31 de dezembro de 2015

O último a saber


Sempre achei que "Árvores Vivas" de Judite da Silva Gameiro foi do que melhor se fez em Pombal no que diz respeito à chamada arte urbana. Não sei se a Autarquia encarou o projecto como efémero mas, pelo que leio no Pombal Jornal, a artista sempre acreditou que a sua obra seria acarinhada por forma a poder durar mais do que um ano e meio. E eu também...

Aquilo que, no início, parecia ser uma bela história de amor entre a Câmara e os artistas locais, acabou (talvez sem surpresa) em traição. E nestas coisas da traição, já se sabe quem é sempre o último a saber.

19 de dezembro de 2015

Presidente à esquerda

Diogo Mateus tem vindo progressivamente a desenvolver de forma dissimulada e teatral uma estratégia de sedução e de afirmação de poder e influência. Começou o exercício do seu mandato a tomar o pequeno-almoço com funcionários, a dar folgas, a reduzir horários, a atribuir apoios sociais e a aliciar e comprometer a oposição de esquerda, enquanto, simultaneamente, criava alguns conflitos, nomeadamente com o anterior presidente, vereadores e conselho de escola, que tentava resolver com o recurso às habituais falácias.
Depois, refinou a sua estratégia, estreitando os laços com a igreja e misericórdias e com as associações e incrementando a sedução à esquerda em geral, a nível cultural ou atores políticos, a quem começou a oferecer cada vez mais lugares, e recuperou como sua a política do anterior presidente de criar cargos e de mandar construir obras desnecessárias, caras e com erros de conceção, enquanto mantém o esforço dos contribuintes, apesar da crise e do colapso económico de muitos cidadãos, a maioria a rumar para o estrangeiro.

Entretanto, os militantes do partido que o apoiam vão-se interrogando sobre estas e outras questões, designadamente sobre o programa de atuação (não eleitoral) em confronto com o programa e a identidade do partido…

As lágrimas de Ofélia (e as de nós todos, diz ela!)

Assembleia Municipal de Pombal, 30/9/2015, a propósito da discussão e aprovação da associação de apoio aos peregrinos:
Já agora, crie-se, também, rapidamente, uma associação para enxugar as lágrimas. Mas tem que vir gente de fora!

"Onde é que a maldade mora?
Todos sabem onde é
É em quem quando diz que chora
Leva a rir e a responder
Indo em crueldade até
A gente não a entender..."
               Fernando Pessoa

18 de dezembro de 2015

Importa-se de explicar, sff


Um momento de (boa) dialéctica política

Da caridadezinha



No verão de 1991, Pombal respirava progresso e abastança. À hora de almoço os empregados no comércio e serviços acotovelavam-se nos restaurantes, as fábricas eram várias e empregavam muita gente, Cavaco estava a um passo de conseguir aquela maioria absoluta e tudo corria bem, no país e no mundo (havia o Iraque e tal, mas era longe, nada nos haveria de beliscar). Foi nesse tempo de glória que conheci os clubes Rotários e Lions - nessa altura mais ou menos divididos em Pombal, subtilmente, entre poder (PS) e oposição(PSD). Como eu era muito nova e lá na Moita do Boi o único clube que havia era a Associação, lá fui, cheia de curiosidade, ao serviço que o director do Correio de Pombal me mandou fazer: um jantar no Manjar do Marquês para a entrega de uma televisão à Cercipom. Era muita gente, nesse tempo: os rotários e os jornalistas.

...

No inverno de 2012, quando Pombal se preparava para deixar de ter jornais (com a morte anunciada do Correio de Pombal) quando o grupo para o qual trabalhei 18 anos tinha fechado o Eco e reduzido os seus quadros nos outros jornais para metade, o Rotary Clube convidou-me para ir a uma das suas reuniões de terça falar da crise dos jornais e da imprensa regional. Tenho no clube gente de que gosto muito, como é o caso do meu mestre Alfredo Faustino. Admiro outros, que ainda por lá andam, embora me identifique pouco com os moldes (declinei dois convites, nos últimos anos, para integrar organizações similares). Antes de me ouvir, um deles quis saber a minha opinião sobre os rotários. E eu disse. Contei a história da televisão, e como me tinha ido embora a pensar que, com o dinheiro do jantar, poderiam comprar-se mais duas televisões. Ressalvei, na altura, o mérito de uma organização que contribuía de outras formas para a comunidade, por exemplo com a pioneira criação das bolsas de estudo (ou dos concursos de contos, noutro tempos) ou a realização de conferências e debates.
...
No outono deste ano suspendi o meu mandato na Assembleia de Freguesia de Pombal (para a qual fui eleita nas eleições de 2013, como independente, na lista do PS). O regresso ao noticiário político nas páginas do DN ditou-me esse dever ético. E por isso não participei nem assisti à última reunião daquele órgão, nem estava a perceber a conversa do actual presidente dos rotários, no facebook, por estes dias. Fui saber. Parece que a Junta de Freguesia (cujo executivo integra) deu um subsídio de 750 euros ao Rotary, para uma bolsa de estudo, das várias que o clube atribui. Como? Não será mais lógico a Junta criar a sua própria bolsa, já que quer apoiar? E o Rotary agora funciona assim? O que é que aconteceu ao mecenato?
Melhor que este fait divers em tempo de Natal (quando a solidariedade voltou a dar lugar à caridadezinha), só o desfile do executivo camarário - amplamente divulgada -  na venda de jornais outra vez promovida pelo Região de Leiria, a favor de instituições do distrito. Faz agora anos que o director acabou a acção de charme do dia, entrou no jornal, já de noite, e concluiu o processo de extinção de postos de trabalho iniciado meses antes.
Boas festas!

Ratoeira da lomba na estrada da Granja da Cumieira



No lugar de Granja da Cumieira, freguesia de Pombal, na estrada que dali liga ao lugar de Cardeais da freguesia de Vila Cã, existe uma depressão seguida de lomba não sinalizada. Os condutores das viaturas automóveis que seguem do referido lugar de Granja da Cumieira para Cardeais são surpreendidos com uma pancada da base da viatura no pavimento da lomba seguida de um ressalto. Algumas viaturas já ficaram com os "cárteres" rachados.
Enquanto o pavimento da estrada vai abatendo e se aguarda pela reparação, a qual talvez só seja efetuada quando for pedida responsabilidade civil ao município, vamos caminhando em Pombal sobre as passadeiras vermelhas do Natal e vamos assistindo à remodelação da rua do Barco com todos os berloques e labirintos…

E a Lei, e a Lei, e a Lei…

Assembleia Municipal de Pombal, 30/9/201, Discussão e votação da Proposta da Câmara sobre o Lançamento de Derrama. Proposta da câmara para isenção de Derrama as empresas que criem, no mínimo, 3 novos postos de trabalho.


Que falta de senso. Valha-lhes S. Sinfrónio.

O Orçamento Participativo não é tão brilhante como parece

Assembleia Municipal de Pombal, 30/9/2015, Intervenções na Generalidade. Resposta de Diogo Mateus a uma intervenção elogiosa e auto-elogiosa sobre o Orçamento Participativo:


Quando o político se esquece do “papel”…

Assembleia Municipal de Pombal, 30/9/2015, Intervenções na Generalidade:


17 de dezembro de 2015

A propósito da arte de interrogar e responder

Na arte de interrogar e responder é comummente aceite que não há perguntas difíceis, pode é haver respostas difíceis. Na Assembleia Municipal de Pombal não é bem assim.

