatéricas, terreno e floresta –, foi dada a resposta normal. A floresta é o único
factor que o Homem pode controlar - os outros não estão nas suas mãos. Convém,
por isso, ganhar consciência de que é a Natureza que condiciona o Homem e não o
Homem que condiciona a Natureza. O estado da floresta é resultado de escolhas
individuais, de condicionantes que veem de muito longe e de formas e estilos de
vida que mudaram profundamente. Mas uma coisa é evidente: se não se ordenar o
território e a floresta vão ocorrer mais tragédias como esta. Muitos culpam o
governo e as entidades oficiais pelo estado a que chegámos, esquecendo-se que a
responsabilidade é de todos, e que a resistência à mudança, que tem que ser
profunda para produzir os efeitos necessários, é geral. Naquela zona, a
Natureza fez reset na floresta. É uma
oportunidade para recomeçar bem e de forma mais fácil.
A tragédia serviu também
para uma malta se comover, poder derramar boas lágrimas e livrar-se da culpa
inconsciente e do sofrimento ao realizar actos compassivos. Desde a antiguidade
que os Homens sempre situaram a compaixão num nível baixo, na hierarquia dos
sentimentos morais; e com razão, mas estavam longe de imaginar o alarde que vai,
na contemporaneidade, pelas redes sociais.
Para Nietzsche a
compaixão (pública) não tem por objectivo o prazer do outro; pois ela abriga no
mínimo dois elementos de prazer pessoal, e é, desta forma, fruição de si mesma:
primeiro como prazer da emoção, e depois, quando impele à acção, como prazer da
satisfação no exercício do poder.
O
folclore de “solidariedade” que a tragédia de Pedrogão Grande desencadeou e o
aproveitamento dela se está a fazer, repugna o ser mais cálido. Como bem refere
o cálido F. Pessoa: “nada me pesa tanto no desgosto como as palavras sociais de
moral. Já a palavra “dever” é para mim desagradável como um intruso. Mas os
termos “dever cívico”, “solidariedade”, "humanitarismo", e outros da
mesma estirpe, repugnam-me como porcarias que despejassem sobre mim de
janelas”.
Após um fim-de-semana de horror e consternação, aparecem os profetas da desgraça a imputar culpas a uma arvore que é o ganha-pão de tanta família rural. Sim o eucalipto para muitas famílias rurais é a única fonte viável de rendimento, pois infelizmente a maior parte dos produtos florestais têm um baixo retorno económico ou nenhum. A resina que antigamente era uma fonte de rendimento já ninguém explora e não gera receitas para os proprietários florestais.
ResponderEliminarAgora a culpa é do eucalipto... A culpa é da desorganização/falta de ordenamento florestal e do negócio do fogo...Senão arder as Empresas com actividades nessa área não facturam.
Neste caso dos fogos no pinhal interior do distrito de Leiria a causas foram naturais e ai nada pode ser feito...Na maioria dos fogos há mão humana e ai tem de haver punição exemplar, punir tanto o indigente que recebe para colocar fogos, como os mandantes que lucram milhões com os fogos...A solução passa por todo esse processo ser ESTATAL, desde a fase da prevenção até á fase do combate aos incêndios...Nem mais um cêntimo para os privados.
Adelino. Sei que és comprometido com a esquerda. Mas o conteúdo do post é bem "manhoso" e "oportunista". Dogmaticamente, costumavas atacar tudo o que mexia e tudo o que ficava quieto, quando não estivesse alinhado à esquerda. Agora fazes a defesa e a justificação da conduta da esquerda e ainda um ataque aos outros. Estás coerente contigo...
ResponderEliminarNestes momentos é sempre inevitável que alguém se aproveite da desgraça para fazer dela o passeio das vaidades
ResponderEliminarAproveitando a frase "a floresta é o único factor que o homem pode controlar"
Sem dúvida esta frase contêm a solução, ou seja: o homem não controlou a floresta, nem cumpriu a lei! Muitas questões se levantam, são todas legítimas, e eu pergunto porque razão não cumpriram a lei no que respeita aos 10 metros de área de segurança nas redes viárias e em redor das habitações? ao verificar-mos a Nac. 236-1, onde morreu muita gente no túnel do fogo, vemos a floresta até ao alcatrão, se tivessem respeitado a lei a referida estrada não se tinha transformado num túnel de fogo, que matou tanta gente.
