Nesta terra (Pombal) poucos comem do que gostam; a maioria come a merda que lhe colocam no prato: uma chusma de aviários e pocilgas que infestam o ar, os solos e os rios; explorações de barros, argilas e areias que esburacam o solo, destroem habitats, fauna e flora e nada estabilizam e ou recuperam; pedreiras que esventram e dinamitam a serra, poluem o ar e a água e desfeiam o espaço e a panorâmica (o postal da terra); explorações de caulinos que de esporádicas se multiplicam pelo concelho, destruindo solos, lençóis freáticos e cursos de água; matadouros e indústrias de processamento de carnes com seus inevitáveis impactos ambientais.
Agora são os do lugar da Pipa e arredores a sentir as dores de uma nova exploração de caulinos que está prestes a entrar-lhes pelas terras adentro. Umas dores que ninguém vai ouvir, e só os poucos que ainda lá vivem vão sentir. Passar-se-á tudo como de costume: os de Albergaria e de Santiago estão-se nas tintas para as dores dos do Barrocal ou do Chão do Ulmeiro, tal como os das Meirinhas se estão nas tintas para as dores dos da Guia, e vice-versa, e por aí adiante. Pessoa bem dizia que a humanidade (a sociedade) só sente a chuva quando ela lhe cai em cima.
A exploração dos Recursos Naturais e a preservação do Ambiente são naturalmente conflituantes, mas devem e podem ser harmonizados através de uma correcta avaliação dos custos das externalidades e dos benefícios económicos e através de um plano de acompanhamento regular da exploração, coisa nunca feita. O governo central e organismos regionais limitam-se a licenciar as explorações, seguindo os planos de ordenamento do território, nacionais e locais, e depois é o tradicional deixa-andar. O executivo municipal escuda-se no argumento da competência do licenciamento para fugir às suas responsabilidades na permissão para licenciamento e no acompanhamento dos impactos, porque não quer desagradar a ninguém - comportam-se como criados de quarto do capital explorador, disponíveis para todo o tipo de serviço à espera da subvenção para a campanha. Mas como fugir dos problemas nunca deu bom resultado para o mexilhão, estamos “condenados” a aceitar o inaceitável, a viver nesta triste sina de tudo o que é mau nos calhar e só nos calhar o que é mau.
Vamos de mal a pior: éramos pobres em riqueza material mas ricos em riqueza natural. Agora temos o pior dos dois mundos: condenados a viver pobres em espaços imundos e repulsivamente feios. Mas com a fanfarra sempre a tocar e o arraial sempre a girar. Bem-vindos ao reino da felicidade tola.
Parte 1
ResponderEliminarAmigo Malho, é de facto uma apreciação justa de toda a envolvente económica e social, onde os vários interesses concorrem e infelizmente conflituam, a começar pela Câmara Municipal ao ter de ser juiz em causa própria, porque senão vejamos:
Quem tem de puxar pelo desenvolvimento Industrial? A CM!
Quem tem de fiscalizar as vantagens e as desvantagens dessas instalações? A CM!
Quem aprecia e recebe emolumentos dos licenciamentos? A CM!
Quem recebe IMI e derramas dessas indústrias? A CM!
Ora assim sendo, como pode a CM opor-se à instalação daquilo que deseja?
E quem se instala quer ficar nos melhores espaços, com os melhores acessos e as melhores infraestruturas, que lhes diminui os custos de instalação.
E onde existem eles? Junto aos aglomerados urbanos onde, por acaso vivem também os munícipes. ORA BOLAS!
Ora, sabemos todos que o poder do capital tem um longo e apetecível braço que não só aporta atividade económica ao concelho como também possíveis subvenções e mecenatos que podem ajudar os poderes públicos a concretizarem ou financiarem atividades sociais cronicamente deficitárias. E aqui é que existem as fragilidades públicas porque têm de ir a votos de 4 em 4 anos, onde há que mostrar vantagens e vitórias públicas que todos possam ter conhecimento.
Depois, temos o outro lado da moeda e das obrigações públicas, muito mais exigentes aos decisores, mas menos visíveis e, lá está, conflituantes com os desejáveis investimentos nos locais anexos, ou mesmo dentro, dos espaços onde vivem as pessoas, exatamente onde se deve impedir a sua entrada em virtude das, mais que previsíveis embora não quantificáveis, consequências nefastas, a tal pegada ecológica, da sua atividade, fumos, tráfego, cheiros, barulho, tudo a perturbar o espaço urbano até aí agradável e apreciado pelos habitantes, como aconteceu já na Aldeia dos Redondos por exemplo e já reclamado publicamente na última a assembleia municipal de 30 de setembro.