A assembleia está melhor. Não por mérito de quem pergunta, mas por mérito de quem responde.

16 de dezembro de 2015

Politécnico ou Académico

Em Leiria, uns quantos opinion-makers têm procurado lançar um movimento para transformar o IPL em Universidade. Já conseguiram, pelo menos, uma coisa: envolver as estruturas partidárias na polémica – os partidos, despidos como estão de pensamento estruturado, salivam imediatamente quando pressentem movimentações. O caminho para o desastre está traçado.
O IPL conseguiu, na última década, credibilizar uma oferta educativa dirigida à região e com alguma qualidade. O que menos necessitava nesse trajecto era de uma polémica gratuita e de uma alteração do seu código genético e do trajecto que o tem conduzido a algum sucesso.
Bem sei que é legítimo que uma instituição queira saltar de patamar, mas é isso necessário, exequível e virtuoso? Tenho dúvidas, muitas.
Por um lado, Portugal não necessita de mais Universidades, tem, até, demais; e as que tem são de pequena dimensão quando comparadas com as congéneres europeias, com quem competem, nomeadamente no ensino pós-graduado. A tendência a que se assiste é para a diminuição do número de Universidades, movimento já concretizado em Lisboa, com a fusão entre a UL e a UTL, e, pelo que ouvi, passo já admitido entre as Universidades de Coimbra e Aveiro, e inevitável para as Universidades de Trás-os-Montes e Alto Douro e da Beira Interior.
Por outro lado, actualmente, é mais importante diversificar ofertas educativas do que padronizá-las.
Em resumo, em vez de transformar o IPL em Universidade talvez fosse mais adequado aproximá-lo da Universidade de Coimbra. Mas desconfio que os orgulhos e interesses de paróquia não o permitirão.

Educação e Rendimento

A correlação entre o potencial de crescimento de uma economia, o potencial humano e o nível de vida das pessoas e é tão evidente que actualmente é considerado uma tautologia. No entanto, em Portugal, e por cá, somos confrontados frequentemente com opiniões avestruzas que desvalorizam o papel da escola na vida das pessoas e da sociedade.
Eric Hanushek, da Universidade de Stanford, afirmou anteontem numa conferência em Lisboa “que os resultados conseguidos nos testes PISA, sobre o desempenho nas áreas da matemática, leitura e ciências, realizados pela OCDE, têm uma forte correlação com o crescimento económico”. Segundo Hanushek, “Portugal foi um dos países que mais melhorou nos últimos 15 anos, está hoje a meio da tabela, perto dos Estados Unidos, mas representa uma subida de 25 pontos nos testes”. Habushek fez o exercício de seguinte: “se Portugal atingisse o nível da Polónia nos testes PISA, isso significaria, em 80 anos, um crescimento de 340% do PIB português e salários 15% mais altos em cada ano, durante 80 anos." Talvez seja uma extrapolação com pressupostos muito optimistas, mas dá que pensar.
Em Portugal (e em Pombal também) culpa-se demasiado os políticos pelo nosso atraso secular, com uma cegueira e um fanatismo perturbantes; sem se olhar para as causas estruturais desse atraso, e elas são tão evidentes. Uma delas, e talvez a mais preponderante, é o grave défice de Educação da população.
Em 1900, a Holanda comemorou a entrada no novo século proclamando a erradicação do analfabetismo. Em Portugal os níveis de Educação são baixíssimos, quando comparados com os nossos parceiros europeus. Mas em Pombal a realidade surpreende até os mais atentos a estas coisas. A Carta Educativa do Concelho mostra-nos um retrato de tons muito negros: 25% da população sem instrução e 28% da população detém apenas o 1.º ciclo do Ensino Básico.
Está explicado, em grande parte, o atraso socioeconómico do concelho de Pombal. E não contem com melhorias nos próximos anos.

14 de dezembro de 2015

Um excelente documento

A (revista) Carta Educativa do Concelho de Pombal é um excelente documento, com um pequeno senão: apresenta-nos uma realidade preocupante.
A levar em consideração pelas partes interessadas, nomeadamente actores políticos e responsáveis pelas instituições educativas.

Pergunta indiscreta

Em Pombal insistem em transformar vias rodoviárias em pistas de obstáculos. Por quê?

9 de dezembro de 2015

Chã de Baixo a Freguesia

Numa nota de imprensa do gabinete de comunicação/propaganda da CMP, intitulada “Obras de construção do Centro Escolar de Vermoil já arrancaram” – belo titulo - pode ler-se: “O Centro Escolar de Vermoil está implantado no centro de gravidade da concentração da população a servir, distando de forma semelhante entre os principais núcleos urbanos da freguesia de Vermoil, encontrando-se numa zona de forte expansão urbana e com forte procura de habitação permanente”.
Ao ler isto, até o pombalense mais alheado destas coisas exclamará: estão a falar de quê? De Lisboa, de Paris, de Londres…?
Falar de núcleos urbanos em Vermoil é como falar em floresta no deserto, e classificar a Chã de Baixo como “uma zona de forte expansão urbana e com forte procura de habitação permanente” é como falar de vida no cemitério.
Quem redigiu esta “peça”, nunca visitou Vermoil – de certeza. Se o tivesse feito, não colaborava neste dislate, que desinforma em vez de informar, diz o que não pode ser dito e ignora o que deve ser dito. Saberia que Vermoil é uma terra que vive um sono profundo: nada ali muda, nada ali é novidade. Quem a viu nos anos 70, do século passado, e por lá se perde agora, encontra a mesma paisagem, o mesmo modo de vida, os mesmos costumes, a mesma religiosidade. Os comboios continuam a passar por lá, mas deixaram de apitar; porventura, para não perturbarem o sono profundo. Os sinos da Igreja continuam a tocar, mais para funerais do que para baptizados.
A situação de Vermoil não é muito diferente de outras freguesias do concelho. Mas o definhamento é mais evidente. É o resultado de muitas más escolhas, que obedeceram sempre ao mesmo critério: agradar a gregos e troianos. No final, desagradou a ambos.
A localização do Centro Escolar na Chã de Baixo é só mais um erro no percurso, com as mesmas consequências: perder garotos (população) para as freguesias limítrofes (e já tem tão poucos). 
“Onde não há visão as populações desaparecem”, já rezava a Bíblia. Mas, pelos vistos, até os beatos a levam pouco a sério.
Tão estranha decisão merece algumas questões:
Vermoil tem necessidade de um Centro Escolar? Ttem e vai ter crianças para ele?
Porque é que a junta mandou o Centro Escolar para Chã de Baixo? Pensa passar para lá a sede de freguesia? Ou parir mais uma freguesia?
Valha-nos Deus.

1 de dezembro de 2015

O estilo rococó no urbanismo

Em Pombal, o urbanismo está a ser influenciado pelo estilo rococó. As obras no Barco são um (mau) exemplo do estilo dos ornamentos rebuscados. Fica, no entanto, uma dúvida: as preocupações da câmara são estéticas ou os ornamentos visam dificultar a fluidez do trânsito.
Nos últimos dias foram acrescentados vários ornamentos nas obras do Barco que só complicam a circulação. Uma superfície comercial de Pombal adoptou também o estilo rococó no seu parque de estacionamento, mas quando percebeu que os ornamentos incomodavam os clientes, removeu-os imediatamente. Aprendam. E não compliquem a vida às pessoas.
Simple is the best.

