O
ano 1961 foi muito complicado para o regime de Salazar. Em Janeiro
deu-se o assalto a um dos maiores paquetes portugueses, o "Santa Maria",
por um comando liderado pelo capitão Henrique Galvão, o que constituiu
um escândalo internacional. A 4 de Fevereiro, a insurreição do povo
angolano marca o início das guerras coloniais. A 12 de Novembro, na
farsa eleitoral para a Assembleia Nacional, a totalidade dos deputados
eleitos pertence à União Nacional, o que desencadeou várias
manifestações. Numa delas, em Almada, o operário Cândido Martins foi
barbaramente assassinado pela polícia enquanto gritava "Não há medo".
Tinha 28 anos. No dia 4 de Dezembro um grupo de dirigentes comunistas
foge da prisão de Caxias no carro oficial de Salazar. A 18 de Dezembro
as forças indianas invadem Goa, Damão e Diu, iniciando a derrocada do
império colonial português.
Tudo
corria mal ao ditador. Em desespero, dá ordens para que a PIDE
intensifique os métodos repressivos e de vigilância. No dia 19 de
Dezembro, às oito horas da noite, José Dias Coelho, artista plástico na
clandestinidade, militante do Partido Comunista Português e responsável
sector intelectual do partido, é detectado pela brigada da PIDE. Um tiro
à queima-roupa, em pleno peito, deitou-o por terra; o outro foi
disparado com ele já no chão. Os assassinos meteram-no num carro e só
duas horas mais tarde, quando estava a expirar, o entregaram no Hospital
da CUF. «De todas as sementes deitadas à terra, é o sangue derramado
pelos mártires que faz levantar as mais copiosas searas»: esta foi a
legenda que José Dias Coelho deu à sua última gravura, dedicada a
Cândido Martins. Hoje, esta frase encontra-se inscrita no mesmo lugar
onde foi assassinado.
Em 1972, José Afonso, no seu disco "Eu vou ser como a toupeira", dedica-lhe o magnífico tema "A morte saiu à rua". É a voz do poeta que escutamos nesta versão.
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