Depois de atafulhar os regentes locais com dinheiro e
feitorias, as comissões fabriqueiras e as associações com
subsídios; o príncipe sabe que não chega, que precisa de engodar o Zé e a
Maria, mas não sabe como fazê-lo. Não tendo muito por onde demandar ajuda, chamou
o seu fiel escudeiro para esboçar a arriscada empreitada.
O Pança apresentou-se no trono: - às suas ordens, Alteza.
- Senta-te, Pança. Temos muito que falar…
- Sou todo ouvidos…
- Como sabes, Pança; tenho feito um esforço enorme para
inverter a desgraça que me assolou. Abri os cordões à bolsa — tenho distribuído
prebendas por tudo o que é entidade — e aproximei-me do povo. Mas não chega, o
povo não se aproxima de mim. Tens que me ajudar a aliciá-lo.
- Eu não sei o que mais fazer; até já sigo o seu exemplo:
mostrar ser o que não sou. Porque não pede, Vossa Mercê, ajuda aos seus
ministros, ou ao seu futuro número dois?
- Não desconverses, Pança. Sabes bem que isto é para quem
pode, não para quem quer…
- Se Vossa Mercê se enfada — respondeu Pança — eu calo-me e
deixo de dizer aquilo a que sou obrigado como leal escudeiro.
- Fala Pança, mas não acrescentes aflições ao aflito.
- E que tipo de ajuda quer Vossa Mercê?
- Preciso de arranjar formas de seduzir inimigos e
descontentes. Nos próximos meses, teremos o Dia do Principado e as Festas de
Natal - oportunidades últimas para distribuir prebendas e conquistar apoios.
Não podemos falhar nas escolhas. E lembra-te, Pança: enquanto no pombal houver
milho – e tenho muito - pombas não faltarão. O segredo está a saber dá-lo…
- Vamos ver se percebi, Alteza. Que inimigos e descontentes
quer conquistar?
- Os inimigos que mais estragos nos fazem e os descontentes
mais fáceis de seduzir.
- Comecemos, então, pelo Dia do Principado e pelas medalhas
a distribuir… O que vou dizer parecer-lhe-á um disparate, mas talvez não o
seja.
- Dize, dize, Pança; que do disparate alguma coisa se deve
aproveitar…
- Fala-me Vossa Mercê de conquistar inimigos, certo? O seu
maior inimigo — o nosso que aqueles cabrões também não me dão descanso — é o
Farpas. Se os conquistarmos, eliminamos o poder de fogo inimigo.
- Estás mais esperto do que te julgava, Pança. E como o
fazemos?
- Atribui-lhe, Vossa Mercê, uma comenda dourada, no Dia do
Principado. Ninguém fica indiferente a tal distinção. Eles gostam de farpear;
podem, sempre, continuar a fazê-lo; só lhes pedimos que apontem o cano para o
nosso inimigo, e não para nós. E com este tiro matamos dois coelhos, não lhe
parece, Alteza?
- E não te parece um exagero, Pança; condecorar essas
criaturas?
- É, mas não maior do que algumas que Vossa Mercê já
concedeu.
- Sonda-os, Pança. Mas antes, manda subir o cura Vaz. Temos
que o informar, e pedir-lhe anuência e confissão para tamanho sacrilégio. Sei
que lhe vai custar a roer, mas a Igreja tem a obrigação divina de apoiar os
príncipes em momentos adversos.
Acredita, Pança, se a coisa se fizer, até a ti, darei uma comenda…
Mas temos, também, que aliciar os descontentes, os Zés e as Marias deste reino.
Já prometi uma comenda ao Teixeira dos pensos, à Fernanda das esmolas, ao
Michel dos frangos, ao Arlindo das massagens; e a outros de que agora não me lembro. Mas precisamos de muitos
mais, de muitos mais.
- Acredite em mim — acudiu Pança — que tudo se há-de resolver. Quem dá o mal, dá o
remédio; ninguém sabe o que está para vir, mas com a ajuda de Deus e da Sr.ª do
Cardal - minha querida Senhora - tudo se fará.
Miguel Saavedra,
ResponderEliminarFala com o Pança e explica que o Farpas não está assim na feira, por lautos banquetes nem quer ser armado cavaleiro. Nem alqueires de cereais ou moedas de ouro. E mais te digo que o vernáculo não é por bem.
Miguel, diz mesmo ao Pança que ele é burro que nem casebres e que além de porta bandeira do Príncipe ele não o considera mais que um cão rafeiro sem sangue de casta. Os moinhos desta feita são mesmo gigantes e podem partir os cornos.
Mui gosto de prosear com vossemecê,
Gostei de ler, bom texto.