Presidente demolidor

Mal tomou posse como Presidente da Câmara Municipal de Pombal, Luís Diogo Mateus foi rápido a mandar demolir e remover o quiosque/sanitário do Largo do Cardal, dando seguimento ao desagrado e às críticas públicas de uma grande parte dos cidadãos, mais fortes aqui no “farpas”, e dando oportunidade a que alguns entendessem o ato como o derrube simbólico do anterior poder.
Simultaneamente e estranhamente, o executivo camarário mostrava-se silencioso e inerte quanto aos pinos de pedra afiada da ponte Dª Maria e quanto aos pinos metálicos do Largo do Cardal, apesar de ter sido por nós alertado no “farpas” sobre perigo para a integridade física e até para a vida dos cidadãos-peões e para a possível responsabilização civil e criminal dos autarcas.
Volvido muito tempo e depois de vários acidentes e pedidos de indemnização das respetivas vítimas, o executivo camarário decidiu finalmente mandar remover a maior parte dos pinos metálicos do Largo do Cardal e, recentemente, os pinos de pedra afiada da Ponte Dª Maria.
Da remoção dos pinos não podemos lamentar o dinheiro destruído, porque a destruição ocorreu aquando da execução da obra e não aquando da remoção do perigo. Mas temos de lamentar que o executivo camarário tivesse necessitado das “provas” dos feridos para agir e não tivesse visto atempadamente àquilo que estava à vista de todos desde o projeto e desde o princípio e de que nós havíamos alertado.

Porque censurei a colocação dos pinos pelos motivos suprarreferidos, deixo aqui um conselho: doravante os membros do executivo camarário poderão ler os nossos úteis “pareceres” aqui publicados e seguir as nossas indicações, sem os custos de qualquer avença…

26 de novembro de 2015

Muito bem





A correcção da rotunda junto ao Caravela está em marcha. Como foram rápidos a reagir e a correcção não envolve grandes custos o Farpas não a contabilizará na rubrica Faz & Desfaz. 
O Farpas é amigo.

25 de novembro de 2015

Que dia é hoje, hã?

"Tu vais conversando, conversando,
 que ao menos agora pode-se falar... ou já não se pode? Ou já começaste a fazer a tua revisãozinha constitucional tamanho familiar, hã? 
Estás desiludido com as promessas de Abril, né? As conquistas de Abril! Eram só paleio a partir do momento que tas começaram a tirar e tu ficaste quietinho, né filho? E tu fizeste como a avestruz, enfiaste a cabeça na areia: não é nada comigo, não é nada comigo, né? E os da frente que se lixem... 
E é por isso que a tua solução é não ver, é não ouvir, é não querer ver, é não querer entender nada, precisas de paz de consciência, não andas aqui a brincar, né filho? Precisas de ter razão, precisas de atirar as culpas para cima de alguém e atiras as culpas para os da frente, para os do 25 de Abril, para os do 28 de Setembro, para os do 11 de Março, para os do 25 de Novembro, para os do... que dia é hoje, hã?"

in FMI, José Mário Branco

Duas constatações importantes: 
1. Em Pombal não se brinca em serviço: de pequenino se aprende o que é um combatente, um herói do Ultramar (explicaram isso aos meninos, não explicaram?)
2. Ainda há cravos vermelhos. São exageradas as notícias sobre a sua morte.


20 de novembro de 2015

Homens bons e Homens maus

Pombal é uma terra de gente boa - boa até demais – constituída por Homens “bons”, meia dúzia de desalinhados - Homens “maus” – e uma grande franja de adormecidos.
Mas será que o Homem “bom” faz, em média, mais bem do que o Homem “mau”? É uma questão que vários filósofos colocaram, e que convém abordar numa terra de gente cada vez mais obediente ao poder e mais temente a Deus. Russel, um Lord de quinta geração, procurou responder a esta dúvida, caracterizando primeiro o Homem “bom” e o Homem “mau”, e, depois, os seus contributos para o bem comum. Segundo ele, “o Homem “bom” não fuma nem bebe, evita linguagem de baixo calão, conversa na presença de homens exactamente o que falaria se houvesse mulheres presentes, vai à igreja com regularidade e tem opiniões correctas sobre todos os assuntos. Tem verdadeiro horror ao mau procedimento e está ciente que é nosso doloroso dever punir o Pecado. Tem horror ainda maior aos pensamentos errados e considera ser responsabilidade das autoridades proteger os jovens contra os que questionam a sabedoria das opiniões aceites, de modo geral, pelos cidadãos de meia-idade bem-sucedidos. Além dos deveres profissionais, aos quais é assíduo, ele dedica muito tempo a trabalhos que visam o bem. Acima de tudo, é claro, a sua “moral”, em sentido limitado, deve ser irrepreensível”. Em síntese: “um Homem “Bom” é aquele cujas opiniões e actividades são agradáveis aos que detêm o poder” e o Homem “mau” é o oposto da descrição anterior.
Para Russel, uma das principais utilidades de ter Homens “bons” nos cargos políticos “é fornecer uma cortina de fumaça para que os outros possam dar continuidade às suas actividades de modo insuspeito” porque a moral estabelecida dita que “um Homem “bom” nunca será suspeito de usar a sua “bondade” para esconder vilões”. Só que, um dos principais problemas é que “os padrões de “bondade” reconhecidos em geral pela opinião pública não são aqueles calculados para fazer o mundo um lugar melhor”. E Pombal não o é seguramente.

19 de novembro de 2015

Arrumador de automóveis

Quase todos os dias, o arrumador de automóveis está presente no parque provisório de estacionamento da avenida do Continente que foi preparado pela Câmara Municipal para a época do último Bodo. Muito zeloso e exigente e pouco polido, o arrumador lá vai ditando as suas regras aos automobilistas, tentando impor a sua ordem no estacionamento de viaturas e discutindo com os “infratores”. Às indicações ou à rudeza do pobre arrumador, respondem alguns automobilistas com agressividade ou estacionando nos acessos, talvez para o contrariarem e para lhe mostrarem que ele não tem autoridade ou com o receio de que se não derem gorjeta sofrerão represálias…
Também não gosto de ver arrumadores a imporem ordem no estacionamento, pois normalmente pretendem uma gratificação de quem não lhes solicitou serviço e, muitas vezes, de quem já está a pagar taxa de estacionamento e danificam as viaturas de quem não paga, o que não é o caso daquele arrumador. Nesta caso, nada justifica prejudicar o estacionamento dos outros cidadãos ou agredir ou ameaçar um miserável arrumador, sobretudo por quem se pretende superior a ele…

18 de novembro de 2015

Faz & Desfaz (III)

A CMP tem dinheiro em excesso e não sabe onde o gastar.

Vai daí, Faz & Desfaz & Faz. E assim, contribui, à sua maneira, para reanimar a economia.

Foto da PombalTV

Obras no Barco

As obras no Barco são como as obras de Santa Engrácia, começaram mas não se sabe como e quando acabam. Pelo meio, incomodam muita gente, e, no final, não é certo resolvam mais problemas do que acrescentam. O desenho das vias, das rotundas e dos acessos são de utilidade muito duvidosa. Não se compreende o exagerado estreitamento das faixas de rodagem (não é por falta de terreno livre) nem a geometria das rotundas e acessos. Reduzem a fluidez do trânsito e aumentam os riscos de acidentes. Pude confirmá-lo, ontem, quando me cruzava com um autocarro de passageiros na rotunda junto ao Caravela. Não colidimos porque (praticamente) parei. O autocarro, quando fazia a curva para sair da rotunda e entrar na via no sentido de Ansião, invadiu a minha faixa de rodagem. Mas desconfio que não tinha grande alternativa.
Corrijam enquanto é tempo.

