23 de dezembro de 2016

Boas Festas!


   São os votos d'Os da Casa para todos os que nos lêem. 
  Feliz Natal!

Adelino Malho
Adérito Araújo
Alexandra Azambuja
Paula Sofia Luz

A oeste nada de novo: história de uma (des)união

Quando nos primórdios da sua governação Narciso Mota apelava à união do "Povo de Pombal", sempre me deu tremenda vontade de rir, pois que se referia, não raras vezes, a gente de Almageira e Vermoil, Abiul e Carriço, Guia ou Meirinhas, como se houvesse algum factor de identidade que ligasse as 17 freguesias do concelho de Pombal, que não o administrativo. 
Quando assistia, um dia depois, à transmissão da reunião da Assembleia Municipal e à corajosa intervenção de António Fernandes, último presidente da Mata Mourisca, lembrei-me de uma história que ouvi desde criança, sobre aquele dia em que a população da aldeia se armou de enxadas e forquilhas para correr com um padre, ali no final dos anos 70. Há uma expressão popular lá por aquelas bandas que diz muito sobre aquele povo: "é de cruto (cocuruto) como os da Mourisca". Quer dizer que é com grandeza. Atente-se por isso na intervenção do ex-autarca - cuja posição foi sempre clara desde o início, no que respeita à agregação, de tal forma que não integrou a lista do PSD à União de Freguesias do Oeste. É em resposta a uma intervenção de João Coucelo, que por sua vez comentava a estranha moção do deputado do PCP, a propósito do tema. "Está por provar que não funcione [a agregação]. Regra geral, todas as revisões administrativas nunca foram de encontro à dita 'vontade popular'. Foram sempre coisas que vieram de cima para baixo. Se fosse por vontade popular nunca se mudava nada".
E foi aqui que Tó Fernandes lhe respondeu à maneira lá da terra. E lembrou aquilo que, naquele salão nobre, se tentava ignorar: um abaixo-assinado, lido ao início da sessão, mas pelo qual as bancadas passaram como cão por vinha vindimada.
Nessa tarde-noite de (cada vez mais) confrangedora intervenção política, há ainda a reter a comunicação de Manuel Serra, actual presidente da Junta da União de Freguesias. Lúcido, como é - deixou a nota durante a reunião: "tanto se me dá que sejamos agregados como não. Eu não serei um entrave das decisões contrárias às vontades das maiorias, mesmo não sendo essas vontades muitas vezes as mais esclarecidas, mas em democracia é assim mesmo". E foi quando o ouvi enumerar tudo aquilo que tem sido feito no Oeste que percebi melhor por que é que na Guia e na Ilha as pessoas se unem em abaixo-assinado para acabar com a agregação. É que, de União, há ali muito pouco.

22 de dezembro de 2016

Ser generoso com o-pelo-do-cão


A câmara vai oferecer um jantar de Natal aos funcionários da câmara e das empresas municipais, aos prestadores de serviços, etc.; e distribuir prendas por eles. A Junta de Freguesia de Pombal foi, ainda, mais generosa: estendeu a coisa aos familiares – uma coisa em grande, para a Família, com animação e tudo. O facebookiano Pedro Pimpão – um mouro de trabalho para a Família - partilhou connosco o gozo do evento.

Convinha que o presidente da câmara e da junta tivessem a noção que não são eles que pagam os jantares e as prendas, são os munícipes. Por isso, um pouco de moderação e decoro ficava-lhes bem; tal como ao nosso deputado.

21 de dezembro de 2016

Vai a legalidade, fiquem os votos

Ontem, o presidente da CMP levou à reunião do executivo uma proposta para atribuição de subsídio de 15.000€, à Associação Cultural Recreativa dos Poios, para a realização de obras na sede; e outra para a atribuição de um subsídio de 5.000 €, à Associação Recreativa Cultural Desportiva da Venda da Cruz, para o mesmo efeito; sabendo que as sedes das associações não estão licenciadas – estão ilegais. Mais: acrescentou que uma delas - a Associação Recreativa Cultural Desportiva da Venda da Cruz – “não está licenciada nem o será, nunca”. Pelo meio, Diogo Mateus, lamentou-se por herdar um passado onde estas coisas eram feitas fora-da-lei.
Entendamo-nos: Diogo Mateus não herdou nenhum passado: é passado, e é presente. Nesta matéria - como estes casos o demonstram - Diogo Mateus tem pior presente do que passado; porque as coisas de um tempo, não são o mesmo noutro tempo – são muito mais graves.
Já abriu há muito a caça aos votos. Mas é preciso não ter topete para, actualmente, com regulamentação muito mais apertada, derramar dinheiro sobre sedes de associações ilegais onde decorrem eventos públicos com grande concentração de pessoas.
Ao conceder os subsídios em causa (e outros idênticos), os membros do executivo poderão estar a violar a Lei 34/87; de 16/07 - Crimes de responsabilidade dos titulares de cargos políticos - e a sua versão mais recente - Lei n.º 30/2015, de 22/04. Cabem os actos na previsão do art.º 11.º - “O titular de cargo político que conscientemente conduzir ou decidir contra direito um processo em que intervenha no exercício das suas funções, com a intenção de por essa forma prejudicar ou beneficiar alguém, será punido com prisão de dois a oito anos”. – e do art.º 18–A - "O titular de cargo político que informe ou decida favoravelmente processo de licenciamento ou de autorização ou preste neste informação falsa sobre as leis ou regulamentos aplicáveis, consciente da desconformidade da sua conduta com as normas urbanísticas, é punido com pena de prisão até 3 anos ou multa”.  

19 de dezembro de 2016

Faz de conta que a pista era de gelo

                                foto: Município de Pombal
É uma gente que diz mal de tudo, esta.
O Município faz um esforço sobrenatural para agradar ao povo, investe 100 mil euros na programação de Natal (parte será na iluminação de rua?), manda vir artesãos do resto do país para o mercado, anuncia uma pista de gelo e é isto: uma decepção pegada.
A pista que calhou em sorte às crianças de Pombal deve ser do Sporting: nem sequer chegou ao Natal. Senhores da Câmara: até pode parecer que por aqui se come gato por lebre, que a ninguém se importa com a verdade e a mentira, que para quem é bacalhau basta. Mas é feio mentir, ainda mais tratando-de do público infantil, a quem - supostamente - se destinava a pista. Que não era de gelo. Posto isto, há uma em Leiria. Tem espectáculos de patinagem e só encerra a 1 de Janeiro. E consta que não cheira a cavalo.

