23 de junho de 2025

A oeste, algo de novo: os cavaleiros do apocalipse



As próximas eleições autárquicas vão mostrar, de forma inequívoca, as mudanças estruturais da sociedade portuguesa. Não são apenas as freguesias (de novo muitas, mas agora sem serviços, pois desengane-se quem julga que volta a ter o Centro de Saúde à porta, os correios e a farmácia) em grande número onde haverá apenas um candidato. Não é só por aí que a Democracia vai sofrer um duro golpe de desaparecimento. É também pela qualidade dos candidatos, numa derrocada que começa a notar-se há vários anos.  Agora que o processo está em marcha, que a maioria dos partidos (até o PSD, imagine-se) está em sérias dificuldades para encontrar cidadãos dispostos a dar cara por eles, e pelas terras, começa a levantar-se o drama maior: quem nos vai representar?

 No espaço de poucas horas, durante o dia de ontem, atravessaram-se no meu caminho vários exemplos que explicam a transferência de voto do PS para o Chega, nas últimas eleições legislativas. É sabido que, por aqui, onde o PSD tudo domina, o voto de protesto está há 30 anos associado às listas socialistas. Ou estava. Quando à nossa volta se acumulam antigos candidatos do PS que agora se arvoram defensores do Chega, custa perceber, mas aceitamos. O que já custa a aceitar é que o partido de Mário Soares dê guarida aos que, em funções autárquicas, eleitos com a bandeira do PS, enchem a boca com o respeitinho, difundem as mensagens que os vários grupos de extrema-direita vão multiplicando pelas redes, e até exibem, na pele, tatuada a esfera armilar. Ninguém me contou. Eu vi, no meio de um recinto de festa.

 Aos partidos sempre foi parar tudo, e a sede de fechar listas foi muitas vezes permissiva em relação aos que nem sequer partilhavam valores de liberdade, tolerância e fraternidade. Mas os mínimos de higiene e salubridade da vida pública obrigavam a usar os mecanismos ao dispor, nomeadamente retirando a confiança política a quem não a merece.

 Aqui chegados, resta-nos perceber como vai o eleitorado do PSD comportar-se, face a esta nova realidade que vai semear pelas várias freguesias candidatos inusitados. Um dirigente com responsabilidades locais gabava-se há dias de ter "tudo controlado". Será? O exemplo de Manuel Serra, até há dois meses dirigente social-democrata, antigo presidente da Junta do Oeste (derrotado em 2017 pelo independente Gonçalo Ramos) deixa antever que o paraíso laranja pode ter os dias contados. Renunciou ao mandato na AM, e agora será número dois da lista à Câmara, secundando Gabriel Mithá Ribeiro, o cabeça de lista do CH.

No futuro, das duas uma: ou o PSD ainda vai ter muitas saudades do PS, ou vamos todos nós, aqui no burgo, chegar à conclusão de que são troncos da mesma raiz -  como Ventura, como Passos, como tantos. 

4 comentários:

  1. O armário laranja no concelho de Pombal está infestado de gente com perfil de extrema-direita. Alguns têm a coragem de sair, os outros continuam escondidos a ver quando podem sair. No após 25 de abril a maioria dos "fascistas", como o Cavaco e tantos outros, encontraram no PSD o seu refugio.

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  2. Paula, será o melhor título para esta farpa?
    Apocalipse? Até pelas figuras risonhas se percebe que dali mal nunca virá.
    Talvez uma visão diferente para a governação, talvez atitudes diferentes e mais determinadas, mas tudo dentro das necessidades e realidades do concelho de Pombal: educação, saúde, economia, atração de investimento, infra estruturas em falta, qualidade de vida e apoio às coletividades e à ação social, transportes coletivos no concelho.
    Desenganem-se aqueles que pretendem julgar antes do tempo e condenar antes de algo acontecer.
    O Dr.Mithá tem um nivel intelectual invejável, é deputado da nação e 1° secretário da mesa da AR, figura politica nacional e das mais consensuais entre todos os partidos da AR, de uma educação e delicadeza no trato sem paralelo, com capacidade de intervenção e decisão comprovadas, tudo qualidades que só podem honrar pombal por se ter disponibilizado para a CM que por sua intervenção e empenho verá o seu desenvolvimento acelerado.
    Não são os partidos que fazem as pessoas mas sim as pessoas que fazem os partidos.
    Estejam atentos às propostas que irão surgir, à postura do candidato perante as populações e depois avaliem e então critiquem, sem moderação, as tenebrosas consequências que os cavaleiros do apocalipse do Oeste trarão para Pombal.
    Do Oeste é certo, do apocalipse talvez não!
    Mesmo discordando do conteúdo gostei da forma ilustrada e bem escrita do seu post.
    Bem haja 🌹

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    1. Caro Manuel Serra, não tenho dúvida nenhuma sobre as diferenças de Mithá Ribeiro em relação à tropa fandanga seguidora de Ventura. Porque nele há ideologia. E por isso mesmo é simultaneamente o mais perigoso. De resto, ambos sabemos que aqui só vem cumprir a missão de cabeça de lista, deixando para si todo o protagonismo que se seguirá às eleições. Cá estaremos para acompanhar essa nova ordem social

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  3. Paula, como diria alguém há muitos anos: Olhe que não, olhe que não! 🌹

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