16 de novembro de 2015

"É como se estivesse no Outeiro e um kamikaze tivesse ativado o cinto no Louriçal"

foto: Reuters

Pela primeira vez nas nossas vidas, conhecemos pessoas que podiam ter morrido num atentado e que, felizmente, sobreviveram. Pela primeira vez nas nossas vidas, conhecemos pessoas que perderam familiares, amigos mais ou menos próximos, num atentado. Pela primeira vez na minha vida, um atentado com kamikazes aconteceu aqui, à porta de casa, a minutos de onde vos escrevo, como se estivesse no Outeiro do Louriçal e um kamikaze tivesse ativado o seu cinto no Louriçal.
Pela segunda vez nas nossas vidas, passámos duas noites difíceis, perturbadas pelas horas passadas a ver em direto os canais de informação e a ler atentivamente o que as pessoas descreviam no Twitter: relatos de mortos, de feridos estendidos no chão, e rumores, vagas contínuas de pânico um pouco por toda a capital.
As primeiras intervenções do Presidente francês não me convenceram, a primeira decisão do PrimeiroMinistro aniquilou-me : hoje, segunda-feira, sabemos que as forças armadas francesas já bombardearam a cidade de Raqqa, na Síria. Outros sinais não auguram também nada de bom: houve desacatos durante uma manifestação anti-migrantes em Pontivy e um movimento de pânico na Praça da República provocado pelo lançamento de petardos. Isto adicionado a algumas teorias da conspiração e/ou informações que saíram e reforçam cada vez mais o que o governo francês tinha iniciado com as suas primeiras tomadas de posição: a divisão.
Se é verdade que, na última sexta-feira, muitos parisienses abriram as suas portas, ajudaram e esconderam as vítimas e reuniram-se na Praça da República, antevê-se o mesmo cenário do início do ano 2015: cada um vai olhar por si e pelos seus, fazer como se nada tivesse ocorrido, fazer pela sua comunidade, pela sua etnia, pela sua religião, pelo seu meio social. Os mesmos jornalistas e políticos polémicos vão inundar as televisões, brincar com o fogo, tentar criar o que os terroristas sempre sonharam: uma guerra civil.
Mas também não somos ingénuos. Sabemos que o fim dos bombardeamentos na Síria não iria tornar as nossas vidas mais seguras, mais pacatas, mas apenas dar «uma razão/um argumento» a menos aos terroristas para nos atacar pois sabemos que é quase impossível desradicalizar quem se radicalizou como é muito complicado tornar menos racista quem já o é.
Não temos, por enquanto, medo de morrer. Mas talvez, sim, medo de ter medo de morrer. Por uma razão injusta, por uma guerra que não apoiamos, uma das muitas guerras que a França trava e travou sem consultar o seu povo previamente. Uma das guerras que faz ironicamente também «viver» o país a nível económico (a França bateu o seu recorde de vendas de armas em junho de 2015) e ocupar um lugar de destaque no cenário mundial (ver a importância do Canal de Suez e do transporte/comércio de petróleo na região.

Mickael Oliveira, Lusodescendente, filho de emigrantes do Outeiro do Louriçal. Mora em Saint Denis, perto do local onde três kamikazes se fizeram explodir.

13 de novembro de 2015

Rezemos pelo padre João Paulo

Eucaristia em honra de São Martinho, presidida pelo pároco da cidade, na Igreja do Cardal. "Rezemos hoje pelo nosso País, pelos nossos políticos e pelo nosso Município", pediu o padre João Paulo.
                                                                                                                           Município de Pombal

12 de novembro de 2015

Medalhas, sintoma de esgotamento

Há muito tempo que a condecoração de personalidades e entidades pelo executivo da CMP, no dia do município, se transformou numa rotina sem grandeza nem brio, que em nada engrandece os distinguidos.
Quando avalias, avalias-te. O lote de distinguidos deste ano confirma o esgotamento do executivo municipal: é incapaz de distinguir alguém. Convenhamos: é difícil encontrar distinção numa vida social dormente, que o poder local moldou à sua maneira. 

Distinguir, repetidamente, personalidades e entidades vulgares e acrescentar à lista funcionários da câmara é de uma confrangedora vulgaridade.

E o po(l)vo, pá?


Esta imagem vale por mil palavras. As comemorações do Dia do Município - que deveriam chamar-se comemorações da paróquia de Pombal/festas de São Martinho - trouxeram ao Teatro-Cine um concerto de Rita Guerra, na véspera de feriado. O concerto era de borla, bastando para isso reservar o bilhete, como sucede, amiúde, nesta terra-amiga. Ora acontece que, horas depois de disponibilizadas as reservas, quem ligou para a linha indicada percebeu que o concerto estava esgotado. Comunicação eficaz? Divulgação massiva? Agora o leitor que retire daqui as suas "inalações" - como dizia um político da região, noutro tempo. 
O polvo que se instalou em Pombal nas últimas décadas conseguiu esta proeza: na Câmara trabalham os tios, os primos, os amigos dos amigos, que encheram (rapidamente) a sala. Na verdade, a avaliar pelas imagens prontamente divulgadas, tratou-se de uma festa privada paga pelo erário público. Ou como canta Rita Guerra: "pormenores sem a mínima importância"...

8 de novembro de 2015

O general no seu labirinto


A revista "Domingo" - que acompanha o inimitável Correio da Manhã - publica na sua edição desta semana um depoimento de Narciso Mota, na secção "a minha guerra". O ex-presidente da Câmara e actual Presidente da Assembleia Municipal de Pombal deixa um testemunho doído sobre o estado da democracia e do país: "lamento que 40 anos depois da Revolução os valores da democracia não sejam aqueles por que lutámos. os partidos políticos imprescindíveis num Estado de Direito Democrático precisam de estadistas competentes e honestos que saibam governar o país sem consentimento da corrupção. Os portugueses devem repudiar e penalizar os compadrios políticos e a gestão danosa com enriquecimento ilícito, as injustiças sociais, a corrupção que enriquece alguns em prejuízo de um todo nacional". 
Lido assim, ninguém diria que teve responsabilidades nos últimos 20 anos, nomeadamente dentro de um partido político.

7 de novembro de 2015

Mercado municipal renovado

O dia 11/11, dia do município, está a chegar para mais umas festas, medalhas e inaugurações. A renovação do mercado municipal está quase concluída para a inauguração prevista e para o funcionamento com novas regras.
Vai terminar o acordo tácito que dura desde há alguns anos entre a ASAE é o Município de Pombal para aquela entidade não fazer fiscalizações no mercado, para não ter de o encerrar. A partir do dia 11/11 próximo, a ASAE poderá aparecer e fiscalizar a qualidade dos produtos alimentares, as licenças, a regularidade fiscal dos vendedores e as condições do local.

Alguns vendedores pretendem desistir da sua atividade, para não terem de cumprir regras. Até agora, ninguém fiscalizou o que comprámos no mercado para comer… 

4 de novembro de 2015

O Ilídio em estilo radical

O Farpas lá vai fazendo “escola”. O presidente Ilídio, de tanto nos ler, já revela um radicalismo inimaginável há uns tempos atrás. 
                    