Onde se dá conta do resto das delegações

O Príncipe ordenou que o Pança reunisse os ministros, novamente. Com todos presentes foi directo ao assunto; não sem antes pedir ao Pança que apontasse e passasse, depois, ao escrivão-mor.
Começou assim o Príncipe: - Na Marquesa Prada delego a tramitação dos transportes escolares.
- Não pode, estou ocupadíssima com a animação e os eventos culturais e a animação; não tenho tempo nenhum para essas burocracias. Dizei-me: não será melhor concentrar-me na diversão do povo; agora que precisamos tanto dele?
- Claro. É na diversão do povo que vos deveis focar. Como sabeis: o povo, para além de ser falho de memória e de entendimento, é carente de atenção e gozo; mas com duas cocegas e dois enfartamentos deixa-se enganar facilmente. Libertei-vos de mais atribuições para poderdes centrar-vos no que mais precisamos neste momento: termos o povo feliz – concluiu o Príncipe.
- Nisso concordo; mas deveis saber que o povo está cada vez mais insuportável. E os píquenos são do piorío: não gostam de nada. Às vezes enganamos-los: prometemos uma pista de gelo e damos-lhes uma de plástico. E mais: estamos a ser pobretanas nos gastos com a diversão: a animação é uma caturreira e a decoração é pindérica. Esta coisa, de ir pelo baratucho e popularucho, pode resultar uma vez, por ser novidade, mas repetido, desilude. Isto aborrece-me – disse Princesa Prada, desgostosa.
- Depois havemos de falar disso, os dois – rematou o Príncipe, e passou à frente. - No ministro Jota Guardado não delego mais nada, porque já tem carga suficiente e não está a dar conta dela. Devereis aproveitar os próximos seis meses para mostrardes o que valeis – avisou o Príncipe.
O ministro Jota Guardado engoliu em seco. E o Príncipe deu por finalizada a reunião com desejos de um Santo Natal.
Nisto ouviu-se, da ponta da mesa, a Condessa das Cavadas: - e em mim, Alteza; não delegueis nada?
- Estais já bem ocupada com o chamamento dos funcionários para os nossos ajuntamentos. Mas podereis ficar também com as faltas e férias dos assistentes dos jardins-de-infância.
- Obrigado Alteza – agradeceu a Condessa das Cavadas.
                                                                                                         Miguel Saavedra

16 de dezembro de 2016

Tal Presidente Tal Povo

Aqui ao lado, em Ourém, o presidente da câmara municipal está há anos em insolvência pessoal, com dívidas de mais de 4,6 M€. Em 2014, um empresário interpôs-lhe um processo de insolvência pessoal por uma dívida de 350 mil Euros; mas Paulo Fonseca empurrou a inevitável declaração de insolvência, recurso após recurso, até ao Tribunal Constitucional.
Pelo meio, Paulo Fonseca ganhou as eleições no estado de insolvência pessoal amplamente conhecido e exerceu o mandato. Entretanto, o Tribunal Constitucional confirmou a inevitável insolvência pessoal, o que lhe retira a idoneidade necessária para se manter no cargo e para se candidatar nas próximas eleições. Mas o malabarista Paulo Fonseca não quer ficar por aqui; prepara-se para contornar a decisão do Tribunal Constitucional através de um acordo artificial com os credores. Este caso mostra, até à saciedade, o estado de degradação e de desagregação do regime, e a falta de sentido ético mínimo da sociedade em geral e dos Oureenses em particular.
Expõe a Justiça, que permite que um tipo, sem pingo de vergonha e sem qualquer possibilidade de reverter o estado de insolvência pessoal (com o rendimento que tem e quer manter, nem que dure mil anos honra os compromissos), goze de idoneidade para exercer cargos públicos; expõe as debilidades do Sistema Democrático; e expõe o partido – PS - que o candidata e apoia esta desvergonha. Mas expõe também uma sociedade cívica e politicamente corrompida até à medula, constituída maioritariamente por pessoas sem vergonha, sem carácter e que não distinguem já o bem do mal.

Bom arranque

Decorreu ontem a eleição dos representantes dos pais no Concelho Geral do Agrupamento de Escolas de Pombal. A única lista a sufrágio foi a apresentada pela Associação de Pais de Pombal - recentemente criada.
A lista apresentada fez uma renovação total dos representantes dos pais no CG, incluiu pais que não são sócios da associação e é uma lista bastante mais representativa do universo dos pais – não é uma lista de doutores&engenheiros, nem é uma lista de pais da cidade.
Bons sinais; numa terra onde estas coisas seguem o padrão oposto.

15 de dezembro de 2016

Onde se dá conta da continuação da reunião das delegações

Terminada a rusga da PJ e tomadas as acções de contenção, o Príncipe retomou o plano no ponto onde o tinha interrompido: delegação de atribuições aos ministros. Ordenou ao Pança que os reunisse, o que este fez com o desembaraço e o gozo conhecido. Desta vez nem o ministro Videira se atrasou!
O Príncipe foi directo ao assunto (os seus múltiplos cuidados obrigam-no a poupar tempo e a libertar tempo). Ordenou:
- Pança; apontai e passai, depois, ao escrivão-mor.
- Às ordens, Alteza – anuiu o Pança, com a solicitude conhecida.
- No ministro das Obras-Tortas delego a segurança nas obras e a substituição do Príncipe na sua ausência.
- Desculpe, Alteza; são empreitadas demais para um ministro enfraquecido. Dispensai-me da representação de Sua Alteza e demais atribuições. Seria loucura tentar semelhante desígnio, neste período delicado – rogou o ministro das Obras-Tortas.
- Faze-te forte – reforçou o Príncipe. A arte da governação está reservada para os distintos ou para os que querem sê-lo. E para sê-lo, é preciso passar bons ou maus sucedimentos. Lembrai-vos que nas desgraças sempre a ventura deixa uma porta aberta para remédio.
- Agradeço as suas sábias palavras, Alteza – disse de forma sentida o ministro das Obras-Tortas. Mas concedei-me esta dúvida: que lhe aproveita a Vossa Mercê conceder-me a sua insigne representação?
- A mim pouco, ou nada, mas é uma oportunidade para exercitardes a arte de representar e reinar. Ficareis melhor habilitado para concorrerdes ao governo de Terras d`Almagra - referiu o Príncipe.
- Eu estou mais é para abandonar este, do que para ficar ou meter-me noutro – disse, pesaroso, o ministro das Obras-Tortas. Pesa-me, só, o remorso de que poderei prejudicar Vossa Excelência. Nisto que nos agora aconteceu — tornou o ministro — tenho sido muito fustigado; arrependido estou de ter trocado os artefactos pelo que julgava ser vida-boa; quisera eu ter tido este entendimento quando Vossa Excelência me convidou e tinha evitado muito desgosto.
- Deveríeis saber que a vida de ministro não é só fama e bom passadio, está sujeita a mil perigos, afrontas e desventuras, sei bem do que falo – lembrou o Príncipe.
- Pouco me importa se são desventuras ou afrontas; o que me importa são as dores delas, e a forma como ficarão impressas na memória – reforçou o ministro.
- Não há lembrança que não se gaste com o tempo, nem dor que por morte não desapareça – lembrou o Príncipe.
- Será verdade, Alteza – anuiu o ministro. Mas que desgraça pode haver maior — acrescentou - que a que só o tempo cura, e só a morte acaba? Se este nosso contratempo fosse daqueles que se curam com uma confissão e uma boa penitência…
- Ajuda; deveis consultar o Cura Vaz – aconselhou o Príncipe. Mas tereis, também, que fazer das fraquezas forças.
- Elas faltam-me Alteza. E faltam-me apoios – disse o ministro com ar entristecido.
- Dize-me o que queres que por ti faça? - Perguntou o Príncipe.
- Nada Alteza. Eu é que preciso de saber o que hei-de fazer de mim – retorquiu o ministro.
- Sois uma criatura esforçada, popular e bom cristão; mas talvez isso não chegue para dar um bom ministro – concluiu o Príncipe.
- Pois aí é que a porca torce o rabo. Cada qual é como Deus o fez, e talvez não me tenha feito para isto – anuiu, conformado, o ministro das Obras-Tortas.
- Agora sim — disse o Príncipe — agora é que bateis no ponto que confirma o meu já resolvido intento. Termina esta empreitada o melhor que puderdes – rematou o Príncipe.
- Não digo que seja impossível, mas tenho-o por dificultoso. Nas mãos de Deus me entrego – disse o ministro.
- Que Deus te acompanhe e te dê um bom destino. Pelo muito que por vós fiz, imploro-vos que me deis o vosso favor e amparo, agora que tanto deles preciso.
- Eu cá não sou desagradecido; contai com a minha devoção.
- Que o Senhor nos acompanhe – desejou o Príncipe.
Ámen - disseram todos.
                                                                                                            Miguel Saavedra

