7 de julho de 2020

As últimas bolachas do pacote



José Gomes Fernandes e João Coucelo representam o que resta de um tempo em que a Assembleia Municipal era palco de grandes discussões políticas na terra, com solenidade, trabalho e dignidade dos que ocupavam o lugar, em representação de quem neles votou (convém nunca esquecer este pormenor). Lembro-me sempre do espanto do meu camarada Damião Leonel (que se sentava a meu lado, na bancada da imprensa, ele a acompanhar para o Jornal de Leiria e eu para o Região de Leiria) e do desabafo, na viagem de regresso a Leiria: "Eles tratam-se por senhor deputado!"
Com isto, passaram uns 25 anos. Tendo em conta que Fernandes e Coucelo já eram membros da AM ao tempo de Armindo Carolino...na bancada do PSD (claro)... é fazer as contas, como dizia o outro.
De maneira que esta discussão entre ambos foi um deleite, a todos os níveis, e figurativa do estado de divisão que reina no partido a nível local - mesmo que, por uma vez na vida, JGF esteja do lado do poder e não da guerrilha. Chavam-lhe "o talibã" do partido, noutro tempo; agora percebe-se que a idade tudo traz, e tudo leva. Ou quase.
João Coucelo é uma espécie de padrinho de Diogo Mateus, conselheiro-mor. Mas sabe (tenho a certeza que sabe) que o que está em causa neste investimento da Lusiaves na Guia não é brincadeira de meninos. E que muitos (e diversos) valores se levantam, como deixa perceber na dúvida. 
Mas Coucelo e Fernandes nunca se arranharam muito bem no saco de gatos em que o PSD se transforma, amiúde: O primeiro representa a tal burguesia da vila-cidade, o segundo o mundo rural, que a mantém viva. É conhecida essa fronteira. Foi evidente, nesta discussão, como ambos se manifestam cara e coroa da mesma moeda. À falta de boa discussão política entre bancadas, entre oposição e poder, valha-nos a que existe dentro da mesma bancada. Por mais estéril que seja, e que mais não queira do que mostrar como cada um deles ainda se acha a última bolacha do pacote.
Para remate deste episódio, e à laia de cenas dos próximos capítulos, fica a imagem dos tremeliques no pé de João Antunes dos Santos e Pedro Pimpão. E o respeitinho da presidente perante a voz grossa do Zé Fernandes. 

1 comentário:

  1. Que grande recado do Guerrilheiro-Mor para o Alcaide da Cidade...Não gosta das pessoas "meladas". Gosta dos políticos de mau feitio porque esses tomam decisões, ao contrario dos outros... Muito bom.

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