30 de abril de 2008

Mota Pinto

Quando à noite regresso a casa, acontece-me por vezes fazer a voltinha dos tristes que termina num supermercado. E há dias em que Pombal parece especialmente triste: os peões deambulam pelas passadeiras alheados do mundo real, os automobilistas conduzem zangados com a vida, os lojistas certificam-se de que ainda não é naquele fim de tarde que vão mudar de vida, as árvores morrem (mesmo) de pé. Como me bastam as viajens para encontros imediatos (felizmente de raspão) de grau indefinido, evito o Largo do Cardal. Porém, às vezes não temos como fugir ao destino. E eis que, num destes dias, vendo-me obrigada a passar por lá, dei de caras com uma lona tamanho XL, a anunciar uma exposiçao sobre a vida e a obra de Mota Pinto. "Até que enfim!", pensei eu, que escrevi várias vezes sobre essa vergonha que era para Pombal não reconhecer condignamente um filho da terra que representou o país ao mais alto nível. Ainda não consegui ir ver a exposição mas tenciono. Espero que se faça justiça ao homem e ao político. E sobretudo, que seja uma coisa um bocadinho mais digna e completa que aquele prémio que a junta de freguesia em boa hora inventou, mas cuja concretização se revelou ao estilo "pior a emenda que o soneto".
Nesse dia, voltei para casa com um sorriso solidário. Lembrei-me de Manuel Carteiro e de Vitor Varela, guardiões da memória viva de Pombal, a quem tantas vezes ouvi desabafar sobre essa imperdoável falha pública. Tantas quantas aquelas em que lhes foi prometida a tal homenagem. Espero que seja desta. Com busto ou sem ele. Porque santos da casa não fazem milagres, mas acreditam neles.

1 comentário:

  1. É com estes exemplos que se elucidaria o Presidente da República, preocupado, no seu discurso do 25 de Abril, com os jovens que não conhecem o significado da data e que estão afastados da política.
    Pudera! Além do discurso político nacional dispersar sempre por verborreia, que muitas vezes insulta a inteligência de qualquer eleitor, também os responsáveis locais da democracia vão protelando o exercício da sua competência político-pedagógica. Por isso, em hora boa vem esta exposição alusiva a Mota Pinto. Não é garantido que ela vá de um momento para o outro elucidar todos os jovens pombalenses sobre quem foi Mota Pinto. Não, porque a motivação pessoal também conta para a aquisição de conhecimento.
    Mas além disso, as comemorações do 25 de Abril, feitas no modelo de sempre, com os discursos político-partidários, no salão nobre da Câmara, já só motivam as elites políticas pombalenses. Não tocam no interesse dos jovens. Não dizem nada ao povo. Vêm de cima para baixo, como vêm a subida de impostos, o fecho de urgências, a mudança do Código do Trabalho, etc, etc...
    Se estamos a celebrar uma data em que se recorda que “o povo é quem mais ordena”, porque não fazer uma comemoração que venha do povo para o povo. Como? Por exemplo, pedindo a mobilização de escolas, de associações, de organizações cívicas para realizar trabalhos alusivos à data, inserindo as apresentações de trabalhos, sei lá, a leitura de um poema de intervenção, o cantar uma música, apresentar um trabalho de vídeo, é só haver imaginação. Isto feito por alunos, por pessoas comuns, chamando-os a participar de forma activa e não passiva. Colocando-os, não como meros receptores de discursos político-partidários, mas sim de igual para igual com os líderes políticos, conjugando as seus discursos, com os políticos, ao menos por um dia. Isto não exige gastos orçamentais, apenas vontade e sentido de dever cívico. O 25 de Abril teria muito mais significado para todos, a democracia ficaria mais feliz e os jovens mais motivados e interessados. Não podemos querer participação, quando apenas ficamos a debitar coisas para os outros ouvirem. É preciso convidá-los a participar. Convidá-los a serem ouvidos! Creio que Mota Pinto iria concordar!
    Dina Sebastião

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