14 de dezembro de 2016

Sai mais um subsídio para a Sicoense

A CMP atribuiu, por unanimidade, um subsídio de 17.500 € à Associação Cultural e Recreativa Sicoense, de Vila Cã, destinado a comparticipar as obras de construção da sede. A este subsídio pode-se somar os atribuídos anteriormente e os que serão atribuídos no futuro; se, entretanto, nada se alterar.
O que não falta por Pombal é sedes de associações abandonadas, que só o foram enquanto tiveram como propósito único, construir a sede. Até agora, a razão de existência da Associação Sicoense tem sido a construção da sede.

Em Pombal as associações nascem e morrem como os cogumelos, com a câmara a meter lá dinheiro sem escrutinar se são boas ou más, se têm actividade ou não, se são úteis ou inúteis. Porquê? Porque o que interessa é caçar votos.

13 de dezembro de 2016

Onde se dá conta da reunião de emergência sobre a rusga da PJ

Nos últimos seis meses, o Príncipe desenvolveu, com a mestria que lhe é reconhecida, o plano de sedução dos súbditos. Até à semana passada corria tudo como previsto e melhor do que o esperado.
Nas conversas de taberna e café, corria há muito a atoarda que do plano do Príncipe para manter o poder fazia parte a utilização, no momento certo, dos esqueletos que, supostamente, o inimigo tinha deixado no armário. E toda a gente que segue estas coisas dava os escândalos como certos; até porque as ameaças já tinham seguido pelo correio, para, antecipadamente, destabilizar e condicionar o inimigo. O que o Príncipe não sonhava, era que o feitiço se virasse contra o feiticeiro - não contava, nem nos seus piores pesadelos, que a PJ lhe entrasse casa dentro, sem avisar, para vasculhar um caso bicudo do seu curto reinado.
Perante a bronca, e os seus efeitos devastadores, o Príncipe protelou a continuação da reunião de delegação de atribuições aos ministros e reuniu o núcleo cúmplice, composto pelo fiel escudeiro e a Marquesa Prada. Estavam inquietos, irritados e no conhecido modo retaliativo; mas não sabiam o que fazer, melhor dizendo, por onde começar. Apetecia-lhes fazer mal, mas tinham medo do efeito do mal feito; a cabeça pedia-lhes acção, mas o corpo estava trôpego, próprio de quem tinha acabado de levar um murro no baixo-ventre. Só estavam de acordo numa coisa, nos culpados: PJ, denunciantes e o ministro das Obras-Tortas. Mas, para além do ministro, sentiam-se impotentes para os condicionar ou fazer sofrer.
Pensaram actuar na PJ, servindo-se dos bons canais, mas desistiram da ideia porque, tendo eles deixado passar o caso para os jornais, havia pouco a fazer, por agora. O Pança defendeu que se deveria dar uma lição aos denunciantes, mas o Príncipe moderou-lhe os ímpetos, advertindo-o que não é altura para isso. A Marquesa propôs uma limpeza no ministério das Obras, e justificou-a com o veredicto de serem inúteis. O Príncipe concordou com a ideia (Marquesa e o Príncepe estão sempre em sintonia) e lembrou que já tinha encostado o Celestino e traçado o destino do ministro das Obras-Tortas.
O Príncipe informou, também, que era necessário conter o escândalo: que já tinha mandado calar o ministro das Obras-Tortas para evitar que se espalhasse com os jornalistas e agravasse a situação; e que só ele falaria publicamente sobre o caso. O Pança e a Marquesa Prada concordaram, mas evitando dizê-lo pensaram para dentro: “quem já se espalhou foi o Senhor: negou que o Gaspar dos Frangos nos tinha financiado a campanha, e ele confirmou-o”.
Apesar da delicadeza do caso, o Príncipe queria mostrar que controlava a situação. Agarrava-se a leis e a regulamentos, desfiava justificações, atenuantes e desculpas, mas havia um por maior que os inquietava muito e que ninguém quis abordar: o parecer negativo sobre os armazéns do caso, dado pelo permissivo Celestino, no mandato anterior.
Ele há cada coisa!

                                                                                                                  Miguel Saavedra

12 de dezembro de 2016

Milhão e meio

Atingimos hoje a bonita marca de 1.500.000 páginas visualizadas, com o pormenor de, por cada IP, só contar uma (por exemplo: na câmara temos muitos leitores, mas se 300 pessoas visualizarem um post, só conta uma visualização). No página do Facebook temos, em média, o dobro das visualizações do Blog.
Aos que não se cansam de anunciar a nossa morte, eis o desfecho. Continuem com esses prenúncios; dão-nos vida.
Aos que nos seguem regularmente, o reforço do compromisso inicial: “farpearemos os interesses instalados…”. Cada vez melhor: com a mesma firmeza, mas com muito mais colaboração da comunidade, que se revê neste blogue e o identifica como única janela para espreitar, livremente, o que se passa debaixo do tapete.

Obrigado a todos.

9 de dezembro de 2016

Oh, a legalidade...


É bem certo que no melhor pano cai a nódoa. Toda a gente sabe que D. Diogo é um legalista militante, pelo que nesta altura deve estar a penitenciar-se com todas as forças pelas mazelas que os súbditos lhe vão infligindo no currículo autárquico. A notícia em epígrafe é de ontem, e foi publicada no JN. Diz respeito àquele pavilhão na Água Formosa, essa bela localidade, onde a Lusiaves chegou a juntar em tempo de autárquicas os candidatos que apoia (normalmente do PSD), de Leiria e Pombal, num jantar festivo. Ali pelo Largo do Cardal e pelo bairro Agorreta haverá pranto e ranger e de dentes. 

