30 de julho de 2025

Quem tem medo dos independentes?

Há muitos anos, numa das campanhas autárquicas mais disputadas, um amigo que integrava a lista do PS à Assembleia Municipal costumava ironizar quando via aproximar-se a caravana do PSD: "lá vêm eles com tudo: as bandeiras, a jota, até a Senhora do Cardal!". Nesse tempo (que resultou na primeira eleição de Diogo Mateus para presidente, derrotando nas urnas Adelino Mendes), não podíamos imaginar o estado a que haveríamos de chegar em 2025, tão-pouco que chegaria a hora da Senhora do Cardal entrar mesmo na campanha. Foi João Pimpão quem a trouxe, num post facebokiano ao final do dia de domingo, em que se indignava com o que chamou "uma falta de respeito e uma vergonha pelas pessoas".

O João é um óptimo presidente da Junta da terra onde foi parar, mas é (muitas vezes) politicamente destravado. Mostrou-o ao longo de todo o mandato na AM, espicaçando os adversários para lá do limite. E se a coisa não descambou mais vezes, foi porque o órgão era presidido por um senhor: Paulo Mota Pinto. Adivinha-se por isso o que aí vem, no futuro, com João Coucelo ao leme. A não ser que tenhamos surpresas. 

Ora, a suposta vergonha e falta de respeito teria sido perpetrada pelo Movimento Pombal Independentes, liderado por Luís Couto enquanto candidato à Câmara, e que escolheu o domingo do Bodo para apresentar a sua candidatura, bem como das equipas que o acompanham. O professor António Moderno (candidato a presidente da AM) tomou conta do evento e esperou pelo final da procissão para falar. Excesso de zelo, talvez, já que este é um estado republicano e laico, o evento decorria num espaço privado, como é o Hotel Pombalense. Mas ao João, em particular, e ao PSD em geral, isso não interessa nada. Gosto de os ver desfilar na procissão, concentradíssimos em mostrarem-se nas suas fatiotas domingueiras, a transbordar moral e bons costumes. Quem ia no cortejo, porém, admirou-se com outras vergonhas, como as tascas do Bodo das Freguesias (isso dará outro post) permanecerem abertas, com o movimento próprio de tasca, na praça por onde passa a procissão.

Não é de agora o ódio colectivo dos partidos aos movimentos independentes, assim como não é de agora o ódio a Luís Couto, que neste mandato foi deputado único pelo Movimento Oeste Independentes. Todos sabemos que a maioria dos movimentos é independente, mas pouco. Que na sua maioria são compostos por degenerados dos partidos. A este, em particular, poderíamos apontar muitas características passíveis de crítica, desde logo por se concentrar demasiado numa região, o Oeste, em detrimento do resto. Mas o que acontece, grosso modo, é mais ataque de carácter do que crítica politica. E isso tem outro nome. A não ser que PS e PSD estejam com medo de alguma coisa, para além do Chega.




