A comemoração do Dia Internacional da Mulher serviu para as
mulheres reivindicarem o justo estatuto de igualdade e para colocar na agenda
outras reivindicações mais ou menos folclóricas. Em Pombal, a data foi
assinalada, ontem, com uma Manifestação Silenciosa de Apoio às Vitimas de
Violência Doméstica, onde o cabeça de cartaz foi o “bom-cristão” Diogo Mateus.
Convém assinalar que em Portugal pouco haverá a fazer ao
nível legal pela igualdade de género, já que a igualdade de direitos está
plenamente consagrada no nosso regime jurídico. O que não quer dizer que na
vida real não existam injustiças e constrangimentos que mantêm discrepâncias
significativas entre homens e mulheres.
O materialismo histórico ensinou-nos que a explicação dos
fenómenos sociais, nomeadamente os mais complexos, não está nos seus actores
mas em causas ocultas (na realidade submersa). Assim, quando se introduzem
alterações significativas ao nível dos direitos das pessoas ou grupos sociais,
é natural que, durante um certo período, haja um desfasamento entre o quadro
legal e a realidade social. Contudo, na problemática da Igualdade de Género, o
desfasamento não se tem atenuado ao ritmo que a maioria julgaria possível e
aceitável. Por outro lado, é mais ou menos consensual que as razões do desfasamento
estão essencialmente na realidade social e não no quadro legal; ou seja, está a
ser difícil mudar a realidade, apesar do consenso político e social colocado no
fortalecimento do quadro legal. Estudos recentes indicam que a desigualdade de
género se manterá por muitas décadas ou até séculos!
Este fenómeno social complexo mostra aquilo que já sabíamos,
mas que neste caso é mais evidente: as mudanças nos regimes jurídicos são
essenciais mas não asseguram, per si, a mudança da realidade social; torna mais
claro que os fenómenos sociais são fortemente influenciados por causas
culturais, que ditam comportamentos individuais, que, por sua vez, conduzem a
comportamentos colectivos.
Tudo isto para dizer que as mulheres portuguesas para além
de vítimas da realidade social são agentes activos dessa realidade;
condicionam-na fortemente e nem sempre no bom sentido – no sentido que as
beneficia. Porquê? Porque, em Portugal – por muito que isto custe a ouvir à
maioria - a moral cristã é o principal condicionante dos comportamentos
individuais e colectivos. A religião e a moral cristã secundarizam a mulher de
uma forma que as deveria indignar - com o estatuto que tinham na Idade Média.
No entanto, anacronismo dos anacronismos, são as mulheres o principal veículo
da moral cristã, frequentam mais a igreja, batem-se mais pela educação cristã
dos filhos, etc. Enquanto a moral cristã for o principal condicionante social, bem
pode a mulher reforçar a sua instrução, bater-se pelo reforço dos seus direitos
e da sua protecção, a sua condição social será sempre secundarizada e foco de
conflitos.
Convém nunca esquecer que não haveria casuística da moral se
não houvesse casuística da vantagem.
D. Diogo e o seu Castelo...Deus Salve o Rei...longa vida á Rainha...
ResponderEliminarConta a experiência que nas reivindicações há que pedir o braço para se conseguir o pulso.
ResponderEliminarNuma sociedade mundial ainda muito machista felizmente cabe-nos, aos ocidentais, a vanguarda social da reposição no lugar paritário que elas têm direito.
Também é verdade que a realidade das praticas nem sempre encaixam ou verificam a pureza da teoria pela simples razão que é impossível tornar igual o que é diferente.
Repare-se que na diferenca dos géneros não existe só a diferença genética dos sexos mas também a diferença dos objetivos, aspirações, expetativas e gostos.
Bem sei que há no ideário igualitário dos mais radicais uma convicção pela conquista "comunista" da vivência de ambos os géneros que, tal como no social já demonstrou que não serve.
Logo, não é de estranhar que muitas mulheres prefiram assumir um certo número de sacrifícios pessoais em nome do valor maior que é criar e apoiar os filhos, porque é essa a sua vocação imposta pela natureza muito mais do que aos homens.
Cabe-nos a todos compreender essa vocação e, mais do que igualdade a todo o custo, antes sim compreensão, apoio e ajuda honesta à metade da nossa espécie que até hoje ainda não a obteve.
Também é importante perceber que a moral cristã deve evoluir mas não ser demonizada porque afinal foi ela que em tempos menos esclarecidos regulava as vivencias e apaziguava as diferenças, e no fim conduziu à tolerância por que hoje lutamos.
Cabe-nos então a todos criar as condições sociais que atendam também às aspirações femininas a par com, as até aqui, quase que só masculinas.
É assim que vejo e desejo o dia da mulher.
Contudo não deixa de ser verdade que a casuística da moral acaba dependendo da casuística da vantagem...