O mais recente episódio desse folhetim que envolve um dos dois vereadores da minoria na Câmara anda nas bocas do povo. Teve ao menos esse efeito, o de fazer os eleitores menos conformados pensar sobre o circo em que às vezes se transforma a vida pública. Às vezes pagamos caro o bilhete. Mas quando, como esta semana, ouvi discutir o assunto desde os salões aos tascos, desde a vila a que chamamos cidade até às aldeias mais promissoras da era Narciso, vale a pena, sim. É sinal de que o povo nem sempre dorme.
O anúncio, quase em simultâneo e curiosamente no mesmo local, do vereador Rui Miranda, sobre a desvinculação do PS e a disponibilidade imediata para aceitar convites do PSD numa próxima corrida só surpreendeu os mais distraídos, ou então aqueles que, só lendo as gordas, se esquecem de ler (n)as entrelinhas.
O episódio consegue revelar às claras aquilo que já todos sabemos:
1 - pobre do eleitorado que não se revê nesta eterna maioria, e que em 2005 votou naquilo que julgava ser uma alternativa. Acabou sem eira nem beira, entre comunicados certos e desenganado de qualquer oposição.
2 - o povo é sábio, sim. À medida que o tempo avança e se revelam as personagens, percebe-se claramente por que razão o PS teve a pior votação de que há memória. E que no meio da desgraça prefira sempre o menos mau.
3 - Os que acompanhamos desde o século passado a ascensão de Narciso Mota na terra estranha que é Pombal, sabemos que, com o tempo, aprendeu alguma coisa de política, sim. O jeito meloso com que embala as palavras do "professor Miranda" e lhe afaga o ego, cheira a
dejà vu. Não sei se Rui Miranda já ouviu falar de outro professor, resgatado à esquerda e mais tarde recambiado pelo próprio pé. Chamava-se Carlos Silva e também foi vereador. Lembrei-me, dele e de outros, vá-se lá saber porquê.
4 -Com isto, Sérgio Leal já era.
5 - Imagino as unhas roídas até ao
sabugo. Só há seis lugares na lista. E só quatro ou cinco têm hipótese de aceder à profissão.
Moral da história: a vida político-partidária no Largo do
Cardal continua no seu melhor. Isto afinal não dava um filme. Dava um festival de cinema. À volta, a malta dos concelhos vizinhos há-de continuar a gargalhar com este e outros episódios, próprios do Entroncamento do norte do distrito, como às vezes lhe chamam. Bem podem rir-se. Não moram cá...