7 de setembro de 2016

O Dia da Educação: obrigada, Eduardo Sá

                               Foto: Município de Pombal. Retrato da plateia

Nota prévia: Começo este post como os oradores de ontem, no Dia da Educação: a agradecer ao Município de Pombal, o município "Educador", como lhe chama Diogo Mateus numa brochura distribuída aos participantes (educadores de infância e professores do primeiro ciclo), em que divulga ao pormenor os investimentos avultados nos edifícios que albergam as escolas. Mas essa é outra conversa. Participei na sessão enquanto mãe, integrada numa pequena delegação da Associação de Pais de Pombal, em formação, cujos primeiros órgãos sociais hão-de ser eleitos nas próximas semanas, depois do regresso às aulas. Obrigada à Câmara de Pombal por ter convidado Eduardo Sá. Espero que tenham filmado tudo e reproduzam num filme bonitinho, como é costume, porque todos merecem ver e ouvir o que disse.

"Se eu mandasse um bocadinho, convidava o senhor presidente da Câmara a colocar em todas as portas dos jardins de infância de Pombal a frase: Proibido ensinar a Ler e Escrever", disse ontem em Pombal Eduardo Sá, que o Município convidou para palestrar no Dia da Educação - uma operação de charme anual para dar as boas-vindas aos educadores de infância e professores do primeiro ciclo. Nessa altura Diogo Mateus já não estava na sala, mas alguém lho disse, certamente. O que o psicólogo queria dizer é que começa aí o combate contra a criação de "uma linha de jovens tecnocratas, primeiro de fraldas e depois de mochila". Todos iguais, bem comportadinhos, melhores alunos dentro da sala de aula, exemplares no recreio, excelentes na extensa lista de actividades que lhes preenchem os dias e as noites.  "A escola não serve para isso", disse Eduardo Sá, que ali desfiou uma série de verdades incómodas para a esmagadora maioria da plateia. Antes dele, tinham subido ao palco os três directores dos agrupamentos de escolas de Pombal (Fernando Mota) , Gualdim Pais (Sara Rocha) e  Guia (António Duarte). Depois de o ouvirem, tenho a certeza de que alguns guardaram rapidamente os papéis, corados de vergonha. Retive, contudo, a intervenção de Sara Rocha. Regozijou-se com a boa-nova de um jardim infantil que a Câmara vai construir na Gualdim Pais, "porque a escola é muito mais do que a sala de aula". Porque, como tão bem lembrou, "há crianças que ali chegam às 8 da manhã e só vão embora às 19". Mas este é o país em que os adultos reclamam "35 horas semanais para a função pública, enquanto as crianças passam 52 horas na escola", disse Eduardo Sá, ele que teve esperança "que a ASAE olhasse para alguns recreios". Seria bom, sim. Assim como seria boa a sugestão que deixou, de "criar um quadro de honra para os alunos faladores", ou "um quadro de excelência para os que têm uma vida familiar desastrosa e que ainda assim não desistem, contra a escola e contra os pais". Em vez disso, a escola resolve colocá-los de castigo no intervalo, privando-os dele. "Vivemos numa escola mentirosa e batoteira, que segrega os meninos de uma determinada faixa social", notou, certo de que "todas as crianças são geniais e todas têm necessidades educativas especiais", que precisam de brincar, sobretudo. porque "brincar não é uma actividade de fim-de-semana". No fundo, o que o psicólogo diz é tão simples: olhemos para os alunos como crianças, como pessoas, e menos como números da excelência e do sucesso. Não sei o que pensam disto os senhores do EPIS, mas calculo.  Acredito que teríamos uma sociedade muito  melhor, no futuro, se gastássemos menos energias com a ditadura dos trabalhos de casa e mais com actividades que os enriquecessem, pessoalmente. Depois lembro-me de uma reportagem que fiz no mês passado para o DN, e dos números dramáticos sobre a média de idades dos professores em Portugal. Sobre o número crescente de professores com doenças incapacitantes. Como é que queremos uma escola nova sem sangue novo?
E depois há a realidade, que nos apresenta milhares de professores no desemprego, parte de uma geração em que investimos tanto. Não poderia ter sido mais adequada a escolha da música que a jovem Íris foi cantar ao palco, naquela sessão: "Para os braços de minha mãe", esse hino à emigração legada pelos últimos anos de austeridade, que assenta tão bem neste concelho. Provavelmente, essa foi a parte destinada aos pais e encarregados de educação. 


4 comentários:

  1. Tenho muita pena de não ter ido, mas o protocolo da CMP não me enviou convite... Eu a casamentos e Baptizados só vou se for convidado. Mas espero que tenho servido para mudar algo.

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  2. Magnífico texto e excelente interpretação das palavras e ideias de Eduardo Sá. PARABÉNS

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  3. Pelo texto direi que é sempre bom ouvir quem sabe

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