Nos
últimos seis meses, o Príncipe desenvolveu, com a mestria que lhe é
reconhecida, o plano de sedução dos súbditos. Até à semana passada corria tudo como
previsto e melhor do que o esperado.
Nas
conversas de taberna e café, corria há muito a atoarda que do plano do Príncipe
para manter o poder fazia parte a utilização, no momento certo, dos esqueletos
que, supostamente, o inimigo tinha deixado no armário. E toda a gente que segue
estas coisas dava os escândalos como certos; até porque as ameaças já tinham
seguido pelo correio, para, antecipadamente, destabilizar e condicionar o
inimigo. O que o Príncipe não sonhava, era que o feitiço se virasse contra o
feiticeiro - não contava, nem nos seus piores pesadelos, que a PJ lhe entrasse
casa dentro, sem avisar, para vasculhar um caso bicudo do seu curto
reinado.
Perante
a bronca, e os seus efeitos devastadores, o Príncipe protelou a continuação da
reunião de delegação de atribuições aos ministros e reuniu o núcleo cúmplice,
composto pelo fiel escudeiro e a Marquesa Prada. Estavam inquietos, irritados e
no conhecido modo retaliativo; mas não sabiam o que fazer, melhor dizendo, por
onde começar. Apetecia-lhes fazer mal, mas tinham medo do efeito do mal feito; a
cabeça pedia-lhes acção, mas o corpo estava trôpego, próprio de quem tinha
acabado de levar um murro no baixo-ventre. Só estavam de acordo numa coisa, nos
culpados: PJ, denunciantes e o ministro das Obras-Tortas. Mas, para além do ministro,
sentiam-se impotentes para os condicionar ou fazer sofrer.
Pensaram
actuar na PJ, servindo-se dos bons canais, mas desistiram da ideia porque, tendo
eles deixado passar o caso para os jornais, havia pouco a fazer, por agora. O
Pança defendeu que se deveria dar uma lição aos denunciantes, mas o Príncipe
moderou-lhe os ímpetos, advertindo-o que não é altura para isso. A Marquesa
propôs uma limpeza no ministério das Obras, e justificou-a com o veredicto de
serem inúteis. O Príncipe concordou com a ideia (Marquesa e o Príncepe estão sempre em sintonia) e lembrou que já tinha encostado o Celestino e traçado o
destino do ministro das Obras-Tortas.
O
Príncipe informou, também, que era necessário conter o escândalo: que já tinha
mandado calar o ministro das Obras-Tortas para evitar que se espalhasse com os
jornalistas e agravasse a situação; e que só ele falaria publicamente sobre o
caso. O Pança e a Marquesa Prada concordaram, mas evitando dizê-lo pensaram
para dentro: “quem já se espalhou foi o Senhor: negou que o Gaspar dos Frangos
nos tinha financiado a campanha, e ele confirmou-o”.
Apesar
da delicadeza do caso, o Príncipe queria mostrar que controlava a situação. Agarrava-se
a leis e a regulamentos, desfiava justificações, atenuantes e desculpas, mas havia
um por maior que os inquietava muito e que ninguém quis abordar: o parecer
negativo sobre os armazéns do caso, dado pelo permissivo Celestino, no mandato
anterior.
Miguel Saavedra
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarEste próximo ano de 2017, vão se aborrecendo as comadres e vão-se sabendo as verdades. Toda a gente sabe que existe promiscuidade entre o poder politico e o grande Empresariado. Alguém tem de pagar as campanhas e as jantaradas. Estou para ver se sai na comunicação social do concelho alguma noticia sobre este assunto. O povo não está muito interessado em ser informado, mas a comunicação social tem o dever de ser isenta e informar o povo. Depois cabe ao povo decidir o que pretende para o seu Concelho. Se pretende pão e circo ou se pretende uma gestão transparente e que o Concelho volte a ser de todos e para todos.
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