Pombal etc e Tal
1. Em e de
Pombal, só me falta a circunstância do nascimento físico. Em tudo, sinto-me tão
pombalense como os que o são de gema e berço. Isso agrada-me sobremaneira. Uma
pessoa pertence deveras e de facto a todo o sítio cuja gente lhe faça falta. É
o (meu) caso. De vez em quando, uma espécie de prurido emocional faz-me catar
(quase) todo e (quase) tudo. Nessas ocasiões, sei que o único remédio para tal,
digamos, “micose” é apontar as
biqueiras dos sapatos à ponte sobre o modesto Arunca da nossa vida.
2. Postas
assim as coisas (em assertiva sinceridade), julgo não precisar de esclarecer as
Vossas boas almas de que quase tudo, se não tudo mesmo, o que pombalense seja
me interessa:
os
nascimentos como os óbitos;
os
casamentos como os desquites;
os
baptizados como as bebedeiras (próprias e/ou alheias);
e
a Política, p’x-tá-claro.
Escutai-me,
por e de favor vo-lo rogo, esta verdade-verdadinha: quando por aí jornalei,
diverti-me sempre muito muito muito muito. Sobretudo quando malhava com as
nalgas no banco dos réus por causa das queixinhas daquele
Senhor-de-Que-se-não-Diz-o-Nome-mas-Todo-o-Bicho-Careta-Sabe-Quem-é. Ai o
quanto eu gostava de o ver, por assim dizer, autocoitadinhar-se em frente à
sôtôra-juíza! Ai as lágrimas de riso que
eu não tive de sufocar à nascença do esófago! Ai as vezes que quase me não
borrei (literalmente) de gozo o mais impuro e mole enquanto ele fazia de virgem
ofendida! Ai o caruncho nos meus ossos quando a traça me ratava a naftalina!
Bons tempos velhos, esses.
3. Para mal
dos meus pecados (mas também para bem dos meus fígados), já Pombal não tem
jornais. Os únicos que lá vejo – são os de embrulhar o peixe no mercado das
segundas-feiras. Ou então este da campanha do Diogo Mateus – ideal para jogar o
scrabble. Sim, o scrabble. Veja-se e prove-se e comprove-se: chamando-se, como se
chama e lhe chamam, Mais Pombal, dá
assim – Mais Pombal – Jornal; Mais
Pombal – Jornal – das Meirinhas. N’é mêmo? Ora, isto faz-me muita pena.
Pena, porque Pombal tem sempre muito de que se (lhe) diga. E escreva. E
comente. E opine. É pena. Não falo ressabiadamente: não é o meu estilo. Digo-o
porque sim: porque de facto creio na importância de uma imprensa livre para a
comunidade. Livre e responsável – atenção. Responsável e ética – atenção. Ética
e deontológica – atenção. Em sede de tribunal como em folha impressa, o
princípio do contraditório só pode ser bom – porque apura e apara o bem do mal.
O unanimismo invertebrado e minhoca e acéfalo que desde Julho de 1993 tomou
posse da vida sociopolítica pombalense não é nem nutritivo nem digestivo – é
diarreico. Mas não tem de ser vitalício. É por isso que qualquer pessoa tem o
direito de esperar que, pelo menos até 5 de Agosto próximo, Diogo nos diga que
lista é a dele. Ou então a daquele
Senhor-de-Que-se-não-Diz-o-Nome-mas-Todo-o-Bicho-Careta-Sabe-Quem-é.
4. Sisudos ou
ridentes, trombudos ou ridículos, o que é preciso é nunca ter medo de nada nem
de ninguém. À excepção da saúde dos filhos, nada pode atemorizar-nos. A higiene
de carácter, a seriedade moral, a solidariedade pronta – isso sim, são essas as
rosas a cultivar em o rosal de cada um sem poupar no estrume. (NB: Eu tenho tido sempre e sempre terei
muito sucesso junto das mulheres porque lhes falo assim sem pestanejar e elas
acreditam.)
5. Vai longa
já esta espécie de confessional exortação aos meus (afinal) conterrâneos e
compatrícios e compadres de Pombal. Pois ainda bem que sim: o desemprego, se
tem coisa boa, é dar tempo de obra & sobra para escrever dislates e
disparates bem intencionados como estes. Sim, eu disse a palavra feia: “desemprego”. Mas se o Adelino Mendes,
que não tem dinheiro para jornais de scrabble,
recusar o convite do Diogo para bilheteiro do Estádio Municipal, espero bem que
o novo edil, filho do meu/nosso saudoso Alves-Mateus, me ofereça o lugar, que
eu aceito-o logo sem olhar nem duas vezes para o cu, ou o cós, das calças. As
minhas, claro, as mesmas que tantas vezes assentei em vara de réu por causa
daquele Senhor-de-Que-se-não-Diz-o-Nome-mas-Todo-o-Bicho-Careta-Sabe-Quem-é.