Há qualquer coisa de patológico nesta necessidade constante que Pedro Pimpão tem de partilhar notícias sobre si próprio. Mas esta síndrome do culto da personalidade atingiu agora o auge, a propósito da sua chegada à pseudo liga dos campeões da política autárquica, que é a Associação Nacional de Municípios Portugueses.
Muitos
camaradas me têm perguntado por ele, sobretudo depois das primeiras
entrevistas. É verdade que conheço o Pedro desde menino, que o vi dar os primeiros
passos na política, o único caminho que acabou por trilhar. Mas também é
verdade que nunca deixo de me surpreender com esta escalada, a dele e de
outros, na região, no país e no mundo. Se os líderes mundiais são os que são,
neste momento, por que razão nos havemos de surpreender com esta ascensão de Pimpão
ao lugar cimeiro dos autarcas?
O Adelino Malho
já aqui disse o que isso (não) representa, na prática, mas é preciso estarmos
todos conscientes do que vai significar para nós, munícipes, os que aqui vivemos
e pagamos impostos.
Soube que
esta jogada estava a preparar-se poucas semanas depois das eleições autárquicas,
mas custava-me a crer. Pedro fez o seu caminho direitinho dentro do partido
(sobretudo desde que Rio saiu de cena e entrou Montenegro), construiu uma
imagem de bom rapaz, de quem diz sempre que sim a todos (menos aos que se lhe
opõem, pois que é um unanimista militante). No dizer de um companheiro de
partido hoje com responsabilidades grandes, é aquele que “está sempre em cima
do muro e a meio da ponte”. Isso garantiu-lhe uma aura de bonomia, cimentou o
lado escuteiro, permitiu-lhe chegar à Câmara antes do tempo previsto, afastando
com pinças (e ajudas várias) Diogo Mateus do caminho. Não nos esqueçamos deste
pormenor.
Depois foi
eleito representante dos autarcas social-democratas. Quando soaram as primeiras
notas a indiciar que poderia ir para a ANMP, duvidei. Faltava-lhe peso
político. Mas não descuremos a capacidade do Pedro construir estratégias.
Talvez seja esse o (único) trabalho que faz bem. Rodeou-se dos que lhe haveriam
de valer, de alguma forma. Quando vi um artigo de Luís Marques no Expresso
(sobre ele), quando foi ao Expresso da Meia Noite, depois ao Observador, e tudo
isso há mais de um mês, comecei a acreditar que não era assim tão inverosímil a
chegada dele lá acima. Fez acordos com o PS (que ainda não percebeu que vai ser
comido de cebolada nesta caldeirada), com os independentes, e seguiu viagem. O
que dali vai sair logo se vê, se não for nada é nada.
Mas no meio
disto, há uma Câmara que supostamente ele devia gerir, ou, num cenário destes,
ter um ou uma vice-presidente à altura. Acredito,
genuinamente, que na sua cabeça o está fazer, através de terceiros. Quando foi
buscar um director municipal para (lhe) fazer o trabalho, seria essa a linha de
raciocínio. Foi exactamente isso que perceberam alguns novos presidentes de
Junta, logo na primeira reunião.
E esse é o
perigo. Não há terra que singre sem peso político (o que implica liderança e
decisão) sobretudo quando não é ancorado no crescimento económico, pilar do
desenvolvimento.
Os vazios
costumam ser perigosos, como nos mostra a história, pela forma como são
ocupados. E sim, há quem esteja à espreita, a ver se o molde lhe serve.
No meio
deste estado a que chegámos, talvez a única réstia de alento no interesse
político da terra seja a chegada de João Coelho à vereação, que cria
desconforto e desassossego, tão importante neste charco de águas paradas. Mas
não chega.
O Pedro
começa agora a distribuir o seu jogo fora daqui, entre “máquinas” e “campeões” de
outro campeonato. E nós, na liga dos últimos, cá nos havemos de aguentar: um plano
e orçamento que repete obras prometidas há duas décadas, o canto da sereia à
escala do Arunca.
Basta
analisar tudo o que tem dito nesta nova pele para perceber que aplicará uma
receita de sucesso: colocar nos píncaros os que trabalham na administração local,
falar-lhes ao jeito, pedir que lhes paguem melhor. Mais ou menos como começou
por fazer aqui, elevando os funcionários à condição de “heróis de capa azul e
amarela”. Música para tantos ouvidos. E o dom de os converter em votos.
Siga a
dança, Pedro.
*O Sítio do
Pimpas era o nome do blogue que criou na primeira década de 2000, quando decidiu
que iria ser político profissional.

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