25 de maio de 2011

Uma Campanha Alegre

É um lugar-comum relembrar o terceiro parágrafo de "O primitivo prólogo das Farpas", escrito por Eça de Queirós em Junho de 1871:


“O País perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos e os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido, nem instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não existe nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Já se não crê na honestidade dos homens públicos. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos vão abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas ideias aumenta em cada dia. Vivemos todos ao acaso. Perfeita, absoluta indiferença de cima a baixo! Todo o viver espiritual, intelectual, parado. O tédio invadiu as almas. A mocidade arrasta-se, envelhecida, das mesas das secretarias para as mesas dos cafés. A ruína económica cresce, cresce, cresce... O comércio definha, A indústria enfraquece. O salário diminui. A renda diminui. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo.”


Alguns dirão que estas palavras são tão sábias e justas hoje como o foram há 140 anos. O problema, digo eu, é aceitá-las como uma fatalidade. Eça, que no mesmo texto também diz “em Portugal o cidadão desapareceu”, usou-as como um incentivo à participação cívica. Eu humildemente o secundo, apelando ao exercício da cidadania no próximo dia 5 de Junho.

1 comentário:

  1. 140 anos e continuamos aqui, com bancarrotas, guerras, revoluções e muita confusão pelo meio. Logo não é fatalidade, já que sabemos sobreviver. Só que os Países fazem-se, a dada altura, assentando em mais do que sobreviventes. E por isso, desacreditando da maioria dos actores do sistema, acredito que o sistema ainda é regenerável, mas exige cidadãos para o fazerem. Entendo também que apesar do desencanto, no dia 5 não poderei deixar de dar o meu contributo, contributo esse de que nunca abdicarei. Dizem pelo Rossio que "os sonhos não cabem nas vossas urnas", mas antes isso que pesadelos sem urnas.

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