28 de janeiro de 2021

A saúde que (não) temos




Passaram quase dois meses desde que o delegado de Saúde pediu a exoneração. Não foi substituído. Mas ninguém parece importar-se com isso.

Desde final de novembro que "a vida é sempre a perder", como cantam os Xutos, no que diz respeito à situação de Pombal face à pandemia. Mas o poder político parece mais preocupado com passeios no parque, exibicionismo de boas práticas disto e daquilo, do que em bater o pé e exigir que um concelho como este - que tem só um dos números mais elevados do distrito no que respeita à letalidade por covid-19, à data de hoje 566 casos activos - tenha o que merece: uma autoridade de saúde que não comande a pandemia à distância.

Depois da saída de José Ruivo, a médica que supostamente o viria substituir ficou "retida" em Leiria. E é a partir daí que somos vistos, que é coordenado o estudo epidemiológico, segundo as regras ditadas pela tutela: o rastreio de contactos dos infectados faz-se a 48 horas, e não a 14 dias, como defendia o anterior delegado de saúde. Talvez isso explique por que razão, até novembro, Pombal era uma exemplo a quebrar cadeias de contágio. É claro que entretanto o efeito bola de neve ganha escala... E por mais competentes que sejam os profissionais de saúde que a partir de Leiria coordenam o trabalho do ACES Pinhal Litoral, não é bem a mesma coisa do que estar no terreno. Saber se naquela localidade há um parque industrial, um supermercado ou um café. Ou já não nos lembramos de como era até novembro?

Qualquer cidadão bem intencionado (e não de bem...) imagina o esforço hercúleo que médicos, enfermeiros e administrativos estão a fazer por cá, para que o Centro de Saúde de Pombal e as Unidades de Saúde Familiar (São Martinho e Marquês, na cidade; e Vale do Arunca e Sicó) continue a trabalhar com a aparente normalidade. Contando que as falhas de meios humanos são imensas, que faltam médicos, que ainda recentemente a Unidade de Saúde Pública esteve três semanas sem administrativa. 

E nisto, temos quase 3000 utentes sem médico de família.

A reboque da pandemia, há um tecido social que se fragiliza e precisa de apoio. Imaginemos uma família infectada, sem rede, que ainda por cima tenha a seu cargo um idoso. Quem é que a apoia? Noutros concelhos essa é uma articulação que está a ser feita pela Protecção Civil. Mas aqui preferimos gerir egos e questiúnculas, concentrando esforços no que é acessório e não no que é essencial. A propósito, por que deixámos de ter o tradicional briefing com/para a imprensa, logo quando era mais preciso? Por que deixamos de ter boletins epidemiológicos?

Recordo que temos 1 presidente da Câmara e 8 vereadores. 13 presidentes de Junta. Uma presidente da Assembleia Municipal. 27 membros eleitos por 5 forças políticas. Será que algum mexeu uma palha em nome deste elefante na sala?

Passaram quase dois meses desde que o delegado de Saúde pediu a exoneração. Não foi substituído. Mas ninguém parece importar-se com isso.

 



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