7 de maio de 2015

Em nome do Oscar

Calou-se ontem uma das vozes mais incómodas do jornalismo em Portugal, da liberdade de expressão. Da Liberdade. Oscar Mascarenhas morreu, de ataque cardíaco, aos 65 anos. Deixou muito de si à imprensa portuguesa e um bocadinho também ao Farpas, quando, em Janeiro de 2014, fez o favor de me esclarecer a propósito disto.
Na edição de hoje do DN, o camarada (de sempre) Ferreira Fernandes escreve-lha uma doída homenagem, que vale a pena replicar aqui - afinal, o Oscar travou uma luta contra os anónimos e deles dizia muito do que penso, também: escrever é dar a cara. Por isso mesmo, aqui fica a crónica, para memória futura.

Doeu, mas está tão bem escrito...

Um dia, ele contou-me que o pai, médico, recebera uma carta, que abriu, levou os olhos ao fim do texto e, não tendo encontrado assinatura, rasgou-a e deitou ao lixo. "Uma carta anónima não se lê", ensinou o pai a Oscar Mascarenhas, ensinou-me ele em conversa, como ensinou a muitos, nas redações dos jornais e nas escolas. O Oscar era altivo a falar e quem nisso só visse arrogância perdeu, talvez, boas lições. Perdi algumas, mas aquela, não. A carta anónima não foi mero episódio, era a convicção duma vida: escrever é dar a cara. Aqui, no DN, Oscar Mascarenhas liderou um combate contra a irresponsabilidade (passe o pleonasmo) dos comentários anónimos no online. E não era ver o argueiro nos olhos dos outros: não conheço jornalista português que mais tivesse criticado os seus próprios camaradas. Criticava por amar demasiado o que fazia: "Digam-me uma só profissão que se autocritique em público tanto como a nossa!", desafiava. Um risco, porque ele viveu estes anos em que o jornalismo tarda em renascer. Ele conhecia esse desânimo, o que, por vezes, o levava a usar como arma de espadeirada o florete com que esgrimia a língua portuguesa. Era um polemista temível - de quem o fustigado, se conseguisse ser justo depois de tamanha coça, deveria dizer: "Doeu, mas está tão bem escrito..." Disse-me, ontem, de longe, uma pessoa querida: "Ele deu-me o CD da verdadeira música da pesada quando eu só pensava em rock. Era Wagner."

11 comentários:

  1. O que diz Wagner. Paula Sofia não se pode medir os anónimos pela mesma bitola com que se vê o tamanho da besta, tem por aí gente que só o pode fazer (comentarios) escondido, é a realidade da vida e temos o exemplo desse jornalista pombalense que andou a desancar forte e feio e agora é olhar como manso está, nota-se o "encosto" á moda, que lhe pode dar umas migalhas ou um emprego no cimo da escadaria de pedra, de fortes esta o cemiterio cheio e os covardes precisão de comer, é o tempo amiga, vamos dizendo umas coisas mas temos de saber estar.

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  2. Boa tarde
    Nada tenho contra anónimos, também uso essa máscara, desde que debatam ideias e ideais!
    Triste e indigno de qualquer ser humano é usar máscara para denegrir a imagem de quem quer que seja.

    Adolfo Correia da Rocha, excelente escritor, usou, escolheu o nome " Miguel Torga" ; Álvaro Cunhal não tinha medo de ninguém escreveu sob o nome " José Tiago" Muitos mais escritores, poetas, dramaturgos utilizaram nik-name para expor as suas ideias.
    Usar estrunfe não traduz medo de expor ideias, há pessoas que escrevem bem e têm dificuldade e lidar com o público, logo têm necessidade de proteger. Para quem têm a consciência tranquila representa, isso sim, um modo de evitar desgaste profissional.

    Antes anónimo que lambe botas!

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    1. Caro Flores (agora que sei quem é, já lhe posso responder. Como sabe, só falo com pessoas). Os exemplos que refere são pseudónimos. Coisas diferentes...

