Hesitei em comentar esta proposta da JSD. Em primeiro lugar, porque parte dos jovens, e jovens interventivos e com ideias é tudo o que nós precisamos. Depois porque tenho uma certa tendência para ser mal interpretado quando falo da juventude.
Mas, vamos lá. No último debate promovido pelo Farpas, no Café-Converto, a líder da JSD, Nicolle Lourenço, fez uma intervenção sugerindo a criação de "uma plataforma onde as associações possam estar em contacto e partilhar recursos e materiais". Esta ideia não é uma originalidade absoluta, pois já foi experimentada por vários colectivos culturais, mas é, sem dúvida, interessante e com grande potencialidade. Na altura, quando intervim e elogiei a ideia, estava convencido - ingenuidade a minha - que a proposta tinha sido apresentada como um desafio às colectividades, convidando-as a juntarem esforços para a colocar em prática. Enganei-me. A JSD, na ânsia de mostrar trabalho, apresentou essa proposta no Conselho Municipal de Juventude, órgão consultivo do Município. Péssima decisão. Ao tomar a proposta como sua e ao apresentá-la naquele fórum, a JSD institucionalizou algo que, a nascer, deveria permanecer o mais longe possível dos paços do concelho.
Termino com alguns conselhos aos jovens laranjas. Primeiro: não se esqueçam que entre uma boa ideia e uma proposta concreta vai uma longa distância. Segundo: tenham a generosidade suficiente para deixar as vossas boas ideias seguir o seu caminho, permitindo que floresçam onde tenham condições para vingar, possivelmente com outros protagonistas. Em Coimbra, quanto foi ensaiada uma experiência semelhante, a iniciativa partiu de um conjunto de colectividades com interesses comuns, que se uniram sob o nome de MAFIA - Federação Cultural de Coimbra, convenhamos, um nome bem mais interessante do que o inqualificável "Pombal Sharing". Finalmente: se consideram que o tecido associativo é das maiores riquezas do nosso concelho, lutem por um Regulamento Municipal de Apoio ao Associativismo Cultural decente.
Amigo Adérito, confesso que não entendo aqui o seu ponto de vista.
ResponderEliminarPrimeiro não entendo a perversidade de apresentar uma iniciativa no Conselho Municipal da Juventude?
Segundo não entendo porque é que as iniciativas da sociedade civil como esta têm de ficar o mais longe possível da câmara?
Terceiro não entendo porque é que boas iniciativas podem ficar tolhidas institucionalmente se apoiadas do mesmo modo?
Quarto não entendo a sua aversão ao nome escolhido de Pombal Sharing porque em se tratando de questões de gosto a discussão é sempre estéril?
Também não entendo porque é que a Máfia é mais virtuosa e eficaz no percurso de ação por que optou?
No primeiro caso e para mim aquele conselho serve exatamente para esse e outros fins da juventude.
No segundo caso as autarquias devem ser facilitadoras e podem-no ser das iniciativas associativas.
Normalmente as juntas é o que fazem sem passarem a comandar o processo e a CM quando ajuda procede ou deve proceder da mesma forma.
No terceiro caso a sua opinião parece-me mais um preconceito político do que uma razão objetiva.
No quarto caso venha o diabo e escolha como se costuma dizer.
E do que conheço, se há conselho onde o tecido associativo tem mais apoios autárquicos o nosso é um deles, tanto municipal quanto das freguesias.
Por outro lado as críticas dos seniores às iniciativas de intervenção da juventude devem ser sempre muito suaves dada a fragilidade que a inexperiência geralmente empresta às mesmas e, do ponto de vista pedagógico há que deixar fluir a experiência mesmo que nós percebamos o desfecho eventualmente menos vantajoso.
Mas as iniciativas estimuladas são essencialmente treinos operacionais onde passados anos vai assentar a experiência dos maduros.
E uma critica inicial e incisiva pode ser suficiente para tirar esse espírito e atrevimento necessário à evolução dos jovens.