Onde se dá conta da reunião do Príncipe com os seus ministros

O Príncipe sabe que para conquistar os súbditos tem que se aproximar deles; e para isso, tem que sair do convento de Santo António, tem que procurar o povo e misturar-se com ele – cousas onde não é muito versado. Mas, para o poder fazer, sabe (agora) que tem que se libertar dos seus muitos afazeres, das minudências em que se deixou enrolar e entreter; distanciando-se, ainda mais, de súbditos e, até, dos ministros; não se dando sequer conta do que não fazem, do que fazem mal, e - pior - do que andam a fazer. Chamou o Pança e ordenou-lhe que convocasse os ministros para uma reunião. O Pança perguntou: - Todos ou só os nossos, Alteza?
O Príncipe corrigiu logo a pergunta: - Fazes bem perguntar, Pança; mas fazes mal a pergunta! Sabes bem que são todos nossos; mas para este fim, só quero os que têm pasta atribuída.
- Percebido Alteza, - rematou o Pança.
No dia seguinte, à hora marcada, o Príncipe perguntou ao Pança se já tinham chegado todos, ao que este respondeu favoravelmente. Mal tinha o Príncipe acabado de se sentar, apareceu à porta, atrasado, o ministro Videira. Pediu desculpa pelo atraso - tinha-se descuidado no envio de uma encomenda.
O Príncipe, depois de fazer uma alocução alargada sobre o momento político e da necessidade que tinha de se libertar dos seus muitos afazeres para poder procurar a sua fortuna, e a deles (ou pelo menos de alguns deles); advertiu os ministros que esperava deles mais empenhamento, e que lhes iria delegar mais competências.
A cara dos ministros era de espanto e por todos perpassava uma interrogação: se quis concentrar tudo; porque delega, agora?
O Príncipe mandou o Pança apontar as atribuições a distribuir por cada ministro. E começou por dizer:
- Começo pelo ministro Videira, por ser o mais folgado. Delego-lhe a competência para emprestar os campos da bola.
- Não posso assumir mais atribuições, Alteza – reagiu incomodado o ministro Videira. Preciso é que Sua Alteza me liberte totalmente das que tenho.
- Libertado tendes estado, estes anos todos - retorquiu o Príncipe. Não acheis que seria melhor, que neste final de mandato, fizésseis alguma coisa, para justificardes o cargo? 
- Agora já não vale a pena, Alteza – contrapôs o ministro Videira. Falta-me tempo e querer; tais são as empresas em que estou metido.
- Empresas? Que empresas? – Interrogou o Príncipe.
- Várias, Alteza. Com a família e o negócio dos pines a crescer; e querendo tornar-me governador da junta, não tenho tempo para mais atribuições. E que lhe aproveita Vossa Mercê dar-me mais atribuições se não as exercitarei?
- Muito me surpreendeis: nunca governardes nada, como quereis ser governador? Quem te havia de dar uma junta para governardes? E logo a maior? Não vedes que há homens mais hábeis e esforçados do que tu para governador?
- Governo o meu negócio. - Refutou o ministro Videira.
- Tenho que mandar avaliar as incompatibilidades desse negócio.
- Não tem nenhuma incompatibilidade, Alteza. Não falto ao trabalho; faço-o aqui dentro, para outro público!  - contrapôs o ministro Videira.
A estupefação incomodou todos. Percebendo-o; adiantou-se o Pança para conter o imbróglio: - depois esclarecemos esses negócios…?
E o Príncipe interrompeu a reunião para almoço. Segue dentro de momentos.

                                                                                                                    Miguel Saavedra

5 de dezembro de 2016

O ex-futuro presidente

Tem sido um deleite para quem acompanha a acção política, o desenrolar dos últimos tempos em Pombal. Sempre achei que, à falta de oposição, o PSD haveria de consumir-se internamente, com os diversos actores a degladiarem-se, entre si. É o que está a acontecer, desde que Narciso Mota saltou para o terreno, abrindo aquilo a que a JSD já chamou "uma guerra fratricida". Mas a quantidade de tiros - nos pés e ao lado - que o ex-presidente da Câmara tem dado, faz-nos adivinhar um tempo ainda mais animado nas próximas eleições autárquicas. Hoje mesmo fez sair um comunicado em que diz que afinal não-votou-o que foi votado-pois que-não tinha que votar- mas que ainda é candidato- pois que não concorda com outro - e que será candidato com ou sem o PSD. A vantagem do engenheiro continua a ser a mesma de sempre: o seu fiel eleitorado não lê comunicados, pouco liga a jornais, e continua a sentir-se órfão do poder político, como se tivesse perdido o interlocutor de eleição. Mas há um limite para asneirar, e isso o ex-futuro-presidente-da-Câmara parece que ainda não percebeu, desde 2013. Foi a candidatura que acabou por não ser apresentada, foi a votação em que afinal não participou, é a falsa esperança que alimenta de ver o PSD a apoiá-lo, quando toda a gente já vislumbrou que isso não vai acontecer. 
Quando esprememos esta paródia, há no entanto figuras tristes que nunca pensámos ver outros fazer, nomeadamente aqueles que foram humilhados por D. Diogo - e que agora vão em coro, quais cavaleiros do apocalipse, bater à porta de Narciso e implorar-lhe para que não se candidate. A troco de quê?

3 de dezembro de 2016

oh, a segurança...



Foi um pai atento quem se deu ao trabalho de passar pela obra do futuro Centro Escolar de Pombal - coisa que deve estar pronto a inaugurar antes das próximas autárquicas - e observar o que por ali se passa, no decorrer das obras. Fotografou e fez chegar ao Farpas as dúvidas legítimas sobre a segurança do edifício e a forma como está a ser construído. Como aqui não somos engenheiros de obras nem temos pretensões para tal, fomos ouvir um técnico especializado. Diz que os pilares  se apresentam "de faces irregulares e com um ligeiro desaprumo; isto deve-se a uma hipotética falta de cuidado na execução da cofragem (molde de betão), que revela utilizações excessivas". Verifica-se também "uma falta de cuidado no uso do recobrimento das armaduras, ou seja, a total envolvência de armaduras (ferro) em betão que evita o contacto destas com o ambiente exterior.
Ora, este desaprumo "supõe que a estrutura em questão – pilar – não cumpra plenamente com as funções para as quais foi preconizado, que são o suporte do edifício. Aquando da sua solicitação de esforços, que pode ser a médio ou longo prazo, facilita o surgimento de fissuras no edifício".Sobram ainda armaduras “à mostra”: "o ferro dentro dos elementos entra em contacto directo com o ar, com água e outros elementos externos, podendo daí advir a carbonatação das armaduras, ou seja o enferrujar, que se dá por reacções químicas com o oxigénio e promove o dilatar da armadura e a sua destruição". Por fim, parece que - no acto da betonagem -  "não houve vibração no enchimento, ou foi insuficiente. Desta forma os inertes (areias, britas) não são distribuídos de forma homogénea, aglomerando-se  e formando chochos. Este chocho torna-se uma zona débil do betão que pode originar também a rotura".
E pronto. Escusamos de ficar descansados.

2 de dezembro de 2016

E a Segurança, Pedro

“Este executivo não sabe fazer obras” - Narciso Mota farta-se de o afirmar, e pelos vistos, com razão. A construção da rotunda no Alto do Cabaço no IC2 é o exemplo maior. Nasceu mal, progride mal e sem fim à vista. O executivo nunca deveria assumir a responsabilidade pela obra – afirmei-o aqui -; mas, já que se meteu a fazer o que não lhe era devido, que o fizesse bem.
O executivo foi alertado na AM, pelo seu chefe de bancada, para os incómodos e os problemas de segurança que a obra causaria; e o presidente da câmara comprometeu-se a tudo fazer para minimizar os transtornos e a fazer a obra no mais curto prazo possível. Não cumpriu: não fez nada para minimizar os transtornos, nem se preocupou em fazer a obra num prazo curto – 300 dias é uma exorbitância e não vai ser cumprido. Uma amiga, que viaja muito, dizia-me que “no Dubai já tinham feito cinco arranha-céus”; e “em países que classificamos de atrasados fazem-se obras como esta, mais depressa e com mais segurança”.
As condições de segurança na obra são muito deficientes, e só por mera sorte ainda não houve acidentes graves. A situação é especialmente gravosa porque, com o encurtar dos dias, as obras decorrem, em parte, de noite, sem qualquer adequação das condições de trabalho e da circulação rodoviária. O Plano de Segurança e Saúde (PSS) da Obra não está a ser correctamente implementado e não foi, com certeza, adaptado do período de Verão para o período de Inverno - falha grave.