- Outra questão que eu levanto é: qual a razão porque os poucos estudos encomendados e pagos sobre a floresta estão todos na gaveta? pedem-se pareceres sobre a floresta aos estudiosos sobre estas matérias, são bem pagos, e depois arquivam-se sem dizer nada a ninguém.
- Ainda, todos sabem que a actividade dos bombeiros consome recursos, que o fornecimento dos bens para os mesmos é um nicho de mercado sem concorrência, por tal, são produtos caros.
- Vejamos a cadeia da Indústria do Fogo: madeiras queimadas são ao preço que quem as compra quer pagar; os fardamentos, os equipamentos, bombas motoras, as viaturas, a sua manutenção, o combustível, e no topo temos as aeronaves cujo preço ronda os 3.000,00 euros por hora (corrijam o preço)
- Desde a década de 80 que há Kits para incêndios na base área de Monte Real aplicáveis nos aviões C 130, porque razão não se aplicam em caso de catástrofe como esta?
- Alguém me expliquei porque não são realizados contra fogos ? dizem que é proibido, escrevam a dizer que é legal!
Caro amigo Adelino Malho se fizer o percurso do IC 8 até Ansião vai constatar que a lei não é respeitada, relativamente aos 10 metros junto da via, ou seja: ninguém cumpre a lei nem a faz cumprir.
- O Sr. presidente da CM Castanheira de Pera fez um ofício, em tempo oportuno, a quem têm a responsabilidade pela manutenção da aquela estrada chamando à atenção do estado da floresta junto daquela rede viária e ninguém fez nada!
- Entendo que todos os políticos são culpados e a senhora Ministra fez bem em não se demitir !
Perante estes factos concluo que o LOBY da industria do fogo t~em muita força, move milhões e as vítimas são sempre o pessoal que move cêntimes
- Finalmente estou convencido que alguém vai processar o Estado Português acusando-o pelas das mortes por negligência, não cumpriu nem fez cumprir a lei
JGF,
ResponderEliminarAté na tragédia vês esquerda e direita e tudo - sai de vez em quando desse registo.
O post não é “oportunista”, é oportuno; nem é “manhoso”, é sério – porque trata de seriedade (ou de falta dela).
Alguma direita preocupa-me (tal como alguma esquerda), mas os “outros” – como lhe chamas – ainda me preocupam mais. E os da tal direita que são também dos “outros”, são mesmo um perigo (para a sociedade, não para mim – ao largo com eles/elas).
Caro Adelino.
ResponderEliminarSegues a velha cartilha maniqueísta da esquerda (mais ou menos comunista) dada à estampa com o 25 de Abril. Tudo o que não fosse daquela esquerda era insultado de fascista, reacionário, burguês, colonialista, explorador da classe proletária, pessoa da direita, etc. Lembras-te?
Agora cá vens tu com o mesmo maniqueísmo, a tentar insultar os outros, dizendo que são perigosos de direita... Sim, reconheço que os que não alinham com as mentiras da esquerda e defendem a liberdade de pensamento e de expressão sejam "perigosos" de direita para os interesses manhosos da esquerda... Já agora, consideras-me também um perigoso de direita, uma vez que não acredito na patranha do dito "socialismo científico" de Karl Marx?
Quanto ao restante, o conteúdo do teu post é exatamente uma tentativa, ao estilo do Galamba, de desresponsabilizar o governo das esquerdas e culpabilizar o anterior governo, aliás, como também fez o teu ministro da agricultura Capoulas Santos.
Recorda-te que, poucos meses depois da esquerda recomeçar a governar, defendeste que os razoáveis resultados económicos são o resultado da atividade governativa deste governo, o qual não fez qualquer reforma, enquanto atacas o anterior governo pelas reformas que fez (imposta pela Troika) que este governo pouco desfez ao contrário do que prometeu.
Vê lá como pensas: quando há resultados positivos imediatos, é tudo trabalho da esquerda; quando há resultados negativos mais recentes, não é culpa da esquerda e é tudo culpa da direita. Chiça…
JGF, não sais do registo - tudo para ti é politizado e extremista. Até neste post vês esquerdismo (onde, quem o fez, não o vê).
ResponderEliminarUm conselho: politiza o que é político, e não politizes o que não é político. E não confundas o que é estrutural com o que é conjuntural.
Caro Adelino
ResponderEliminarDizes então que este teu post não é político! E os outros? Vá lá, todos os teus posts são políticos e defendo que a política deve ser entendida como uma atividade séria, onde da discussão deve sair a luz e a melhor governação...