Solução: Só devem ser permitidas instalações industriais em espaços destinados a esse efeito, com exigências das melhores técnicas de salvaguarda dos poluentes emitidos e provocados, e geograficamente situados em locais mais favoráveis à dispersão dos poluentes que evitem que atinjam as zonas urbanas.
Só procedendo com estas cautelas as autarquias defendem todos os interesses, onde o das populações, nos seus lugares de residência, deve estar sempre em primeiro lugar.
Infelizmente foi tudo aquilo que não aconteceu na Guia, onde os poderes locais ainda em funções, felizmente em fim de linha, defenderam a todo o custo que lá se instalasse uma enorme unidade industrial da Lusiaves na miragem de, ao sacrificarem o bom ambiente urbano atual a essa atividade, conseguirem mais valias locais que compensavam o sacrifício.
Mas onde estão as garantias de que assim seria? Que não haviam quase consequências más e pelo contrário as vantagens económicas seriam irrecusáveis? Ninguém o pode garantir e muito menos os autarcas que apenas lá estão porque foram a eleições e ganharam. Isso dá-lhes o direito a governar mas não lhes dá sapiência ou prudência, e quantas vezes o atrevimento é pai de grandes e erradas decisões!
Parte 2
ResponderEliminarNo oeste por agora até já temos sonhadores, candidatos à Presidência da Câmara, defensores de que tudo o que é investimento é bem vindo, tenha ou não consequências, incomode ou não as populações, porque as populações não sabem o que querem, só sabem no momento de votar e a partir daí têm lá no poleiro quem pense e decida por elas, e esses são os tais líderes carismáticos que, só porque têm umas ideias peregrinas e se armam em lacaios dos empresários, julgam que têm uma missão divina de um dia vir a espantar o mundo!
Mas a esses eu só pergunto: Aonde andaram até agora e o que é que fizeram de útil e visível que justifique que quem votar neles pode ter garantias de que sabem fazer alguma coisa?
Por mim um autarca eleito, em primeiro lugar, tem de defender a população que o elegeu e o seu bem-estar, não permitindo atrevimentos de qualquer ordem que possam perigar essa sã vivência. Só assim estarão cumprindo a nobre tarefa de representar a população.
Eu sei que não é fácil, nem simpático, nem agradável, mas é o necessário.
Os caulinos, as pedreiras, o lítio, o trípoli, as areias e suas consequências terão sempre de ser bem estudadas e acauteladas as reposições ou recondicionamento. Eu já defendi a criação de uma contribuição ou taxa para futura reconversão do espaço de exploração e não o que normalmente acontece de, no final, a exploração abre falência e as garantias finais esfumam-se na falência e ficam as populações com o prejuízo.
Cabe às autarquias defender sempre as populações, com a lei se existir, com bom senso na falta de lei objetiva, e contra tudo e todos, entenda-se organismos e poderes públicos, se isso for necessário, com intervenção política determinada para a qual têm legitimidade até para mobilizar a população, sempre para intervenções pacíficas.
Claro que só muita coragem e determinação o consegue concretizar, mas infelizmente características raras nos nossos meios políticos. É muito mais fácil e agradável andar ao sabor da corrente e, no final, a eterna desculpa da impotência legal de quem não quer, não sabe, ou desistiu de lutar pelo mais justo para a população.
Que me perdoem os autarcas, todos, em funções: A sua principal obrigação é serem destemidos, lutadores e invencíveis defensores das melhores causas dos seus representados, porque muitas das conquistas das autarquias não se fizeram nem fazem com cedências nem com paninhos quentes! Na política muito do que se conquista para o poder local é a pulso e por obstinada e continuada intervenção junto daqueles que comodamente se opõem.
Caro senhor, em 2023 a Concelhia de Pombal do PCP levou a cabo várias iniciativas para consciencializar a população das consequências da exploração desenfreada de caulinos. Desde vários artigos na Comunicação Social e nas redes sociais, até à realização de uma sessão de esclarecimento. Valeu 0. A população na época simplesmente não quis saber. https://www.jornaldeleiria.pt/noticia/extraccao-de-caulinos-no-centro-das-atencoes-hoje-em-albergaria-dos-doze
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