Utilizo a IC2, todos os dias, ao longo de vinte anos,e ainda não vi crime nenhum. Mas fala quem sabe!
Força presidente Ilídio. Assim, talvez consiga retirar Vermoil do marasmo. Mas cuidado: o S. Pedro contabiliza estes deslizes de linguagem, e, no momento do juízo final, relembra-os. É melhor passar pelo confessionário.

Volte engenheiro. Está perdoado!

Falhada que foi a nossa tentativa de eleger o engenheiro a Presidente, como muitos se recordam, através do M.A.M., está na altura de lançarmos uma petição pelo regresso daquele que, mesmo na sombra, continua a ser o nosso comentador de estimação.
Rodrigues Marques foi acometido de uma súbita timidez, que o impede de publicar, em modo público, na caixa de comentários, as mensagens que tem enviado, todos os dias, a várias horas, para as caixas de e-mail d'os da casa. Sem insultar nem destratar ninguém. É bem verdade que o tempo tudo traz... E tudo leva. Agora que está liberto de todas as responsabilidades político-partidárias e afins que tantos dissabores lhe causaram, o engenheiro terá todo o tempo do mundo para se dedicar à troca de ideias.
Sinta-se em casa, camarada Marques!

31 de outubro de 2015

Subsídios, da sedução à dominação

A subsidiação de todo o tipo de actividades e eventos, sem critério e sem regras claras, começou por ser uma estratégia de sedução bem urdida e melhor implementada, dos executivos do PSD na CMP, com recurso a muito dinheiro público (nosso) e com a cumplicidade activa da oposição.
Com o tempo, a estratégia de sedução tornou-se praticamente consensual (se exceptuarmos o Farpas) e evoluiu naturalmente para uma estratégia de dominação com a adesão dos dominados (associativismo, oposições, instituições públicas e pessoas em geral) aos valores e interesses do poder hegemónico, através de um acordo (tácito) em torno dos valores considerados verdadeiros por todos, de modo que a relação de dominação não fosse percebida como tal. Puro engano e grande armadilha. Desta forma, instalou-se em Pombal um estado de menoridade, por meio da preguiça de pensar e da covardia de agir, que goza de uma tal amabilidade que vai ser difícil desvencilharmo-nos dele.

O associativismo que desenvolve actividades de interesse público (culturais, desportivas, recreativas e outras) deve ser subsidiado, mas sem condicionamento das actividades e sem aproveitamento político. O que se conseguiria se poder político se limitasse a definir o montante da rubrica para subsídios e, eventualmente, o montante para cada actividade, delegando a responsabilidade pela avaliação do mérito de cada pedido a um órgão independente emanado das entidades a subsidiar.

29 de outubro de 2015

Subsidiodependência (III)

A União de Freguesias da Guia, Ilha e Mata Mourisca solicitou à câmara apoio para “as despesas com a manutenção das  viaturas”.
A câmara deliberou, por unanimidade, atribuir-lhe um subsídio de € 2.000,00 (dois mil euros).
Agregaram-se freguesias para aumentar a massa critica e, desta forma, aumentar a sua autonomia e o resultado é este: o maior agrupamento de freguesias do concelho não tem capacidade assumir as despesas com a manutenção das viaturas.

Ao que nós chegámos! 

28 de outubro de 2015

Perguntas indiscretas

1.  Foi a SFV que pediu um subsídio para pagar as refeições da festa de aniversário ou foi a câmara que, por sua iniciativa, ofereceu a prebenda?
2. As outras Filarmónicas do concelho terão, também, direito a um subsídio para pagamento das refeições da festa de aniversário?
3. E as outras associações, culturais ou recreativas, terão, também, direito a um subsídio para pagamento das refeições da festa de aniversário? 

27 de outubro de 2015

Subsidiodependência (II)

A Sociedade Filarmónica Vermoilense, a Associação Filarmónica Artística Pombalense, a Sociedade Cultural, Desportiva, Recreativa Filarmónica Ilhense, a Filarmónica da Guia e a Sociedade Filarmónica Louriçalense solicitaram à câmara apoio para “as despesas com a participação de elementos num curso”.
A câmara deliberou, por unanimidade, atribuir a cada uma um subsídio de € 1.080,00 (mil e oitenta euros), para o efeito, a que corresponde a inscrição de 12 elementos.
Estas associações recebem regularmente – e justificadamente – subsídios para todo o tipo de despesas de funcionamento: instrumentos, indumentária, viagens, espectáculos, formação,…

Mas um subsídio para as refeições da festa de aniversário é demais, num concelho e num país com ¼ da população em estado ou risco de pobreza.

26 de outubro de 2015

Subsidiodependência (I)

O presidente da CMP submeteu a despacho do executivo, dia 12 de Setembro, um requerimento urgente da “Sociedade Filarmónica Vermoilense em que é solicitada a cedência do autocarro, do Teatro Cine e de refeições para a realização do seu aniversário, no montante de € 2.496,50 (dois mil quatrocentos e noventa e seis euros e cinquenta cêntimos)”.
O requerimento foi aprovado por unanimidade.

PS: O Farpas não obrigará a tamanha celeridade de procedimentos, mas em tempo oportuno solicitará um subsídio para comemorar o seu 8.º aniversário.

Nota Imprensa (II)

Este exemplar de Nota de Imprensa evidencia com clareza os propósitos, as técnicas e a desfaçatez a que pode chegar o ridículo no "dourar da pílula" e no ocultar a realidade. 
Dá-se a não-notícia para abafar a notícia.

Nota de imprensa (I)

Este exemplar de Nota de Imprensa da CMP já evidencia o toque da nova assessora de imprensa: na disposição e pose dos figurantes, na indumentária e nos penteados.
No resto…

22 de outubro de 2015

A rotação encalhou

Desde o início, o príncipe quis dar sinais que contrariassem a sua natureza, as suas fraquezas (políticas). Começou – e bem - pela mais significativa: o estilo autoritário no exercício do poder. Vai daí, institui a rotação do vice-presidente para dar a imagem de um estilo democrático no exercício do poder. A medida era, como todos repararam, simbólica; mas estava, à-cabeça, esvaziada de simbolismo. Apesar de tudo, os ministros foram aceitando representar o papel, até que o mais novato deles (e o mais cauteloso) recusou a “promoção”, para não cair na “armadilha”.
Avança o seguinte. Ressuscitará do sono profundo ou apagar-se-à definitivamente? 

15 de outubro de 2015

O seu a seu dono


A propósito do dia mundial da música, que se comemorou a 1 de Outubro, a nossa autarquia dedica a sua programação cultural deste mês "inteiramente a esta forma de expressão cultural". É bem. Mas alguém consegue adivinhar qual o evento que os senhores da câmara decidiram destacar? As oficinas musicadas para famílias, com o sempre disponível Luís Martins e Vasco Faleiro? O concerto de aniversário da Filarmónica Artística Pombalense? Não. O que os senhores da câmara decidiram destacar - num programa, como dizem, inteiramente dedicado à música - foi a cerimónia do dia 7, em que foi assinado o Auto de Cedência do Castelo e da Torre do Relógio Velho ao Município de Pombal. Não sei quem foi o artista, mas que nos estão a dar música, isso estão!

