21 de dezembro de 2025

O novo sítio do Pimpas - e o que ainda falta dizer sobre a chegada à ANMP


Há qualquer coisa de patológico nesta necessidade constante que Pedro Pimpão tem de partilhar notícias sobre si próprio. Mas esta síndrome do culto da personalidade atingiu agora o auge, a propósito da sua chegada à pseudo liga dos campeões da política autárquica, que é a Associação Nacional de Municípios Portugueses.

Muitos camaradas me têm perguntado por ele, sobretudo depois das primeiras entrevistas. É verdade que conheço o Pedro desde menino, que o vi dar os primeiros passos na política, o único caminho que acabou por trilhar. Mas também é verdade que nunca deixo de me surpreender com esta escalada, a dele e de outros, na região, no país e no mundo. Se os líderes mundiais são os que são, neste momento, por que razão nos havemos de surpreender com esta ascensão de Pimpão ao lugar cimeiro dos autarcas?

O Adelino Malho já aqui disse o que isso (não) representa, na prática, mas é preciso estarmos todos conscientes do que vai significar para nós, munícipes, os que aqui vivemos e pagamos impostos.

Soube que esta jogada estava a preparar-se poucas semanas depois das eleições autárquicas, mas custava-me a crer. Pedro fez o seu caminho direitinho dentro do partido (sobretudo desde que Rio saiu de cena e entrou Montenegro), construiu uma imagem de bom rapaz, de quem diz sempre que sim a todos (menos aos que se lhe opõem, pois que é um unanimista militante). No dizer de um companheiro de partido hoje com responsabilidades grandes, é aquele que “está sempre em cima do muro e a meio da ponte”. Isso garantiu-lhe uma aura de bonomia, cimentou o lado escuteiro, permitiu-lhe chegar à Câmara antes do tempo previsto, afastando com pinças (e ajudas várias) Diogo Mateus do caminho. Não nos esqueçamos deste pormenor.

Depois foi eleito representante dos autarcas social-democratas. Quando soaram as primeiras notas a indiciar que poderia ir para a ANMP, duvidei. Faltava-lhe peso político. Mas não descuremos a capacidade do Pedro construir estratégias. Talvez seja esse o (único) trabalho que faz bem. Rodeou-se dos que lhe haveriam de valer, de alguma forma. Quando vi um artigo de Luís Marques no Expresso (sobre ele), quando foi ao Expresso da Meia Noite, depois ao Observador, e tudo isso há mais de um mês, comecei a acreditar que não era assim tão inverosímil a chegada dele lá acima. Fez acordos com o PS (que ainda não percebeu que vai ser comido de cebolada nesta caldeirada), com os independentes, e seguiu viagem. O que dali vai sair logo se vê, se não for nada é nada.

Mas no meio disto, há uma Câmara que supostamente ele devia gerir, ou, num cenário destes, ter um ou uma vice-presidente à altura.  Acredito, genuinamente, que na sua cabeça o está fazer, através de terceiros. Quando foi buscar um director municipal para (lhe) fazer o trabalho, seria essa a linha de raciocínio. Foi exactamente isso que perceberam alguns novos presidentes de Junta, logo na primeira reunião.

E esse é o perigo. Não há terra que singre sem peso político (o que implica liderança e decisão) sobretudo quando não é ancorado no crescimento económico, pilar do desenvolvimento.

Os vazios costumam ser perigosos, como nos mostra a história, pela forma como são ocupados. E sim, há quem esteja à espreita, a ver se o molde lhe serve.

No meio deste estado a que chegámos, talvez a única réstia de alento no interesse político da terra seja a chegada de João Coelho à vereação, que cria desconforto e desassossego, tão importante neste charco de águas paradas. Mas não chega.

O Pedro começa agora a distribuir o seu jogo fora daqui, entre “máquinas” e “campeões” de outro campeonato. E nós, na liga dos últimos, cá nos havemos de aguentar: um plano e orçamento que repete obras prometidas há duas décadas, o canto da sereia à escala do Arunca.

Basta analisar tudo o que tem dito nesta nova pele para perceber que aplicará uma receita de sucesso: colocar nos píncaros os que trabalham na administração local, falar-lhes ao jeito, pedir que lhes paguem melhor. Mais ou menos como começou por fazer aqui, elevando os funcionários à condição de “heróis de capa azul e amarela”. Música para tantos ouvidos. E o dom de os converter em votos.

Siga a dança, Pedro.

 

*O Sítio do Pimpas era o nome do blogue que criou na primeira década de 2000, quando decidiu que iria ser político profissional.



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