O Grupo de Cavaquinhos do Louriçal integrou este ano o projecto Recanto - promovido pela Artemede - uma iniciativa soberba que juntou os rappers Capicua e Nerve, e ainda um grupo Coral de Abrantes. Quem os acompanha há anos não fica espantado, pois sabe que ali está um tesouro do património cultural deste concelho.
O Grupo de Cavaquinho do Louriçal foi criado pelo Luís Miranda e pela Cristina Diniz, um casal de professores que chegou ao Instituto D. João V no início dos anos 90, como tantos, para fazer do Louriçal aquilo em que se tornou. E o Luís tornou-se louriçalense de coração. Ali construiu uma casa, ali lhe nasceu um filho, ali fundou uma escola de música, ali tocou e cantou com várias gerações. Ali ensinou, também, com o seu exemplo, que um homem não é um rato. Nem uma enguia. Tão pouco é um fantoche. E por isso, muito antes da sangria que mandou para o desemprego dezenas de famílias [de professores] quando o Estado fechou a torneira ao modelo que crescia no privado, o Luís saiu. Contou-me tudo em detalhes, por duas vezes, a última numa noite das festas de Agosto, na esplanada do Sol Dourado, antes das festas serem organizadas pelos donos-daquilo-tudo.
O Luís morreu a 29 de Agosto de 2019. Deixou um legado imenso à Cultura deste concelho. E ao Louriçal em particular. O Grupo de Cavaquinhos fez o luto, a Cristina e o João também, até que no outono passado pegaram nos instrumentos e continuaram a viagem, como tinha de ser.
O projecto Recanto integrou também uma componente de "Arte na Rua". Os alunos de Artes da Escola Secundária de Pombal foram desafiados a pintar 12 quadros/painéis, alusivos às 12 músicas que o Grupo apresenta no espectáculo. Mas eis que à última hora, essa sumidade que é o presidente da Junta local, decide "não ferir susceptilidades". E deixa de fora o quadro com a imagem do próprio Luís Miranda. Porquê? Porque o edifício onde os painéis foram afixados é um prédio devoluto, propriedade do grupo GPS, última entidade patronal do Luís, a quem ele ousou afrontar.
E lá de cima, ele deve ter rido muito: cigarro no canto da boca, abanando a cabeça, e dedilhando o cavaquinho, sem lhes passar cavaco. Porque não é qualquer zé manel que apaga a marca que aqui ficou, para sempre Luís.
Quanto ao painel...esteve onde tinha de estar, como acontece com o cavaquinho, desde a partida: em palco.
Foi uma noite ímpar no Louriçal. Estive presente e todos recordamos esse homem maravilhoso e teimoso que era o Luís Miranda. Escreveu-se certo mesmo pelas linhas tortas e o retrato dele ficou no palco para receber os aplausos do público. Do seu público. Em 2025 se conseguir ser Presidente da Junta vou propor um nome de rua na sua aldeia, que ele escolheu e que tanto adorava, as Castelhanas. Era sempre um prazer quando lhe tocava á porta e ia com ele beber uma aguardente, na varanda virada para aquela maravilhosa Aldeia.
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