16 de dezembro de 2024

O despesismo castiga sempre alguém

Na penúltima reunião da “Junta”, o dotor Pimpão deixou, en passant (sem ser questionado), um aviso que traz consigo um castigo: a factura da água vai ter de aumentar. Como não gosta de assumir as más decisões, desculpou-se com as recomendações/obrigações do novo quadro legal. Um município que explora um serviço de tão grande proximidade, como o abastecimento de água, em total autonomia e de forma rentável, sem nenhuma concorrência desleal em relação a outros municípios ou empresas públicas, não deve seguir recomendações ou obrigações gerais.



Em boa hora Narciso Mota manteve todo o sistema de abastecimento de água na posse do município, assegurando receitas próprias consistentemente rentáveis e uma boa autonomia estratégica e funcional para a câmara. Tanto assim foi que durante muitos anos as receitas do abastecimento de água cobriam a maior fatia da despesa corrente: encargos com pessoal.

Mas a partir do momento em que a despesa no acessório (festas, folclore e eventos) se tornou forma de vida as contas começaram a andar rapadas e o passo seguinte será, inevitavelmente, cobrar mais.

Não há diversão grátis.   

13 de dezembro de 2024

12 de dezembro de 2024

A mentira como arma política

A mentira, mais ao menos implícita ou dissimulada, foi muitas vezes usada como arma política, nomeadamente pelos políticos fantasiosos. O dotor Pimpão usa-a frequentemente; umas vezes de forma descarada e internacional, outras por simples desconhecimento da matéria ou do significado da linguagem usada.

Depois de se apresentar como grande benemérito das famílias e empresas, com a aldrabice da concessão de 23 milhões de despesa fiscal, vem agora apregoar o desagravamento doel IMI para 2025, quando a taxa simplesmente se mantém.Bem sei que todo o esbanjador gosta de se apresentar como poupador. Mas há limites para a trapaça.

Para agravar a coisa, temos o “jornalismo” de favor, sempre ávido do papel de pombo-de-correio.




11 de dezembro de 2024

Tal pastor tal rebanho

Ontem, o dotor Pimpão  e a sorridente Gina reuniram com a rapaziada eleita para o dito Conselho Municipal da Juventude, que de jovem e de municipal pouco tem, e de aconselhamento ainda menos. Mas adiante, que o que interessa é cumprir a agenda e publicar qualquer coisa.



E o que saiu de lá? Perguntarão, com certeza, os leitores. Saiu um parecer. Um parecer ao Orçamento de 2025 e às Grandes Opções do Plano 2025/29, aprovado por unanimidade. Como dizia o Nelson, toda a unanimidade é burra. E toda a associação que não eleva rebaixa - acrescento eu, que o li algures. 

O dotor Pimpão encarna na perfeição o virtuoso profeta da mediocridade, vulgar e rotineiro. Acredita, coitado, que concilia todo o mundo, com falsas promessas e consensos vazios, e que esse é seu papel. Depois refugia-se no simbólico e procura na exaltação mediática de magnificências reles a ilusão de estar a agir e a realizar, convencido de que nisto da política, tal como na vida, tudo corre por graça divina e resultará bem. É uma criatura imprudente, e carente, que precisa de consolação constante para não cair em desespero.  Mas já dizia Macbeth, na tragédia com o seu nome, que nada se ganha, e tudo se perde, quando nosso desejo fica satisfeito sem contentamento.

Já se pode afirmar com alguma segurança que legado do dotor Pimpão, como presidente da câmara, não será avaliado pelas opções que tomou ou pelas realizações materiais mais ou menos conseguidas, como sucedeu com os seus antecessores, mas pelo traço inconfundível de frivolidade narcisista e mediocridade conformista que perdurará por muito tempo. 


Adenda: deste dito CMJ faz parte, entre outros, um membro da Assembleia Municipal de cada partido ou grupo de cidadãos eleitores representados na Assembleia Municipal e um representante de cada organização de juventude partidária com representação nos órgãos do Município ou na Assembleia da República.

6 de dezembro de 2024

Soares, maior que o pensamento



 

Se cá estivesse, Mário Soares faria 100 anos este sábado, 7 de Dezembro. Ainda bem que não está, tal seria o desgosto com o estado a que chegámos, no país, a que chegou o partido que sonhou. Um e outro envoltos num manto de liberdade, com espaço para quem pensa diferente, no respeito pelos valores de Abril. Imagino-o a dar voltas no túmulo sempre que a tv nos mostra as tiradas de Leão ou Sanfona, exemplo claro de quem, sendo do PS, nunca foi socialista. Ou com outros que nunca chegam a ser notícia.

Soares nasceu num berço de ouro, podemos dizê-lo, e fez parte de uma franja que tomou consciência do que era ser privilegiado. De como seria se calçasse outros sapatos, às vezes tamancos, como aqueles que os meus pais calçavam ao domingo para ir à missa, no tempo em que Soares já era preso, ou forçado ao exílio.

Não sei que idade tinha eu quando ouvi falar dele pela primeira vez, mas foi antes daquelas eleições de 1986, em que quase todos os meus amigos da escola gritavam no recreio o slogan ‘Prá Frente, Portugal’, enquanto o meu pai – regressado da tão cinzenta Alemanha – me deixou colar no Kispo vermelho um autocolante a dizer “Soares é Fixe”.

Muitos antes, o meu tio Costa apareceu lá em casa com uma bandeira de tecido e o símbolo do PS bordado. Iam (os meus pais e os meus tios) a um jantar de apoio a uma candidatura qualquer, em que ele era esperado. O meu tio acabara de regressar à aldeia, também, reformado dessa dura profissão de estivador. Sentavam-se na placa do poço, no quintal, e falavam de política. Da guerra, que deixara mazelas em toda(s) a(s) família(s), da pobreza em que cresceram, do país que sonhavam para as filhas. De Soares, falavam sempre com a deferência de quem se refere a um ser maior.

Na primavera de 1994 tive a sorte de o acompanhar, em reportagem para o Região de Leiria, na sua presidência aberta pelo distrito. Soares era imponente, até no trato. A dada altura, reparou em mim, no meu indisfarçável pouco à vontade em tão gigante tarefa, e perguntou-me: “Então? Aguenta?”. Senti-me ainda mais pequena, perante um homem que era enorme.

Dois anos depois, a 8 de Dezembro de 1996, voltei a vê-lo, imponente, na inauguração da Casa-Museu João Soares, nas Cortes, um espaço que todas as crianças e jovens deste país deveriam visitar. Desse dia guardo dois momentos: o Betinho (fotógrafo do Diário de Leiria, prematuramente desaparecido) em cima de um telhado para captar a melhor imagem, e Soares a ralhar com ele: “ó homem saia daí que você ainda cai daí abaixo!’. E mais tarde, o episódio que daria títulos à imprensa nacional: “o meu pai costumava dizer, quando o elogiavam muito, ´sou apenas filho de um vacão do Soutocico´”.

Escrevo estas memórias enquanto a RTP 3 passa em reposição “O caminho faz-se caminhando”, uma conversa sobre o mundo e a História entre Mário Soares e Clara Ferreira Alves, onde fica tão patente a dimensão intelectual de Soares, num tempo em que os políticos eram também seres pensantes, senhores de uma cultura geral avassaladora. Que privilegiava o confronto, a divergência de opinião (como lembrou ainda hoje António Campos), em detrimento do elogio e da bajulação.

Era assim, ele. Socialista, republicano e laico.

 Faz-nos falta todos os dias.