Um corte com o passado marcou o arranque desta semana numa das ruas mais movimentadas de Pombal. Não, não foi só um corte com o passado. Quando as máquinas entraram pela antiga propriedade da família Vieira, encostada à unidade de saúde do São Francisco, arrasaram com uma parte importante do património arquitectónico da terra. Para os vizinhos, foi uma dor de alma. Talvez não tão grande como aquela que terão quando começar a erguer-se o edifício multifamiliar constituído por 43 (!) fogos, um condomínio fechado. Por ora, quem passa na rua Carlos Alberto Mota Pinto apenas pode admirar o lixo.
A propriedade é grande. Quando olhamos para a floresta à procura da árvore (que é como quem diz para as imagens do Google), há (havia) um pulmão verde naquele nº 120, contrastando com o betão que cresce e se multiplica.
Quando nos abeiramos da futura obra, só há máquinas e entulho. Aguardamos a todo o momento que lá seja colocado o respectivo aviso, para que toda a gente saiba aquilo que a Câmara decidiu, a escassos dias do Natal passado: um despacho que o vereador Pedro Navega assinou, em nome do presidente Pimpão, em consonância com o parecer de outro arquitecto, o chefe da Divisão de Obras Particulares, Júlio Freitas. Como Pombal é uma terra pequena e isto anda sempre tudo ligado, o promotor do empreendimento é também um velho conhecido dos meandros autárquicos: o engenheiro Sérgio Leal, ao leme da empresa B30 - Construção Civil e Obras Públicas, Lda.
Ora, se há coisa de que Pombal precisa é de prédios. De prédios novos, de preferência deitando abaixo casas antigas.
Nos anos 90 esta cidade tinha uma Associação de Defesa do Património (Cultural), que nestas alturas bem falta nos faz. Mas o progresso não se compadece com lérias, tão pouco com saudosistas.
Esta é a era das smart cities, da dinâmica do território, e de quem tiver as unhas mais compridas para tocar guitarra. Avancemos, sem pudor.
Compreendo o sentimentalismo de alguns perante a metamorfose betónica que o progresso e o crescimento vão impondo. E Pombal não é exceção à regra.
ResponderEliminarNas grandes cidades contam-se pelos dedos as edificações de outros tempos, por onde entre moradias pululavam quintais e quintas maiores.
Lembro me de a minha mãe me dizer que na sua juventude, em Lisboa, dos anjos até ao Areeiro eram tudo quintas e hortas. Nos dias de hoje nada disso existe já.
Pombal e o seu crescimento não conseguirá fugir igual destino onde a concentração de pessoas é uma realidade.
Ajudam ainda as restrições dos PDM onde de todo o espaço existente grande percentagem fica afeto a reservas e outros usos ficando cada vez mais escasso o espaço para edificação onde o crescimento horizontal obriga a crescimento na vertical e cada vez mais concentrado.
Não é por acaso que anda em discussão a lei dos solos rústicos poderem ser, alguns deles, redirecionados para construção apenas por decisão municipal…
É sempre um equilíbrio difícil entre o histórico e sua preservação e a necessidade de construções que competem exatamente no mesmo terreno.
Não me parece que haja muito a fazer para além do lamento que nos vai distanciando dos tempos passados e cada vez mais nos recordam que já vivemos muitos anos porque, infelizmente, temos de avançar mesmo sem pudor.
Compreendo a insensibiliddade.
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