II – A empreitada das canetas
A poucos dias do início da campanha, um partido de gente laboriosa, desta terra de gente trabalhadeira, viu-se sem brindes para distribuir, e sem dinheiro para os comprar. Depois de muito matutarem, na forma de resolver o problema, eis que alguém se lembra que tinham sobrado carradas de canetas da campanha anterior. O problema parecia resolvido com este achado, mas eis que alguém repara que as canetas tinham gravado “JC 2017” e já estávamos em 2021.
Mas quando tudo parecia perdido, alguém, não se sabe quem, teve lembrança mui bem lembrada: raspar as canetas. Há quem diga que a ideia veio do Joelito; mas, por respeito à verdade, e por não pretender valorar em demasia o protagonista, o autor abdica deste pormenor não relevante para a história. Por que, relevante, relevante, é a forma como a lembrança foi, de imediato, tornada andança. E que andança. Tenha este pobre escriba arte e talento para a registar condignamente em palavras.
A questão que logo se colocou foi “quem poderia - e saberia - meter mãos à obra?” Olharam uns para os outros, e alguns disseram logo que não podiam. Foi nesse momento, no momento que todos deram um passo atrás, que Joelito, deputado da nação, sem nada para fazer e sem saber fazer nada (que valha a pena se feito), deu um passo em frente, e se fez dono desta honrosa e valorosa tarefa. E logo a sua conterrânea, colega na lista à câmara, estecticista de profissão, se voluntariou para dar apoio técnico e fornecer os materiais. Estava lançada a grandiosa empreitada.
Foi mui comovente ver como Joelito, chico mui abnegado ao trabalho partidário, se atirou à empreitada, noite e dia, fechado dentro daquelas quatro pequenas paredes, sem ver a luz do dia. Muito haveria para contar sobre tão grandiosa tarefa; mas, por respeito ao mui degradado estatuto do Deputado da Nação, o autor escusa-se a pormenorizar mais.
Ao segundo ou terceiro dia, Joelito pediu mais acetona à estecticista, que logo correspondeu com mais um carregamento. Chegada à sede, exclamou:
- Uff; estou cansada… Mas que trabalheira que o senhor me dá!
- … É pelo partido, camarada.
- Mas diga-me, sff, o que quer o senhor atingir com tanto empenho?
- Votos. Brindes dão votos e votos dão cargos.
- Ai, senhor deputado, eu também gostava de ser eleita, e ter um cargo importante, como o senhor.
Acompanhe as desventuras de Joelito, o Raspador, nos próximos capítulos.
Miguel Saavedra
Joelito, el companheiro.
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