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    2. Boa tarde
      Paula Sofia obrigado por me tratar por pessoa, é um bom princípio para cultivar a amizade Diz que que só fala com pessoas, de facto, há animais com que só lhe falta falar!
      Pseudónimo, Estrunfe, máscara que diferença faz?

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    3. Manuel Tiago. Mas era pseudonimo. Neste caso concreto, seria mais adequado o "Daniel" da clandestinidade.

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    4. Bom dia
      Gabriel obrigado pela correcção a minha memória falhou-me!

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  3. Paula Sofia, "os-da-casa" podem se acharem util, bloquear todos os utilizadores do blog que não se identificarem. Ganha-se por um lado, mas perde-se por outro, cabe aos gestores do blog decidirem o lado para onde querem ir. Eu por mim vou continuar a dar a cara, mas um dia quando tiver que colocar a mascara é porque esta Concelho deixou de ser um sitio livre. Então ai é preocupante.

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  4. Roque, no farpas dividimo-nos entre os que são contra e os que são pró-anónimos. Eu sou contra, pela maioria de razões que a crónica aponta. Se reparares, a maioria dos comentadores do Farpas é de origem anónima, o que - julgo eu - responde à tua questão do concelho livre. Ou não.

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  5. Eu uso o meu nome verdadeiro, e mostro o BI a quem quiser para o provar. Apenas porque, na minha consciência e educação recebidas, responsabilizo-me sobre o que escrevo. Para o bem e para o mal. Não ataco pessoas, apenas questiono ideais. Respeito acima de tudo, para que a liberdade individual nunca seja beliscada. A verdadeira liberdade é essa.

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  6. Companheiros, boa noite.
    O energúmeno do Adelino Malho pensa que é o dono disto tudo, mas não é.
    O rapazola falta ao respeito a quem alimenta esta coisa e falta ao respeito aos restantes administradores, o que é ainda mais grave.
    Adérito, por favor, vem, de novo, acudir à Paula Sofia, já que o coiso não respeita ninguém e quer ser o “César” neste circo romano onde ele imagina que está.
    Como o Farpas é só desgraças, coloquei a Missão Guiné como uma coisa boa, três ou quatro vezes, outras tantas que ele apagou.
    Miserável insecto desprezível.
    Roque, tu que és um dos que dá a cara, não te cales, já que, também, foste objecto de apagão do teu comentário.
    Que democracia é que esta alma apregoa, se é que tem alma.
    Coitados dos pobres de espirito…

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  7. Companheiros, bom dia.
    Ao menos uma coisa boa no Farpas.
    Sei que nenhum Administrador tem coragem para apagar este meu comentário que nada tem a ver com o post e que foi copiado da página da Missão Guiné, no Facebook, escrito por: Rui Manuel de Matos Amado Gabriel
    “Chegado a este dia, o 12° da Missão Guiné, o sentimento é quase de impotência completa.
    Somos uma gota de água num oceano de necessidades por que passam as instituições que ajudamos com os carros, as ambulâncias e o material médico e educativo. As instituições que estamos a ajudar são elas próprias uma gota de água num mar de necessidades.
    Hoje achámos por acaso uma mãe com um menino a arder em febre.
    À sua volta outras mães com outros meninos e todos, mães e filhos, com diferentes tipos de doenças.
    Ali estavam, à beira da estrada, ao lado da bomba de gasolina onde fomos por acaso abastecer os carros.
    A Arminda, médica integrante da nossa missão, auscultou e deu medicamentos, comida para bebé e educação acerca de tratar os filhos.
    Imaginei que provavelmente aquele menino com ano e meio e 5 kg de peso, cheio de fome, não iria sobreviver.
    Passámos ali por acaso, ou talvez tenhamos passado de propósito para salvar aquele menino.
    Pensei nos milhares de meninos a morrerem nas tabancas espalhadas pelo meio das florestas de cajuzeiros e pelo meio dos arrozais mais ou menos abandonados e pensei nos seus pais e mães sem saberem o que fazer a não ser ver morrer.
    Foi muito forte este dia. Cheio de alegrias, cansaço e sentido de Missão mais forte que nunca.”

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