27 de julho de 2025

Bons pombalenses & pombalenses de bem

 Por estes dias qualquer time line é farta em manifestações de amor a Pombal. Não é só o regresso dos "autóctones" - como lhe chama uma amiga - ou dos emigrantes que voltam às pressas para chegar a tempo do Bodo. É a (legítima) assunção de quem (como eu) gosta da festa, vibra mais com os reencontros em cada esquina do que com os concertos, sabe que pouco importa o cartaz, porque a festa é nossa e faz-se seja lá com quem for. 
Moro aqui há mais anos do que morei na aldeia onde nasci, e tenho a forte convicção de que a nossa terra é aquela onde vivemos. E por isso estas ruas são tão minhas quanto daqueles que acham correr-lhe nas veias sangue azul do Cardal, sinto como meus os versos de Costa Pereira. Podia passar os dias apenas Cardal acima, Cardal abaixo, descer ao Arnado sem me importar com o programa, viver o Bodo, só, com o privilégio de lhe conhecer a história, de ter privado com as histórias de António Serrano, de quando contava (sempre com o mesmo entusiasmo) como ele viu o homem entrar no forno e dar três voltas, saindo ileso. Com a memória de ter visto a festa a ser (re)pensada por vários autarcas; a meia maratona a evoluir para prova do bodo, o bodo dos pequeninos a nascer, as mudanças de palcos, a vida a acontecer. 
Há, no Bodo, várias dimensões. E de cada vez que o presidente da Câmara as confunde ou esbate, uma borboleta da felicidade estatela-se contra o vidro. A dimensão institucional é tão importante (ou mais) do que cada uma das outras. Mas isso é um caso perdido. Passemos à frente.
Ora, no meio desse orgulho pombalense que começa na quinta-feira à noite e só acaba na madrugada de terça para quarta, há a realidade. E essa é como o teste do algodão: não engana. Mostrou-se em todo o seu esplendor logo a abrir, quando, na noite de quinta, vários restaurantes desta cidade fecharam a porta à hora de jantar. Porquê? Porque não queriam servir ciganos, temendo uma invasão com o concerto de Nininho Vaz Maia. Assumiram-no, de viva voz, aos fornecedores. Esta foi a terra que pensou há muitos anos em criar condições dignas de habitação para a maior comunidade cigana do distrito, mas não deixa de ser a terra que coloca o sapo à porta do café. E onde se ergue uma barreira chamada IC2 para os deixar lá, nas margens do Arunca, num bairro sem quaisquer infraestruturas, quase 20 anos depois de criado. Onde se celebram os dias da inclusão (seja lá isso o que for) com espectáculos de ciganos para ciganos. Quase exótico. 
Como as modas demoram mas também chegam aqui, agora há novos ódios de estimação. Foi sem espanto que li comentários  - como os que aqui reproduzo - sobre os desgraçados que instalam tendas na outra margem do Arunca para ganhar a vida, durante uns dias. Podem fazer as sandes de porco no espeto ou os kebab com que te lambuzas de madrugada, podem trabalhar por tuta e meia na fábrica da cerveja que emborcas desde o recinto às imediações, mas isso de venderem coisas nas tendas já é outra história! 
Escrevo no domingo do Bodo, quase à hora em que se celebra a missa e procissão em honra de Nossa Senhora do Cardal, padroeira desta terra. Muitos dos que querem escorraçar daqui os indianos, paquistaneses e demais vendedores hão-de estar lá por baixo, ora a bater com a mão no peito, ora a ajudar as obras sociais. Brinquemos, então, à caridadezinha. 



26 de julho de 2025

Sobre o candidato a candidato

Por norma não ligo a coisas sem importância ou que ainda não o são. Mas há circunstâncias e desejos (não meus) em que a excepção se impõe. 

Hoje, por mero acaso - quando me encontrava na fila do peixeiro - cruzei-me com o candidato a candidato independente à câmara – Luis Couto. Deixámos de falar, ou melhor ele deixou de me falar, quando abandonou repentinamente esta “Casa”, sem dizer sequer um simples adeus, por uma simples divergência de opinião sobre um investimento privado. 



Hoje, quando me dirigi à fila do peixeiro no mercado municipal, reparei que o candidato a candidato andava na rotina de pedidos de subscrição da sua candidatura à câmara. Estranhamente, dirigiu-me cumprimento e eu estendi-lhe a mão – não de deixa uma pessoa sem resposta ao cumprimento em público, a não ser que seja uma criatura muito desprezível, o que não é claramente o caso. Depois, a seco, pediu-me que subscrevesse a sua candidatura à câmara. Respondi ‘Não”. Condidero o poder de encaixe à crítica, e consequente capacidade de separação da esfera política da esfera pessoal um atributo essencial de um político ou candidato a político. Por isso, jamais subscreveria uma candidatura que, para além de revelar uma total falta de poder de encaixe à crítica - e temos muitos nesta terra, senão a esmagadora maioria - vai mais longe: não suporta opiniões contrárias, e até sobre assuntos meramente políticos e tão banais como a localização de um investimento privado.

Os que me lêem conhecem bem a minha opinião sobre o presidente e candidato Pedro Pimpão. Mas por uma questão de honestidade intelectual, aproveito este insólito episódio para dizer uma coisa que, neste momento de pré-campanha autárquica, tem que ser dita: em poder de encaixe à crítica, e na consequente separação da esfera política da esfera pessoal, o Pedro dá dez-a-zero à generalidade dos seus adversários políticos, e em baixa rotação.

25 de julho de 2025

Quem quer ser presidente da “Junta”?

Quem quer ser presidente da “Junta”? NINGUÉM!

Nos primórdios do Regime Democrático as eleições autárquicas eram disputadas pelos partidos, pelas figuras da comunidade e pelas pessoas comuns arreigadas a causas, crenças, propósitos ou projectos. Com o tempo tudo se foi esfumando até à descrença geral. Primeiro caiu-se na falta de escolha, com tudo o que isso implica. Depois no inimaginável de ninguém querer ser escolhido. Acreditem que não estou a efabular sobre a temática; é a realidade pura e dura, que é e é e não é sensível a estados de espírito nem a argumentos.