ResponderEliminarSó não entendo como pode estar o " FARPAS " em tão boa conta no principado! Será que é convencimento? Ainda, não consigo acreditar nos critérios de atribuição de medalhas inserido no texto, salvo algumas excepções. Pergunto que é feito dos desgraçados que fizeram vários recenseamentos nas freguesias, uns após outros, gratuitamente ? E onde estão todos os outros que estiveram nas assembleias de voto várias vezes num ano, ano após ano, sem receber qualquer gratificação ou remuneração? Hoje, como a presença nas assembleias de voto é remunerada, essas escolhas são apenas para amigos. Onde estão todos aqueles que sacrificaram as suas vidas e carteiras para manter colectividades em actividade? Se Miguel Saavedra sabe disto vai fazer~lhes um texto e é certo e sabido que vai enriquecer a alma de alguns !
Com a Campanha para as autárquicas em pano de fundo e com o aquecimento dos motores nesta já quente pré-campanha, veio-me a memória este conto tradicional Português em que mantém toda a sua actualidade.
ResponderEliminarO REI VAI NÚ
Era uma vez um rei muito vaidoso e que gostava de andar muito bem vestido.
Um dia vieram ter com ele dois trapaceiros que lhe falaram assim:
- Majestade, sabemos que o senhor gosta de andar sempre muito bem vestido - bem vestido como ninguém; e bem o merece! Descobrimos um tecido muito belo e de tal qualidade que os tolos não são capazes de o ver. Com uma roupa assim Vossa Majestade poderá distinguir as pessoas inteligentes das tolas, parvas e estúpidas que não servirão para a vossa corte.
- Oh! Mas é uma descoberta espantosa! - Respondeu o rei. Tragam já esse tecido e façam-me a roupa; quero ver as qualidades das pessoas que tenho ao meu serviço.
Os dois homens tiraram as medidas e, daí a umas semanas, apresentaram-se ao rei dizendo:
- Aqui está a roupa de Vossa Majestade.
O rei não via nada, mas como não queria passar por tolo, respondeu:
- Oh! Como é bela!
Então os dois aldrabões fizeram de conta que estavam a vestir a roupa com todos os gestos necessários e exclamações elogiosas:
- O senhor fica tão elegante! Todos o invejarão!
Como ninguém da corte queria passar por tolo, todos diziam que a roupa era uma verdadeira maravilha. O rei até parecia um deus!
A notícia correu toda a cidade: o rei tinha uma roupa que só os inteligentes eram capazes de ver.
Um dia o rei resolveu sair para se mostrar ao povo. Toda a gente admirava a vestimenta, porque ninguém queria passar por estúpido, até que, a certa altura, uma criança, em toda a sua inocência, gritou:
- Olha, olha! O rei vai nu!
Foi um espanto! Gargalhada geral. Só então o rei compreendeu que fora enganado. Envergonhado e arrependido da sua vaidade, correu a esconder-se no palácio.
http://www.catraios.pt/menugeral/historia/historiaspub/historia_rei/rei_nu.htm
ResponderEliminarhttp://www.mensageirosantoantonio.com/messaggero/pagina_articolo.asp?IDX=438IDRX=86
http://lermos.net/index.php/recursos/temas/centenario-da-republica/272-quando-o-rei-desfilou-sem-roupa
http://astrodestino.com.br/andersen-a-roupa-nova-do-rei/
http://www.rikerok.pt/site/2012/12/o-rei-vai-nu/
http://testemunhasdejeova.forumeiros.com.pt/t1641-o-rei-vai-nu
http://www.estoril.salesianos.pt/docs/default-source/bons-dias2015-16/28---bons-dias-26-a-29-de-abril-de-2016.pdf?sfvrsn=2
https://www.instagram.com/p/BDCQljUHGGS/;
e cansei-me, boas memórias e boa noite!
Só para inteligentes
EliminarPela quantidade de links apresentados descortina-se um certa obsessão da Senhora Dona Ana P..., desculpe, Senhora Dona Micas da Aldeia em ver o Rei nú. Saudades?
EliminarJá quanto ao Príncipe denota-se algum ódio e rancor. Porque que será?
Com tanto link, descortina-se alguma obsesssão da Senhora Dona Ana P..., desculpe, Senhora Dona Micas da Aldeia, por ver o Rei nú. Saudades?
ResponderEliminarJá quanto ao Príncipe, percebe-se algum rancor e ódio. Porque que será?
Menino Luís Afonso, menino porque nem soube interpretar a estória; quando crescer vai perceber,
ResponderEliminarVer o Rei nu, todos os pombalenses vêm, todos os dias porque há muito que a visão dele está toldada, quiçá também por umas cervejolas
Rancor e ódio ao Príncipe, não só pena e nem isso; é triste não sabermos assumir a verdade quando o tal almejado poder nos cai nas mãos… Rei digo Príncipe e Príncipe digo Rei, “… to be or not to be…”
Senhora Dona Ana P…, desculpe? Cresça, não conheço, mas, deve andar tão longe! E se a Micas da Aldeia do é o Micos da Cidade? Já pensou?
Bem-haja.
Touché!
ResponderEliminarFencing, swordplay? So be it! Nothing ventured, nothing gained! I'm on the crest of a wave! Sorry silly boy...
ResponderEliminar