A felicidade só é possível no Céu. Mas o crente e bom-cristão dotor Pimpão prometeu-a aos pombalenses, na Terra! Cumpriu.
Farpas
"E na epiderme de cada facto contemporâneo cravaremos uma farpa: apenas a porção de ferro estritamente indispensável para deixar pendente um sinal."
15 de junho de 2025
12 de junho de 2025
Em Outubro, Pombal desce mais um degrau
Quando julgávamos que já tínhamos batido no fundo, eis que a realidade nos prega mais uma partida, nos impõe mais um fundo - do poder inepto para o vazio de poder.
O que mais aflige o observador interessado pelas coisas da vida colectiva, onde a política deveria assumir o lugar superior, é o fraco pensar e a falta de noção mínima da realidade municipal que as pulverulentas e desengonçadas criaturas, que se vão apresentando a sufrágio e as que as escolhem, patenteiam. Tal como no passado recente, estamos claramente, salvo raríssimas excepções, perante criaturas que não nos representam, nos não conhecem (os eleitores) e receiam que os conheçamos (a eles/elas). Criaturas que nem mesmo chegam a saber para que serve a política, o órgão câmara ou o órgão freguesia, que vivem demasiado à parte para ter razões pró ou contra o que quer que seja, que acham uma vergonha manifestar publicamente uma ideia própria sobre qualquer coisa, quanto mais ter a ousadia própria da consciência para afirmar ideias e criar rupturas – para serem alternativas.
A política pombalense há muito deixou de ser aquilo que já foi e deveria continuar a ser: um jogo de xadrez, onde todas as figuras da comunidade, das mais proeminentes às mais comuns, participavam directa ou indirectamente no jogo, cumprindo o seu papel num plano e numa estratégia estabelecida e interpretada pelos melhores preparados. Agora é uma representação falsa, porque viciada, da vitalidade da comunidade: um jogo matematicamente claro, definido à-cabeça, como é todo o jogo de damas que se joga com uma pedra a menos.
Mas o que há a esperar de uma oposição que só sabe jogar jogos, como o de damas, cujo único movimento é empurrar peças para a frente, sem plano, preparação ou estratégia? Esta tropa da oposição comporta-se como o animal ferido que pressente sua perdição e não sabe o que fazer. Resultado: pisoteia o pasto que poderia salvá-lo de morrer de fome.
27 de maio de 2025
O estranho afastamento do comandante Paulo Albano
Ensina-se no jornalismo que importante é o que acontece, mas muito mais importante é o que vai acontecer. E por isso estranhámos a notícia (incompleta) da última edição do Pombal Jornal, sobre o facto consumado do comandante dos Bombeiros cessar funções. Mais estranhámos ainda todo o laudatório no domingo passado, durante o 113º aniversário dos BVP, sem uma única palavra sobre o sucessor. Percebe-se, afinal, porquê: Paulo Albano não sai do comando de livre e espontânea vontade. É claramente empurrado pela direcção, que já lhe escolheu há tempos um sucessor - Hugo Gonçalves, o coordenador municipal da Protecção Civil.
Há anos que o poder político instrumentaliza as associações, e no caso a Associação Humanitária dos BVP. Já tivemos de tudo, nas últimas décadas, mas o caso desta antecipada saída do comandante parece um dejá vu daquele momento em que Narciso Mota decidiu colocar nos bombeiros um seu homem de mão, Armando Ferreira, primeiro coordenador da Protecção Civil. Só que passaram 20 anos e era suposto que as organizações aprendessem com os erros.
O que é que nos surpreende aqui? O acto não é nada consentâneo com o desempenho público de Ana Cabral, a ex-vereadora que agora preside à direcção dos bombeiros. E além de tudo: Paulo Albano não merecia isto, ao cabo de uma vida dedicada aos BVP. Os bombeiros deste concelho mereciam outro tratamento, com actos, em vez de palavras vãs em dias de festa. E o futuro comandante (ainda em formação), também merecia melhor cenário do que este que vai encontrar: uma casa a arder.
26 de maio de 2025
Quem tramou Zé Paulo?
Nos corredores da Câmara pairam partículas que tendem a formar-se um novelo. Não é nada que nos surpreenda - de tal forma aqui o temos exposto - mas um e outro acontecimento vão fazendo levedar este bolo, até que um dia destes azede. Um dia, só não sabemos quando.
