13 de março de 2018

Misérias



Uma Nota Informativa proveniente da CMP (“assinada” por um não-funcionário) relata “a entrega de 20 cabazes por parte de famílias de etnia cigana a outras famílias carenciadas” e acrescenta que a “ação que se decorreu no âmbito do Projeto 3I`s”. Ao lê-la, fica-se na dúvida se o autor disse o que queria ou o que não queria. Pouco importa. Importa, sim, o que o caso, em-si, representa: a carência inteira no seu esplendor; e a material não é, com certeza, a parcela maior.
A bondade, como bem disse Pessoa, é um capricho temperamental: não temos o direito de fazer os outros vítimas de nossos caprichos, ainda que de humanidade ou de ternura”. Esta nem isso tem (humanidade e ternura); mete no mesmo saco bondade e compaixão, e rega tudo com o mais escabroso proveito mediático; onde a graça e a felicidade de uns, é a vergonha e a mágoa de outros. Para Nietzsche “a compaixão tem uma impudência própria como companheira: pois, querendo ajudar de toda forma, não se embaraça nem com os meios de cura nem com a espécie e a causa da doença, e desenvoltamente lida como um charlatão com a saúde e a reputação do paciente”.
Atingimos o estágio onde a (feitura da) bondade e compaixão se tornaram um vício; e a sua ostentação uma patologia social. Mas convém lembrar que a bondade honesta é a que a Natureza nos presenteia, ou a que é doada sem mostrar o rosto. 

11 comentários:

  1. Esta fúria de dizer mal de tudo e todos impressiona-me.
    Por vezes, penso que a loucura é um estado extremo que identifica alguém num determinada momento difícil da sua vida. Outras vezes há em que penso que é uma constante de vida, um modo de ser e estar, uma ideologia em que tudo faz sentido à sua maneira, mesmo que contrária a tudo o que a rodeia.
    Devo ser eu que sou louco, porque insisto em não perceber o porquê desta grelha de análise em que importa dizer mal de tudo e todos, mesmo dos que fazem algo positivo, nem que seja por terem tentado!
    Talvez seja para receber parabéns pela coerência. E aí... bravo!

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  2. Joãozinho,
    Estás atento, e com intento; aproveitaste bem a “fúria” maldizente para passares a tua impressão laudatória, macia, condescendente, amiga. Estás cada vez mais parecido com o Pedro. Mas assim, nunca lhe conseguirás ganhar vantagem.
    Um conselho amigo: não abuses da dose – lembra-te sempre que já foste um bocado extremista. Mas não estás louco, não! Revelas, até, esperteza.

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  3. Tu revês-te nisto, João? É este tipo de caridadezinha que defendes para um programa de integração como o Escolhas? Preciso mesmo de saber.

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    1. Revejo-me na boa intenção de quem pensa que pode ajudar outro com um pequeno gesto. E acredito em solidariedade, de que tantas vezes somos beneficiários sem saber.
      O texto do Adelino Malho não fala da responsabilidade pública, nem civismo, nem responsabilidade partilhada, nem de alternativas. Apenas tenta diminuir um gesto simples, que até tem um simbolismo dum tamanho tal que o cego vê.
      Envergonho-me com a existência da miséria na minha terra e com o aproveitamento disso para vários fins. Não critico é quem pense que pode fazer alguma coisa de forma honesta. E sei que o Adelino confundiu tudo porque quis, não foi inocente. Porque nunca é inocente. É até muito inteligente, lá na sua visão do mundo.

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  4. Infelizmente, em Pombal, há muitas pessoas a necessitar de apoio alimentar, e não só, para o efeito, recorrem à Conferência S. Vicente de Paulo, que têm realizado um trabalho com muito mérito. Não deixo de me intrigar, por vezes, ver pessoas em carros de alta cilindrada a levantar os seus cabazes de alimentos! Seguindo uma frase bíblica " não lhes dês o peixe, dá-lhe a cana e ensina-o a pescar ": escrevo esta frase porque há gente válida a viver com os alimentos que lhe dão na conferência e podia contribuir com alguma coisa para o PIB e não o faz porque se habituou a pedir e a viver da caridadezinha. Também entendo, tal como o João, que o Farpas devia trazer a discussão assuntos que tenham corrido bem ou que tenham sido bem sucedidos, para o interesse publico, afinal o poder político também faz muitas coisas bem feitas !