Pessoalmente a ideia apresentada coloca-me enormes reservas apenas porque muito do material em causa é muito sensível e precisa de uso experiente, cuidadoso e responsável e, sabemos bem, quando muitas mãos mexem no mesmo as coisas deterioram-se fácil morrendo a responsabilidade sempre solteira, logo degradação fácil das coisas e o seu uso muito comprometido, mas há que deixar os jovens terem tempo para se aperceberem disso.
A Nicolle é das jovens mais ativas e empenhadas que conheço, com as fragilidades da juventude que também lhe tocam, mas com iniciativa e garra galvanizadora que sempre tenho apoiado e estimulado, bem como paternalmente aconselhado a não fumar e se salvaguardar dos excessos que a juventude comete, mas essencialmente sabe tomar a iniciativa, galvanizar e organizar os que à volta dela gravitam, pelo que há muito conquistou a minha admiração e um respeito crescente e o humilde apoio que lhe posso dar.
Amigo Adérito, como pedagogo que é mas ao mesmo tempo homem de ideias fortes, continue a ajudar os jovens como esclarecidamente faz mas adoce lá um bocadinho a opinião que talvez tenha uma influência mais eficaz junto daqueles a quem a sua missão de dedica.
Grande abraço
Meu caro Manuel Serra,
EliminarMuito obrigado pelo seu comentário. Sem querer convencê-lo com os meus argumentos, reforço três aspectos que talvez ajudem a esclarecer a minha posição.
1. A ideia é boa. No debate do Farpas entendi a intervenção da Nicolle Lourenço como um repto aos agentes culturais e assinei por baixo.
2. As associações culturais e de juventude (quanto a mim) devem ser independentes e dissidentes. Ao juntar pessoas, assumem-se, muitas vezes, como espaços subversivos e de contra-poder. Daí achar totalmente descabida a proposta de concretizar a plataforma sob a alçada da autarquia.
3. A autarquia não deve ser nem promotor, nem mediador, nem regulador de tal plataforma. A autarquia deve limitar-se a apreciar as propostas de apoio que lhe forem solicitadas e atribuir a parte do orçamento municipal prevista nos regulamentos criados para o efeito. E às forças políticas cabe trabalhar para ter bons regulamentos.
Abraço,
Adérito
PS O nome é mesmo uma questão de gosto. Eu embirro com a mania de colocar nomes em inglês, na tentativa de os tornar "cool", "fashionable", "trendy", "awesome", "fun", ou lá o que é.
Adérito, boa tarde!
ResponderEliminarEsta proposta surgiu, exatamente, por acharmos que as associações no concelho não têm esse nível de comunicação entre elas, como as de coimbra têm. A nossa realidade associativa é mais rural e portanto, creio que é necessária uma energia inicial para estruturar a ideia que nenhuma associação, de per si, tem neste momento.
Subscrevo o objetivo de "afastar" a iniciativa da CMP. É legítimo e positivo, basta que tal seja possível no futuro, até porque reconheço que uma das dificuldades que o associativismo enfrenta é nomeadamente a dependência excessiva de financiamento externo e uma "rede" deste género só pode ser benéfica para ambas as partes.
A proposta foi apresentada no CMJ, exactamente, para que as associações que ali estão representadas a pudessem conhecer e contribuir para o seu desenvolvimento e implementação. Não há uma só forma de ver os assuntos e acho que, diferentes opiniões e pontos de vista, só podem ajudar a pôr em prática esta ideia, de uma forma mais adequada à realidade associativa.
(Relativamente ao nome, trata-se apenas de uma sugestão. Haverá melhores, com certeza.)
Olá Nicolle,
EliminarMuito obrigado pelo teu comentário e parabéns pela tua capacidade de iniciativa e pela genuína vontade de contribuir para o desenvolvimento do nosso concelho.
Relativamente ao assunto em questão. A experiência de Coimbra foi feita com três associações partilhavam interesses comuns. O objectivo da MAFIA era o de partilhar não só recursos materiais (projectores, material de som, figurinos, etc), mas também logísticos e outros. É certo que foi constituída em meio urbano, mas não essa não é a questão fundamental. O fundamental, seja em espaço rural seja em ambiente urbano, é a cumplicidade entre os intervenientes.
