Pelourinhos deprimentes I
Discutia-se, na sessão de 4 de agosto das cortes constituintes, um projeto de lei para a proibição dos espetáculos tauromáquicos, contrários “às luzes do século" (o século era o XIX, o ano era 1821) , e "à natureza humana”. Não parecia legítimo, àqueles homens há já dois séculos, que se divertisse gente à custa do sofrimento dos animais.
“Os homens não devem combater com os brutos, e é horroroso estar martirizando o animal, cravando-lhe farpas, fazendo-lhe mil feridas, e queimando-lhe estas com fogo: tão bárbaro espetáculo não é digno de nós, nem da nossa civilização”, lia-se na proposta do magistrado e político Borges Carneiro.
Também o deputado Teixeira Girão, empresário agrícola, jornalista, académico, político e 1.º Visconde de Vilarinho de São Romão, se refere às touradas como "bárbaro divertimento”, “tolice em expor a vida sem fim útil, sem necessidade, “crueldade e cobardia em atorment[ar]".
Não colheu. A sociedade portuguesa não estava ainda preparada para a extinção das corridas de touros. Ficaram-se pela decisão de diminuir a barbaridade, abolindo os touros de morte, e ir preparando os "costumes".
Volvidos dois séculos, nos espíritos dos nossos governantes, destas luzes nem sombras. Não só se mantém por cá o cruel, cobarde e "bárbaro divertimento", como o município a ele se associa, fazendo-se representar numa cerimónia de felicidade taurina, pela vice-presidente Isabel Marto, vereadora do pelouro do bem-estar animal, fotografada, sorridente, ao lado de um rapazola conhecido por atos de tortura sobre animais.
O presidente, que tem dado mostras do dom da ubiquidade, estando em toda a parte ao mesmo tempo, esteve, neste caso, estranhamente ausente. Não terá querido associar-se à celebração, pelo opróbrio que encerra? Ficando para a número dois o trabalho sujo? Terá evoluído no seu pensamento, e esteja hoje ao nível das luzes de 1821?
Oxalá seja este o caso, pois, de contrário, será apenas mais um presidente aficionado, o mesmo das fotografias de 2017.
Para quando #Pombalmunicipioantitourada?
NOTA: Faz-se, no próximo sábado, em Coimbra, uma Caminhada solidária - o “Cãoimbra Walk”-, com o objetivo de sensibilizar para causa animal. Participe, senhora vereadora, e tome notas.
Lina Oliveira
Professora
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