O mais recente episódio foi o concurso para um novo cargo de direcção - o de Chefe de Unidade de Desporto e Juventude - lugar que, em teoria, acaba de ser criado. Mas na prática era há muito ocupado por uma rapaz da terra que toda a gente conhece: o José Paulo Oliveira, o Zé Paulo Bimba, nome que lhe advém do pai, mestre Bimba, já desaparecido. Faço esta referência porque estamos na terra onde o presidente da Câmara puxa por esses galões "da comunidade", a toda a hora, como se fossemos a vila dos anos 80, em que todos se conheciam e partilhavam os mesmos gostos e lugares. Dirá o leitor que este já não é o tempo "das cunhas", em que ser da Jota significava uma garantia de emprego na Câmara, de que foi expoente máximo o reinado de Narciso Mota.
Mas o tempo afigura-se manifestamente pior.
O que aconteceu no final do mês passado com o concurso para chefe da Unidade de Desporto é revelador de quem manda agora na Câmara (o director municipal, recordemo-nos), que neste caso foi o presidente do júri do concurso. Pimpão lava daí as mãos, como Pilatos.
Ora atente-se na acta final (pública) do concurso para perceber como se faz: o segredo está em desenhar bem o guião da entrevista pública de selecção, sobretudo quando na prova escrita os resultados eram outros. E então basta um ponto percentual para fazer a diferença entre dois candidatos que revelam exactamente o mesmo perfil para o cargo.
Ora, falta aqui dizer que, em resultado deste concurso - que colocava em pé de igualdade um superior hierárquico e um subordinado - o júri pendeu, à luz da subjectividade que implica a entrevista, para o subordinado. É a vida - dirão.
O novo chefe é agora Paulo Fernandes, que até agora dividia o tempo entre as funções de assalariado do Município e treinador de natação do Núcleo de Desporto Amador de Pombal, uma prática comum nos espaços desportivos municipais, a que José Paulo nunca aderiu, mas foi permitindo de forma conivente, nomeadamente nas piscinas.
Como bem dizia um dirigente do PSD, "quem tem unhas é que toca viola".
22 de maio de 2025
Terra de cegos e de gente feliz
Como executivo o dotor Pimpão é o que é e não vale a pena bater mais no ceguinho, mas como politico não é o inepto que muitos julgam - revela até manhas que lhe desconhecíamos.
A forma como abafou a dita “oposição”, nomeadamente no executivo, com o sermão da positividade e de todos por Pombal (por ele), demonstra-o bem. É verdade que com aquelas alminhas não era coisa difícil, mas era preciso fazê-lo; e poucos, por esse país fora, o conseguem fazer.
Por outro lado, na política do facto consumado – verdadeiramente antidemocrática – o dotor Pimpão revela também alguma astúcia: passo-a-passo lá vai levando a água ao seu moinho e impondo-nos mais uns elefantes-brancos, para seu gáudio e fama. O último chama-se Pólo de Inovação e Conhecimento, já aqui dado à estampa. Para o ficcional empreendimento contratou recentemente, em regime de avença, por 19.900 euros (mais parece preço de supermercado) um rapaz muito empreendedor e sabedor, o doutor Dino Freitas, bem nosso conhecido, e com belas provas dadas, para elaborar uma proposta para a coisa.
Mas revela igualmente outra faceta até agora desconhecida: já se preocupa com aquilo que ouve dizer que é importante: criação de sinergias. Vai daí, como gastou dinheiro num espaço, dito de Cowork, que está sempre às moscas, com um tiro matou - ou deu vida - a dois coelhos: ao Cowork e ao Dino - o avençado ocupou o espaço.
É o Pombal feliz.
19 de maio de 2025
Chega? Ainda não.
Quem se senta numa qualquer esplanada de Pombal e ouve as conversas, quem anda na rua, quem entra no comércio, quem aqui vive, não acordou hoje surpreendido com estes resultados. Estamos (finalmente) em linha com a média nacional no que toca aos votantes no Chega, embora aqui tenhamos começado com avanço. Estão em todo o lado, em todas as comunidades, em todas as famílias. Juntos, formam um bolo que cresce à custa de vários ingredientes: há os saudosistas do fascismo e das colónias, admiradores de Salazar, mas há também muitos que não sabem sequer o que é a ideologia. São apenas revoltados com a vida que lhes calhou em sorte, gente que noutro tempo encontrava em partidos de esquerda uma âncora, que votava neles em protesto contra aquilo que - achávamos nós - era a Direita. Juntemos ainda os desiludidos com outras ideologias. É desses todos que o astuto Ventura se alimenta e cresce, falando-lhes ao jeito, dando corpo àquilo que o escritor Vicente Valentim chamou em livro "O Fim da Vergonha". Porque até há pouco tempo, tinham vergonha de dizer que pensavam assim. Mas isso acabou. Da próxima vez, não haverá pudor em dizer às empresas de sondagens o verdadeiro sentido de voto. E nessa altura o partido terá de arranjar novo bode expiatório. Por agora, descansem: o Chega diz que não vai atrás de ninguém. Isso será depois.
