25 de abril de 2015

E depois de Abril

Muita coisa mudou nas nossas vidas desde aquela madrugada de 25 de Abril de 2008, quando eu, o Adelino Malho, o Adérito Araújo, o João Alvim e o Daniel Bento Alves mergulhámos nos teclados e nesta aventura de criar um blogue em Pombal, que se assumisse sem medos como um projecto de intervenção cívica e política [não partidário]. Na verdade, eu ganhava-lhes a todos: trazia comigo a Leonor, há sete meses, que haveria de nascer um mês depois, prematuramente aos olhos da ciência. De modo que, quando me perguntam do que me lembro nessa noite – em que trocámos talvez centenas de mails, entre nós, até acertarmos com aquela meia dúzia de linhas que fizeram o primeiro post – a memória traz-me algumas dores nas costas, largas o bastante para o que viria a seguir.
Era outro o Pombal desse tempo, como era outro o país. 
Não sonhávamos com redes sociais, com likes nem partilhas, mas sonhávamos todos com uma terra melhor. Sempre acreditei que a nossa terra é aquela onde vivemos, embora fiquemos para sempre ligados àquela onde nascemos. E por isso fui andando, às vezes por caminhos tortuosos, com a única certeza de o fazer de pé. A falta de predisposição para esfolar os joelhos traz dissabores, nos meios pequenos, mas dá-nos uma imensa  liberdade. E uma certeza: quando não temos nada a perder, e sobretudo quando não temos valores físicos para deixar aos nossos filhos, resta-nos a dignidade. É difícil falar dela e passar esta mensagem a quem só conhece o outro modus vivendi, aquele do registo bem comportado e futuro prometido, mais a pacandita nas costas (agora também existe em forma de like) e unidade colectiva. Às vezes penso que se não tivesse tido a sorte de viver e trabalhar com outra gente (mesmo sabendo que a sorte dá muito trabalho), nunca saberia que há mais vida para lá do Cardal, da declaração do presidente e de reacção oficial. Da mesma maneira, talvez me parecesse normal que a maioria dos jornalistas se anulasse no pé do microfone, esquecendo que são, antes de mais, cidadãos. E que numa sociedade saudável isso nunca coloca em causa o profissionalismo de cada um. Desgosta-me muito o estado a que isto chegou, mas não basta lamber as feridas. É preciso ter coragem de as tratar.
É nesse quadro que o Farpas se assume como um bálsamo, antídoto para caciques e formigas no carreiro.
Muita coisa mudou. Do núcleo fundador faltam-nos o Daniel e o Alvim, migrados para outras paragens. Vieram novos farpeiros, outros vieram e foram, abrimos as portas, desarrumámos a casa -  que fica à esquerda, como sabem. O Farpas foi entrando na vida da comunidade, de Abiul ao Carriço, do Louriçal às Meirinhas. Quando olho para nós, hoje, vejo-nos a abrir a janela e a sacudir o tapete, onde os poderes e interesses instalados guardam as migalhas e a poeira. A “farpearia” – como lhe chamam os meus – é um blogue. O que será depois de hoje, só saberemos logo à noite.
Valeu a pena a travessia? Valeu pois!
Pombal, 25 de Abril de 2015

9 comentários:

  1. Dedico a música : "A formiga no carreiro", de Zeca Afonso, ao texto da Paula Luz. E aos Farpeiros, claro.

    https://www.youtube.com/watch?v=GMkB3bZP96k

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  2. Uma pergunta. Porque é que hoje nas comemorações do 25 de abril em Pombal os Srs. da comitiva da CMP não ostententavam o cravo na napela ?

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. O eleito pelo PCP na Assembleia Municipal de Pombal, participou nas comemorações de orgulhoso cravo vermelho ao peito. Entre os eleitos, era o único. Pela cidade, reparei em mais meia dúzia de cravos. Um deles na lapela de um senhor, doente, com quase 80 anos, mas que não quis deixar deixar de vir à chuva e ao frio, comemorar um dia que lhe saiu do corpo e da alma. Fotografei-o enquanto beijava a bandeira do Partido Comunista Português e com lágrimas nos olhos acariciou também a bandeira de Portugal. Ai Portugal, Portugal, disse-me com mágoa no olhar. Dei-lhe um abraço e afastei-me. Para fugir às lágrimas que também quis verter. Cravos, eram poucos. Mas eram vermelhos. E intensos. E resistentes. Custe o que custar, digam o que disserem, os cravos, podem murchar mas não morrem.

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  3. Tô, tô, companheiros, bom dia.
    Foi um serão bem passado.
    Gostei.
    Vamos ver se os Administradores conseguem encontrar a estrela polar que oriente o Farpas e deixarem de ser umas baratas tontas.
    Viva o Farpas. Viva. PIM!

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  4. Boa tarde
    Hoje não farpeio ninguém!
    Ontem foi dia de confraternização e debate de ideias, só fez falta quem lá esteve! Conheci a Ana Tenente para quem, em tempos, pedi a promoção a General pela sua vitória em ABIUL !

    Elogio o texto deste post, escrito com palavras simples, elaborado com ideias e ideais simples

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  5. Foi uma noite excelente, num debate franco e muito correcto. Valeu a pena, e tudo graças aos farpeiros-mor daqui do Blog!
    Mais 7 anos venham!
    Um abraço a todos.

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  6. Belo texto! Só faltou o mantra do "um blog é apenas um blog", não é, Paula?

    De resto, é tudo verdade e até parece que já passou uma eternidade. Uma sobre a criação do blog e outra desde a minha saída.

    Seja como for, não deu para ir, e mesmo que tivesse dado, teria apenas a grata compensação de estar em carne e osso com algumas pessoas com que nos últimos dois anos apenas tenho podido estar virtualmente.

    E isto porque em relação ao passado do Farpas, foi o que foi, e ainda bem que o foi, já que muito me orgulho de ter isso no meu "CV". Em relação ao presente, começam a faltar-me as referências em primeira mão do que se passa em Pombal para ter opiniões totalmente sustentadas, mas foram mais de 3 décadas aí para saber que se algumas das circunstâncias que justificaram o Farpas mudaram, seguramente que outras se manterão. Quanto ao futuro, e como se disse acima, só faz falta quem está... e quem sabe o que se passa, isto, é a Farpa a quem sabe farpear.

    Além disso, é saudável quando se questiona o caminho que queremos percorrer e mais meritório é quando se abre a discussão a quem nos vai acompanhar. Mesmo que um blog seja apenas um blog!

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