Quem também não fica a saber quem são os artistas em muitos eventos promovidos pela autarquia é a maioria dos pombalenses. Aconteceu isso nas "Montras Poéticas", e volta a acontecer agora com o espectáculo "Taleguinho", inserido no cartaz cultural deste mês de Outubro. Das duas uma: ou é manifesta incompetência ou é um aproveitamento despudorado do trabalho dos artistas.

É precisamente esse o espectáculo que quero destacar na programação proposta pela câmara. Da autoria de Luís Pedro Madeira e Catarina Moura, "Taleguinho" apresenta-se como um projecto musical para miúdos e graúdos onde, através de histórias, músicas e lenga-lengas, somos convidados a embarcar numa viagem pelo cancioneiro tradicional português e galego, num ambiente único e de grande proximidade. A não perder, no dia 24 de Outubro, sábado, pelas 15 horas, no Auditório da Biblioteca Municipal.

O Conquistador

Um órgão de informação local titulava: “Pombal “reconquista” castelo ao Estado Português”. É uma boa ou má “conquista”? É questionável que o interesse da câmara no castelo vá ao ponto de o possuir. Se é para o utilizar, faz mal - um castelo é, por natureza, uma ruína, e o interesse e a beleza das ruínas é o não servirem para nada. Se é para não o utilizarem, não se justifica tê-lo.
O movimento tem, essencialmente, a dimensão simbólica: reforça a marca-de-água de um estilo aristocrata, monárquico e conservador, que olha com redobrado interesse para tudo o que é passado e com muito desdém para tudo o que é futuro e o que isso significa - diversidade, criatividade, ruptura.

Quem passa muito tempo a olhar para trás, não tem tempo, nem sabe, olhar para a frente. É preciso olhar para o passado, mas o futuro constrói-se rompendo com o passado. 

14 de outubro de 2015

Entre o concelho-charneira e o sucesso escolar 100%, fica a Conde Castelo Melhor

                                           Foto: Diário de Leiria
Há uma linha que separa o concelho-charneira (da era Narciso Mota) deste, em que vivemos agora, do sucesso escolar 100%, do Portugal 2020, adoptado por Diogo Mateus.
No resto do concelho a linha é ténue, na cidade está vincada. A não ser os pais da escola do Seixo, na Guia -  que acabaram por ganhar a batalha de manter aberta a escola da aldeia, em detrimento da mudança dos meninos para encher o centro escolar da Mata Mourisca - ninguém parece importar-se com os edifícios sobredimensionados para a capacidade, nem questionar os milhões gastos, fora da sede do concelho, onde faltam alunos e sobra espaço. 
Vivemos uma espécie de mundo ao contrário, em que, na cidade, as crianças se acotovelam para almoçar, por turnos, na escola Conde Castelo Melhor, e por outro lado podem brincar às escondidas nas salas vazias dos centros novos, por essas aldeias fora. Há dias, quando veio cá o ministro em tempo de campanha, o Jornal de Leiria noticiava que faltam 700 para preencher a capacidade dos centros escolares de Pombal. Nesse desenho da carta educativa do concelho, faltava há muito à cidade - onde se concentra o maior número de alunos - aquilo que sobra nas freguesias à volta: um centro escolar. E então a Câmara anunciou-o, apresentou-o publicamente. Decorridos vários meses, não há notícia de abertura de concurso para a sua construção. Entretanto, Câmara, Junta de Freguesia e Agrupamento de Escolas de Pombal, num momento raro de entendimento conjunto, trataram de antecipar a mudança, esvaziando a velhinha EB1 de Pombal e o Jardim de Infância. Os alunos do 1º e 2º anos foram transferidos para a Escola Conde Castelo Melhor (CCM), um edifício desadequado, que um agente educativo comparava há dias a "um reformatório do século XIX", e que a Câmara acaba de adquirir, por mais de 700 mil euros. Dinheiro é coisa que não falta ao município. Os meninos do pré-escolar foram instalados na sede da Filarmónica Artística Pombalense, e os alunos do 4º ano foram transferidos para a Escola Marquês de Pombal. Ao contrário do que era suposto, ali as coisas até correram bem. O mesmo não se pode dizer da CCM. É verdade que a autarquia fez tudo para lavar a cara ao edifício, mas os milagres só acontecem em Fátima e não é por sermos muito devotos que os problemas terrenos desaparecem. "A escola está perfeita, toda pintada de novo, com as paredes muito bonitas, mas faltam meios humanos cá dentro", disse uma mãe de duas crianças, na semana passada, quando tratava de as transferir para a única alternativa privada, ao nível do ensino básico. Por mim, continuo a preferir a escola pública. Mas se a defendemos a qualquer preço, também lhe devemos exigir aquilo a que os nossos filhos têm direito.
Ora acontece que o espaço é pouco para tanta criança. Estão lotadas todas as salas, para lá das de aula, são utilizados todos os cantos para albergar ali perto de 200 crianças. Um mês depois do início das aulas, já se percebeu a dimensão do problema, por mais provisório que nos seja vendido: pouco espaço, muitos alunos, falta de vigilância, que resulta num aumento de tensões no recreio, de violência entre as crianças, sobretudo à hora de almoço. Quando esta semana se sentaram, à mesma mesa, pais, professores, auxiliares, junta de freguesia e direcção do agrupamento (provisória, há três anos), faltava lá o Município. A Junta garante que vai contratar mais uma auxiliar (são cinco, actualmente, para dar conta de todo este recado) e que já oficiou à Câmara para alargar o telheiro, que as deveria albergar em dias de chuva. Cá ficamos à espera.
A propósito desta mudança, a única (e sensata) intervenção pública a que assisti foi a de Ana Cabral, educadora de formação - e vocação - na última reunião da assembleia de freguesia de Pombal, quando saiu da mesa (a que estava a presidir, em substituição de Pedro Pimpão) para questionar isto tudo.
A moral da história fica ao critério de cada um. Afinal, o dinheiro não é tudo. Muito menos na escola da cidade, em que os números falam: 23% dos alunos vêm da comunidade cigana (que também deveria estar representada à mesa da discussão). No conjunto dos 250 alunos da EB1 (entre CCM e MP), há 147 que almoçam todos os dias na escola. Desses, 74 tem escalão A, 40 tem escalão B, e apenas 33 pagam o almoço por inteiro. Está traçado o nosso retrato sócio-demográfico. 
Em suma, terá razão o funcionário municipal que há dias concluía, com propriedade: "se a mudança do Centro de Saúde foi feita poucos dias antes das obras começarem, porque é que não fizeram o mesmo na EB1?". É uma boa pergunta, que merece uma rápida resposta. Enquanto mãe, o que sei é que lá, na escola velha, os meninos eram mais felizes. Mas isso agora não interessa nada.