A CMP, como Dono da Obra, tem responsabilidades acrescidas na segurança em obra; não pode permitir que as circunstâncias da execução se sobreponham à segurança na obra, mas é isso que parece estar a acontecer. Na câmara, são conhecidas as divergências entre o Coordenador de Segurança e o vereador, porque a premência na execução das obras está a comprometer a segurança das mesmas. Espera-se que a pressa em ter as obras prontas, para a data das eleições, não acarrete nenhum acidente grave. Mas era bom que o vereador e o responsável pela segurança tivessem consciência de que, em caso de acidente grave, por não implementação e adequação do PSS, serão responsabilizados criminalmente.

30 de novembro de 2016

Onde se dá conta do encontro do Príncipe com o Cura e Trovador Vaz

Ultrapassada a pendência decisiva, no n.º 2 da Rua Luís Torres, com uma vitória limpa, por unanimidade e em toda a linha (?); sem dar um único tiro, deixando as despesas da refrega para os licenciados em leis e os novos fidalgos, e limitando-se a registar alinhamentos e desalinhamentos; o Príncipe sentia-se, novamente, dominador da situação, pronto a ditar as regras e os papéis, quando recebeu o Cura e Trovador Vaz.
O Pança recebeu o convidado com a cortesia com que costuma tratar os superiores, e encaminhou-o ao trono. O Príncipe levantou-se e recebeu o representante do Senhor na terra com um cumprimento discreto. Sentaram-se.
Principiou assim o Príncipe: - Digníssimo Cura Vaz; reconhecerá, com certeza, que tenho sido generoso com a Igreja que dirige, brindando-a com avultados recursos materiais para que possais cumprir a vossa missão nesta terra: manter o rebanho junto e manso.
- Concordo Majestade; – anuiu o Cura – mas não imaginai Sua Majestade o esforço que tenho feito para manter a harmonia nesta difícil paróquia e ser fiel à secular aliança entre Estado e Igreja.
- Aí, discordamos – contrapôs o Príncipe, no seu registo altivo. E foi por isso mesmo que o mandei chamar; para lhe dar nota das falhas e do que espero de Vossa Mercê neste período crítico.
- A Igreja está sempre aberta a assumir as suas falhas; somos servos do Senhor e, também, de Sua Majestade. 
- Então dizei-me, Cura Vaz: acha que eu, que herdei um principado pacificado e obediente, posso estar satisfeito com tanta ovelha tresmalhada (algumas já regressaram), tanta intriga, tanta divisão e com rebeliões, até? - questionou o Príncipe meio exaltado.
- Compreendo a vossa revolta, – anuiu o Cura – mas compreendais, com certeza, que um pastor, por mais atencioso e apaziguador que seja, dificilmente consegue manter o rebanho junto e em harmonia, quando no principado reina uma luta fratricida.
- Mas é nestes momentos que os representantes do Senhor na terra são necessários – exclamou o Príncipe. Para os momentos de normalidade não precisamos de dotes divinos, precisamos deles é para superar as anormalidades.
- O que sei dizer é que, tal como Sua Majestade não consegue sanar as rebeliões; também a Igreja tem as suas fraquezas; e até o Nosso-Senhor-Todo-Poderoso é, às vezes, impotente perante as forças do Demónio.
- Dizeis-me, então, que não posso contar com Vossa Mercê para a minha arriscada empreitada? Perguntou o Príncipe.
- Claro que podeis, Majestade – acudiu logo o Cura e Trovador Vaz. Se as vossas aflições, angustiado Príncipe, podem esperar algum remédio das preces de um Cura, aqui estou eu, que todo me empregarei no vosso serviço. Mas conto, também, com a recompensa de Sua Majestade, para despachar as minhas trovas.
- Isso não é problema, se Vossa Mercê fizer bem a sua parte – atirou logo o Príncipe.
- Com todo o grado o faço, Majestade – anuiu o Cura. Desde que Vossa Excelência façais também a vossa outra parte. Lembrai-vos: se souberdes ter manha, podeis com as riquezas da terra granjear as do céu. Mas primeiramente há que temer a Deus, porque no temor de Deus está a chave do céu. Aconselho Vossa Excelência a passardes pela confissão, que, seguida de uma contrição sentida e de uma boa penitência, limpareis a alma e entrareis na graça de Deus – condição necessária para obterdes a confiança dos vassalos e o respeito dos súbditos.
- O meu estatuto não permite que seja confessado por um simples Cura; mas tenho recorrido ao nosso Reverendíssimo Bispo.
- Estais em boas mãos, - anuiu o Cura e Trovador Vaz. Mas talvez o nosso Reverendíssimo Bispo não conheça suficientemente Vossa Alteza. Por isso, convinha, também, que olhásseis quem sois, para vos conhecerdes bem, e descartásseis algumas baixezas que tendes à mistura com as vossas grandiosidades. Teríeis melhor vindouro se fordes um virtuoso humilde e não um fidalgo vicioso em que Vossa Excelência se tornou.
- E Vossa Mercê deveria rejeitar certas mundanices que tem a mistura com as suas muitas virtudes – atirou o Príncipe. Ou acha Vossa Mercê que a minha dinastia permite que me misture com a Trampa que abunda neste reino?
- Vossa Senhoria está de uma maneira que nem Satanás o atura! Ámen.
                                                                                                                      Miguel Saavedra

29 de novembro de 2016

A excursão a Lisboa


Foi a Câmara, foram as juntas, foram presidentes e secretários, vogais e tesoureiros, e outros apêndices.  A convite do deputado Pedro Pimpão, os representantes do poder local foram todos - ou quase... - passear até Lisboa. Aguardamos o post que Pimpão fará no facebook, ao seu estilo, elogiando os autarcas "maravilhosos" que acederam ao seu convite, incluindo a independente Ana Tenente, de Vila Cã, e Sandra Barros, eleita pelo CDS em Abiul. Ora, como todos sabemos, não há almoços grátis. Muito menos neste tempo.
Os media locais fizeram o seu papel tradicional de acompanhar estes números, e de manter o povo informado, como se pode ver aqui. Estamos em crer que se trata da primeira iniciativa sufragada no plenário do partido, sexta-feira passada. Dizem as notícias que "A Comissão Politica Concelhia de Pombal do PSD vai iniciar o processo de escolha dos seus candidatos à Câmara Municipal, à Assembleia Municipal e às Juntas de Freguesia para as eleições autárquicas do próximo ano".
Depois do repasto e do convívio, fica-nos só uma dúvida: quem é que paga isto, hã?

28 de novembro de 2016

“Nós somos, todos, muita Trampa”

Foi assim que Diogo Mateus classificou o seu executivo; quando discutiam, na última reunião, o regulamento de transportes para os utentes da USF do Oeste. A discussão atingiu os níveis degradantes que atingem todas as discussões políticas em Pombal quando há divergência significativa, independentemente dos protagonistas.
Mas, afinal, na distribuição de subsídios, estão uns para os outros, e ambos contra nós; senão vejamos:
(i) A presidente da Associação Doentes de Alzheimer foi à câmara pedir (sondar) um subsídio para a compra de um veículo, em segunda mão, para o serviço de apoio ao domicílio;
(ii) O presidente da câmara prometeu à presidente da Associação Doentes de Alzheimer um subsídio de 8.000 €; que - no seu dizer - ela achou generoso;
(iii) A oposição, pela voz do seu líder e, agora, putativo candidato à câmara, achou pouco e propôs a atribuição de mais 2.000 €, sem sequer (se ter preocupado) saber se eram necessários;
(iv) A maioria aceitou a proposta da oposição; com o desconforto evidente de ter sido ultrapassada pela direita, na bondade das benesses.
Acham que esta gente gere o seu dinheiro como gere o nosso? Então, porque lhe confia o seu/nosso? 

