7 de fevereiro de 2013

É pau, é pedra, é o fim do caminho

(Por “encomenda” da minha mui querida Amiga Paula Sofia Luz, escrevo agora e aqui uma diatribe anti-Narciso da Câmara de Pombal, a publicar nas Farpas Pombalinas, sítio internáutico de apreciável concorrência pombalense.)

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Em jeito de proémio, aviso desde já os eventuais leitores internautas meus que a idade me tem acrescentado em anos o mesmo que me tem sumido em paciência. O mesmo vale por dizer que nem palpos-de-aranha, nem papas-na-língua. Quem tiver medo de se assoar em público, que corte o nariz em privado.

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Quer-se então dizer que a Câmara Municipal de Pombal odeia Pombal. Quer, quer, Man’el Rodrigues Marques – quer, quer. As duas décadas narcisistas aí estão para no-lo demonstrar – à saciedade como à sociedade.
Vinte anos são muito ano. É muito bafio a sacristia menos autárquica que autocrática. É muita canga jungindo o mesmo cachaço.
Que vai arrancar a calçada para tudo lajear, em seu lugar, de granito. Granito! Supina parolice: que temos nós, sicó-arunquenses, a ver com granito? Nada. Nada – a não ser a reiterada asneira de reeleger sucessivamente uma figura da idade… da pedra.
Que vai arrancar os plátanos. Cuidado: isto já não é só e tão-só parolice. É crime. A dendroclastia é uma tara intolerável. E é uma burrice mineral própria de quem for de miolo mais dado à substância do calhau do que à circunvolutiva prega neural da noz cerebral que às vezes distingue o homem da alimária. A não ser que se seja das Meirinhas, essa charneira do pato-bravismo mais corneamente obtuso, caso em que tudo fica (quase) explicado.
Que vai fazer um urinol público em frente aos, ou perto dos, Paços. Isso já acho bem: consagrar-se-á o mija-depressa-que-vem-lá-gente em monumento vivo à cagada dos últimos dois decénios.
Aos moradores e aos comerciantes do centro histórico não foi pedida qualquer opinião. Pelo contrário, o projecto e a aberração foram-lhes apresentados como facto consumado. É normal: é característico de qualquer aleivoso e histriónico tiranete o rancor e a alergia à opinião livre, assertiva e construtiva. Suponho que o edil com nome de velocípede até deve sonhar com elas, as bichas das opiniões, as mostrengas manifestações de raciocínio não acarneirado. Deve, deve, Man’el Rodrigues Marques – you know what I mean, como dizem os ugandeses que andaram no colégio. Antes sonhasse, pobre homem, com as boazonas que o Cristiano Ronaldo engata a torto e a direito – enquanto nós homens do Arunca népias.
Népias por surrépias, temos portanto que Narciso, o Arboricida, se prepara para deixar em sua infeliz memória um urinol, uma saudade plátana e um chão de granito em que o escarro gordo há-de ter estrelada pontuação. Muito bem. A gente, amigo doutor Rocha Quaresma, também não tem feito por merecer mais. Tem? Não tem. Menos é que era difícil.

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Termino com um giro e bonito slogan de minha mesma lavra, do qual faço graciosa oferta à edilidade mata-árvores. Tem a ver com o tal urinol (será ele, pergunto-me eu, daqueles de meter moedinhas e que, depois de utilizado e aberta a porta, um gajo dá por si na Austrália?). O slogan é este:

Quando fores ao urinol do Narciso, no fim sacode-a, que é preciso.

Daniel Abrunheiro

7 comentários:

  1. Já sorri e ri com o que li. Mas triste é o enterro de três milhões em pedras, talvez pontiagudas como na ponte Dona Maria.

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  2. Palavras justas, Zé Gomes Fernandes. Tirando o tom jocoso que empreguei (a gente tem de rir-se até das coisas tristes), é um legado tonto: três milhões que tão bem seriam empregues em coisas de raiz e para colectivo bem, verdade?

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  3. Bom dia
    Caro AMIGO Daniel é sempre um prazer ler a tua escrita, para mais, com conteúdo excelente, sempre, antes rir que chorar!

    Cá para mim em Pombal a crise está a notar-se agora, a CMP não têm dinheiro para arranjar os sanitários do Pessoal e resolveu fazer Dois em Um ou seja os transeuntes passam a ter WC a qualquer hora e o Pessoa da CMP faz um subterrâneo para ir verter as águas em cima dos três milhões, crise é crise, muda-se o nome do calcário da Sicó, passa a chamar-se Granito, aplica-se o dito cujo no local e promove-se o Granito da Sicó, veja-se industria local

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  4. Aqui no canil estamos tristes e não pelas obras que vão ser feitas no Cardal.
    Estamos tristes porque há pessoas que vivem pior que todos nós rafeiros e as obras tardam em serem feitas.
    Vejam-se as ruas dos Governos e Vinagres por exemplo.
    E que tal usarem os 3 milhões de euros para fazer outras obras prioritárias. Já repararam que a cidade de Pombal não tem um Centro de Dia para idosos? Jà viram que a cidade de Pombal não tem um Centro Educativo com condições minimas de funcionamento sobretudo para as crianças do pré-escolar?
    Não venham lá com a desculpa que os 3 milhões são comparticipados em 85% pelo QREN. Olhem que os 15% suportado por todos nós dava para fazer muita obra, ai se dava.

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  5. Mais uma vez o grande rafeiro revela ter um olfato com mais alcance do que a "visão" dos nossos pequenos autarcas.

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