A ironia desse voto de protesto num partido de extrema direita que, afinal, normalizámos, é que está assente naquilo que condena: o 25 de Abril, a Constituição, a liberdade. Ao mesmo tempo, vão desaparecendo do mundo dos vivos os que sofreram às mãos da ditadura. A escola falhou em toda a linha quando não explicou o que era e como aqui chegámos, e escusam de pensar nas famílias porque essas estavam muito ocupadas a ganhar dinheiro, umas para enriquecer, outras, muitas mais, para pagar a casa, o carro, as contas do supermercado. Não sobrou espaço para nada, tão pouco para o envolvimento cívico, muitas vezes sequer para votar. A maioria nunca foi a uma assembleia de freguesia, ou mesmo a uma assembleia geral da associação da terra. Alguns nunca tinham votado. Chegados a 2019, eis que um homem se anuncia como o Messias para salvar Portugal. Nessa noite eleitoral em que foi eleito pela primeira vez, André Ventura profetizou que em oito anos seria Primeiro-Ministro. E esse é o próximo passo. Talvez não seja má ideia que isso aconteça rapidamente. Às vezes o povo precisa de terapias de choque. As primeiras vão surgir já nas eleições autárquicas.
Mas voltemos a Pombal. Sem surpresa, o PSD (ok, chamam-lhe AD) ganha, com ligeiro aumento de percentagem e número de votos. Mas está longe da supremacia de outros tempos na maior parte das freguesias, com o Chega a morder-lhe não só os calcanhares como a disputar eleitorado. Há pouco mais de uma década o PSD ganhava em diversas freguesias entre os 70 e os 80% dos votos. Agora, restam-lhe as freguesias de Abiul (54%), Carnide (56%) e Meirinhas (50%) para brilharete. O Chega atinge ou supera os 25% de votação em várias (Meirinhas, Vila Cã, Carriço) e no resto anda entre os 20 e os 25%, números que, aqui, o PS deixou de alcançar há muito. O PS: já nas eleições de 2024 ficara atrás do Chega, mas desta vez ficou reduzido a menos de 15% dos votantes. Pouco mais de 4.200 votos. O mal menor acontece na malha urbana (freguesia de Pombal), onde a AD tem a sua vitória mais magra.
Uma nota final para a realidade paralela em que parecem viver os nossos actores políticos: Pedro Pimpão veio às redes dizer ao povo que faça "a sua análise", "as suas reflexões" e que tire "as respectivas conclusões". Partimos do princípio que também vai fazer as suas.
Porque o Chega não é o companheiro fofinho que o PS foi para o poder nos últimos anos.
16 de maio de 2025
Concessão da cafetaria do CIMU - Sicó – o primeiro choque com a realidade
A “Junta” lançou recentemente – à socapa e irregularmente – o concurso público para a concessão da cafetaria e camaratas de alojamento do CIMU-Sicó. Parece que ainda acreditam que aquilo pode ter alguma viabilidade económica – no que é que aquelas alminhas não acreditam?!
Os que acompanham estas matérias recordam-se do enorme fiasco que foi e continua a ser a Quinta Sant`Ana, adquirida e apresentada, já no século passado, como grande pólo de atracção turística, e deixada ao abandono (ou quase) por décadas. Mas todos poderão igualmente observar - porque estão pela cidade à vista de qualquer um - os espaços comerciais onde a câmara derreteu dinheiro, falhou na sua exploração, concessionou a particulares e, pelo caminho que as coisas levam, retornarão novamente para a câmara, para serem definitivamente abandonados. Alguém acredita que no CIMU-Sicó vai ser diferente? Não acredito. Não acredito porque nesta terra, onde estranhamente o poder nem de maduro cai, tudo se resume ao propósito simples de obter um fogacho propagandístico próximo e imediato; ao qual se segue, infalivelmente, um dano mais ou menos prolongado. É esta a principal causa do nosso atraso, de que não nos veremos livres por muito tempo.
Na generalidade dos casos, as comunidades, tal como os povos, não progridem devido à falta de recursos. Depois há os casos anómalos: os que, apesar de os ter (os recursos), marcam sistematicamente passo. Regra geral, tal deve-se à má aplicação dos recursos, no que o Município de Pombal é useiro e vezeiro. Não por terem faltado recursos financeiros à câmara, que se gaba regularmente de realizar avultados investimentos, milhões para aqui, milhões para ali, milhões para acolá. Contudo, o problema de Pombal não é – nunca foi – a falta de investimento público, foi a realização de maus investimentos. Porquê? Porque nada é pensado, integrado e avaliado em função de propósitos claros e consistentes. Tudo é impulso, tudo é benfeitoria, tudo é despesa, e muita é simples desperdício. O CIMÚ-Sicó é o exemplo extremo. E agora, depois de duas décadas a enterrar lá dinheiro, quando a obra está pronta e é preciso pô-la a funcionar, chegará a fase mais dolorosa - mais penalizadora do erário público. Mas dará sempre para o dotor Pimpão fazer uns eventos e muita propaganda.