25 de novembro de 2016

Em 1961 nascia-se assim…

No meu país, quando eu nasci, a mortalidade infantil era 88,9, a taxa de analfabetismo era 33%, o rendimento per capita a preços constantes era 3463 €, e a maioria das estradas, fora das grandes cidades, eram de terra-batida e a maioria das habitações não tinham casa de banho.
No lugar onde nasci, a taxa de mortalidade infantil e de analfabetismo era mais do dobro da média nacional, as estradas serviam unicamente para a circulação de carros-de-bois e de local para moer o mato mais rijo, que era depois recolhido no final da primavera para amanhar as terras.
No lugar onde nasci, ninguém tinha casa de banho e pouquíssimas famílias tinham automóvel, não havia luz eléctrica (só lá chegou em 1980!), nem água canalizada (só lá chegou na década de 90!), nem telefone, nem, nem, nem...
No final do dia 25 de Novembro de 1961 chovia a cântaros no lugar onde nasci, e quando a noite já tinha pousado, uma mulher de 28 anos, grávida de nove meses, recém-casada, vivia sozinha porque o marido tinha emigrado a salto, sentiu o rebentar das águas, fez-se ao carreiro que ligava a sua casa à da mãe, para a alertar. Como não existia, por ali, nenhuma parteira afamada, a mulher tinha que ser transportada para o hospital. O pai vestiu o capote, pegou no guarda-chuva e calcorreou 2 Km, à chuva, para pedir à pessoa mais próxima com automóvel – o professor primário da terra – que lhe socorresse a filha.
O “carocha” conseguiu chegar a casa da mulher parturiente; carregou-a (e a criança que já espreitava o mundo a negro) e arrancou; mas parou após andar 500 metros, atolado na alta camada de mato moído, encharcado por forte bátega de água, e não se movia. Enquanto a mulher sofria dentro do “carocha”, o pai congeminava forma de mover o “carocha”. Voltou a casa, tirou as vacas do curral, emparelhou-as, trouxe-as para junto do carocha, coloco-as à frente dele, atou-as a ele; picou as vacas e rebocou o “carocha até à estrada de terra-batida que liga o lugar à sede do concelho e a concelhos limítrofes.
O resto da história tem pouco mais que contar: o carro chegou a Pombal e daí a maternidade, em Coimbra; a mulher sobreviveu e a criança também. A mulher já cá não está; mas está cá a tal criança, para recordar a história, e o motorista para a testemunhar.
Por que somos de onde nascemos.

Cada cavadela...

Em Leiria o PPD ufana-se na novela dos candidatos.
Agora, alegadamente como soi dizer-se, será Fernando Costa ex- Presidente das Caldas da Rainha por 7 - sete - mandatos consecutivos, a recuperar Leiria para o mapa laranja da região.
Valha-nos a arqueologia jornalística para recuperar pérolas como esta:

"No discurso ainda houve tempo para mais uma gargalhada do congresso quando Fernando Costa, após ter dito que "foi o Rui Machete que o ensinou a falar assim", rematou dizendo que "se não fosse mentiroso, também não era presidente da câmara"."

Oh, o 25 de novembro...


Ontem à noite a minha filha fez-me umas perguntas sobre a guerra do ultramar e outros quejandos, pois que hoje não-sei-quê de uma actividade qualquer em que a escola iria participar. Soube agora, pelas fotos partilhadas pelos município e seus trabalhadores, que se tratava de comemorar isto, afinal.
É assim desde 2013, desde que D. Diogo subiu ao poder na Câmara Municipal. Os saudosistas do 25 de novembro de 1975 juntam-se neste cenário, ancorados nos ex-comandos - esse exemplo maior para o nosso país.
Percebem agora porque é que os pais têm de se inteirar bem do que se passa na escola? Uma pessoa distrai-se e quando dá por ela as crianças são usadas para isto. 

Onde se dá conta das preocupações do Príncipe e dos afazeres do mundanal Vaz

O Príncipe sabe que o xadrez político está revoltoso e que a roda-viva em que tem andado nas últimas semanas não chega para inverter o sentido da peleja; que é necessário recorrer às peças da retaguarda. A precipitada ofensiva do inimigo foi bem repelida com o avanço do Lorde-mor; mas logo surgiu a surpreendente cisão no reduto eclesiástico a oeste; o que demandou o avanço do “bispo”, nesta época natalícia. Chamou o Pança e ordenou-lhe que marcasse um encontro com o Cura Vaz.
O Pança desceu as escadarias do convento e dirigiu-se à sacristia, onde encontrou o Cura e Trovador Vaz a preparar os despachos das suas novas cantorias para os fiéis. Mal o viu entre-portas, o Cura e Trovador Vaz, puxou-o:
 - Entrai, amigo Pança. Ao que vindes?
O Pança benzeu-se novamente, depressa, e disse: - muito obrigado, reverendo Vaz. Venho a mando do nosso Príncipe.
- E que incumbência trazeis – Interpelou, curioso, o Cura?
- Venho incumbido de o convidar Vossa Excelência para um encontro com nosso Príncipe, amanhã, depois da missa da manhã, se Vossa Mercê tiverdes vagatura.
O Cura Vaz consultou o calepino e disse: - Poderá ser; não tenho nenhum sacramento marcado e, mesmo que tivesse, arranjar-se-ia, com certeza, vagatura para os encontros, sempre proveitosos, com Sua Alteza.
Cumprida a incumbência, reparou o Cura e Trovador Vaz que o Pança se preparava para sair. Por isso, interpelou-o: - Irmão, há muito tempo que não passas pelo confessionário.
- Tem razão – anuiu o Pança – mas, como sabe, agora, a minha atarefada empreitada deixam-me pouco tempo para cumprir os deveres religiosos.
- Não pode ser, meu bom-cristão. A salvação da alma nunca pode ficar para trás. E deveis saber que a vossa empreitada é muito propícia ao pecado; e que Deus suporta os maus, mas não para sempre.
- Mas eu não sou dos maus – acudiu Pança.
- Não digo que o sejais; mas olha que os amanuenses e o povo andam muito queixosos. Tenho-os afagado na confissão, mas...
- Já percebi que é melhor passar pela confissão e comunhão. Reconheço que tenho andado afastado da Igreja, da Sr.ª do Cardal (minha querida Senhora) e, até, da graça de Deus.
- Muito bem – anuiu o Cura e Trovador Vaz, e perguntou logo de seguida: - Mas dize cá, meu bom-cristão: já encomendastes as minhas novas cantorias?
- Ainda não – confirmou o Pança. Mas fá-lo-ei, entretanto. Fique Vossa Mercê descansado que será a minha prenda natalícia aos amigos e família.
- Não esperava outra coisa de um bom-cristão como o meu amigo, com provas dadas – atestou o Cura e Trovador - mas, já que estais aqui, dize-me: a câmara vai encomendar as minhas novas cantorias?
- O que sei dizer a Vossa Mercê — respondeu o Pança – é que os serviços estão a tratar disso. Mas será conveniente abordar esse ajuste no encontro de amanhã. Como Vossa Mercê sabe, D. Diogo é muito formal; exigirá, com certeza, o necessário protocolo; mas conte com uma boa ajuda à Santa Igreja e ao seu digníssimo representante nesta santa terra.
- Vai com Deus, Pança amigo.
- Até amanhã, digníssimo.
                                                                                                                  Miguel Saavedra

