28 de dezembro de 2022

A política, o poder e a oposição (II)

O estado do reino é a resultante da acção conjugada da política, das forças vivas e dos cidadãos. Em Pombal - minha terra Natal - nada me desgosta mais que a política que por cá se faz, tanto pelo poder como pela oposição. Julgo que este sentimento é evidente nos meus escritos, mas já o era quando, há duas décadas, entrei tardiamente na política local, imbuído da ilusão que era possível inverter a situação: o desfalecimento da terra e a decadência da política. Não o era; e continua não o ser. Quer isto dizer que não há esperança? Que nos deveremos conformar? Não. Há esperança, mas não é para nós (os da minha geração), como dizia o Kafka.



A política que por cá se faz é de cariz personalista, unitário (todos por Pombal) e apartidária, inspirada no modelo da União Nacional, do consenso e da concórdia. Surgiu no pós-Guilherme Santos (1989) mas foi definitivamente instituída por Narciso Mota, um tipo de política que exauriu, em seu próprio benefício, o concelho, as instituições, o sentido de comunidade e até as frágeis estruturas partidárias - actualmente antros de intriga entre uma dúzia de indivíduos e respectivas famílias. 

Este caldo de cultura - pobre em vitalidade - e este tipo de política gerou um concelho anémico, com uma economia fraca que não gera riqueza nem emprego atractivo, e uma comunidade descrente, sem sentido de colectividade e de representação, onde meia dúzia de oportunistas se serve da coisa pública. 

Mas se o passado foi o que foi, o futuro não será brilhante…Com um poder inepto, associado à própria ignorância (sim, há poder na ignorância), e pueril, carregado de desejo e de vontade excessiva pelo que é festivo e acessório, quais Ícaros e borboletas desta vida, voando felizes dentro da espuma dos dias e das festas, desligados da realidade e do essencial, e uma oposição frouxa e dividida, impreparada e inconsistente, possuída também pela positividade (propostas balofas e distribuição de apoios/esmolas), onde há fé mas falta vontade, onde a vitimização abafou a afirmação (a contestação), nada de virtuoso se pode esperar.

Sigamos juntos! Para mais uma década de desfalecimento.

4 comentários:

  1. Caros Amigos, companheiros e camaradas. Sobre este assunto só tenho a dizer que: Está tudo bem em Pombal Rural. O povo em 2021 teve de decidir entre duas equipas. Uma equipa era e é uma comissão de Festas; A outra nem para isso servia, dada a sua indolência. Portanto o povo escolheu eleger a Comissão de Festas e a avaliar pelo ano de 2022, que agora está a terminar, está a correr acima do esperado. Pombal em festa 365 dias por ano. Siga a Festa até 2025. Um abraço a todos e desejo um 2023 com festas para todos.

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  2. Amigo Malho, mas que raio de despedida é esta de 2022, com tais desesperanças para 2023…
    Será que a idade o vai tornando cada vez mais nostálgico, amargurado, descrente em tudo e até no devir pombalino? Há algo que nos avisa quando estamos a entrar no inverno da vida, é aquele desalento onde vemos que afinal a vida é uma sucessão de infortúnios onde os sonhos e as esperanças afinal não passam de quimeras.
    Tudo o que podia ter sido bom e não foi…naquele tempo porque não tinham capacidade, depois porque tudo se mediocrizou e no final, logo quando nos vão faltando as forças é que os campeões das festas e romarias, os novos, entram em cena para dar cabo do resto.
    Tudo em grupos cada vez mais concentrados e litigantes, com intrigas e interesses inconfessáveis no alvo da governação e com a queda garantida no abismo que no horizonte se adivinha.
    Mas se nada o desgosta mais do que a política local, onde tardiamente entrou na ilusão de que ia mudar alguma coisa, e pelos vistos não mudou, afinal queixa-se de quê? De que estes não são capazes de ser melhor que o meu amigo foi na sua vez? E isso será fado, ou será mais a ordem natural das coisas, menos bem aceite, do que o ideal desejado mas que nunca acontece?
    Há festas, há romarias, há subsídios e beijinhos, e é bom que haja, porque caso não haja mais nada, e certamente haverá, pelo menos distraímo-nos mais e isso é essencial para o equilíbrio emocional dos povos com a seguinte receita: Bem, a coisa não estava bem, e assim continua, mas agora com tanta distração, já não me importo…
    Certamente não teremos um 2023 tão tenebroso como os seus astros vaticinam, nem tão risonho como todos gostaríamos, mas com esforço, entrega, contribuição e solidariedade de todos nós, certamente teremos um 2023 melhor, com evolução e onde novas coisas, outras oportunidades e surpresas irão certamente alegrar os nossos dias e o futuro dos nossos descendentes, e tudo ainda nos nossos dias…
    Anime-se amigo Malho que me custa vê-lo tão destroçado. E se 2023 for assim assim, pelo menos teremos a troca de posts e comentários que, sem as desventuras preconizadas, o blogue ficaria sem mote.
    Um bom 2023 a todos, com uma Farpa na alegria e outra na Esperança, que é para ver se espevitam.🥳🎉🍾

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  3. Amigo Serra,
    … nem nostálgico – não sublimei o passado; nem amargurado – nenhuma mágoa; nem descrente em tudo – até porque não sou de crenças nos outros (forças externas); antes pelo contrário, confio muito mais, ou quase tudo, no controlo interno (forças próprias).
    O meu amigo é que tem andado, e saltado, de ilusão em ilusão (política); o que não tem mal nenhum (para si), se não acabrunhar.
    Mas acredite: com tanta felicidade vai acabrunar gente, e da fina.
    Boas ilusões, e boas entradas.

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    1. Amigo Malho, a ver se nós entendemos. Eu, sobre a sua pessoa, só sei que tem as suas opiniões e desconfianças (ia a dizer descrença, mas arrependi-me a tempo), e apenas contraponho outros pontos de vista.
      Se me quiser classificar use antes o “pragmático” e faça-me a justiça de ver coerência nas minhas ideias e atos, já que posso ir saltando de acontecimento em acontecimento, mas sempre com a mesma postura.
      Há várias formas de olharmos para a vida, sendo certo que é curta e de desfecho igual e para todos assegurado. Ora, nesse ínterim, podemos ser otimistas, pessimistas, bons, maus, ingénuos, chico espertos, egoístas, solidários, calculistas, indiferentes, ambiciosos ou desprendidos… Cabe cá tudo e todos. E dentro dessas designações e intenções se modelam os espíritos e suas angústias e alegrias. Saber fazer sobressair as alegrias sobre as angústias é uma arte e um sintoma de inteligência, quer por acaso me assiste! Quem se deixa ficar refém das tristezas, sofre o mesmo que todos os outros, só que de forma muito mais dolorosa, porque realidade há só uma, a natureza e mais nenhuma.
      E é essa fórmula que tento sempre usar e recomendar: Há sempre um amanhã diferente, que pode ser mau, mas também pode ser bom, logo não vale a pena sofrermos por antecipação. Se o meu amigo lhe chama a Felicidade, seja, para mim é tão só a melhor forma de abordarmos a nossa experiência de vida em continuo, ir pelo lado mais positivo.
      A ver se as Ilusões boas que me deseja se tornam em realidade já que não duvido das boas entradas, pelo que lho desejo igualmente e se possível em dose dupla, porque eu, para os amigos, sou mesmo é um mãos largas…

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