Sobre o doutor Matos e o doutor Mithá não vale a pena discorrer muito. As suas posturas e comportamentos políticos não deixam margem para duplas interpretações, e é até “crime” incomodá-los.

Já o doutor Pimpão é caso ligeiramente diferente: também não quer ser presidente da “Junta” – sabe lá ele o que quer fazer. Mas precisa muito do cargo.

Eis a nossa triste sina. 


NR: Há enigmas por detrás de certas movimentações políticas que só a antropologia, a sociologia e as ciências da mente conseguirão explicar.

22 de julho de 2025

O voo (solitário) do Pimpão




Ia dizer aqui que Pedro Pimpão deu anteontem o pontapé de saída para a campanha eleitoral das autárquicas 2025, mas não é verdade: nem ele deu pontapé nenhum, porque apenas materializou o estado de levitação em que vive (desde sempre), nem a campanha começou agora. 

Nestas eleições, o camião da vitória que o PSD popularizou com Narciso Mota foi destronado pela avioneta. Pimpão levantou voo. Convidou o concelho inteiro para embarcar com ele, mas uns tiveram de abandonar, outros parecem ter uma consulta às 5. Muitos tinham a expectativa de ver apresentada a lista de vereadores que o vai acompanhar, porque adivinha-se uma razia: o único vereador que ele queria manter, o arquitecto Pedro Navega (que salvou a honra do convento tantas vezes, neste mandato) quer outros voos, regressando à vida profissional. 

O Pedro percebeu (!) que com esta equipa não vai a lado nenhum, e quer substituir cada uma das três vereadoras. Ainda não decidiu qual delas vai encaixar na PMU, na dúvida entre Isabel Marto ou Catarina Silva. Sendo assim, estão abertas pelo menos três vagas de emprego para o próximo quadriénio, fora os apêndices, vulgo adjuntos/as ou secretários/as. 

Porém, o que resta do partido não acha muita graça a essa secção de recursos humanos com ligação directa entre a rua Luís Torres e o Largo do Cardal. Um hábito interrompido ao tempo de Diogo Mateus e que o Pedro retomou, a todo o gás. Há desconforto instalado com tamanho à-vontadinha.

Mas voltemos então ao domingo passado, ao jardim das Tílias, à apresentação onde era suposto o povo conhecer a lista à Câmara, e os candidatos às juntas. Da primeira nem sinais, dos segundos…nem todos apareceram. De resto, aconteceu o mesmo com o mandatário, Luís Marques, e com o presidente da Comissão de Honra (que bela maneira de arranjar uma guia de marcha para um presidente da AM incómodo), Paulo Mota Pinto.

Como Pimpão continua a viver nas nuvens, talvez acredite mesmo que os últimos quatro anos foram notáveis e extraordinários. Para quem vive na terra, sabemos que foram quatro anos a fazer de conta que evoluímos e desenvolvemos. 

O Parque Verde? Não temos. Embandeirar em arco por ter "desbloqueado o processo"? Menos, Pedro.

A mobilidade? Era com as bicicletas, que não promoveu, e se tornaram um flop. 

O CIMU Sicó? Há-de tornar-se, um dia, o centro natural das obras que ninguém sabe para que servem mas onde enterramos milhões. 

Mas calma, que vamos ter uma residência para estudantes. Estudantes de quê? E onde? Lá estão vocês com perguntas chatas. “Se faz é porque faz, se não faz é porque não faz”. 

E sim, o Pedro cumpriu o desígnio de sermos uma smart city: já não precisamos de semáforos, o comércio vai encolhendo para a avenida, voltámos a ter os táxis no Cardal…com jeitinho ainda voltamos a ser vila. 

Por agora Pombal voa mais alto. O problema vai ser quando aterrar.


20 de julho de 2025

Mota Pinto “out”

No dia em que Pedro Pimpão apresenta a recandidatura à câmara, fonte bem colocada no partido fez-nos chegar a informação que Mota Pinto está fora.

Há quatro anos, quando o Pedro anunciou a candidatura do Professor à Assembleia Municipal regozijámo-nos com escolha, porque era imperioso elevar o nível. Não nos enganámos: o Professor fez um bom mandato.

Mas a realidade política actual é o que é: a boa moeda acaba sempre “out”.