21 de novembro de 2016

A qualidade compensa


A curta-metragem Os Cães da Barragem, realizada por Paulo Vinhas Moreira e coordenado pelo encenador Rui M. Silva, foi distinguida, em Outubro último, como o melhor filme no “48H Film Project - Castelo Branco”, e irá representar a cidade de Castelo Branco no festival Filmapalooza, em Seattle, nos Estados Unidos da América, em Março de 2017. Para esse feito, muito contribuíram os três actores do Teatro Amador de Pombal que fazem parte do elenco: Gabriel Bonifácio, Humberto Pinto e Joana Eduarda.

Este feito evidencia as potencialidades da cooperação que tem sido levada a cabo entre a companhia de teatro pombalense e a albicastrense Ajidanha. A aposta que ambas têm feito na qualidade dos seus projectos merece o maior destaque.  Estão no bom caminho! 

17 de novembro de 2016

Até os votos dos calés já estão em disputa!


São as eleições...

Chegados à véspera das eleições autárquicas, chegam-nos promessas de mais dinheiro para as autarquias. No passado, quando havia muita obra para fazer, eram os autarcas que reclamavam mais verbas ao governo. Agora, são os partidos do bloco central (PS e PSD) que oferecerem mais dinheiro às autarquias. Há umas semanas atrás, Eduardo Cabrita afirmou que “o governo fez um orçamento amigo das autarquia”; ontem, Passos Coelho reclamou “mais dinheiro para as autarquias”.
As autarquias recebem dinheiro demais.
Há, no entanto, autarquias com falta de dinheiro, por que criaram uma estrutura que as consome, e por que gastaram e endividaram-se demais - fizeram despesa sem retorno que originou demasiados encargos e consequente falta de dinheiro. Não necessitam de mais dinheiro; necessitam é de saber aplicá-lo. Mas há, também, autarquias (ex.: Pombal) que têm dinheiro a mais, e deixam-no a repousar nos bancos por que não sabem onde aplica-lo.
Já era tempo de os líderes políticos perceberem que as eleições se ganham com ideias e com candidatos credíveis, e não com mais dinheiro. Até por que o povinho já percebeu que o dinheiro do Estado sai-lhe do bolso.

13 de novembro de 2016

Cerimónia das comendas

A cerimónia das comendas foi muito bonita: cheia de pompa e circunstância, e com felicidade a transbordar por todos os lados – foi lindo de se ver. Os agraciados estavam felizes, mas os agraciadores não o estavam menos – alguns evidenciavam até alguma euforia. Não notámos que o Cura Vaz tenha estado por lá - um pormenor muito bem pensado e do nosso agrado.
D. Diogo esteve discreto e com o donaire que a circunstância e o seu estatuto recomenda. E a sua Marquesa semelhou-o. Mas a cerimónia teve, também, a vertente popular que o dia impunha.
Os agraciados estiveram igualmente bem: uns mais discretos, outros mais vistosos - cada um ao seu estilo, mas todos bem. Um ou outro parecia estar a viver o dia-da-sua-vida; só lhes faltou levarem o Boby e o Dolly - o que daria um toque chique à coisa.
O Farpas contava estar lá, também. Confessa, por ser verdade, e por ser pecado, que ficou com uma pontinha de inveja de não estar em tão digna cerimónia. Não atingimos, com certeza, os deméritos exigidos pelo comité agraciador, mas o facto de termos entrado na lista dos potencias agraciados – diz-se - deixou-nos com o orgulhosinho revigorado e, talvez, também, por isso, gostamos muito da cerimónia. Sabemos que para o ano há mais; prometemos trabalhar com mais afinco pela comenda. Queremos muito estar lá.

Este ano o comité viu grandes feitos nos bem-feitores das mobílias e das enfermidades. La terá as suas razões, e critérios de tão insignes criaturas não se controvertem. Mas custa ver o Mário, o mais antigo empresário do ramo, com negócio no centro da cidade, não ser mobilado. Bem te avisamos Mário: dar gás às farpas, mesmo encoberto, não traz graça. Devias saber isso. E que eles vasculham tudo, e não esquecem nada.

12 de novembro de 2016

O dia de São Martinho, sem adega nem vinho



Passa o Dia do Município e a minha time line do facebook enche-se de selfies, fotos dos homenageados, palavras de emoção dos que lá estiveram. Sim, eu tenho entre os meus amigos muitos desses: autarcas, homenageados,  familares deles, amigos de uns e de outros, apaniguados, enfim. E para começo de conversa, devo dizer que acho de elementar justiça a condecoração de quem faz mais do que a sua obrigação pela terra e pelos outros.
Ontem, uma comoção generalizada abateu-se sobre aquela franja de pombalenses que vai à sessão solene, e que acredita - se calhar profundamente - que a realidade é aquilo: umas dezenas de convidados a cortar fitas e bolos, ao longo do dia, em traje domingueiro.
Na viagem entre Pombal e outro concelho do distrito de Leiria, fui ouvindo na Rádio Clube a transmissão da sessão solene. Foi assim que ouvi um (bom) discurso de Diogo Mateus, bem escrito e bem lido, mesmo que as palavras as leve o vento.  E assim percebi que foi ontem o arranque da campanha eleitoral, de tal modo D. Diogo voltou a usar o slogan que lhe serviu de muleta para a eleição: Mais Pombal. "Temos uma visão para Pombal, queremos mais para Pombal". Continuamos, afinal, a ter um ponto em comum. Mas podíamos começar por descer um pouco à terra, e levar as comemorações ao povo. Fazer mais por Pombal era envolver as colectividades, grupos e movimentos que despontam pelo concelho, abrindo o programa à festa popular, como tão bem fazem outros concelhos do distrito e do país. Como fazem os bombeiros, à sua maneira. Como hoje estavam a fazer os moradores do bairro Agorreta.
Enquanto o modelo for este - da sessão solene, do fato-gravata, da medalhita e do discurso - tanto faz que lhe chamemos Dia do Município como Dia da Câmara. Não passamos disto. 

ps: gostei de ver o presidente a dar um toque cool e irreverente no discurso, ao citar Jorge Palma (que horas antes ali deu um belíssimo concerto, a que poucos puderam assistir)

imperdoável é o que não vivi
imperdoável é o que esqueci
imperdoável é não perdoar

Afinal, São Martinho ainda faz milagres. 

10 de novembro de 2016

Polo Escolar de Vila Cã ficou na gaveta

Por esta altura, Vila Cã deveria estar a inaugurar o seu Polo Escolar. Foi (quase) tudo programado: a câmara assegurou o financiamento e o projecto, e a junta o terreno onde erguer o edifício.
Só que, a junta adquiriu (parte de) um terreno que estava (está) em regime de co-propriedade; e ninguém se entende sobre a parte que foi comprada. 
Resultado: o Polo Escolar ficou na gaveta. Incompetência ou negociata? 

