O novo Centro Escolar de Pombal abriu hoje as portas, pela primeira vez. Entraram por ali adentro 194 crianças, que a partir de agora hão-de correr pelos corredores impregnados do cheiro a novo, ocupando então seis salas do primeiro ciclo e três do pré-escolar. Eram quatro, mas as inscrições não chegaram para tanto. Fui lá hoje pela primeira vez e trago uma sensação agridoce: não é tudo perfeito mas é melhor, muito melhor do que a escola Conde Castelo Melhor, onde outros tantos meninos continuam a brincar num recreio pobre, a almoçar num refeitório que ecoa e amplia os gritos de miúdos e graúdos, enfim, o verdadeiro "reformatório do século XIX", como tão bem lhe chamou (em tempos passados) o director do Agrupamento. E isso devia bastar para fazer corar de vergonha o nosso poder político, um município que escolheu para lema na educação o "sucesso escolar 100%". Como tão bem lembra Catarina Pires neste exercício de memória, "a escola deve ser o principal instrumento de criação de igualdade de oportunidades e justiça social."
Só que não é. Em Pombal, não é. Bem pode Diogo Mateus esgrimir argumentos e vantagens de "não ter uma escola com 400 alunos", para justificar a opção de requalificar a velhinha EB1 em vez de construir o Centro fora dali, que isso não apagará os factos deste ano lectivo: há meninos a chorar na Conde, tristes porque não tiveram a mesma sorte que os outros. Houve um sorteio, como é sabido, que ditou as turmas bafejadas. "Isso daqui a uns dias passa", hão-de dizer-me. Pois passa. "No meu tempo também não tinha melhores condições e ninguém reclamava". Pois não. Só que o tempo não anda para trás, o mundo é outro, e a nossa exigência na aplicação dos dinheiros públicos também o deveria ser.
Descendo na cronologia, uma nota importante: a reunião no ginásio da escola secundária de Pombal, segunda-feira passada, entre o agrupamento, a Câmara, a Junta (afinal o presidente sempre se dignou a aparecer, depois de anunciar em edital que não fazia sentido reunir com os pais e falar de AEC's, almoços e ATL, por estar em fim de mandato...) e os pais. Demorei oito dias a digerir aquilo. Era um anfiteatro cheio de pais, a maioria mais ansiosos que os filhos, muitos que ali entravam pela primeira vez. Lembrei-me naquela hora da minha primeira reunião do género a que assisti, no velhinho ginásio da EB1, salva pelo entusiasmo da professora Trindade, então à beira da reforma. Falta entusiasmo e faltam sorrisos nestes encontros a que a Escola chama de acolhimento, efeito bálsamo para pais à rasca. Na segunda feira passada, o presidente da Câmara anunciou a todos aquilo que já se adivinhava quando passávamos perto da obra: o Centro Escolar não estava pronto, as aulas só poderiam começar na semana seguinte. E por mais que tenha apreciado a forma frontal como ali foi falar aos pais, isso não apaga o desrespeito da revelação tardia. Mais uma vez, tudo começa e acaba na comunicação, ou na falta dela. E num caso destes, bastava aos pais terem sido avisados atempadamente do adiamento da abertura, para que pudessem (re)organizar a sua vida. Mas os pais estão condenados ao papel de espectadores neste processo educativo, são encarados pela escola como figuras decorativas na estrutura, e quando assim não é...é uma chatice. Não vem mal ao mundo que uma obra se atrase, desde que estejamos todos preparados para isso. Porém, parece que esta nem se atrasou. Naquela reunião ficámos a saber que o caderno da encargos previa a entrega da obra até 15 de Outubro (!) Sendo assim, é tempo de embarcarmos naquele discurso fofinho do "em Pombal temos muita sorte, estamos muito bem, quem dera ao país estar como nós"? Não, não é. É tempo de sermos exigentes com o poder que nos governa e com a oposição que deveria perceber estas coisas antes de as assinar de cruz. Ou só agora repararam que os meninos não cabem todos na escola nova, aprovada por unanimidade, como é costume?
Sobre a obra da escola nova, falta dizer que ainda não houve bênção, embora precise. O piso do recreio não inspira confiança a um crente. As salas de aula são demasiado pequenas para turmas com 26 meninos. O resto é bom: espaço amplo no refeitório e na biblioteca. O ginásio ainda não está pronto mas promete. Temos metade do problema resolvido. Dentro de poucos anos talvez esteja todo ele sanado. E eu, que continuo a defender a escola pública e as lutas dos professores (mesmo que nem todos nem sempre o mereçam) acredito que os nossos filhos vão ser felizes ali. De resto, não podemos esperar que toda a gente nos compreenda, que quem opta pelo privado para a educação dos filhos saiba colocar-se no nosso lugar. Essa deveria ser a primeira condição para um titular de cargo público, seja ele qual for.
Amiga e camarada Paula Sofia, daqui fala o pai, nosso de cada dia.
ResponderEliminarA fim de perturbar a celestial ordem do dito Farpas, questiono-te
onde raio foi parar a Escola, com letra Grande, onde fiz o meu exame da Quarta Classe
, outra vez com letra Grande.
E onde pára a Escola cor de rosa, outra vez, com letra ainda mais Grande, onde fiz o primeiro ciclo?
Valha-me Deus, levaram-me a minha identidade.
Estou triste.
Vai tudo abaixo, engenheiro!
EliminarTambém andei lá pelo que concordo contigo ! Assusta-me a facilidade com que se destrói património em Pombal ! Assusta-me a facilidade com que se esbanja dinheiro. Pensava que os objetivos dos ditos " centros escolares " era concentrar e não descriminar !! A minha neta acabou por não ter lugar na escola dos ricos e foi para o " Externato Marquês de Pombal " , outrora escola dos, também ricos.! É com um misto de raiva e nostalgia que recordo a n/ velha escola " Cor de Rosa " então escola Secundária, dos pobres! Esta gente não tem respeito por ninguém e esbanja o dinheiro dos n/ impostos desta forma !
EliminarMerda, não tinha lido as regras do master.
ResponderEliminarPenitência