9 de outubro de 2018

AM, uma Ópera Bufa

Nota prévia: este post foi escrito para ser publicado no dia da malfadada reunião do executivo camarário. Foi adiado, e pode, agora, perante os últimos acontecimentos, parecer desproporcionado. Um peido não desculpa uma bufa.

As reuniões da AM são uma espécie de ópera bufa, fastidiosa de contar e pior de ouvir, onde o tenor principal, na sua pose nobre mas sem nobreza, monopoliza todo o trama, e os tenores secundários não têm consciência do papel irrelevante que representam.
O guião e o propósito do trama são conhecidos: subjugar os desalinhados e transformar todos em pajens - impor o arbítrio. Os mais desprendidos perceberam-no e já debandaram; os outros arrastam-se naquele ritual sem honra nem glória. É um espectáculo bizarro: ao mesmo tempo, sonoro e surdo, onde se fala muito e nada se ouve. De um lado actuam as criaturas para quem a política é um trabalho de enfeite e a rapaziada de dentes de leite e cabeça oca. Do outro contracenam os desavindos da ala direita, a esquerda sonsa e a esquerda folclórica. Ao fundo sentam-se as figuras cuja utilidade, ali, é idêntica à das muletas para o defunto. No topo, secretários que não secretariam. Os tenores secundários gravitam todos na orbita do tenor principal. Os que vêm do lado direito apresentam-se inchados com os sucessos, uns suam sob o peso do estatuto outros do orgulho juvenil. Os que vêm do lado esquerdo entram no palco com a roupa e o espírito do dia de finados, quais cordeiros no dia do sacrifício, prontos a aceitar humildemente o castigo de representar papéis que desconhecem, para os quais não estão preparados nem se preparam. Depois, do meio daquela amálgama de figurantes de que não se espera nada, porque é perfeitamente inútil esperar o que que quer que seja - criaturas que se limitam a arrecadar a senha de presença e a compor a sala -, surge aquele cavalheiro ilustre, cheio de lustre e termos novos, inconsequente, que insiste no pregar aos peixes. Algumas daquelas criaturas nem para ser filmadas servem, como aquela cara de perpétua que passa o tempo todo a cuscar os papéis que a vizinha lê.
No final, fica-nos sempre a dúvida: se o papel mais reles é dos que falam ou dos que se calam. 

2 comentários:

  1. Adelino Malho, quem ler o Sr. pode ter a ideia que o Sr. na AM seria uma mais-valia. Ainda estamos longe das autárquicas está a tempo de apresentar uma candidatura independente á AM ou integrar uma lista de um partido. Força, só criticar por fora é fácil, aproveite a maré e siga em frente. Não garanto que voto em si, mas certamente ha alguns eleitores que votariam. Se se considera melhor que todos os outros tem a árdua tarefa de mostrar ao Pombalenses que consegue ser eleito.

    ResponderEliminar
  2. Sabendo fazer alguma coisa, deve-se fazer o que se sabe fazer. Criticar, sei fazê-lo… – os números dizem-no, cada vez mais.

    ResponderEliminar

O comentário que vai submeter será moderado (rejeitado ou aceite na integra), tão breve quanto possível, por um dos administradores.
Se o comentário não abordar a temática do post ou o fizer de forma injuriosa ou difamatória não será publicado. Neste caso, aconselhamo-lo a corrigir o conteúdo ou a linguagem.
Bons comentários.