8 de novembro de 2016

Floreado caro


A Câmara Municipal de Leiria (CML) decidiu adquirir, por uns imódicos 4,15 milhões de Euros, o edifício do antigo Paço Episcopal, com intuito de lá instalar uma Loja do Cidadão. No edifício funcionou, até há pouco tempo, uma Loja da Zara; mas um dos maiores empresários do mundo, com um dos negócios mais rentáveis, não o quis, abandonou-o.
A Loja do Cidadão de Leiria esteve prevista para o topo norte do Estádio Municipal (área sem utilização), mas o actual executivo recusou essa localização e optou, agora, pelo Edifício do Paço Episcopal, com o argumento da necessidade de atrair pessoas para o centro da cidade.
Desde o investimento ruinoso na construção do novo estádio municipal que a CML vive uma situação financeira delicada, com dificuldade de honrar atempadamente os seus compromissos e sem grande capacidade de investimento. Surpreende, portanto, que decida aplicar 4,15 milhões de Euros num edifício para lá instalar um serviço – Loja do Cidadão - que não faz parte das suas atribuições. A câmara de Pombal também tem embarcado nestes floreados – adquirir/construir edifícios e fazer obras que competem ao Estado -; mas com uma pequena/grande diferença: tem muito dinheiro disponível (e não sabe onde o gastar).
Para além do questionável racional económico-financeiro do negócio, vale a pena analisar o propósito subjacente: forçar os utentes a deslocarem-se ao centro da cidade, quando lhes deveria facilitar a vida (acesso e estacionamento). Estamos perante a mesma artimanha que um candidato à câmara de Pombal defendeu para dinamizar o turismo local: construir um circuito para os peregrinos de forma a fazê-los passar pelos locais mais actractivos.
Por outro lado, é questionável o interesse (o efeito dinamizador) de uma Loja do Cidadão. O modelo surgiu no primeiro governo de J. Sócrates como uma resposta circunstancial à necessidade de agilizar a criação de empresas (o pior item de Portugal nos Rankings de competitividade), mas não se desenvolveu, acrescentaram-lhe somente alguns serviços complementares. As Lojas do Cidadão tenderão a esvaziar-se, fruto da inevitável reorganização do Estado e do desenvolvimento da e-governance; o que já se verifica com vários organismos públicos.
Logo, não se percebe esta bebedeira com a Loja do Cidadão, nomeadamente no edifício do Paço Episcopal. Um vício caro.

7 de novembro de 2016

Desta água não beberei


O aviso é tímido, e por isso não é de estranhar que a maioria dos mortais continue a abastecer garrafões a rodos. Tem data de 23 de setembro, o que deve significar que Junta de Freguesia, Câmara Municipal e demais entidades competentes estão sabedoras das análises que ditam algumas propriedades da água da Charneca como "não conforme". 
Aqui no Farpas não somos de intrigas e por isso não vamos relacionar o facto com a proximidade do malfadado cemitério. Para mais, se a malta anda a beber água há dois meses e ainda cá estão todos, rijos como um pêro, é como dizia aquele antigo vereador do ambiente: "prefiro beber água de uma fonte, por mais poluída que ela esteja...". É claro que se finou, politicamente, mas isso agora já não interessa nada. 

3 de novembro de 2016

Quão difícil está a distribuição das prebendas ao Zé e à Maria

Depois de atafulhar os regentes locais com dinheiro e feitorias, as comissões fabriqueiras e as associações com subsídios; o príncipe sabe que não chega, que precisa de engodar o Zé e a Maria, mas não sabe como fazê-lo. Não tendo muito por onde demandar ajuda, chamou o seu fiel escudeiro para esboçar a arriscada empreitada.
O Pança apresentou-se no trono: - às suas ordens, Alteza.
- Senta-te, Pança. Temos muito que falar…
- Sou todo ouvidos…
- Como sabes, Pança; tenho feito um esforço enorme para inverter a desgraça que me assolou. Abri os cordões à bolsa  tenho distribuído prebendas por tudo o que é entidade  e aproximei-me do povo. Mas não chega, o povo não se aproxima de mim. Tens que me ajudar a aliciá-lo.
- Eu não sei o que mais fazer; até já sigo o seu exemplo: mostrar ser o que não sou. Porque não pede, Vossa Mercê, ajuda aos seus ministros, ou ao seu futuro número dois?
- Não desconverses, Pança. Sabes bem que isto é para quem pode, não para quem quer…
- Se Vossa Mercê se enfada — respondeu Pança — eu calo-me e deixo de dizer aquilo a que sou obrigado como leal escudeiro.
- Fala Pança, mas não acrescentes aflições ao aflito.
- E que tipo de ajuda quer Vossa Mercê?
- Preciso de arranjar formas de seduzir inimigos e descontentes. Nos próximos meses, teremos o Dia do Principado e as Festas de Natal - oportunidades últimas para distribuir prebendas e conquistar apoios. Não podemos falhar nas escolhas. E lembra-te, Pança: enquanto no pombal houver milho – e tenho muito - pombas não faltarão. O segredo está a saber dá-lo…
- Vamos ver se percebi, Alteza. Que inimigos e descontentes quer conquistar?
- Os inimigos que mais estragos nos fazem e os descontentes mais fáceis de seduzir.
- Comecemos, então, pelo Dia do Principado e pelas medalhas a distribuir… O que vou dizer parecer-lhe-á um disparate, mas talvez não o seja.
- Dize, dize, Pança; que do disparate alguma coisa se deve aproveitar…
- Fala-me Vossa Mercê de conquistar inimigos, certo? O seu maior inimigo  o nosso que aqueles cabrões também não me dão descanso  é o Farpas. Se os conquistarmos, eliminamos o poder de fogo inimigo
- Estás mais esperto do que te julgava, Pança. E como o fazemos?
- Atribui-lhe, Vossa Mercê, uma comenda dourada, no Dia do Principado. Ninguém fica indiferente a tal distinção. Eles gostam de farpear; podem, sempre, continuar a fazê-lo; só lhes pedimos que apontem o cano para o nosso inimigo, e não para nós. E com este tiro matamos dois coelhos, não lhe parece, Alteza?
- E não te parece um exagero, Pança; condecorar essas criaturas?
- É, mas não maior do que algumas que Vossa Mercê já concedeu.
- Sonda-os, Pança. Mas antes, manda subir o cura Vaz. Temos que o informar, e pedir-lhe anuência e confissão para tamanho sacrilégio. Sei que lhe vai custar a roer, mas a Igreja tem a obrigação divina de apoiar os príncipes em momentos adversos.
Acredita, Pança, se a coisa se fizer, até a ti, darei uma comenda… Mas temos, também, que aliciar os descontentes, os Zés e as Marias deste reino. Já prometi uma comenda ao Teixeira dos pensos, à Fernanda das esmolas, ao Michel dos frangos, ao Arlindo das massagens; e a outros de que agora não me lembro. Mas precisamos de muitos mais, de muitos mais.
- Acredite em mim — acudiu Pança  que tudo se há-de resolver. Quem dá o mal, dá o remédio; ninguém sabe o que está para vir, mas com a ajuda de Deus e da Sr.ª do Cardal - minha querida Senhora - tudo se fará.

                                                                                                                           Miguel Saavedra