8 de julho de 2025

São canos, senhores. E cheira a fim de regime

 O que aconteceu hoje na freguesia da Redinha deveria entrar para os anais da história: uma ministra (por sinal uma académica, das poucas que ainda estão no Governo) veio nas suas tamanquinhas inaugurar uma rede de esgotos. Estamos em 2025, e tudo nas imagens que a Câmara (e a querida imprensa local) divulga cheira a mofo, ou a fim de regime. A bandeira que cobre uma pedra, os metros de passadeira que parecem ombrear com os de cano enterrado. Talvez tenha faltado o padre cura para benzer a obra, mas estava D. Diogo (regressado à terra), e com isto fica assegurada a solenidade do acto.

Daqui até às autárquicas, o Pedro vai desunhar-se em inaugurações. Por ora, ainda sem Mithá Ribeiro (e o amanuense Manuel Serra) a morder-lhe as canelas, vai fazendo de conta que está tudo como dantes: o PSD a distribuir jogo, o PS a vê-lo passar, como se nestas eleições não se adivinhasse um pequeno cataclismo. Parece-me bem que continuemos num clima festivo. A cidade a condizer, com arrais e foguetes no ar (veja-se a decoração deste Bodo), as ruas esventradas, o povo indignado nas redes sociais, sem a alegria que costumava ter. Por ironia, José Cid há-de vir à festa cantar esses versos. 

Está tudo bem. Tudo bem. 






2 de julho de 2025

Mais um número do Conselheiro Acácio

Na epopeia do irrisório em que se transformou a política pombalense, despontam frequentemente casos e figuras surpreendentes. Por exemplo, o desconhecido Escapa passou rapidamente de figura de escape para conselheiro-mor da oposição e do regime.

A Ordem de Trabalhos da última Assembleia Municipal continha cerca de três de dezenas de pontos, alguns muito relevantes para o concelho, outros simplesmente para formalizar actos administrativos. 

Contudo, o nosso Conselheiro Acácio transformou um assunto puramente formal - Apreciação de Impugnação do Empréstimo Bancário, pelo concorrente do banco selecionado, votada por unanimidade pelo executivo municipal - num número mirabolante que sobressaiu de todo o debate. Fê-lo a partir de uma farfalhice administrativa, inventando desmembramentos, aditando hipóteses, acrescentando a sua antítese, e rebuscando tudo com os seus trocadilhos baralhou o distinto Professor de Direito, ao ponto de quase o enrolar. Estamos claramente perante uma criatura dotada de fino tacto político, capaz de ver uma agulha (política) num palheiro; e, mais, de fazer dela uma jóia; a que acrescenta uma retórica capaz de fazer chorar as pedras da calçada, cheia de locuções repolhudas, refinados trocadilhos e rapapés que baralham e torcem qualquer criatura formatada no raciocínio lógico. 

À valente! Ora vejam… 


1 de julho de 2025

Desenlaces de ajustes de contas da política pombalense…

Quando se zangam as “comadres” sabem-se as verdades - assim reza o povo o povo, e com razão.

O mal estar entre Diogo Mateus e Pedro Brilhante era coisa antiga e profunda, mas tomou novas proporções quando Diogo Mateus retirou os pelouros ao vereador em outubro de 2019. A partir daí assistiu-se a uma refrega empolgante em todas os campos (político, midiático, pessoal e até judicial), amplamente difundida por aqui.


Na esfera judicial, Pedro Brilhante avançou com queixa(s) contra o presidente e o seu chefe de gabinete – João Pimpão - por ele usar a viatura, que lhe estava atribuída para uso oficial, em deslocações particulares, e por descontar as despesas da viatura no fundo de maneio da presidência, à responsabilidade de João Pimpão. Diogo Mateus respondeu da mesma forma: apresentou queixa contra Pedro Brilhante por este ter usado uma viatura da câmara para fins particulares (por exemplo, deslocação a um encontro da JSD em Pedrogão Grande, no dia 7-12-2018,…) – facto(s) que Pedro Brilhante sempre negou.

O processo em que são visados Diogo Mateus e João Pimpão conhecerá a sentença amanhã... Já o que visou Pedro Brilhante terminou - viemos agora a sabê-lo depois de João Pimpão ter recordado o caso na última AM e requerido cópias da decisão - com o MP a propor, depois de apurar os factos, “a aplicação da suspensão provisória do processo ao arguido Pedro Brilhante, por um prazo não inferior a 3 meses, mediante o pagamento à CMP de quantia não inferior a 300 euros”, que o arguido aceitou, e a câmara anuiu.

A leviandade é muito má conselheira.