13 de outubro de 2015

Governo à esquerda

A putativa aliança PS/BE/PCP não foi estabelecida antes das eleições nem apresentada aos eleitores para debate na campanha eleitoral e para sufrágio nas urnas. Antes pelo contrário, o PS pediu o voto útil para uma maioria e o BE e o PCP fizeram ataque ao PS, PSD e PP.
Reunidos os partidos, depois de contados os votos, o PS de António Costa passou a transmitir publicamente a notícia de desentendimentos com o PSD e PP e de compatibilidades com BE e o PCP, ou seja, a vontade e a possibilidade de formar governo à esquerda.
Sendo certo que o BE e o PCP e, parcialmente, o PS defendem a manutenção de todas as “pensões a pagamento” (incluindo as reformas precoces e douradas), a rigidez do vínculo laboral, a distribuição de subsídios e a saída da moeda euro, da União Europeia e da Nato, talvez a pretendida solução de governo à esquerda seja a oportunidade dos cidadãos não fidelizados a partidos poderem comprovar a fraude que representam os programas eleitorais do BE e do PCP. É que sem produção de riqueza e receitas de financiamento não há pagamentos e sem incentivos ao investimento e à manutenção da atividade empresarial não há produção de riqueza para distribuição. Que governem para desfazerem mitos, mesmo que isso traga a ruina das finanças e sofrimento no futuro, pois a maioria é de esquerda.
É estranho que o PS, o BE e o PCP sejam agora os partidos retrógrados, os que defendem privilégios das suas elites ou “nomenklaturas”, nas suas “datchas”, com a justificação de serem “direitos adquiridos” e representarem o “princípio da proteção da confiança” (como as ditas pensões precoces e douradas), sempre a cargo de quem produz e paga cada vez impostos, como se existissem deveres adquiridos a cargo do “povo”.
António Costa parece um político sem prática democrática, tipo Hugo Chaves, que altera permanentemente as regras conforme as suas conveniências, para desesperadamente poder aceder ao poder ou para nele se manter. Lembramo-nos dos seus golpes sucessivos para chegar ao poder ou da forma obscura como o exerceu, tal como quando “queimava” António Seguro em lume brando, apresentando-se como alternativa e reserva moral do PS mas não se candidatando ao cargo de secretário-geral com a justificação de que o exercício do cargo era incompatível com o de presidente da Câmara Municipal de Lisboa, para depois das eleições europeias desferir o ataque final e continuar presidente da Câmara, como quando conduziu o concurso ruinoso SIRESP, como quando influenciou o poder judicial no caso Paulo Pedroso, como quando participou nas influencias BES, etc, etc.
António Costa parece representar a necessidade urgente do PS de aceder ao poder para poder obter financiamentos para o seu partido endividado e para saciar o apetite voraz de uma parte dos seus antigos e atuais dirigentes habituados a práticas obscuras, como nos casos Emaudio, Fax de Macau, etc.

Talvez seja a oportunidade do parasita BE poder comer por dentro o hospedeiro PS, como na Grécia.

Paragem do Pombus?





Há erro nas fotografias ou na marcação da paragem? Ou há qualquer coisa a mais ou a menos? Ou não é uma paragem? Não sei. Alguém que ajude a explicar…

7 de outubro de 2015

A visibilidade e a falta dela

A visibilidade é um dos critérios mais valorizados na política à portuguesa. Um político que tenha visibilidade é (obviamente) mais conhecido e, se conseguir gerir bem as suas intervenções públicas, atinge rapidamente o estatuto de vedeta, muito apreciado pelo nosso povo. Pedro Pimpão já percebeu isso há imenso tempo, o BE foi agora bafejado pelo fenómeno Mariana Mortágua e o Marinho e Pinto só não foi eleito porque abandalhou completamente.

Quem parece andar a dormir na forma é o PS em Pombal. Sem uma presença regular na comunicação social, sem uma página web institucional  e com um "timeline" no facebook que deixa muito a desejar, não admira que a sua visibilidade seja praticamente nula. Daí que não me tenha espantado nada quando fiquei a saber (por um comentário que ouvi recentemente em Pombal) que a figura socialista mais mediática no nosso concelho é, muito por culpa do Farpas, o António Roque.

Será que não há, entre os socialistas, ninguém capaz ocupar o espaço público mediático? Alguém que consiga, com inteligência e tenacidade, dar visibilidade à sua intervenção política?

5 de outubro de 2015

No Good News, Bad News

Errei: a maioria do executivo na CMP não aprovou a devolução de 5% do IRS, aprovou sim a sua retenção para reforçar as receitas.

Uma câmara rica – com muitos milhões de Euros em depósitos – que não sabe onde gastar o dinheiro e desperdiça uma boa parte em obras de fachada, evidencia, assim, uma profunda insensibilidade perante as dificuldades das famílias.

Eleições e a arte de formar Governo

Os resultados das eleições de ontem permitem-nos prever o futuro político próximo de instabilidades governativa e partidárias.
O PS vai desempenhar o papel de fiel da balança: para o lado que se posicionar faz maioria parlamentar. Porém, não pode aliar-se ao BE e ao PCP para chumbar um governo da coligação PSD/PP e formar governo alternativo porque o BE e o PCP querem Portugal fora da moeda euro e até da comunidade europeia. Em caso de aliança com o BE e PCP, estes dois partidos iriam ganhar força, enquanto o PS iria perder apoio social.
Também não pode aliar-se à coligação PSD/PP, porque a combateu como alternativa e avisou até que iria chumbar o orçamento que ainda não existe ou que ainda não é conhecido e porque terá de estar na oposição para recuperar apoio social e se constituir como alternativa de governo.
Resta então ao PS viabilizar o governo e o orçamento da coligação, com condições, e apresentar propostas, fazendo maioria parlamentar de esquerda, chumbar propostas da coligação e apoiar as propostas do BE e do PCP, fazendo chumbar ou aprovar leis para limitar, impedir ou impor muitos atos de governação da coligação PSD/PP. Simultaneamente, vai desgastando o governo até provocar eleições antecipadas, talvez após um pouco menos de dois anos de governação.
Ao governo da coligação PSD/PP resta negociar permanentemente com o PS e tentar governar, apesar de algumas leis contrárias que irão ser aprovadas pela oposição. Se os entraves forem muitos, se conseguir passar a mensagem de vítima e se não sofrer o efeito do desgaste, talvez procure o momento certo para forçar o chumbo da oposição e ir a eleições antecipadas.
O BE, partido da moda e dos privilegiados do regime desta democracia, poderá continuar a ganhar mais terreno ao PS, como na Grécia e em Espanha, continuando demagogicamente a exigir mais e a afirmar que se pode gastar mais e mais e a omitir como iria obter as necessárias receitas.
Internamente, o PS continuará dividido e a acreditar que não tem uma personalidade que consiga unir as diversas fações, mantendo, assim, Costa na liderança, apesar dos conflitos.

Enquanto os atores e profetas partidários vão comunicando com as massas e vão apalpando a sua sensibilidade, alguém deveria saber que sem legislação que reduza a despesa pública e que torne Portugal mais competitivo face aos outros países, que reduza a burocracia e os impostos, promovendo o investimento e a consequente criação de emprego, não haverá governo que faça milagres… Sem produção de riqueza não há distribuição de bens.

