Ensina-se no jornalismo que importante é o que acontece, mas muito mais importante é o que vai acontecer. E por isso estranhámos a notícia (incompleta) da última edição do Pombal Jornal, sobre o facto consumado do comandante dos Bombeiros cessar funções. Mais estranhámos ainda todo o laudatório no domingo passado, durante o 113º aniversário dos BVP, sem uma única palavra sobre o sucessor. Percebe-se, afinal, porquê: Paulo Albano não sai do comando de livre e espontânea vontade. É claramente empurrado pela direcção, que já lhe escolheu há tempos um sucessor - Hugo Gonçalves, o coordenador municipal da Protecção Civil.
Há anos que o poder político instrumentaliza as associações, e no caso a Associação Humanitária dos BVP. Já tivemos de tudo, nas últimas décadas, mas o caso desta antecipada saída do comandante parece um dejá vu daquele momento em que Narciso Mota decidiu colocar nos bombeiros um seu homem de mão, Armando Ferreira, primeiro coordenador da Protecção Civil. Só que passaram 20 anos e era suposto que as organizações aprendessem com os erros.
O que é que nos surpreende aqui? O acto não é nada consentâneo com o desempenho público de Ana Cabral, a ex-vereadora que agora preside à direcção dos bombeiros. E além de tudo: Paulo Albano não merecia isto, ao cabo de uma vida dedicada aos BVP. Os bombeiros deste concelho mereciam outro tratamento, com actos, em vez de palavras vãs em dias de festa. E o futuro comandante (ainda em formação), também merecia melhor cenário do que este que vai encontrar: uma casa a arder.
Na sua génese e pela sua história, as corporações de bombeiros voluntários são as verdadeiras organizações populares ao serviço das comunidades. Mas por cá, a câmara e os seus comissários políticos assenhorearam-se dela, instrumentalizaram-na e, pior, canibalizaram-na. Agora, deram só mais um passo, consolidaram o que já se percebia, fundiram o serviço de Protecção Civil, da câmara e na dependência do seu presidente, com o Comando dos Bombeiros Voluntários, como se as duas realidades e as duas missões fossem a mesma coisa ou perfeitamente complementares; mas não são nem deveriam ser. Enfim, isto vai como tem que ir… Estraga-se só uma casa.
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