30 de abril de 2025
O inenarrável livro sobre o Externato da Guia - que todos pagámos
Tive a sorte de nascer na fase final da ditadura, e por isso de crescer em liberdade. Isso quer dizer que, ao contrário do que o destino traçava, antes do 25 de Abril de 1974, não fora a madrugada do dia inicial, inteiro e limpo, a minha caminhada na escola terminaria, muito provavelmente, na escola primária da Moita do Boi. A minha e a da esmagadora maioria dos que nasceram como eu: numa aldeia, no seio de uma família sem posses, onde a porta de saída era a emigração clandestina. Entre os 10 filhos da avó Leontina e do avô Zé Maria, nos Antões, nenhum foi além da quarta classe. Entre os 13 da avó Maria da Luz e do avô António, alguns não foram sequer à escola, outros mal aprenderam a ler e escrever. A minha prima Rita foi a primeira a licenciar-se. Tem agora 60 anos. Lá na minha aldeia os dedos de uma mão chegam para contar os que frequentaram a universidade, ao tempo dos meus pais. Eram todos da mesma casa.
Foi nesse oeste de pobreza, no início da década de 1960, que nasceu o Externato da Guia. Olho para a listagem dos 13 alunos que abriram o primeiro ano lectivo, todos da idade da minha mãe (agora com 75 anos) e imagino que também ela ali poderia estar. Tinha 10 anos. Nessa altura já cuidava de um rancho de irmãos, ela e as outras lá da terra, e deste país. A educação, os estudos, eram privilégio de muito poucos.
Mas as fábricas de serração de madeiras e resina conferiam àquela região algum poder económico, pela mão de meia dúzia de proprietários. Depois havia a localização, excelente, com a qual o professor Armindo Moreira (que há décadas emigrou para o Brasil) convenceu o seu colega António Ramos de Almeida (o Dr Almeida, de que gerações inteiras e seguintes ouviram falar) a investir ali, num colégio privado, em vez de Montemor-o-Velho. O trio de fundadores ficaria completo com um dos poucos conhecidos resistentes anti-fascistas deste concelho, o farmacêutico Amilcar Pinho.
Uma das portas que Abril abriu foi o acesso à Escola Pública. Quando no ano lectivo de 1983-84 ingressei no então 1º ano do ciclo, o Estado já adquirira o Externato da Guia. A minha documentação era da nova C+S, apesar dos resquícios de colégio particular. Ali fiquei até à abertura do Instituto D. João V, no Louriçal. À medida que me fui cruzando com personalidades e histórias, ao longo da minha vida profissional, fui sabendo alguma coisa sobre a fundação "do Colégio", embora sem um fio condutor que me parecesse seguro. Havia (e há) muitas pontas soltas. E foi por isso que pedi a mão amiga um exemplar do livro que acaba de ser publicado, e lançado, com a chancela da Câmara Municipal de Pombal.
São mais de 240 páginas impressas em papel couché semi-mate, escritas pela pena do fundador António Ramos de Almeida, agora com 94 anos. São vários capítulos da sua versão dos factos: o registo é muitas vezes agoniante, numa espécie de vendetta contra várias coisas e pessoas, num saudosismo reaccionário.
O Dr. Almeida tem todo o direito de escrever as suas memórias e lavar a sua alma. No tempo que vivemos, pode até achar-se no direito de vilipendiar o quanto custou a Liberdade, pois que "a anarquia e a instabilidade governativa vieram colocar um ponto de interrogação na continuidade do Ensino Particular", levando-o a vender o colégio ao Estado. E sem o Colégio, muitos dos que lá ingressaram "não teriam passado de simples labregos ou marchantes", sic.
Mas quando isso é pago com o dinheiro dos nossos impostos, o caso muda de figura. Este agrado que Pedro Pimpão fez à família Almeida (e seus interlocutores) custou-nos a módica quantia de 5.299 euros mais IVA, perfazendo um total € 5.616,94 (cinco mil, seiscentos e dezasseis euros e noventa e quatro cêntimos). Isto para 300 exemplares. Que no dia do lançamento - por piada de mau gosto integrado nas comemorações do 25 de Abril - estavam a ser comercializados pelo doutor Né, ao serviço da Câmara, a 20 euros cada exemplar. Foi um ajuste directo, este agrado. Uma bela cama que Pimpão anda a fazer.
Não em meu nome.