Síndrome do Estocolmo à moda de Pombal


Contados os votos, enquanto o país acorda para esta açorda em que está metido, olhemos então para o distrito de Leiria e para o concelho de Pombal.
Não admira que a galeria de fotos da PàF, na noite eleitoral de Leiria, seja dominada pelo híper-mega deputado Pedro Pimpão e todos aqueles que querem ser como ele, quando crescerem. Este é um concelho às direitas.
Porém, contudo...
A grande negociata eleitoral foi feita pelo CDS. Há quatro anos contabilizou 3.270 votos, enquanto o PSD somou, sozinho, 15.300 votos. Agora, os dois juntos convenceram (ainda assim...) 15.235 votos. É fazer as contas...
O Bloco de Esquerda - que nem sequer está organizado em Pombal, e que vê regressar à AR um grande deputado, por Leiria, que é Heitor de Sousa - consegue chegar também aqui ao lugar de terceira força política no concelho, duplicando os votos, enquanto a CDU se mantém na mesma, com os seus 500 votos, mais coisa menos coisa.
Quanto à abstenção, continuamos para bingo: somos os maiores, pois mais de metade não vota. E isso contribui para a leitura certeira que fazia, na rede, um dos milhares de pombalenses que teve de embalar a trouxa e zarpar, nos útimos quatro anos: Coligação 1 - Portugal 0.
E o PS? - perguntam vocês.
O PS local (e distrital) está mais ou menos como o nacional, para pior. Um artigo de Ana Sá Lopes, no jornal i, poucos dias antes das eleições, sintetizava muito bem aquilo de que o povo gosta, aquilo que o povo vê: "Quem vê as televisões, vê em Passos Coelho essa criatura radiosa, com as rugas disfarçadas. Quase que se poderia dizer que a coligação não se contentou com a maquilhagem: foi directa ao cirurgião plástico e tirou daqui e pôs ali. Pedro e Paulo, jovens e bonitos e amigos, são um prodígio por estes dias. António Costa está demasiadamente gordo, baralha-se com a maquilhagem e não sabe escolher os casacos."
Os números dizem que o eleitorado do PS mal mexeu, contribuindo apenas com cerca de 80 votos (a mais, em relação a 2011) para a subida dos 7.600 no todo distrital. Adelino Mendes falha a eleição para deputado. O que é pena. Conheço poucos com a sua capacidade de trabalho, e acredito que Pombal e o distrito perdem, também.
Eu bem dizia, no último post, que as sondagens não eram forjadas. Em Portugal sofremos de síndrome de Estocolmo. E só uma união da esquerda poderia contrariar este cenário a que chegámos. Mas, para isso, é preciso que o PS perceba primeiro se ainda é um partido de esquerda. 
Quando olhamos para as fotos da noite eleitoral em Leiria, custa a acreditar que o PSD/CDS tenham perdido 33.238 votos. Como questionava Rui Correia, resistente socialista das Caldas da Rainha, riem exactamente de quê?


2 de outubro de 2015

Aos que cá ficaram

Ao contrário do que dizem muitos dos que conheço, eu não acho que estas sondagens sejam forjadas. Acredito que a onda foi profissionalmente fabricada, numa campanha em que se chegou ao cúmulo de julgar as propostas do programa do PS (useiro e vezeiro em asneirar, nesta campanha) enquanto a coligação que nos (des)governou nos últimos anos passou entre os pingos da chuva. Ninguém melhor do que Pedro Marques Lopes traduziu tão bem o que nos aconteceu, desgraçamente, neste tempo eleitoral: "A coligação passou o tempo a anunciar que agora é que vai ser bom e confiou que as pessoas acreditam, mesmo sem lhes explicar qual é o plano. Escondeu o mais que pôde Passos Coelho (deve ser a primeira campanha em que não há cartazes com um candidato a primeiro-ministro) e concentrou-se no ataque ao PS. 
O Público de hoje retratou bem, num título e num texto, muito do que penso desde há quinze dias: "Coligação levada ao colo pelas sondagens mas sem onda na rua". E eu continuo a achar que as sondagens não foram forjadas. Há uma franja do país a quem a vida correu muito bem nestes últimos quatro anos, tão bem que fez engordar as estatísticas da riqueza de alguns em prol da miséria de muitos. Desses, tantos partiram. O cantar da emigração levou-me família e amigos como nunca pensei ser possível. Passados dois ou três anos, há meninos que perguntam todos os dias aos pais quando é que voltam para casa. Não voltam, mas ainda não sabem. Vejo todos os dias crescerem ao ritmo das sondagens as rugas na cara das avós, as mesmas que nunca verão os netos crescer, dizer a primeira palavra, perder o primeiro dente, ler as primeiras letras. Há colo que nunca terão pelo skype. Os que foram, revoltados com o país, com esta dolorosa separação, ainda não fizeram o luto. Acredito, por isso, que nem sequer votem. E por isso não entram nas sondagens. 
E os que ficaram? Olhemos à nossa volta: floresceram empreendedores como cogumelos. Gente bem sucedida, que usa roupas de marca e se passeia de copo de gin pelos bares, que fala das férias e das viagens, partilha imagens bonitas no facebook, e é todo um reflexo de como se viveu bem em Portugal, depois da Troika. Tudo muito tendry. A crise, essa senhora de costas muito largas, serviu na perfeição para asiatizar o trabalho e as condições em que se faz. Os gestores "cortaram as gorduras" das empresas, numa operação-limpeza que dispensou "os que eram mais caros" e conseguiu convencer as franjas de que era preciso reduzir, reduzir, reduzir. Muitos continuam ao leme das mesmas empresas, com uma folha de salário que totaliza, sozinha, o mesmo que o conjunto dos que ficaram. Dos que sobrevivem entre os 500 e os 700 euros (que luxo), em média, cujos filhos integram agora as listas da Acção Social Escolar, como nunca acontecera. 
Dos que perderam o emprego, dos muitos que conheço, conto pelos dedos de uma mão os que voltaram a conseguir um emprego por conta de outrém, e sempre para pior. Sobram-me dedos. Muitos voltaram a trabalhar em total precariedade. Mal poderão sustentar uma casa, quanto mais um sistema de segurança social. Quanto mais um país. Com o tempo, cansámo-nos todos de dar murros em pontas de faca. As manifestações de 2012 tornaram-se uma doce memória revolucionária, cada um tentou virar-se como pôde. Sobreviver. É mais uma etapa dessas que se joga na roleta das eleições, domingo próximo. A escolha é muito simples: entre os que estão bem assim e os que sonham com um país melhor, que esperam ainda viver, e não apenas sobreviver. Os que estão bem assim, continuarão a dar esmola aos pobrezinhos uma vez por ano, a vociferar contra os que recebem abono de família, contra os que não singraram na vida por incompetência nata. Ou como dizia um jovem quadro político de Pombal, aqui há dois anos, precisamente, "quem tem unhas é que toca viola". Pode ser à conta do aparelho, que a música até soa melhor. 
Olhemos à nossa volta. A operação-limpeza conseguiu afastar daqui muito desse empecilho que é gente sem trabalho, e ainda por cima a reclamar. Com tempo para pensar. Nos dois últimos anos, de acordo com o Observatório da Emigração, saíram do país pelo menos 220 mil compatriotas, maioritariamente jovens e com formação superior. "Uma debandada só tem paralelo com as décadas de 60 e 70, quando Portugal estava sob a mais longa e mesquinha ditadura da Europa. Agora, membro da União Europeia e em democracia (ou melhor, numa partidocracia minada e dominada pela predadora voragem neoliberal), o país continua a ver abalar os seus mais fortes braços e os seus melhores cérebros", citava um camarada jornalista, residente numa cidade da região centro, com a frase mais verdadeira, a resumir tudo: "Muitos dos que ficam desesperam para ganhar o pão de cada dia. E travam um combate doloroso para não perder a dignidade. O emprego, esse bem precioso, acaba de registar uma das maiores quebras dos últimos 30 meses". E por isso faz todo o sentido perguntar, ao país das sondagens:
Ainda haverá gente para votar no próximo domingo?