Para ter sucesso, um projecto desta natureza tem que partir da base para o topo e não ao contrário. Terão que ser as associações a juntar-se, através das afinidades que têm umas com as outras, e criar essas plataformas. Penso que nem vocês na JSD acreditam que ser possível existir uma única plataforma que junte as 274 associações do concelho, com perfis e interesses muito diversos.
A associação CLIP (https://cliprd.wordpress.com/) que referes no vosso documento tem um cariz completamente diferente daquele que (penso eu) pretendes para Pombal. Aliás, essa confusão perpassa todo o vosso documento. Para além de ser pernicioso, não vejo como é possível compatibilizar uma associação (como a CLIP) e uma plataforma criada e regulada pela Câmara.
As nossas associações - tanto as da cidade como as das freguesias - têm anos de história e uma maturidade muito grande, sabem o que querem e trabalham para isso. Em muitos aspectos, é a autarquia que tem a aprender com as (boas) associações e não ao contrário. Ao querer colocar a autarquia a regular uma plataforma de partilha dos recursos que (é bom não esquecer) pertencem às associações, é passar um atestado de menoridade ao movimento associativo. Bem sei que não é essa a vossa intenção, mas essa é uma consequência da proposta que têm.
Um abraço,
Adérito
Adérito, bom dia
EliminarAgradeço a partilha do seu ponto de vista acerca deste projecto. De facto, a intenção não é de todo "passar um atestado de menoridade ao movimento associativo", aliás, é exactamente o contrário - valorizá-lo.
É por acreditarmos que constituem uma peça tão importante no desenvolvimento social dos cidadãos e das comunidades locais, que pretendemos que tenham uma gestão informada, eficaz e mobilizadora capaz de tirar partido de instrumentos e recursos existentes e de gerar uma maior capacidade de cooperação entre as diversas instituições.
Não creio que um fator fundamental para o sucesso do projecto seja quem o promove à partida. Tal como referi, acho legítimo e positivo que, caso tal seja possível no futuro, se distancie do município - será um bom sinal, com certeza.
No entanto, acredito que este 'input' inicial por parte do município, é crucial para que o projecto seja implementado e que, sempre que possível, se devem promover medidas de apoio e de valorização às iniciativas associativas, sem que seja posta em causa a autonomia das mesmas.
Relativamente ao CLIP não tendo exactamente o cariz que pretendemos implementar, partilha de alguns pontos em comum. No entanto, nada do que traduz o documento é estático e como já referi, acho que é crucial que as associações contribuam para o desenvolvimento do projecto, de forma a torná-lo adequado à sua realidade.
Também não pretendo convencê-lo dos meus argumentos. O objectivo é o mesmo - o de contribuir para o desenvolvimento do concelho, apesar de termos perspectivas diferentes sobre este tema, em específico, considero que esta é uma discussão sempre pertinente e frutífera.
Não tenho dúvidas de que ganhamos todos.
Caros amigos, folgo em saber que temos aqui uma discussão interessante onde se discutem opiniões concorrentes e não conversa de surdos em que apenas se extremam posições.
ResponderEliminarNestes fóruns gosto de participar, nos outros fujo logo que posso.
Não vou alongar o assunto embora me pareça que o Adérito é um bocado radical com a opinião de que as associações têm de ter distância das entidades públicas.
Eu não vejo mal e se apoiar institucionalmente alguma logística, cedência de espaços facilitada, subsidiação e alguma informação mais elucidativa da evolução das atividades inter-associativas que podem acelerar decisões autárquicas solicitadas e esperadas...
Esta é a minha opinião.
Agora ambos os visados sabem bem escolher o caminho que melhor lhes serve e por aqui dou por concluída a minha intervenção com votos de bons posts e equivalentes comentários.
Ganhamos todos.
Um abraço e um beijinho, respetivamente.
São estas conversas que enriquecem o Farpas e contribuem para um Pombal melhor. Não podemos estar à espera da autarquia para resolver as iniciativas das associações, a esta compete apenas apoiar e regulamentar as actividades das diversas associações; irreverência da juventude precisa-se!
ResponderEliminar