25 de fevereiro de 2021

Anatomia de uma derrota


 


O Jornal de Leiria de hoje noticia - como deve ser - a saída de Diogo Mateus, conforme aqui anunciámos há um mês, neste post. 

A jornalista Anabela Silva questionou-o sobre o assunto e finalmente D. Diogo acedeu prestar declarações sobre o "tabu"  (não à imprensa da sua terra, que despreza, como tanta coisa), numa manobra que lhe permita dar a ideia de que vai embora por vontade própria e não afugentado pelos seus, pelo seu partido. 

Diz ele que “há mais de um ano” transmitiu às estruturas do partido que não pretendia voltar a concorrer à Câmara e que o fez “muito antes das trapalhadas de 2020”, referindo-se às polémicas em que se envolveu com os vereadores Pedro Brilhante e Ana Gonçalves, eleitos pelo PSD, a quem retirou os pelouros. "Trapalhadas" que, no seu entender, "mostraram muita coisa".

As declarações de D. Diogo ao JL acontecem dois dias antes do plenário de militantes do PSD (online), que há-de confirmar Pedro Pimpão como seu sucessor, numa inédita movimentação para lhe retirar o poder. Era preciso ser ele a dizê-lo, para não incorrer na vergonha de ser o partido. Diogo aprendeu a mentir (e a omitir) com naturalidade ao longo dos anos, como bom político. Foi o mais bem preparado de sempre, para o cargo, na nossa história contemporânea. A mesma história que nos tem mostrado como é que isso, só por si, não basta. E por isso conta a versão que lhe convém, para este final infeliz enquanto autarca social-democrata. 

É verdade que "as trapalhadas" do ano passado "revelaram muita coisa". E é interessante ter escolhido o termos 'trapalhadas' - não para aludir à mistura da vida pública e privada - mas para nos recordar das acusações sobre o uso indevido de meios públicos em benefício privado.

Apesar de tão bem preparado para o cargo de presidente de Câmara, Diogo sairá de cena por manifesta incapacidade: a de não ter percebido como exercer o cargo em democracia, onde o poder vem de baixo, do povo. E onde há linhas vermelhas (mesmo que ténues e imaginárias) que o povo não gosta de ver pisadas. Sabemos que prefere as monarquias, mas para isso terá de procurar outras paragens. 


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