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  5. Joãozinho,
    Afirmas, convicto – julgo -, que te “envergonhas com a existência da miséria na tua terra e com o aproveitamento disso para vários fins”. E indignaste-te com o aproveitamento que fiz deste caso para ilustrar isso (o aproveitamento).
    Então, Joãozinho; conta-nos lá dois casos (decentes) do aproveitamento da miséria alheia para outros fins. Dá-nos lá, essa lição de cidadania responsável, de divulgação sensata das benfeitorias falsas. Aponta-nos lá a forma, os critérios, o caminho…
    Estou/estamos tão curioso(s).

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    1. Adelino Malho,

      Sinto necessidade de repetir, para que o poder de censura de que dispõem não leve os meus pensamentos.
      O artigo fala duma ação de solidariedade da comunidade cigana para com pessoas necessitadas de ajuda. Esta iniciativa insere-se num programa de integração da comunidade cigana na restante comunidade (que sempre viveram afastadas).
      Não sei quem teve a iniciativa desta ação mas parece-me bem intencionada.
      Consigo imaginar melhores ações para estes propósitos mas não desconsidero esta, parece-me meritória, quanto mais não seja pelo simbolismo.
      Não sei se, sendo uma acção integrada num projeto da CMPombal, se não há interesse público em dar dela conhecimento, mas parece-me que sim. Não vejo nisso aproveitamento mas antes a responsabilidade de mostrar o que se faz (tanto servirá para uma visão positiva ou negativa).

      Com muito boa vontade de quem lê, julgo que se percebe atrás da fúria de maldizer uma vontade ideológica do Adelino Malho de que o problema da pobreza seja resolvido com fundos e meios públicos, por ser uma responsabilidade da comunidade como um todo. Concordo com essa parte, lutarei por isso, podem contar comigo para que isso aconteça. O problema da fúria maldizente é que esquece quem simplesmente quer ajudar, tem espírito simples de preocupação com os outros e que não pode esperar pelas políticas públicas para dar a mão. E neste post foi o que se passou: um buldozer malhiano atropelou a aparente boa intenção dum grupo de gente para com outro grupo de gente, politiquices à parte.

      Antes do Adelino Malho me perguntar o que quer que fosse, perguntei-lhe pela proposta concreta no apoio a famílias carenciadas, ou pela alternativa a esta iniciativa na integração da comunidade cigana. Estou receptivo a atender ao espírito construtivo do sr. Engenheiro, que tanta falta nos faz em Pombal (a vasta experiência na construção de projetos políticos seria suficiente para apresentar um plano também para estes problemas).

      Antes de morrer à espera duma resposta construtiva, tento responder-lhe à pergunta, lembrando os casos de associações ou IPSS's que se arrogam como solidárias para esconder projetos políticos pessoais e partidários. A Paula, no seu périplo pela freguesia, testemunhou alguns desses casos, certamente.

      Nota final. A minha opinião vale muito pouco, por isso agradeço a preocupação com o que penso. Mas seria porreiro saber qual a opinião de quem realmente decide. Haverá alguém que possa fazer a pergunta nas Assembleias de Junta e Municipal?

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  6. Joãozinho,
    Fala à-vontade - gostamos muito de te ouvir/ler -, não te autocensures.
    E esquece lá, por agora, essa conversa sobre caridade (pública e/ou privada) – não é tema do post.
    Conta-nos é esses casos de vergonhoso aproveitamento da miséria para vários fins, que fazem cá na terra, para nós aprendermos como se faz. Sê caridoso: partilha isso connosco. Pode não parecer, mas gostamos de aprender com quem sabe.

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    1. Dou até vários exemplos: a OPA florestal, as publicidades pagas pela CMP, os pagamentos ou não nas Tasquinhas, as ofertas ou não de autocarros para eventos solidários, o subsídio para mais do que é feito... “Inbestigue-se”

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  7. Esclarecido...
    Desde o início, ficou claro ao que vinhas.
    Boa sorte.

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